Lucetta Scaraffia, “herética” e feminista radical, até que se topou com S. Teresa D’Ávila

9875_lucetta_scaraffia_Quando criança, Lucetta Scaraffia orou, sim: mas pediu a Jesus para não acabar sendo uma freira. Ela cresceu com uma mãe católica e um pai maçom. Se por ele não recebeu nenhuma formação religiosa por parte dela o que recebeu foi algo muito rigoroso: “Minha mãe não me deixava ir ao cinema, porque considerava um lugar de perdição e nem usar calça jeans. Passei em 68 com casaco!”, recorda com humor.

A historiadora da Universidade de La Sapienza, em Roma, turinesa de 1948, agora escreve ao L’Osservatore Romano, faz parte do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização, defende a Igreja, se opõe ao aborto e à eutanásia. Mas antes, parou de ir missa nos anos sessenta, perdeu a fé e se tornou uma “herege”, como ela diz, e foi uma ferrenha ativista feminista radical.

Em 1971, contraiu matrimônio canônico, mas reconhece que foi só para agradar sua mãe, e por isso foi cancelado anos mais tarde, quando já havia se divorciado do primeiro marido, e tinha tido um filho fora do casamento, e vivendo com um novo parceiro.

A sujeira das comunas
Que mudança ocorreu em sua vida? Ela mesma disse que há dois anos, em entrevista ao Panorama, onde relata que as primeiras dúvidas sobre seu feminismo surgiram por duas razões.  Primeiro, quando nas “reuniões de auto-conscientização” ouvia as histórias íntimas de suas colegas militantes. Em segundo lugar, quando em uma viagem a Londres para entrar em um encontro com as feministas inglesas desagradou-lhe “a sujeira e a desordem em suas comunidades“.

Naquela época, estava na moda estudar a vida de algumas santas da Igreja a fim de reinterpretá-las fazendo “história social, nada mais”. Ela, então, dedicou-se a ler a santa Rita de Cássia e santa Teresa de Jesus. “E seus textos começaram a falar além da minha intenção original. Percebi que havia algo mais. Fui seduzida pelo objeto do meu estudo.”

Estas dúvidas e estas leituras, no entanto, só foram abrindo o caminho para a verdadeira conversão, que não veio até vinte anos depois.

Na presença de Andreotti
No final dos anos oitenta passou uma tarde em frente à Basílica de Santa Maria de Trastevere, em Roma, quando viu várias pessoas reunidas ali. Ela ficou sabendo que é porque ali estava o primeiro-ministro Giulio Andreotti, na recepção de um ícone da Virgem do século VI.

“Eu não sei como”, ela explica, “eu me encontrei no banco da frente da igreja. O ícone fez sua entrada, precedida por uma longa procissão. O coro cantou o Akathistos bizantino, o mais antigo hino litúrgico à Mãe de Deus. E então me senti mal. Invadiu-me uma forte sensação de luz, calor, presença. Percebi que ela estava lá, existiu e falou comigo. Revelava-se a mim. Palavras não explicam a gratuidade da graça. Desde então fiquei completamente alterada.”

Ela entrou em contato com os missionários do Sagrado Coração de Jesus de s. Francesca Cabrini (1850-1917), uma freira italiana que viveu e morreu nos Estados Unidos e foi canonizada pelo papa Pio XII, que proclamou padroeira dos imigrantes. Ela se impressionou por sua espiritualidade.

O bom combate
E, desde então, ele não hesitou em entrar em árduas batalhas. Ela se opôs publicamente ao aborto e fez declarações fortíssimas muito politicamente incorretas.

Por exemplo, ele argumenta que a Igreja não é sexófoba. “Até a Revolução Industrial, a Igreja e a sociedade promoveram o mesmo objetivo: ter filhos. Uma necessidade imposta pela necessidade de mão de obra e a alta mortalidade infantil. A partir do século XIX, seus caminhos divergem. A sociedade acusa os sacerdotes de prescrever obrigações que não são naturais, mas não é que o mundo atual é permissivo e a Igreja repressiva. Simplesmente têm dois pontos de vista diferentes do corpo”.

Ele também se opõe a que os homossexuais possam se casar entre si, criar ou adotar filhos: “A Igreja está do lado dos fracos, neste caso as crianças, que têm todo o direito de ter um pai e uma mãe e a crescer com eles”.

E teme que a eutanásia acabe sendo aprovada: A expectativa de vida aumenta, e manter os doentes é caro. Haverá uma competição para expulsar os mais indefesos”.

Uma das razões para o sucesso de Scaraffia é sua contundência. Como de costume entre aqueles que se afastaram de Deus e O redescobriram, falta-lhe respeito humano. É o que é necessário para a Nova Evangelização, e por isso em maio Lucetta foi nomeada pelo papa como consultora do Conselho Pontifício presidido pelo arcebispo Rino Fisichella.

Uma nova jornada com pessoas dispostas a dar a cara a tapa. É tudo o que precisamos.

Fonte: http://www.religionenlibertad.com/articulo.asp?idarticulo=19485
Tradução: Emerson de Oliveira

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