Resposta ao Bruno Rangel “Simplesmente Ateu”

Bruno Rangel (Br) fez um artigo para tentar desqualificar uma argumentação teísta cristã a favor do cristianismo e da existência do Deus cristão (e só ele).
O artigo é antigo, mas como eu não tenho nada para fazer, eu vou mostrar as fraquezas nos pontos que ele fez.

No primeiro parágrafo, ele diz que deuses surgem como respostas a coisas que não compreendemos da natureza, e cita exemplos como deuses da chuva, deuses dos trovões etc.


Isso tudo é irrelevante para o Deus cristão, pois os cristãos não propõem a existência dEle como hipóteses explicativa alternativa da ciência que fundamenta fenômenos naturais específicos.


É um Deus transcendente e não imanentizado nos processos físicos. No máximo, teístas vão argumentar que Deus é a melhor explicação para milagres, como a ressurreição, que eles acham que aconteceram, ou Deus vai ser a conclusão dedutiva de um argumento filosófico que pode até usar evidências científicas, mas não vai propor Deus como uma explicação científica, e sim como a conclusão de um silogismo que, muitas vezes, usa das melhores descobertas e dos melhores dados científicos disponíveis, ao invés de propor alternativas divinas (pense no ACKM, por exemplo, que só usa da evidência científica disponível para provar uma premissa religiosamente neutra).

Vou ignorar as objeções dele ao argumento tomista a favor da unicidade de Deus a partir de sua perfeição. O teísta pode provar a unicidade de Deus a partir de outros argumentos, como o Argumento Ontológico (se funciona, Ele prova que Deus tem asseidade, que é o atributo de ser o ÚNICO ser que tira a razão de sua existência de si mesmo e que fornece a razão de existência de todos os outros). O Argumento da Contingência (de Leibniz) também tenta provar que Deus tem asseidade, e o Argumento Moral
faz o mesmo.

Sobre o paradoxo da pedra que ele citou: https://projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2012/08/27/tecnica-paradoxo-da-pedra/

Br tenta aplicar o problema da regressão infinita a Deus dizendo que “Imagine deus no ato de criar o universo, para ele criar o universo ele deveria sair do ponto do que ele estava fazendo antes de criar para passar a criar. Tal como antes disso ele deveria sair do que estava fazendo antes do que estava fazendo antes de criar o universo e aí por diante até o looping infinito. Pra piorar devemos lembrar que não existiria tempo para isso, como ele pode fazer uma sequência de acontecimentos se não existe tempo?”

A resposta tradicional é que Deus, sendo atemporal, não estava fazendo nada e que não existia sequência de eventos no estado atemporal dele, não existia um conjunto formado por adição sucessiva onde um evento sucede um após o outro. Outra resposta mais moderna é afirmar que Deus existia num tempo vazio sem métrica linear de eventos, e, portanto, sem a adição sucessiva que causa a regressão.

Ele salienta que existem alguns deuses que são definidos em termos não-superlativos (eles não são seres perfeitos, supremos, infinitos, mas seres menores, limitados e finitos). Um cristão pode admitir isso e sustentar que se eles existisem ainda não seriam Deus (com d maiúsculo) mas deuses (com d minúsculo).

Mas pode-se negar a existência deles pela falta de evidências que se espera de seres imanentes como eles. Esses deuses imanentes são tão conectados com a natureza e com o cosmo que o fato deles não se manifestarem de forma mais evidente é boa prova da não-existência deles (esses deuses cumprem o critério de expectativa de evidência e cumprem o critério de expectativa de acesso à evidência).

Isso não é nada diferente do que os ateus propõem quanto ao Deus cristão com o Ocultamento Divino. A diferença é que eles entendem que o Deus cristão é transcendente e apelam para outras bases para inferir do ocultamento dele a inexistência dele.

Brahman, que Rangel cita, é o deus supremo de uma religião panteísta. Brahman não é o criador/designer do cosmo, é só a manifestação suprema dele (no hinduísmo o cosmo é eterno). Os deuses desses povos latino-americanos, de acordo com a fonte que Rangel deixou: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/110735/109161
“que não interfere na vida quotidiana do homem e que, portanto, não é tampouco objeto de qualquer espécie de culto.

A distância e proeminência de uma divindade dessa natureza conduz às vezes para a concepção de um ser supremo puramente espiritual não concebido ·Como personalidade.”


Ou seja, um deus impessoal e que não se relaciona conosco. Esse Deus pode ser o Deus pessoal da teologia natural?

Br não entende o argumento moral. Ele não serve para provar que “a moral cristã é superior às outras” e sim que a existência de valores e deveres morais objetivos requer um fundamento ontológico sólido, que é plausivelmente inexistente no ateísmo mas é existente no teísmo, o que constitui evidência a favor do teísmo.

Br recorre a um espantalho sobre o uso de fontes não-neotestamentárias por parte dos cristãos com bastante frequência. Ele trata como se as citações à pessoa de Jesus fosse usada para provar a ressurreição, mas ela é usada para provar o Jesus histórico.

Analisando Flávio Josefo, ele diz que ele pode ter usado os Evangelhos como fonte (pode até ter sido o novo testamento por essa lógica).
O problema é que Flávio Josefo termina a história de Jesus como tendo sido morto e permanecido morto, algo que não faria sentido com o clímax do Novo Testamento.
Ele trata as acusações judaicas contra Jesus como desconhecidas, mas nos evangelhos elas são explicitamente colocadas.

Sobre essa passagem ter sido interpolada com elementos cristãos que Josefo não mencionaria: Nós concordamos! Mas isso não é motivo para desprezar toda a passagem:
https://logosapologetica.com/os-escribas-cristaos-falsificaram-josefo/?wppaginasinstantaneas=1613567477

ELe não alivia a culpa de Pilatos, ele só salienta que ele não fez isso por vontade própria, mas sim seguindo o que os judeus disseram (o que é simplesmenteo que ocorreu de fato).

A igreja primitiva já se considerava separada dos judeus no livro de Atos (At 2.23,36; 4.10) e usa o título cristão (Atos11:26). EM 1Pedro 4:16, o título cristão já é usado. E o novo testamento foi escrito no primeiro século.

No artigo sobre a falsificação do Testimonium Flavianum, já respondemos as outras objeções (o texto flui naturalmente sem esse trecho, o texto so e mencionado por x)

Lembrando que ainda existe outra citação de Josefo a Jesus que ele nao mencionou, mas esta no artigo supracitado.

Ele aceita a menção de Tácito ao Jesus histórico.

ELe diz que Plínio o Jovem só menciona que cristãos adoravam a Jesus como um deus, mas nada impede que ele visse Jesus apenas como uma figura religiosa nao-historica que era adorada como divindade.

Rober Van Voorst, acadêmico do Jesus histórico, concorda parcialmente com isso e diz:
“A única declaração que Plínio poderia fazer implicitamente sobre o Jesus histórico é encontrada nas palavras carmenque Christo quasi deo dicere secum invicem “e cantado antifonicamente um hino a Cristo como se fosse a um deus” .23

Harris, seguindo Goguel, argumenta que usando quase Plínio significa dizer que o Cristo divino a quem os cristãos adoram já foi um ser humano. Sherwin-White aponta que em Plínio “quase é usado comumente sem a idéia de suposto”, para significar simplesmente “como”.

Ele da a entender que por ser um cristão que faz o texto (Julio Africano, Eusébio) a credibilidade fica comprometida, mas isso é falso. Se for assim, então o texto de Rangel tentando detonar as argumentações cristãs tem credibilidade comprometida porque ele é ateu e nao gosta da moralidade bíblica.

Quando Flegon diz que ninguém lembra o evento, eles querem dizer que apesar deles saberem que aconteceu, eles deixam para lá e não refletem sobre. Como quando dizemos que ninguém lembra do acidente que ocorreu ou algo assim.

Br tenta refutar o eclipse dizendo que é naturalmente impossível que ocorra um eclipse solar em tempo de pascoa (com lua cheia). Sendo que se foi um milagre, como Flegon disse, então essa objeção é irrelevante. Deus pode fazer o naturalmente impossível.

Eusébio não adulterou o trecho de Josefo, ele recebeu adulterado.

Julio Africano não diz que Talo não era confiável, ele diz que ele estava errado quanto a sua hipótese. Isso em nada compromete a sua honestidade e precisão com os fatos históricos, porque a hipótese da eclipse era apenas uma hipótese.

É improvável que um cristão venha a forjar um relato como esse porque ele tenta dar uma explicação naturalista pro evento da escuridão, tentando tirar o aspecto sobrenatural que o cristãos põem.

Julio não estende o raciocínio ao de Flegon porque Flegon admitiu que era um milagre. “A escuridão foi enviada por Deus”, o que Julio aprova.
O eclipse é mencionado em fontes independentes. Que se dane o problema da datação, porque o que se sabe é que há bons motivos históricos pra pensar que ele aconteceu e ficou registrado na historia romana.


O relato de Talo indiretamente prova o jesus histórico a partir dessa citação percebemos que o relato dos Evangelhos acerca das trevas que se abateram sobre a terra por ocasião da crucificação de Cristo (Lucas 23:44-45) era bem conhecido, e exigia uma explicação naturalista por parte daqueles não-crentes que haviam testemunhado o acontecimento.


“Talo, segundo Teófilo, mencionou que Belos, rei dos Assírios, se aliou ao titã Chronos contra o levante de Zeus;” O que é irrelevante.
“Talo não estava no local, portanto, o relato dele é um relato secundário;”
A maior parte da história não é escrita por testemunhos oculares. O que é irrelevante.
” Talo foi contemporâneo de Saulo de Tarso, mas esse não menciona nada sobre o suposto eclipse;”


Isso é falácia de apelo ao silêncio. irrelevante, Paulo escrevia cartas, não biografias de Jesus.

“Até porque os próprios relatos dos cristãos indicam que na época que Suetônio viveu (69 – 141 d.C) Jesus já deveria ter voltado aos céus há muito tempo, pois esse havia ficado só 40 dias na terra após a ressurreição em 33d.C .”


Jesus instigou judeus em 33 d.C e eles continuaram sendo influenciados por ele após anos.

Br menciona o texto errado de Luciano. Confira o texto certo:
“Foi então que ele [Proteus] conheceu a maravilhosa doutrina dos cristãos, associando-se a seus sacerdotes e escribas na Palestina. (…) E o [Jesus] consideraram como protetor e o tiveram como legislador, logo abaixo do outro [legislador], aquele que eles ainda adoram, o homem que foi crucificado na Palestina por dar origem a este culto. (…)

Os pobres infelizes estão totalmente convencidos de que eles serão imortais e terão a vida eterna, desta forma eles desprezam a morte e voluntariamente se dão ao aprisionamento; a maior parte deles. Além disso, seu primeiro legislador os convenceu de que eram todos irmãos, uma que vez que eles haviam transgredido, negando os deuses gregos, e adoram o sofista crucificado vivendo sob suas leis.”

Ele sugere que foi puro boato, mas esses historiadores sao conhecidos por checar bem suas fontes.

Ele diz que Celso citou o Jesus histórico (convenientemente naturalista) e não místico, mas Celso diz que “e tendo aí adquirido alguns poderes mágicos, nos quais os egípcios tanto se orgulham”
Mas é irrelevante, pois o proposito é provar o Jesus histórico mesmo.

Não se sabe como Pitágoras morreu. E não se sabe se Samos foi coberto ou nao por um tsunami.

“Não é preciso nem comentar nada. Não tem nada a ver com a história original que ele foi crucificado e tinha 12 discípulos. As diferenças são tantas que não sei como alguém que leu tal relato consegue enxerga alguma referência a Jesus ali.”


Estudiosos de verdade concordam. Br não apontou as grandes diferenças. É claro, existem diferenças do original, mas fala sim que ele foi “Pendurado” na páscoa, o que é plausivelmente uma alusão a crucificação. Num outro trecho e dito que ele tem discípulo:

“Ele respondeu: Akiba, você me lembrou! Certa vez eu estava caminhando pelo mercado de cima (a Tosefta traz ‘rua’) de Sefôris e encontrei um (dos discípulos de Jesus de Nazaré);”

Sobre o critério do embaraço:


“É bem fácil responder esse questionamento. Para uma religião que quer mostrar como o homem é fraco, pecador e precisa de deus nada melhor do que mostrar as falhas dos próprios apóstolos para que sirva de certa inspiração para as pessoas. E é exatamente assim que é feito hoje em dia, já cansei de ver analogias com a fraqueza de Pedro e de como Jesus perdoa apesar das falhas.”

O critério do embaraço não e sobre elementos embaraçosos para os personagens, e sim para os autores e seus propósitos narrativos com a audiência imediata.
“A pergunta é: Porque incluir eventos embaraçosos na narrativa torna ela mais crível do que se não tivesse?”
Porque, se os detalhes são contraproducentes para os autores e seus propósitos narrativos com a audiência imediata, ele não seria incluso se não fosse histórico.

O problema é que as exigências eram contra desejos humanos da época que na visão das pessoas não seria algo necessário para a administração social adequada, como os mandamentos de Jesus contra divorcio.

“Sobre o José de Arimatea, não sei qual o problema do relato dele sendo membro do conselho. O próprio relato bíblico diz que ele era um seguidor de Jesus”


O critério que está sendo avaliado aqui não é o da verossimilhança e sim o do embaraço. É verossímil que um seguidor de Jesus faça o sepultamento dele, mas é embaraçoso para a tensão e hostilidade irracional da igreja primitiva com o sinédrio colocar esse elemento caso não fosse verdadeiro.

“Sobre a parte da mulheres também não há nenhum absurdo. O trecho diz que primeiro Jesus aparece para elas e elas contaram aos apóstolos sobre a ressurreição, mas como é de se esperar ninguém acreditou. Ou seja o testemunho de uma mulher continuou não valendo. “


Novamente confundindo verossimilhança com embaraço.

“Ou seja até aí nada anormal. Outro problema é que os evangelhos não foram escritos por testemunhas oculares, na verdade eles foram escritos entre os anos 80 e 140 após a morte de Jesus.”


Essa datação é disputada, alguns datam entre 60 e 96 d.C. Mas isso é irrelevante. As primeiras biografias de Alexandre, o Grande só aparecem 400 anos depois dele morrer.
Não precisa de testemunhas oculares pra história ser correta.

“eles recebem o título “Evangelho SEGUNDO São Marcos” , “Evangelho SEGUNDO São Mateus” etc.. mas eles são todos anônimos.”


O que é irrelevante. Temos Irineu de Lyon em 180 DC atribuindo a eles, mais Justino Mártir, Clemente de Alexandria, Tertuliano, o cânon primitivo em 170 dc e Papias. O Br acredita que Tácito escreveu o que foi atribuído a Tácito (Anais), mas o único que atribui é São Jerônimo, cerca de 300 anos depois. Dois pesos, duas medidas.

“Algumas pessoas acham que existiu um bispo da Igreja primitiva chamado Papias que atestou o testemunho de Marcos e Mateus, mas na verdade há evidências muito sólidas de que Papias que viveu nos anos de 120 a 140 não está se referindo ao nosso Marcos ou ao nosso Mateus.”


Ele não apresentou evidencia alguma disso. A maioria dos estudiosos da historia eclesiástica discorda disso.

Ele diz que mesmo que fossem testemunhas oculares, nada garante que eles falariam a verdade ou sempre acertariam.
Isso serve para toda a historia, e se for assim, não podemos confiar em nada. Mas os historiadores desenvolveram critérios de autenticidade para investigar a veracidade dos relatos.

“Alguns outros problemas com os relatos é que além dos autores dos evangelhos viveram 40,50,60 anos depois que Jesus morreu eles escreveram em grego e Jesus falava aramaico. Esses autores conseguiram essas informações ouvindo histórias que circulavam ano após ano, e qualquer um que já brincou de telefone sem fio sabe o que acontece quando uma afirmação é passada oralmente. Parte dela se perde, alguns trechos são aumentados, outros modificados, outros totalmente alterados e a mensagem original com o que chegou no outro extremo da fila são totalmente diferentes.”

Tradição oral não é telefone sem fio, ela é confiável e zelosa. As informações são levadas a serio, são passadas publicamente e não em segredo, são repetidas varias vezes a versão original antes q ela sofra alterações e e colocada em estruturas fáceis de memorizar (como parábolas).

Os escritores dos evangelhos viveram muito antes disso mesmo na datação desesperadamente tardia do Br. Mas se eles foram contemporâneos de Jesus, ou contemporâneos dos contemporâneos, a objeção dele cai por terra.

Ele cita contradições nas narrativas da ressurreição. Supondo que sao contradições mesmo, o que isso prova? Sao contradições em detalhes secundários e laterais, o ponto central e o mesmo: Jesus ressuscitou e deixou uma tumba vazia pra trás.

Contradições existem entre os relatos do incêndio em Roma, a invasão de Aníbal aos Alpes, até o afundamento do Titanic! E ninguém duvida do cerne das narrativas.

O evangelho de Pedro é uma pseudo-epigrafe super tardia da metade do segundo seculo.

Como dito anteriormente, quando Paulo afirma isso, ele afirma pegando de uma tradição muito primitiva cheia de semitismos e com conteúdo de tradição oral antiga e ele diz que alguns dos q viram ainda estão vivos (dando uma possibilidade de verificação). Esses são critérios que legitimam a veracidade dessa alegação.

Estar dominado por cristãos ou não não importa. Os cristãos da época sabiam que não tinham visto Jesus, só tinham pegado a deixa dos que viram.

O Br confunde alguém morrer por uma mentira (mártires muçulmanos por exemplo) e alguém morrer por algo que se sabe que e mentira. Não foram meros cristãos que morreram pelo cristianismo, e sim os fundadores do cristianismo que morreram por ele (apóstolos).

Se alguém inventou uma ideia, ele promoveu ela inicialmente e morre por ela, isso mostra que ele acreditava nisso sinceramente, que não estava mentindo porque ele que trouxe a ideia a tona, não foi alguém que recebeu a ideia de outrem e acabou acreditando como os muçulmanos, índios, bruxas.

Não sei de que malabarismo ele fala, considerando que ele quer tentar dizer que Papias, pai da igreja, falou de um Mateus e um Marcos que não eram o Mateus e o Marcos que todo mundo conhecia, o que deve ter uma enrolação danada no meio e pura pseudagem.

Autor: Filipe

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