Quem comprou o sepulcro em Siquém dos filhos de Hamor?

abrahamJs. 24, 32 diz que foi Jacó:

E os ossos de José, que os filhos de Israel haviam trazido para fora do Egito, eles enterraram em Siquém, no pedaço de campo que Jacó havia adquirido dos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de dinheiro; e veio a pertencer aos filhos de José como herança.

Mas At 7,16 diz que foi Abraão:

e foram transferidos para Siquém e colocados no túmulo que Abraão havia comprado por certo preço, com dinheiro de prata, dos filhos de Emor, em Siquém.

Como reconciliar isto?

Pode parecer que haja ali uma contradição, sendo que Atos 7, 16 diz que Abraão comprou um túmulo em Siquém, mas Gênesis 23,15-19 relata que comprou tal lote em Macpela, perto de Hébron. Existem diversas explicações possíveis. Vejamos alguns dos pormenores.
Pouco depois de Abraão entrar na Terra da Promessa (1943 a.C.), morou algum tempo em Siquém, que se encontrava na região setentrional onde mais tarde foi construída Samaria. (Gên. 12,6-8) Posteriormente, ao falecer a esposa de Abraão, Sara (1881 a.C.), ele comprou como lugar de sepultamento o campo e a caverna de Macpela, que estava perto de Hébron, ao sul de Jerusalém. “Abraão enterrou Sara, sua esposa, na caverna do campo de Macpela, defronte de Manre, quer dizer, Hébron, na terra de Canaã.” (Gên. 23,15-19) Com o tempo, Abraão, Isaque, Rebeca e Léia também foram enterrados ali. — Gên. 25,9; 49,29-32.
Jacó, neto de Abraão, também morou por um tempo perto de Siquém, e ele comprou ali um lote e construiu um altar. (Gên. 33,18-20) Quando estava à morte, no Egito, Jacó ordenou aos seus filhos que fosse enterrado, não em Siquém, mas com seus pais, no lote que Abraão havia comprado perto de Hébron. (Gên. 49,29-32; 50,12-13) Quanto a um enterro em Siquém, Josué 24,32 diz que os israelitas, depois de entrarem na Terra da Promessa, enterraram os ossos de José “em Siquém no pedaço de campo que Jacó havia adquirido”, que passou a estar no território de Manassés, filho de José.
Com esta história em mente, podemos observar Atos 7,15-16. Na sua defesa magistral, o discípulo cristão Estêvão disse: “Jacó desceu ao Egito. E ele faleceu; e assim também os nossos antepassados, e [os “antepassados”] foram transferidos para Siquém e colocados no túmulo que Abraão havia comprado por certo preço, com dinheiro de prata dos filhos de Emor, em Siquém.” De modo que parece que Estêvão estava dizendo que Abraão, em vez de Jacó, havia comprado terreno em Siquém. No entanto, Gênesis 23,17-18, nos diz que Abraão comprou uma sepultura em Macpela, perto de Hébron.
Certos eruditos acreditam que, além da compra dum terreno em Hébron, Abraão também pode ter adquirido terreno em Siquém, onde Deus lhe aparecera e onde construíra um altar. (Gên. 12,7) Neste caso, pode tratar-se do mesmo terreno que Gênesis 33,18, 19, menciona como comprado por Jacó daqueles que o controlavam naquele tempo. Este conceito eliminaria qualquer problema aparente com Atos 7,16.
Outra maneira de encarar isso é que Estêvão talvez simplesmente condensasse duas narrativas, combinando a transação de Abraão, em Gênesis 23,15-19, com a compra feita por Jacó, mencionada em Gênesis 33,18-19. O que dá algum peso a esta possibilidade é o fato de que, em Atos 7,7, Estêvão evidentemente combinou numa só declaração algo que Deus disse a Abraão e algo que Ele disse a Moisés. (Gên. 15,14; Êxo. 3,12) De modo que Atos 7,16 pode ser simplesmente uma declaração condensada ou elíptica, que bastava para o objetivo de Estêvão, assim como Atos 7,7.
Pode-se considerar ainda outra solução possível. Abraão era avô de Jacó. Portanto, embora Gênesis 33,18, 19, diga que Jacó comprou terreno em Siquém, Estêvão pode ter atribuído a compra a Abraão, o chefe patriarcal. O que leva a crer nisso são outros casos na Bíblia, em que os nomes de antepassados foram aplicados aos descendentes e usados em lugar deles. — Osé. 11,1-3, 12; Mat. 2,15-18.
Cada uma destas possibilidades pode ser a solução do aparente conflito entre Atos 7,16 e Gênesis 23,15-19. O fato de haver disponíveis várias explicações plausíveis salienta quão desarrazoado é quando alguém, atualmente, sem saber de todos os fatos, chega à conclusão de que Estêvão estava errado.

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