Refutação de artigo sobre a causalidade e Deus

wm-blake-creationA réplica a seguir tem por fim responder ao artigo “Sobre a causalidade divina”. O texto do artigo original está em azul e nossas respostas em preto.

Se não havia tempo e, consequentemente, não havia causa-e-efeito, como Deus poderia ter causado o tempo e o Big Bang? Ora, a causa é necessariamente anterior ao efeito. Se não existe causa e efeito antes do Big Bang, Deus não pode tê-lo causado.

Considerem isto: “O Deus (a) não pode criar o universo, pois um ser atemporal não é capaz de ‘criar’ (‘criar’ é uma ação temporal)”. Ao modo dos filósofos medievais, que adoravam a exatidão, precisamos distinguir dois sentidos diferentes desse critério:

1. Não possivelmente (Deus é atemporal & Deus cria o universo)
e
1′.Deus é atemporal e não possivelmente (Deus cria o universo)

A ambiguidade no primeiro extremo do dilema é como a ambiguidade da frase “Não é possível à casa branca ser marrom” — queremos dizer que “não é possível à casa branca ser tanto branca como marrom” ou que “não é possível à casa branca tornar-se marrom”? Entendida no primeiro sentido, a frase é verdadeira, mas entendida no segundo sentido, é falsa. Portanto, as ações temporais de Deus não significam necessariamente que Deus é temporal, mas sim de que suas ações ocorrem temporalmente, apesar da causa ser atemporal.

A lei da causalidade (ou a Lei de Causa e Efeito) é uma lei muito importante da natureza. Ela diz que todo efeito no Universo deve ter algo que o causou. Que a causa tem que ser mais forte o suficiente para produzir o efeito, e isto tem que vir antes ou ao mesmo tempo que o efeito. Sem a existência desta lei, não haveria tal coisa como o estudo da ciência, pois a ciência envolve a tentar descobrir o que tende a acontecer (efeitos) cada vez que você faz as coisas certas (causas).

Em outras palavras, a crença dele de que não existe causa-e-efeito antes do Big Bang é incompatível e contraditória com a sua crença de que Deus é causa do universo e do Big Bang. É impossível que ambas sejam verdadeiras ao mesmo tempo. São crenças claramente contraditórias.

É um erro comum simplificar a lei da causalidade, assumindo que ela afirma que “todo efeito deve ter uma causa adequada que o precedeu”. Na realidade, a lei mais corretamente afirma: “cada efeito material deve ter um antecedente ou causa simultânea adequada”. A Lei da Causalidade como uma lei da ciência natural só se aplica ao que pode ser observado empiricamente, ou seja, o universo natural (ou seja, aquilo que é “material”), e não entidades sobrenaturais. Então, isso nem mesmo se aplica a Deus. Mas, mesmo que se aplicasse ao Criador, a crença dos céticos neste aspecto, que não há espaço para o Criador já que a Lei da Causalidade requer uma causa anterior – que não poderia ser o caso se o tempo não existisse antes do Big Bang – é errônea. O filósofo William Lane Craig explica que esse argumento repousa sobre uma falso dilema, uma vez que o argumento não “considera a alternativa óbvia de que a causa do Big Bang operada a to, isto é, ao mesmo tempo (ou coincidentemente) com o big bang “(Craig, 1994). Simplificando: a lei da causalidade permite causas simultâneas.Quando a pessoa se senta em uma cadeira, suas pernas formam um colo. O efeito de criar um “colo” ocorre simultaneamente com a sua causa: o ato de sentar-se é, obviamente, a causa de criar um “colo”. Então, claramente, as causas podem ter lugar simultaneamente com os seus efeitos. O renomado filósofo alemão, Immanuel Kant, em seu livro, A Crítica da Razão Pura, dá até mesmo o exemplo de uma uma bola de chumbo depositada sobre uma almofada que simultaneamente faz com que se produza o efeito de uma fissura ou “buraco” na almofada.
Mas é claro que esse absurdo é impensável, assim como qualquer tentativa de imaginar causalidade simultânea. Isso é apenas uma tentativa impensada de escapar do dilema e ganhar tempo pra pensar numa desculpa melhor enquanto o adversário fica tentando refutar (ou até entender) o que o teísta quer dizer com “causa simultânea”.
Logicamente, uma causa pode ocorrer simultaneamente com o seu efeito. Assim, para o autor desse artigo argumentar que uma causa para o Big Bang é desnecessária e até mesmo impossível, uma vez que deve preceder o Big Bang, é simplesmente errada.
Quem fez Deus?  Incompreensivelmente para os seres humanos em três dimensões bloqueadas, além do tempo, o criador do universo existe fora do tempo.  Assim, sem tempo, o termo “início” não tem significado, o termo  “fim” não tem significado, o termo “agora” não tem nenhum significado, e o termo “eternidade”  não tem significado.Kant mesmo afirmou em “A crítica da razão pura” que “a maior parte das causas que operam na natureza ocorrem simultaneamente com os seus efeitos.” Uma boa compreensão da lei da causalidade revela que a Lei não exclui a existência de um Criador. Craig afirmou: “O primeiro momento do tempo é o momento do ato criativo de Deus e da criação de simultânea vir a existir.”Da mesma forma, como um ser contingente, o universo exige uma explicação causal. Essa causa não pode ser temporalmente antes do universo, por isso deve ser logicamente anterior. Tudo que começa a existir, inclusive o universo, exige uma causa.Assim, a Primeira Causa, o Criador, o Divindade ….só é.  Em termos bíblicos, Ele disse, “eu sou”.

Um problema bem mais importante aparece quando consideramos que o deus das religiões monoteístas ocidentais é muitas vezes tido como um ser atemporal. Sendo assim, surge a questão: como um ser atemporal pode gerar um efeito temporal? Como foi dito anteriormente, não faz sentido falar em causa-e-efeito antes do Big Bang porque não existia o tempo. Portanto, só faz sentido falar em causa-e-efeito da dimensão temporal. Mas se Deus é atemporal, ele só não poderia ter causado o Big Bang, como não poderia causar coisa nenhuma!

Então, o problema é que o que nosso amigo está pressupondo é que um ente causa um efeito próprio de sua natureza, e tal pressuposto é falso. Porque um homem não gera um homem quando faz algo, mas gera algo em inferior dignidade, a não ser quando gera um filho, igual a ele em natureza.

Deus gera alguém próprio de sua natureza, que seria o caso da Trindade. Mas nada impede que Deus gera algo inferior à dignidade, pois tal nos é concedido igualmente. Não há fundamento que Deus não possa, atemporalmente, gerar algo que seja temporal, pois tudo que existe, mesmo na temporalidade, participaria da sua existência (nada disso teria existência própria).

O conceito de causalidade, por exemplo, não se aplica a um ser atemporal. Dizer que Deus é causa do universo ou do que quer que seja é uma afirmação sem qualquer sentido. No entanto, vemos muitos religiosos dizendo isso, como até o próprio William Lane Craig, que afirma que Deus é “causalmente, mas não temporalmente anterior ao universo”.

 

Sim, o conceito de causalidade, tal como apresentado na realidade não se aplica univocamente no seu sentido normal, mas analogicamente por proporção, já que a necessidade de haver um ente que exista por si é pressuposto que haja causalidade (no caso, causalidade material). Causa não causada é um termo analógico atribuído ao Ser que é por si, pressuposto de toda a existência da realidade. Seria correto se ele tomasse causa não causada univocamente a Causa não causada de Deus, por ser “não causada” é essencialmente diversa das outras causas mas ela é causa na medida que age eficaz levando a consequências, sem necessitar de algo mais que lhe dê existência. Daí é analógico.

Por Emerson de Oliveira e Pedro Henrique.

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.