O “espirito do Vaticano II” é cristão?

VaticanIIO nome do Padre Joseph O’Leary  apareceu de repente na minha tela de radar. Ele tem comentado ativamente por um ou dois meses no Pertinacious Papist, e agora Christopher Blosser publicou um artigo no seu blog, The Perplexing Sayings of Fr. O’Leary. O’Leary é autor de ensaio recém-publicado “Dogma and Religious Pluralism,” em resposta ao qual Apolonio Latar publicou uma critica em duas partes (Apolonio, a propósito, é simplesmente incrível. O garoto – bem, acho que não é mais um garoto, uma vez que ele e’ um estudante do segundo ano do colégio  – e’ um prodígio. Prevejo que  Apolonio se tornará um  grande participante na área teológica nos próximos 15 anos se perseguir, como espero que persiga, estudos avançados em teologia e filosofia).  Não é necessário dizer que eu finalmente cedi e visitei  o site do padre O’Leary: Spirit of Vatican II (o espírito do Vaticano II).  O nome do site é importante. Como estou rapidamente descobrindo, o “espírito do Vaticano II” é tipicamente invocado por teólogos católicos para justificar alterações substanciais na fé e pratica católicas.

O’Leary é obviamente um pensador muito inteligente, erudito, sofisticado, bem versado em teologia, pelo menos de uma certa corrente. Ele escreveu um livro, Religious Pluralism and Christian Truth, que foi aplaudido pela Sociedade de Estudos budistas-cristãos.  Até onde pude perceber, ele não parece  familiarizado com teólogos protestantes que criticam  a teologia contemporanea enquanto prisioneira da modernidade—caras como Robert W. Jenson, Stanley Hauerwas, George Lindbeck, Bruce Marshall, Russell Reno, Ephraim Radner, John Milbank, Catherine Pickstock. Os heróis dele são  Karl Rahner e Edward Schillebeeckx, teólogos cuja utilidade já está começando a apagar-se rapidamente. Ele tem pouca paciência com a teologia do Papa Bento XVI e Hans Urs von Balthasar. Penso que é justo dizer que ele não gosta do documento Dominus Iesus do Vaticano. do Vaticano. O’Leary esta’ agora ativamente engajado no que ele chama de Teologia transdenominacional (transdenominational theology). Ele graduou-se na escola elementar do cristianismo antigo e avançou para coisas maiores e mais importantes.

Eu não simpatizo nem com sua atitude geral em relação ao cristianismo nem com sua dissensão quanto aos ensinos dogmáticos do catolicismo. O’Reilly representa um tipo de reflexão filosófica sincrônica  que é amplamente responsável pela destruição da identidade eclesiástica crista, tanto no catolicismo quanto no protestantismo clássico. Mas como alguém pode debater contra um pensador que é muito mais inteligente e culto do que quem argumenta? Levantar-se contra o padre O’Leary é um desafio formidável.

Eu sempre me faço algumas perguntas-chave quando leio qualquer teólogo:

Quantas vezes o teólogo usa a expressão “o evento Jesus”?
Minha regra de outro: Quanto mais um teólogo utiliza a frase “ evento Cristo” , menos eu confio nele.Vamos ser realistas: até o século passado, mais ou menos, cristãos nunca andaram por ai’ falando sobre um “evento Cristo” ou “acontecimento escatológico”, ou qualquer coisa do tipo.

E Jesus disse a eles, “E quem vocês dizem que sou?” Seus discípulos responderam, “Você é a manifestação escatológica da base do nosso ser, a fundação ontológica do contexto do nosso ser revelado.” E Jesus disse, “Como é que é?”

Os primeiros cristão falavam sobre Jesus de Nazaré, o eterno Filho do Pai, que se fez carne no ventre de Maria, foi crucificado sob Pôncio Pilatos, e no terceiro dia foi foi levantado pelo Pai dos mortos para a vida eterna através do poder do Espírito Santo.  O uso excessivo de “acontecimento Cristo”  tipicamente indica uma  fuga da realidade histórica-hipostática de Jesus para algum tipo de noção filosófica de um Logos eterno ou uma realidade cósmica não descritiva ou alguma outra definição igualmente abstrata. Mas o eterno Verbo de Deus não é abstrato. Ele é uma pessoa, crucificada e erguida e retornando em Gloria. E ele me chama hoje a negar a mim mesmo, tomar minha cruz, e segui-lo. Ninguém deixa sua vida por uma abstração.

O’Leary fala muito em “evento Cristo” …

A teologia contribui para a missão da Igreja?
Resumindo: Jesus nos ordenou a sair pelo mundo e a fazer discípulos entre as nações. Nós estamos no negocio da conversão, não no negocio do dialogo. Se este ultimo tivesse sido nosso objetivo primário, a Igreja nunca teria saído de Jerusalém. Eu sei que coloquei o assunto muito fortemente. Eu sei que existe um lugar para o dialogo inter-religioso na vida da Igreja, mas eu permaneço convencido de que isso deve sempre permanecer em Segundo lugar em nossa missão como cristãos de evangelizar e converter o mundo. Qualquer teólogo que  minimiza a tarefa missionaria da Igreja de proclamar o evangelho e persuadir outros de sua verdade absoluta não se qualifica como um verdadeiro teólogo cristão.

O’Leary fala muito em diálogo…

A teologia respeita e protege a estrutura narrativa e as particularidades históricas da revelação apostólica?
O Evangelho não começou como uma filosofia. Começou como uma revelação histórica que transformou as vidas daqueles aos quais foi contado. Começou como uma estória e é contado e recontado como uma estória. Uma estória começa, termina, e tem um conteúdo no meio. O autor da estória evangélica é Deus. O personagem central da estória é Deus. O espírito, a vida e o poder dessa estória é Deus. Ao contrario das estórias mitológicas da antiguidade, a estória do evangelho é uma estória que acontece na historia e portanto  tem todas as  particularidades e  excentricidades da historia, ao mesmo tempo que  envolve o revelador e transformador  poder do mito. É, como C. S. Lewis descobriu, mito que se tornou fato. Em 1931 Lewis escreveu ao seu caro amigo Arthur Greaves:

Se eu encontrasse a ideia de sacrifício numa estória pagã eu não me importaria em absoluto; novamente, se eu encontrasse a ideia de um deus sacrificando a si mesmo para si mesmo eu gostaria muito e seria misteriosamente tocado por isso. Novamente, a ideia de um deus morrendo e revivendo me tocaria de modo similar se eu a encontrasse em qualquer outro lugar que não fosse os evangelhos. A razão para isso é que nas estória pagãs eu estava preparado para sentir o mito como  profundo e sugestivo de significados além do meu entendimento mesmo se eu não pudesse dizer em palavras simples o que isto significava.  Agora, a estória de Cristo é simplesmente um mito verdadeiro: um mito trabalhando em nos da mesma forma que os outros, mas com a tremenda diferença de que realmente aconteceu. A pessoa deve se contentar em aceitar isto do mesmo modo, lembrando que  é um mito de Deus onde os outros são mitos de homens, ou seja, as estórias pagãs são Deus expressando a si mesmo através das mentes dos poetas, usando as imagens que Ele encontra lá, enquanto o Cristianismo é Deus expressando a Si mesmo através  do que chamamos “coisas reais”, ou seja, a verdadeira encarnação, crucificação e ressurreição.

É pela fundamental proclamação do dogma da Trindade que a estória do Evangelho verdadeiramente interpreta para o homem a realidade de Deus e reinterpreta nosso entendimento herdado de deidade. Portanto nos estamos inibidos de transcender a narrativa bíblica para descobrir divindade “por trás” das cenas bíblicas. Deus entrou na nossa historia e nos revelou os segredos profundos da sua vida trinitária.

O’Leary parece ter pouco interesse nas Escrituras enquanto “ Escrituras” como coerente testemunhos canônicos da autorrevelação de Deus em Jesus Cristo…

O teólogo intencionalmente localiza-se na tradição teológica, litúrgica e dogmática da Igreja? Ele pensa com a Igreja?
Ser um teólogo é ser um homem ou mulher da Igreja. É ser uma pessoa que mergulha na revelação apostólica, uma pessoa que nega a si mesma e permite que seus pensamentos se conformem a mente de Cristo como comunicado a nós pelas Escrituras e Sagrada Tradição. Ser um teólogo(a) é ser um homem ou mulher da Igreja. É se tornar, nas famosas palavras de Origen’s, “um homem da Igreja”; “e se tornar completamente eclesiástico”. Como o Papa Bento XVI explicou: “A teologia Católica não é uma reflexão individual mas é; pensar com a fé da Igreja. Se você dessa fazer outras coisas e ter outras ideias do que Deus deveria ser ou não ser, há liberdade para a pessoa fazê-lo, claramente. Mas você não deveria dizer que isso é teologia Católica.”

O’Leary gasta mais tempo criticando e rejeitando a Tradição do que gasta construtivamente e criativamente se apropriando dela…

Dada a posição crítica de Padre Joseph O’Leary’s contra a tradição Cristã e a Igreja Católica, a pessoa termina se perguntando se o “espírito do Vaticano II” é cristão.

http://web.archive.org/web/20060213042234/http://catholica.pontifications.net/?p=1030
Traduzido por Denise Hostin com colaboracao de Eduardo Guedes

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