Réplica ao “Deus um delírio”, de Dawkins

dawkinsE quanto ao design? Essa explicação é melhor do que a explicação da necessidade física ou que o acaso, ou é igualmente implausível? Aqueles que não concordam com o design às vezes apresentam
a objeção de que na hipótese do design é o próprio Designer do cosmo que permanece sem explicação. Foi essa objeção que Richard Dawkins chama de “o argumento central do meu livro”, The God Delusion [Deus, um delírio].” Ele sintetiza seu argumento da seguinte forma:

1. Um dos maiores desafios para o intelecto humano tem sido explicar como surgiu no universo o complexo e improvável designo.
2. A tentação natural é atribuir o surgimento do design ao próprio design atual.
3. Essa tentação é falsa, pois a hipótese do designer imediatamente faz surgir o problema maior de quem criou o designo
4. A explicação mais engenhosa e poderosa é a evolução de Darwin baseada na seleção natural.
5. Não temos uma explicação equivalente para a física.
6. Não devemos desistir da esperança de surgir uma explicação melhor no campo da física, algo que seja tão poder,  quanto o darwinismo é para a biologia.
Logo, é praticamente certo que Deus não existe.

A invalidade do argumento de Dawkins: a conclusão não se segue das premissas
O argumento de Dawkins é chocante pelo fato de a conclusão ateísta – “Logo, é praticamente certo que Deus não existe” – não se segue das seis premissas anteriores, mesmo que façamos a concessão
de dizer que cada uma delas é verdadeira. Não há na lógica regras e permitam tal inferência. O argumento de Dawkins é claramente inválido.
Na melhor das hipóteses, tudo que se segue a partir do argumento de Dawkins é que não devemos inferir a existência de Deus com base no surgimento do design no universo. Mas essa conclusão é bastante compatível com a existência de Deus e até mesmo com nossa justificável crença na existência de Deus. Talvez devêssemos acreditar em Deus com base no argumento cosmológico ou moral.  Talvez nossa crença em Deus não seja de modo algum baseada em argumentos, mas sim em nossa experiência religiosa ou na revelação divina. O ponto é que refutar os argumentos do design em favor da existência de Deus não faz nada mais do que provar que o ateísmo é verdade ou que a crença em Deus não se justifica. A falta de profundidade teológica de Dawkins fica claramente exposta aqui.

A falsidade das premissas de Dawkins
Porém, será que o argumento de Dawkins é bem-sucedido ao menos em minar o argumento em favor do design? De modo algum, pois várias das premissas do argumento de Dawkins são plausivelmente falsas. A quinta premissa refere-se ao ajuste preciso do universo, que tem sido o foco de nossa discussão. Dawkins não tem nada a apresentar como explicação para isso e, portanto, a esperança expressada na premissa 6 não representa nada mais do que a fé de um naturalista.
Além do mais, considere a terceira premissa. Dawkins alega aqui que não temos justificativas para inferir que o design seja a melhor explicação para a complexa ordem do universo, pois, se o fizermos,
surge um novo problema: Quem criou o Designer?

Primeiro problema com a terceira premissa: “você não precisa explicar a explicação”
Essa alegação falha em pelo menos dois aspectos. Primeiro, para reconhecer uma explicação como sendo a melhor, você não precisa ter uma explicação da explicação. Essa é uma questão elementar da filosofia da ciência. Se um grupo de arqueólogos, em suas escavações, encontrassem objetos que se parecessem com flechas e alguns cacos de cerâmica, seria plenamente justificável que eles inferissem que tais artefatos eram produtos de alguma civilização desconhecida, e não um resultado aleatório da sedimentação e metamorfose, mesmo que eles não tivessem ainda uma explicação de quem foi essa civilização ou de onde ela viera. Da mesma forma, se um grupo de astronautas se deparasse com um amontoado de máquinas em algum ponto da superfície lunar, seria plenamente justificável que eles inferissem que isso era um produto de agentes inteligentes, mesmo que eles não tivessem a mais remota ideia de quem fossem esses agentes e de como eles tinham chegado ali.
Assim, a fim de reconhecer uma explicação como sendo a melhor, você não precisa ser capaz de explicar a explicação. Na verdade, tal exigência levaria a uma regressão infinita de explicações, de modo que nada poderia jamais ser explicado e a ciência estaria destruída! Pois antes que uma explicação pudesse ser aceitável, você precisaria ter uma explicação para ela, e então uma explicação para a explicação da primeira explicação, e assim por diante … Nada jamais poderia ser explicado.
Por isso, no caso em questão, a fim de reconhecer que o design inteligente é a melhor explicação para o surgimento do design no universo, ninguém precisa ser capaz de explicar o Designer. O fato de o Designer ter ou não uma explicação é uma questão que pode ser deixada em aberto para futuras investigações.

Segundo problema com a terceira premissa: “Deus é notavelmente simples”
Segundo, Dawkins pensa que, caso se aceite a hipótese do Designer divino do universo, o Designer é tão complexo quanto é complexa a coisa a ser explicada, de modo que explicação de antemão é feita. Essa objeção levanta todos os tipos de questões sobre o papel que a simplicidade desempenha em permitir acesso a explicações competentes. Por exemplo, existem muitos outros fatores além da simplicidade que os cientistas pesam quando estão determinando qual é a melhor explicação, como o poder da explicação, seu escopo e assim por diante. Uma explicação que possua um escopo mais amplo pode ser menos simples que uma explicação concorrente, mas ainda assim ser preferida por explicar mais coisas. A simplicidade não é o único critério, nem mesmo o mais importante para se avaliar teorias.

Mas deixemos essas questões de lado. O erro fundamental de Dawkins está em presumir que um Designer divino seja tão complexo quanto o universo. Isso é decididamente falso. Como uma mente pura, sem um corpo, Deus é um ente notavelmente simples. Uma mente (ou alma) não é um objeto físico composto de partes. Em contraste com um universo contingente e diversificado, com todas as suas inexplicáveis constantes e quantidades, uma mente divina é algo surpreendentemente simples. Por certo que tal mente pode ter ideias complexas – pode estar pensando, por exemplo, em um cálculo infinitesimal – mas essa mente em si é um ente espiritual incrivelmente simples. Dawkins evidentemente confundiu as ideias de uma mente, que podem na verdade ser complexas, com a própria mente em si, que é um ente incrivelmente simples. Portanto, postular que há uma mente divina por trás do universo representa em definitivo um avanço em termos de simplicidade, qualquer que seja seu valor.

Há outras premissas no argumento de Dawkins que são problemáticas, mas acho que já foi dito o suficiente para mostrar que o argumento dele em nada contribuiu para minimizar o argumento do
ajuste preciso em favor de um Designer do universo, sem mencionar o fato de que o argumento dele serviu como uma justificação do ateísmo. Há muitos anos Quentin Smith, um filósofo ateu, sem a menor cerimônia, elegeu o argumento de Stephen Hawking contra Deus, em A Brief History of Time [Um breve história do tempo], como “o pior argumento ateísta de toda a história do pensamento ocidental”. Com o lançamento da obra “Deus, um delírio”chegou o tempo, assim creio, de livrar o argumento de Hawking do peso desse título e de passar o título de pior argumento para a tese de Richard Dawkins.

Conclusão
Portanto, parece-me que das três alternativas que temos diante de nós – a necessidade física, o acaso e o design – a mais plausível da três é o designo Platão e Aristóteles sem sombra de dúvida iriam se sentir gratificados pelo fato de a ciência moderna defender as visões deles. Temos, então, um terceiro argumento em nossa série de argumentos em favor da existência de Deus.

Fonte: “Em Guarda”, de William Lane Craig

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