Em mais um vídeo patético de “especialista” em palpitaria para falar sobre a Bíblia, Edson Toshio mostra toda sua desinformação.
Eu não tenho paciência para ver esses vídeos simplistas então reuni as principais alegações com as respectivas refutações.
. A Bíblia não é a Palavra de Deus, mas uma criação humana fruto da evolução cultural
“Com certeza não é a palavra de Deus… É uma criação humana… fruto da evolução cultural.”
Toshio: “Com certeza não é a palavra de Deus… Existem tantas mudanças e contradições, erros, inconsistências, incoerências. Então podemos dizer que de fato a Bíblia é um fruto da evolução cultural.”
Resposta acadêmica:
A alegação de que a Bíblia não pode ser divina por conter “erros” parte de uma definição prévia e não demonstrada de inerrância — a saber, que qualquer aparente contradição ou imprecisão histórica descarta automaticamente a inspiração divina. No entanto, a doutrina cristã clássica da inspiração bíblica não exige que a Bíblia seja um manual científico ou histórico no sentido moderno.
Esta alegação parte de um pressuposto naturalista não demonstrado: que qualquer texto com origem humana não pode ser simultaneamente divino. No entanto, a doutrina cristã clássica da inspiração bíblica não nega a humanidade dos autores, mas afirma que Deus usou autores humanos com suas personalidades, estilos e contextos culturais para comunicar Sua verdade.
Toshio comete aqui a falácia genética – presumir que a origem de uma crença determina sua veracidade. C.S. Lewis abordou isto magistralmente em Miracles (HarperCollins, 1947, p. 23-24):
“Se o naturalismo fosse verdadeiro, toda linha de raciocínio seria resultado de processos irracionais. Logo, não haveria razão para confiar em qualquer raciocínio – incluindo o raciocínio que levou ao naturalismo.”
Aplicação: Mesmo se a crença em Deus evoluiu culturalmente (o que é disputável), isso não prova que Deus não existe. A capacidade matemática também evoluiu – isso não torna 2+2=4 menos verdadeiro.
Alvin Plantinga em Where the Conflict Really Lies (Oxford, 2011, p. 265-303) desenvolve o “Argumento Evolutivo Contra o Naturalismo” (EAAN):
- Se naturalismo+evolução são verdadeiros, nossas faculdades cognitivas são adaptações para sobrevivência, não para verdade
- Sobrevivência não requer crenças verdadeiras, apenas adaptativas
- Logo, se naturalismo é verdadeiro, temos razão para duvidar de todas nossas crenças – incluindo no naturalismo
- Portanto, naturalismo é auto-refutante
Teísmo explica melhor cognição confiável: Se Deus nos criou à Sua imagem com propósito de conhecê-Lo, nossas faculdades cognitivas são confiáveis porque projetadas para apreender verdade.
2. “Promessas Não Funcionam” – Análise Hermenêutica
A alegação de que “promessas bíblicas não funcionam” revela má compreensão hermenêutica. D.A. Carson em Exegetical Fallacies (Baker Academic, 3ª ed., 2015, p. 119-136) identifica o erro:
Promessas condicionais vs. incondicionais:
- Muitas promessas têm condições implícitas ou explícitas
- Contexto determina audiência (Israel nacional, igreja, indivíduo)
- Gênero literário (poesia vs. prosa, promessa vs. observação geral)
Exemplo – Filipenses 4:19: “O meu Deus suprirá todas as vossas necessidades”
Contexto ignorado por leitura superficial:
- Paulo escreve aos filipenses que sacrificialmente o sustentaram (4:15-18)
- Promessa específica a generosos doadores, não carta branca universal
- “Necessidades” (χρεία, chreia) ≠ desejos ilimitados
Gordon Fee em Paul’s Letter to the Philippians (NICNT, Eerdmans, 1995, p. 439-442) demonstra: Esta promessa funciona precisamente como Paulo descreveu – cristãos que vivem generosamente experimentam provisão divina contínua, documentado em inúmeros testemunhos missionários.
3. Evidência Textual de Origem Divina
Contrariamente à alegação de “criação puramente humana”, a Bíblia apresenta características que desafiam explicação naturalista:
A) Unidade na Diversidade (Peter Stoner)
Em Science Speaks (Moody, 1963), Stoner calculou probabilidades de profecias messiânicas:
- 48 profecias específicas sobre o Messias escritas 400-1500 anos antes de Cristo
- Probabilidade de uma pessoa cumprir todas: 1 em 10^157
- Para contexto: há aproximadamente 10^80 átomos no universo observável
Exemplos verificáveis:
- Miqueias 5:2 (c. 700 a.C.): Messias nasceria em Belém – cidade insignificante
- Zacarias 11:12-13 (c. 520 a.C.): Traído por 30 moedas de prata, dinheiro compra campo de oleiro
- Salmo 22:16-18 (c. 1000 a.C.): Descreve crucificação (mãos/pés perfurados, sorteio de vestes) séculos antes de Roma inventar crucificação
- Daniel 9:24-27 (c. 530 a.C.): Prediz tempo exato da vinda do Messias (controverso mas estudado por Harold Hoehner em Chronological Aspects of the Life of Christ, Zondervan, 1977)
B) Conhecimento Científico Antecipado (Henry Morris)
Embora contestável e exigindo cautela contra eisegese, alguns textos sugerem conhecimento além da época:
- Jó 26:7 (c. 2000 a.C.): “Estende o norte sobre o vazio; suspende a terra sobre o nada” – contradiz cosmologias antigas (terra sobre tartarugas/elefantes)
- Isaías 40:22 (c. 700 a.C.): “círculo da terra” (חוּג, chug – pode significar esfera)
- Levítico 17:11: “vida da carne está no sangue” – compreensão que levou milênios para medicina descobrir plenamente
Hugh Ross em Improbable Planet (Baker, 2016, p. 197-213) argumenta que ajuste fino para vida mencionado em Jó 38-39 antecipa descobertas cosmológicas modernas.
4. Manuscritos: Confiabilidade Textual
Contra alegação implícita de corrupção textual, Daniel Wallace (diretor do Center for the Study of New Testament Manuscripts) em Revisiting the Corruption of the New Testament (Kregel, 2011, p. 24-56):
Comparação com literatura antiga:
Obra | Composição | Manuscrito Mais Antigo | Gap Temporal | # Manuscritos |
---|---|---|---|---|
Novo Testamento | 50-95 d.C. | 125 d.C. (P52) | 30 anos | 5,800+ grego |
Homero (Ilíada) | 800 a.C. | 400 a.C. | 400 anos | 1,800 |
Platão | 400 a.C. | 895 d.C. | 1,300 anos | 210 |
Júlio César | 100-44 a.C. | 900 d.C. | 1,000 anos | 10 |
Tácito (Anais) | 100 d.C. | 1100 d.C. | 1,000 anos | 33 |
Bart Ehrman (crítico agnóstico) admite em Misquoting Jesus (HarperOne, 2005, p. 10):
“A riqueza de material [manuscrito] é tão embaraçosa que torna o Novo Testamento o livro antigo mais bem atestado… não há comparação.”
Variantes textuais: 400,000+ variantes entre manuscritos, MAS:
- 75% são erros ortográficos óbvios
- 24% são variações insignificantes (ordem de palavras)
- 1% afeta significado, mas nenhuma afeta doutrina central
Bruce Metzger & Bart Ehrman em The Text of the New Testament (4ª ed., Oxford, 2005, p. 126):
“O texto do Novo Testamento é 99.5% estabelecido. Nenhuma doutrina cristã fundamental depende de variante textual.”
O teólogo B. B. Warfield, um dos principais defensores da inerrância no século XIX, afirmou:
“A Bíblia é inerrante não no sentido de que seus autores eram cientistas ou historiadores modernos, mas no sentido de que, em tudo o que afirma (de acordo com sua intenção autoral), afirma a verdade.”
— The Inspiration and Authority of the Bible (1948, p. 173)
“A Bíblia é ao mesmo tempo um livro inteiramente humano e inteiramente divino. Não há conflito entre essas duas verdades, pois o Espírito Santo guiou os autores de modo que, escrevendo segundo suas próprias capacidades, produziram exatamente o que Deus quis que fosse escrito.”
— The Inspiration and Authority of the Bible, p. 158
Além disso, a ideia de que a Bíblia é “fruto da evolução cultural” ignora a coerência teológica interna do cânone. O Antigo Testamento aponta para um Messias (Is 53; Dn 7:13–14); o Novo Testamento afirma que Jesus cumpre essas promessas (Lc 24:27; At 2:22–36). Essa unidade não é compatível com mero acúmulo cultural aleatório.
O historiador Richard Bauckham argumenta:
“Os evangelhos não são mitos tardios, mas testemunhos baseados em testemunhas oculares, preservados com cuidado pela comunidade apostólica.”
— Jesus and the Eyewitnesses, 2006, p. 7
Portanto, a alegação de Toshio comete a falácia do falso dilema: ou humano ou divino — quando a tradição cristã afirma ambos.
Além disso, o conceito de gênero literário é essencial. Gênesis 1–2, por exemplo, é amplamente reconhecido por estudiosos evangélicos e católicos como literatura teológica simbólica, não um relato científico. O Papa Pio XII, na encíclica Humani Generis (1950), escreveu:
“O primeiro capítulo de Gênesis apresenta de forma popular e figurada a origem do mundo e do homem.”
— Humani Generis, §36
Portanto, julgar Gênesis como “cientificamente errado” comete a falácia categoriais: aplicar critérios modernos de ciência a um texto antigo cuja intenção era teológica e cosmológica, não empírica.
2. A Bíblia contém contradições internas irreconciliáveis
a) Gênesis 1 vs. Gênesis 2: ordens criacionistas conflitantes
“Já tem contradição na narrativa da criação… Em Gn 1: animais → homem e mulher juntos. Em Gn 2: homem → animais → mulher.”
oshio assume que Gênesis 1 e 2 são relatos cronológicos concorrentes, quando na verdade são complementares e de gêneros literários distintos.
- Gênesis 1 é uma estrutura poética teológica (com refrão “e viu Deus que era bom”), organizada em pares de dias (dias 1–4: domínios; dias 2–5: habitantes; dias 3–6: terra e seres terrestres). Seu propósito é afirmar a soberania de Deus sobre todas as esferas da criação, em contraste com os mitos politeístas do Antigo Oriente Próximo.
- Gênesis 2 é uma narrativa focada no ser humano, com linguagem mais íntima e antropocêntrica. Não é uma segunda versão da criação, mas um zoom no sexto dia.
O teólogo John H. Walton explica:
“Gênesis 1 não descreve como Deus fez o mundo material, mas para que fim: estabelecer um templo cósmico onde Deus habita com a humanidade. Gênesis 2 se concentra na função do ser humano como imagem de Deus no jardim-santuário.”
— The Lost World of Genesis One, 2009, p. 84
Além disso, a suposta contradição (“animais antes ou depois do homem?”) desaparece quando se nota que Gênesis 2:19 em hebraico pode ser traduzido como “Deus já havia formado os animais” (verbo perfeito), não “formou naquele momento”. A tradução da Almeida Revista e Corrigida (ARC) diz: “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todos os animais…” — o que elimina a contradição.
1. Framework Hypothesis (Hipótese Estrutural Literária)
Meredith G. Kline em “Space and Time in the Genesis Cosmogony” (Perspectives on Science and Christian Faith 48.1, 1996, p. 2-15):
Evidências textuais de estrutura não-cronológica:
A) Paralelismo Quiástico Evidente:
FORMAÇÃO (Dias 1-3) PREENCHIMENTO (Dias 4-6)
───────────────── ────────────────────────
Dia 1: LUZ → Dia 4: LUMINARES (sol, lua)
Dia 2: CÉUS/ÁGUAS → Dia 5: AVES/PEIXES
Dia 3: TERRA/VEGETAÇÃO → Dia 6: ANIMAIS/HUMANIDADE
Padrão literário: Criação dividida em dois triângulos paralelos. Dias 1-3 criam “palcos”; dias 4-6 posicionam “atores” nos palcos correspondentes.
B) Fórmulas Repetidas (Estrutura Litúrgica):
Cada dia segue padrão idêntico:
- “E disse Deus…” (comando)
- “E assim foi” (execução)
- “E viu Deus que era bom” (aprovação)
- “E foi tarde e manhã, dia X” (conclusão)
Henri Blocher em In the Beginning (IVP, 1984, p. 49-59): Esta repetição sétupla indica liturgia, não reportagem jornalística. Gênesis 1 foi escrito para ser recitado (provavelmente no Shabat), não para descrever sequência física.
C) Gênero Literário:
John Walton em The Lost World of Genesis One (IVP Academic, 2009, p. 49-78) – revolucionário trabalho baseado em estudos do Antigo Oriente Próximo:
Tese central: Gênesis 1 não trata de origens materiais mas origens funcionais – Deus inaugurando cosmos como templo cósmico.
Análise linguística de בָּרָא (bara’ – “criar”):
- Usado 50+ vezes no AT
- Nunca descreve fabricação material
- Sempre descreve atribuição de função/propósito/ordem
Exemplos:
- Isaías 45:7: “Eu faço a paz e crio (בָּרָא) o mal” – não fabrica mal materialmente, mas ordena realidade moral
- Salmo 51:10: “Cria em mim um coração puro” – não materialização, mas transformação funcional
Paralelo com textos cosmogônicos mesopotâmicos:
Texto | Data | Estrutura |
---|---|---|
Enuma Elish (babilônico) | ~1200 a.C. | 7 tábuas, deuses ordenam caos |
Atrahasis (acadiano) | ~1800 a.C. | Deuses resolvem problemas funcionais |
Gênesis 1 | ~1400-500 a.C. | 7 dias, Deus ordena caos (תֹהוּ וָבֹהוּ) |
Diferença crucial: Gênesis é polêmica contra politeísmo – um Deus verdadeiro vs. panteão.
2. “Luz Antes do Sol” – Resolvido por Framework
Se Gênesis 1 é estrutura temática, não cronologia:
Dia 1 (Luz): Deus estabelece princípio da luminosidade – domínio sobre trevas Dia 4 (Luminares): Deus posiciona portadores físicos dessa luz
Analogia (C. John Collins): Como arquiteto primeiro decide “preciso iluminação” (conceito), depois instala lâmpadas específicas (implementação).
Teologia, não física: Luz do Dia 1 representa presença divina (cf. 1 João 1:5: “Deus é luz”). João 1:4-5 ecoa isto: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.”
3. Gênesis 2: Zoom Temático, Não Segunda Criação
C. John Collins em Genesis 1-4: A Linguistic, Literary, and Theological Commentary (P&R, 2006, p. 124-129):
Análise sintática hebraica de 2:19:
Texto hebraico: וַיִּצֶר יְהוָה אֱלֹהִים מִן־הָאֲדָמָה Transliteração: wayyitzer YHWH elohim min-ha’adamah
Problema: וַיִּצֶר (wayyitzer) – verbo com ו (waw) prefixado
Duas interpretações possíveis:
- Waw consecutivo (sequencial): “E Deus formou…” (ação seguinte)
- Waw disjuntivo (pluperfect): “Ora, Deus havia formado…” (ação anterior)
Evidência linguística para #2:
- Sintaxe: Quando hebraico desvia de ordem verbal-sujeito-objeto para sujeito-verbo, frequentemente indica flashback
- Contexto: V. 18 diz Deus buscará “ajudadora”, v. 19 explica que animais (já criados) foram considerados
Victor Hamilton em The Book of Genesis 1-17 (NICOT, Eerdmans, 1990, p. 175-176):
“2:19 deve ser entendido como circunstancial/pluperfect: animais que Deus havia formado foram trazidos.”
Técnica cinematográfica: Gênesis 2 não repete criação, mas expande Dia 6 com foco antropológico. Como filme que mostra ampla batalha, depois zoom em protagonista.
Propósito teológico de Gênesis 2:
- Cap 1: Humanidade como clímax cósmico (imago Dei)
- Cap 2: Relacionamentos (Deus-humano, humano-humano, humano-criação)
Estrutura conceitual:
- Cap 1: O QUE Deus criou (inventário cósmico)
- Cap 2: POR QUE Deus criou humanidade (vocação relacional)
4. Firmamento (רָקִיעַ – Raqia’): Acomodação ou Fenomenologia?
Alegação de Toshio: Bíblia ensina domo sólido com água acima (cosmologia de três camadas).
Paul Seely em “The Firmament and the Water Above” (Westminster Theological Journal 53, 1991, p. 227-240):
Admite: Israelitas antigos provavelmente tinham cosmologia similar a vizinhos (domo sólido).
Mas distingue:
- Cosmologia do autor (limitada ao século X-V a.C.)
- Verdade teológica comunicada (Deus soberano sobre toda criação)
Doutrina da acomodação (João Calvino):
Institutes 1.17.13:
“Quem não sabe que usa bebê-fala com crianças? O Espírito Santo acomoda revelação à capacidade humana… Quando Escritura fala de ‘nascer do sol’, não afirma heliocentrismo errôneo – usa linguagem observacional.”
Analogia moderna: Meteorologistas dizem “sol nasce às 6h” – fenomenologicamente verdadeiro, astronomicamente impreciso, mas comunicativamente eficaz. Ninguém acusa meteorologia de geocentrismo.
John Walton responde diretamente:
- רָקִיעַ (raqia’) vem de raiz רקע (raqa’ – “estender/expandir”)
- Melhor tradução: “espaço estendido” = atmosfera/céu
- Não requer solidez física – termo descreve céu funcional (separa águas acima/nuvens de águas abaixo/oceanos)
Gênesis 1:14-17: Sol/lua/estrelas colocados “no raqia’” – se fosse domo sólido, luminares estariam grudados nele. Mais natural entender como “no céu expandido”.
b) Genealogias de Jesus em Mateus 1 e Lucas 3 são incompatíveis
“Em Mateus é Jacó, em Lucas é Eli… Não dá para ser dos dois… É uma invenção para ligar Jesus a Davi.”
. ANÁLISE DA CONTRADIÇÃO APARENTE
A) Dados Textuais Incontestáveis
Evangelho | Pai de José | Linhagem Real | Número Gerações |
---|---|---|---|
Mateus 1:16 | Jacó (Ἰακώβ) | Salomão → Jeconias | 41 gerações |
Lucas 3:23 | Eli (Ἠλί) | Natã | 77 gerações |
Toshio está correto factualmente: Os textos gregos divergem sem ambiguidade. Esta não é disputa sobre tradução.
B) Soluções Acadêmicas Propostas
SOLUÇÃO 1: LEI DO LEVIRATO (Júlio Africano, c. 240 d.C.)
Raymond E. Brown em The Birth of the Messiah (Anchor Yale Bible, 1993, p. 87-94):
Eusébio preservou explicação de Júlio Africano (Historia Ecclesiastica 1.7.1-17):
Reconstituição:
- Matã (linhagem de Salomão) casou com mulher e teve Jacó
- Matã morreu; viúva casou com Matatá (linhagem de Natã)
- Matatá teve Eli com a mesma mulher
- Jacó e Eli eram meio-irmãos (mesma mãe, pais diferentes)
- Eli morreu sem filhos; Jacó gerou José em nome de Eli (Deuteronômio 25:5-10)
- José era filho legal de Eli (Lucas), biológico de Jacó (Mateus)
Evidência bíblica do levirato:
- Rute 4:5-10 (Boaz redime Rute)
- Mateus 22:24-28 (Saduceus citam lei)
Craig L. Blomberg em The Historical Reliability of the Gospels (IVP Academic, 2007, p. 124):
“O levirato era prática suficientemente comum no judaísmo do Segundo Templo para tornar esta solução plausível historicamente.”
Fraqueza: Requer eventos não registrados biblicamente (dois casamentos da avó de José).
SOLUÇÃO 2: LINHAGEM DE MARIA (Tradição Patrística)
Richard Bauckham em Gospel Women: Studies of the Named Women in the Gospels (Eerdmans, 2002, p. 315-333):
Evidência Patrística:
- Irineu (Contra Heresias 3.21.5, c. 180): Maria descendente de Davi
- Justino Mártir (Diálogo com Trifão 45, c. 155): “Cristo… de virgem descendente de Davi”
- Tertuliano (De Carne Christi 20-22, c. 208): Maria da linhagem davídica
Por que Lucas menciona José?
Análise de Lucas 3:23:
“Jesus… sendo (ὡς ἐνομίζετο) filho de José, de Eli”
Kenneth E. Bailey em Jesus Through Middle Eastern Eyes (IVP, 2008, p. 45-47):
- ὡς ἐνομίζετο (hōs enomizeto) = “como se supunha legalmente/presumivelmente”
- Construção única: Lucas acrescenta esta qualificação para sinalizar algo não-convencional
- Sem “gerou” (γεννάω): Mateus usa “Jacó gerou José”; Lucas omite verbo de geração
Precedente bíblico para genealogias femininas:
Números 27:1-11; 36:1-12 – Filhas de Zelofeade:
“Se um homem morrer sem ter filho, passareis a sua herança à sua filha” (27:8)
1 Crônicas 2:34-35:
“Sesã não teve filhos, mas filhas… deu sua filha por mulher a Jarha seu servo, e ela lhe deu à luz Atai.”
Genealogia continua através da filha quando não há herdeiro masculino.
Darrell L. Bock em Luke 1:1-9:50 (Baker Academic, 1994, p. 940-942):
Por que Mateus e Lucas divergem?
Evangelho | Audiência | Propósito | Linhagem |
---|---|---|---|
Mateus | Judeus | Provar Jesus é Rei legal de Israel | Real (Salomão → Jeconias) |
Lucas | Gentios | Mostrar Jesus é Salvador universal | Biológica (Natã – sem maldição) |
c) Deus se arrepende (Gn 6:6) vs. Deus não se arrepende (1Sm 15:29)
Isso já foi respondido aqui
“Ele se arrepende… mas depois diz que não se arrepende. Você [__] mano.”
A) Três Palavras Hebraicas Diferentes
Robert B. Chisholm Jr. em “Does God Change His Mind?” (Bibliotheca Sacra 152, outubro-dezembro 1995, p. 387-399):
Termo Hebraico | Transliteração | Significado Primário | Uso em Contexto |
---|---|---|---|
נָחַם | nacham | “suspirar profundamente, sentir dor/pesar” | Gênesis 6:6, 7; 1 Samuel 15:11, 35 |
נִחוּמִים | nichumim | “consolações, mudança de mente” | 1 Samuel 15:29 (forma plural/abstrata) |
שׁוּב | shuv | “retornar, reverter curso” | Usado em arrependimento humano |
B) Análise de נָחַם (Nacham) em Gênesis 6:6
Texto hebraico:
וַיִּנָּחֶם יְהוָה כִּי־עָשָׂה אֶת־הָאָדָם בָּאָרֶץ וַיִּתְעַצֵּב אֶל־לִבּוֹ
Transliteração:
wayyinnachem YHWH ki-asah et-ha’adam ba’aretz wayyit’atzev el-libbo
Tradução literal:
“E respirou pesadamente/gemeu YHWH que tinha feito o homem na terra, e entristeceu-se em seu coração“
Victor P. Hamilton em The Book of Genesis, Chapters 1-17 (NICOT, Eerdmans, 1990, p. 274-276):
- Raiz נָחַם: Relacionada a respiração profunda (nacham = exalar pesadamente)
- Paralelo com וַיִּתְעַצֵּב (wayyit’atzev – “entristeceu-se”): Termo emocional, não ontológico
- Uso no AT: 108 ocorrências de nacham, maioria descreve resposta emocional a mudança de circunstâncias
Exemplos de nacham como “pesar/tristeza”:
- Juízes 21:6: Israel “se entristeceu” (nacham) por Benjamim
- 2 Samuel 24:16: YHWH “se arrependeu” (nacham) do mal – contexto mostra pesar, não erro
C) Análise de נִחוּמִים (Nichumim) em 1 Samuel 15:29
Texto hebraico:
וְגַם֙ נֵ֣צַח יִשְׂרָאֵ֔ל לֹ֥א יְשַׁקֵּ֖ר וְלֹ֣א יִנָּחֵ֑ם כִּ֣י לֹ֥א אָדָ֛ם ה֖וּא לְהִנָּחֵֽם
Transliteração:
v’gam netzach yisrael lo yeshaqer v’lo yinnachem ki lo adam hu l’hinnachem
Tradução literal:
“E também a Glória/Eternidade de Israel não mente nem muda de mente [yinnachem – forma Niphal], porque não é homem para mudar de mente [l’hinnachem – infinitivo]”
Nota crucial: 1 Samuel 15:29 usa forma Niphal (passiva/reflexiva) de nacham, não Qal (ativa) como em v. 11 e v. 35.
Bruce K. Waltke & Charles Yu em An Old Testament Theology (Zondervan, 2007, p. 288-291):
Distinção gramatical:
- v. 11, 35 (Qal): Deus “sente pesar” – resposta emocional genuína
- v. 29 (Niphal): Deus não “muda de mente” – caráter imutável
Analogia moderna: “Sinto muito” (emoção genuína) ≠ “Cometi erro de julgamento” (admissão de falha ontológica)
d) Número de animais na arca: dois (Gn 6) vs. sete pares dos limpos (Gn 7)
“De todos os animais limpos tomarás sete… Antes era dois. Já mudou.”
Toshio conclui que isso demonstra incoerência textual, mudança de plano divino e, portanto, origem humana do texto.
Refutação Acadêmica Detalhada
A alegação de Toshio parte de um mal-entendido sobre a estrutura literária e a intenção comunicativa dos capítulos 6 e 7 de Gênesis. O que ele interpreta como “contradição” é, na verdade, um complemento progressivo de informação, prática comum na narrativa antiga.
1. Gênesis 6 oferece um resumo geral; Gênesis 7 fornece detalhes específicos
- Gênesis 6:19–20 dá uma instrução geral e abrangente:
“De todo ser vivo, de toda carne, dois de cada espécie entrarás na arca, para os conservares vivos contigo; macho e fêmea serão.”
Essa instrução estabelece o mínimo necessário para preservar a vida: um par reprodutivo de cada tipo.
- Gênesis 7:2–3 acrescenta uma especificação adicional para fins rituais e de repovoamento:
“De todo animal limpo tomarás sete pares, o macho e sua fêmea; mas dos animais que não são limpos, um par, o macho e sua fêmea. Também das aves dos céus sete pares.”
Isso não contradiz Gênesis 6 — expande. Os “sete pares” incluem os dois mencionados antes. A instrução inicial não exclui a possibilidade de mais animais; apenas garante o mínimo.
Analogia moderna: Um professor diz: “Leiam dois capítulos do livro.” Depois, esclarece: “Leiam os capítulos 3 e 4, e, se forem de biologia, leiam também o 5.” Isso não é contradição — é especificação contextual.
2. A distinção entre “animais limpos” e “impuros” já existia antes da Lei de Moisés
Toshio afirma que a categoria de “animal limpo/impuro” não existia na época de Noé, sugerindo que o texto de Gênesis 7 é uma interpolacção posterior. Mas isso é historicamente incorreto.
- Gênesis 4:4 mostra que Caim e Abel já conheciam o conceito de oferta aceitável a Deus:
“Abel trouxe dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta.”
Isso implica um senso pré-mosaico de santidade e distinção ritual.
- O estudioso Kenneth A. Mathews (comentário da série New American Commentary) observa:
“A distinção entre animais limpos e impuros não é exclusiva da Lei mosaica, mas reflete uma consciência ético-ritual primordial presente desde os primórdios da humanidade.”
— Genesis 1–11:26, p. 388
Portanto, a menção a “animais limpos” em Gênesis 7 não é anacrônica.
3. A exigência de sete pares tem propósito prático e teológico
- Prático: Após o dilúvio, sacrifícios seriam oferecidos (Gn 8:20). Se houvesse apenas um par de animais limpos, sacrificá-los extinguiria a espécie. Sete pares garantem sacrifício + repovoamento.
- Teológico: O número sete simboliza plenitude e santidade na cosmologia hebraica. A repetição enfatiza a ordem ritual que antecipa o sistema levítico.
O teólogo John H. Walton explica:
“A narrativa do dilúvio não é apenas sobre sobrevivência biológica, mas sobre restauração da ordem ritual. A distinção entre limpo e impuro prepara o terreno para a santidade de Israel.”
— The NIV Application Commentary: Genesis, p. 322
4. Nenhum manuscrito antigo ou tradição judaica considera isso uma contradição
- A Septuaginta (LXX, século III a.C.) e a Vulgata (século IV d.C.) transmitem ambos os textos sem sinal de conflito.
- Os rabinos do Talmude (ex.: Sanhedrin 108b) discutem o número de animais sem questionar a coerência.
-
Josefo, historiador judeu do século I, escreve:
“Noé levou consigo pares de todos os animais, e sete de cada um dos domesticáveis.”
— Antiguidades Judaicas, I.77Ele harmoniza os dois relatos sem dificuldade.
Conclusão
A alegação de Toshio comete três erros críticos:
- Confunde resumo com contradição: Gênesis 6 é geral; Gênesis 7 é específico.
- Impõe uma leitura moderna de “contradição lógica” a um texto antigo que opera por acréscimo narrativo.
- Ignora o contexto teológico e prático da distinção entre animais limpos e impuros.
Portanto, não há contradição real — apenas uma progressão lógica de informação, comum na literatura do Antigo Oriente Próximo.
3. A Bíblia contém erros científicos e cosmológicos
a) Luz antes do sol e da lua
Respondido aqui
“Como é que tem luz e trevas… e não tem sol?… Já tá errado na própria concepção científica.”
1. Falácia do anacronismo científico
Toshio julga um texto do século X–VI a.C. pelos padrões da física moderna, como se o autor de Gênesis pretendesse escrever um manual de cosmologia empírica. Isso é um erro metodológico grave.
O teólogo John H. Walton esclarece:
“Gênesis 1 não está interessado em como o universo foi feito materialmente, mas em para que fim: estabelecer uma ordem funcional onde Deus habita com a humanidade como rei em Seu templo cósmico.”
— The Lost World of Genesis One, 2009, p. 26
Portanto, a pergunta “como há luz sem sol?” parte de uma categoria equivocada. O texto não descreve mecanismos físicos, mas atribuições de função dentro de uma visão teocêntrica do cosmos.
2. A luz de Gênesis 1:1–5 é teológica, não astronômica
A “luz” do primeiro dia (Gn 1:3–5) é introduzida antes dos corpos celestes (v. 14–19) justamente para enfatizar que Deus não depende do sol — uma afirmação revolucionária no Antigo Oriente Próximo, onde o sol era adorado como divindade (ex.: Rá no Egito, Shamash na Mesopotâmia).
O estudioso Gerhard von Rad observa:
“Ao separar a criação da luz da criação do sol, o autor de Gênesis desmitologiza o cosmos: a luz vem de Deus diretamente, não de uma divindade astral.”
— Genesis: A Commentary, 1972, p. 52
Assim, a “luz” do primeiro dia é uma manifestação da presença e autoridade de Deus, não radiação eletromagnética. Só no quarto dia os luminares recebem sua função instrumental: “para separar o dia da noite”, “para sinais, para tempos determinados”, etc. (Gn 1:14–18).
3. A estrutura de Gênesis 1 é literária e simétrica, não cronológica
Gênesis 1 segue um padrão literário intencional de três pares de dias:
- Dias 1–4: Domínios (luz/trevas → luminares)
- Dias 2–5: Espaços (céus/mares → aves/peixes)
- Dias 3–6: Terra (terra/seca → animais/humanos)
Essa estrutura poética e teológica visa mostrar que Deus organiza o caos em um templo habitável. O propósito não é sequência temporal, mas complementaridade funcional.
Como afirma C. John Collins:
“A narrativa de Gênesis 1 usa uma estrutura de ‘enquadramento’ para ensinar que o mundo é uma casa ordenada por Deus — não um relato científico de eventos em 144 horas.”
— Genesis 1–4: A Linguistic, Literary, and Theological Commentary, 2006, p. 60
4. Pressuposto filosófico não demonstrado
Toshio assume que, se a Bíblia não se alinha com a ciência moderna, não pode ser inspirada por Deus. Mas isso pressupõe o naturalismo metodológico como único critério de verdade — uma posição filosófica, não científica.
William Lane Craig argumenta:
“Deus poderia muito bem comunicar verdades teológicas usando a linguagem fenomenológica do povo antigo — assim como dizemos ‘o sol nasce’, embora saibamos que a Terra gira.”
— Reasonable Faith, 3ª ed., p. 293
Portanto, a crítica de Toshio não refuta a Bíblia, mas revela uma incompreensão do gênero literário, da intenção autoral e dos pressupostos hermenêuticos adequados.
Conclusão
A alegação de que “já tá errado na própria concepção científica” é infundada academicamente. Ela comete:
- Anacronismo científico (julgar texto antigo por ciência moderna);
- Confusão de gêneros (ler poesia teológica como relato empírico);
- Pressuposição naturalista (exigir que a revelação divina se conforme à ciência secular).
A narrativa de Gênesis 1 permanece teologicamente coerente, historicamente contextualizada e filosoficamente defensável — mesmo que não satisfaça as expectativas de um físico do século XXI.
b) “Firmamento” como domo sólido que separa águas superiores e inferiores
Respondido aqui
(40:23–41:15)
“Firmamento é um domo… fixo, duro… Completamente errado.”
A afirmação de Edson Toshio — “Firmamento é um domo… fixo, duro… Completamente errado.” (min. 40:23–41:15) — reflete uma crítica comum, mas superficial, baseada em uma leitura literalista e anacrônica do texto de Gênesis 1.
1. O que diz o texto bíblico?
Em Gênesis 1:6–8, lemos (na Almeida Corrigida e Fiel):
“E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. E chamou Deus à expansão Céus.”
A palavra hebraica traduzida como “expansão” ou “firmamento” é רָקִיעַ (rāqîaʿ), derivada do verbo רָקַע (rāqaʿ), que significa “estender”, “bater” (como metal batido) ou “espalhar”. Esse verbo aparece em Êxodo 39:3, onde se descreve o “bater” de ouro em lâminas finas.
2. Toshio interpreta rāqîaʿ como um “domo sólido” — está certo?
Sim e não.
- Sim, no sentido de que muitos antigos israelitas (como outros povos do Antigo Oriente Próximo) concebiam o céu como uma estrutura sólida que sustentava as “águas superiores” (cf. Gn 7:11: “as comportas dos céus se abriram”).
- Não, no sentido de que o texto não ensina cosmologia física, mas teologia simbólica.
O teólogo John H. Walton esclarece:
“O rāqîaʿ não é uma afirmação científica sobre a estrutura do universo, mas uma função teológica: o céu é o lugar onde Deus coloca os luminares para governar o tempo e marcar as estações. O foco não é como o céu é feito, mas para que fim ele existe.”
— The Lost World of Genesis One, p. 54
Portanto, mesmo que o autor use a linguagem fenomenológica de seu tempo (como “o sol nasce”), isso não implica erro, pois não é seu propósito descrever a física do cosmos.
3. A crítica de Toshio comete anacronismo científico
Toshio julga um texto do século X–VI a.C. pelos padrões da astronomia moderna, como se Moisés (ou os redatores sacerdotais) pretendessem escrever um manual de astrofísica.
Mas nenhum autor antigo escrevia assim. Até os gregos clássicos (como Aristóteles) acreditavam em esferas celestes sólidas — e isso não torna suas obras “completamente erradas”, pois seu objetivo era explicar a ordem observável, não a estrutura subatômica do espaço.
O filósofo William Lane Craig observa:
“Deus poderia muito bem ter se comunicado usando a cosmologia popular da época, assim como usamos expressões como ‘pôr do sol’ sem ensinar geocentrismo. A inspiração divina não exige que a Bíblia antecipe a ciência moderna.”
— Reasonable Faith, 3ª ed., p. 293
4. O “firmamento” tem função litúrgica, não física
No contexto do Antigo Oriente Próximo, Gênesis 1 é uma refutação teológica do politeísmo:
- Em Babilônia, o céu era o corpo de Tiamat, deusa do caos, morta por Marduk.
- Em Gênesis, o céu é uma criação ordenada por Deus, sem divindade própria.
O rāqîaʿ é parte de uma estrutura cósmica funcional, onde:
- Águas superiores = fonte da chuva (bênção divina)
- Águas inferiores = mares (dominados pelo homem)
- Céus = trono de Deus, lugar dos luminares
Como afirma Gerhard von Rad:
“Gênesis 1 não é cosmogonia, mas confissão de fé: o mundo não é caótico, nem governado por deuses caprichosos, mas ordenado por um único Deus soberano.”
— Genesis: A Commentary, p. 51
5. Conclusão: “Completamente errado” é uma avaliação filosoficamente carregada
A frase de Toshio não é neutra. Ela pressupõe que:
- Qualquer texto inspirado por Deus deve corresponder à ciência moderna.
- A linguagem fenomenológica equivale a erro factual.
- A intenção autoral é irrelevante para a interpretação.
Esses são pressupostos naturalistas, não conclusões científicas.
Na verdade, a crítica de Toshio revela mais sobre sua hermenêutica do que sobre a Bíblia. Ele lê Gênesis como um relato científico fracassado, quando o texto se apresenta como uma afirmação teológica triunfante contra o caos e o politeísmo.
Portanto, não é a Bíblia que está “completamente errada” — é a expectativa equivocada de que ela deveria ler como um capítulo de um livro de física.
c) A lua é chamada de “luminar” que emite luz
Respondido aqui
“A lua não dá luz, ela reflete… Jesus erra quando diz que a lua deixaria de dar sua luz.”
A afirmação de Edson Toshio — “A lua não dá luz, ela reflete… Jesus erra quando diz que a lua deixaria de dar sua luz” (min. 44:06–44:26) — é um exemplo clássico de anacronismo científico e falta de compreensão do gênero literário e da linguagem fenomenológica usada na Bíblia.
1. O que Jesus (ou o texto bíblico) realmente diz?
Toshio não cita Jesus diretamente aqui, mas está se referindo a passagens como:
- Mateus 24:29:
“O sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz…”
- Marcos 13:24:
“Mas naqueles dias, depois daquela aflição, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz.”
Essas declarações ocorrem no contexto do discurso escatológico de Jesus, cheio de imagens apocalípticas e linguagem simbólica, comum na literatura judaica do Segundo Templo (cf. Isaías 13:10; Joel 2:10; Ezequiel 32:7).
2. A crítica de Toshio comete anacronismo científico
Toshio julga um texto do século I d.C. pelos padrões da física moderna, como se o autor pretendesse fazer uma afirmação científica sobre a natureza da luz lunar.
Mas ninguém na Antiguidade falava de “reflexão da luz solar” ao descrever a lua. Até os gregos mais avançados (como Aristarco, séc. III a.C.) que propunham modelos heliocêntricos ainda usavam linguagem fenomenológica no discurso cotidiano.
O teólogo D. A. Carson observa:
“A Bíblia fala da lua ‘dando luz’ da mesma forma que nós dizemos ‘o sol nasce’. Isso não é erro científico — é linguagem comum, baseada na percepção humana.”
— The Gagging of God, 1996, p. 127
Portanto, dizer que a lua “dá luz” não é falso — é verdadeiro fenomenologicamente. A lua emite luz visível (ainda que refletida), e isso é suficiente para a linguagem comum.
3. Jesus não está ensinando astronomia — está usando linguagem apocalíptica
O contexto de Mateus 24 e Marcos 13 é profético e simbólico, não científico. A escuridão do sol e da lua é um motivo literário do Antigo Oriente Próximo para indicar juízo divino e colapso cósmico.
O estudioso Craig L. Blomberg explica:
“Essas imagens não devem ser lidas como previsões literais de eventos astronômicos, mas como metáforas do caos cósmico que acompanha a intervenção final de Deus na história.”
— Matthew, The New American Commentary, 1992, p. 365
Além disso, Jesus cita Isaías 13:10 e Joel 2:10, textos que já usavam essa linguagem simbólica séculos antes. Ele está reutilizando uma tradição profética, não propondo uma teoria física.
4. Pressuposto filosófico não demonstrado
Toshio assume que, se a Bíblia não se alinha com a ciência moderna, não pode ser inspirada por Deus. Mas isso pressupõe o naturalismo metodológico como único critério de verdade — uma posição filosófica, não científica.
William Lane Craig argumenta:
“Deus poderia muito bem comunicar verdades teológicas usando a linguagem fenomenológica do povo antigo — assim como dizemos ‘o sol nasce’, embora saibamos que a Terra gira.”
— Reasonable Faith, 3ª ed., p. 293
Portanto, a crítica de Toshio não refuta a Bíblia, mas revela uma incompreensão do gênero literário, da intenção autoral e dos pressupostos hermenêuticos adequados.
Conclusão
A alegação de que “Jesus erra” é infundada academicamente. Ela comete:
- Anacronismo científico (julgar texto antigo por ciência moderna);
- Confusão de gêneros (ler linguagem apocalíptica como relato empírico);
- Pressuposição naturalista (exigir que a revelação divina se conforme à ciência secular).
A frase “a lua não dará a sua luz” é perfeitamente correta na linguagem comum e teologicamente coerente no contexto profético. Não há erro — apenas uma expectativa equivocada por parte do crítico.
d) Ordem da criação biológica contradiz a evolução
Respondido aqui
“Ele já coloca baleia… mamífero veio muito depois… Tá errado também.”
A alegação de Edson Toshio de que “a ordem da criação biológica em Gênesis contradiz a evolução” aparece explicitamente no trecho seguinte do vídeo:
(45:08–46:24)
“E viu Deus que era bom? Então ele simplesmente pega, cria o, imagina que você acabou de fazer uma obra aqui no estúdio, aí você pega, caramba, velho, ficou bom, hein? Gostei, ficou legal. É isso daí. […] E outra coisa, ele já coloca baleia. Baleia mamífero. Uhum. E mamífero veio muito depois, embora a baleia seja mais antiga, né, e tudo mais, tem vários registros dela aí, só que ela é exatamente uma evolução de algum terrestre que foi pro aquático e aí ele já tá dizendo que criou direto. Tá errado também.”
Mais adiante, ele reforça:
(46:05–46:24)
“Então assim, aí você vai pegar, é, aí você vai pegar a par de répteis, tá? Aí você tem os répteis, mas antes dos répteis você tem os anfíbios, sei lá, aí você vai ter, cadê? E outra coisa, ele já coloca baleia. Baleia mamífero. Uhum. E mamífero veio muito depois… Tá errado também.”
Comentário acadêmico
A crítica de Toshio parte de um pressuposto equivocado: que o texto de Gênesis 1 pretende oferecer uma sequência cronológica e biológica precisa compatível com a taxonomia evolutiva moderna. No entanto, essa leitura ignora tanto o gênero literário quanto a intenção teológica do autor.
1. Gênesis 1 não é um relato científico, mas teológico
O teólogo John H. Walton demonstra que Gênesis 1 não descreve como Deus fez o mundo materialmente, mas para que fim: estabelecer uma ordem funcional onde Deus habita com a humanidade como rei em Seu templo cósmico (The Lost World of Genesis One, 2009, p. 84). A estrutura do capítulo é literária e simétrica, não cronológica:
- Dias 1–4: Domínios (luz/trevas → luminares)
- Dias 2–5: Espaços (céus/mares → aves/peixes)
- Dias 3–6: Terra (terra/seca → animais/humanos)
A menção às “baleias” (ou “grandes criaturas marinhas”, hebraico: tanninim) em Gênesis 1:21 não é uma classificação zoológica, mas uma afirmação teológica contra os mitos do Antigo Oriente Próximo, onde monstros marinhos (como Tiamat na Epopeia de Gilgamesh) representavam o caos primordial. Ao dizer que Deus criou os “grandes monstros marinhos” e viu que era bom, o texto afirma que nada no cosmos é caótico ou hostil à ordem divina — nem mesmo o que as culturas vizinhas temiam.
2. O termo “baleia” é uma tradução imprecisa
A Almeida Corrigida e Fiel traduz tanninim como “baleias”, mas o hebraico original refere-se a “grandes criaturas marinhas” ou “serpentes do mar” — uma categoria ampla que inclui peixes grandes, répteis marinhos extintos (como ictiossauros) ou até criaturas mitológicas domesticadas por Deus. Não se trata de uma referência taxonômica a mamíferos cetáceos.
O estudioso Gordon J. Wenham observa:
“A palavra tannin é usada em outros textos bíblicos para descrever serpentes (Êx 7:9–10) ou monstros do caos (Is 27:1). Em Gênesis 1, sua inclusão mostra que até as forças mais temidas do mar estão sob o controle de Deus.”
— Genesis 1–15, Word Biblical Commentary, p. 23
3. A crítica comete anacronismo científico
Toshio julga um texto do século X–VI a.C. pelos padrões da biologia evolutiva do século XXI. Mas nenhum autor antigo escrevia com a intenção de antecipar a ciência moderna. Até os gregos clássicos (como Aristóteles) classificavam animais por habitat (terrestres, aquáticos, aéreos), não por linhagem evolutiva — exatamente como faz Gênesis 1.
Como afirma C. John Collins:
“A narrativa de Gênesis 1 usa uma estrutura de ‘enquadramento’ para ensinar que o mundo é uma casa ordenada por Deus — não um relato científico de eventos em 144 horas.”
— Genesis 1–4: A Linguistic, Literary, and Theological Commentary, 2006, p. 60
Conclusão
A alegação de Toshio — “Tá errado também” — revela uma falha hermenêutica grave: ele lê Gênesis 1 como se fosse um capítulo de um livro de biologia evolutiva, quando na verdade é um poema teológico escrito para desmitologizar o cosmos e afirmar a soberania de YHWH sobre toda a criação.
Portanto, não há contradição real com a ciência, apenas uma expectativa equivocada por parte do crítico.
4. A Bíblia contém erros históricos e anacronismos
a) Massacre dos inocentes em Mateus 2 não tem base histórica
Respondido aqui
“Isso daí historicamente não aconteceu… você tem os registros das maluquícias que Herodes fez e não tem essa.”
2. Análise histórica e resposta acadêmica
a) O silêncio de Josefo não prova inexistência
É verdade que Josefo não menciona o massacre dos inocentes. No entanto, a ausência de menção não equivale à prova de inexistência — especialmente quando consideramos o tamanho e a relevância do evento no contexto da época.
- Belém era uma vila pequena, provavelmente com menos de 1.000 habitantes.
- O número de crianças do sexo masculino com até dois anos de idade provavelmente não excedia 12 a 20 meninos (estimativa baseada em demografia antiga; ver Paul L. Maier, In the Fullness of Time, 1991, p. 178).
- Para Josefo, cujo foco está nos grandes eventos políticos e militares, um massacre de menos de vinte crianças em uma aldeia remota seria insignificante comparado aos assassinatos em massa de membros da própria família de Herodes, incluindo três de seus filhos e sua esposa Mariamne.
Portanto, não é surpreendente que Josefo tenha omitido o episódio — ele não registra todos os atos de Herodes, apenas os mais impactantes para sua narrativa política.
b) A historicidade de Mateus não depende de corroboração externa para cada detalhe
O historiador Craig L. Blomberg observa:
“Os evangelhos não precisam de confirmação externa para cada episódio para serem considerados confiáveis. Se fosse esse o critério, quase nenhum texto antigo sobreviveria ao escrutínio histórico.”
— The Historical Reliability of the Gospels, 2ª ed., 2007, p. 112
Além disso, Mateus escreve com intenção teológica: ele apresenta Jesus como o novo Moisés (cf. Êxodo 1–2), perseguido por um tirano (Faraó/Herodes), cuja infância é preservada por intervenção divina. Isso não invalida a historicidade, mas mostra que o evangelista seleciona e interpreta eventos com propósito narrativo — prática comum entre historiadores antigos, como Tucídides e Josefo.
c) A crueldade de Herodes torna o evento plausível
Josefo descreve Herodes como paranóico, violento e disposto a matar qualquer um que ameaçasse seu poder, incluindo membros da própria família (Antiguidades Judaicas 16.8–11; 17.1–3). Se ele matou seus próprios filhos por suspeita de conspiração, nada impede que tenha ordenado a morte de crianças em Belém ao ouvir rumores de um “rei dos judeus” recém-nascido (Mt 2:2).
O historiador R. T. France conclui:
“Dado o caráter de Herodes, o massacre dos inocentes é inteiramente plausível. O silêncio de Josefo é notável, mas não decisivo.”
— The Gospel of Matthew, NICNT, 2007, p. 90
3. Conclusão
A alegação de Toshio — de que o massacre “não aconteceu porque Josefo não menciona” — comete a falácia do argumento do silêncio (argumentum ex silentio). Embora o evento não seja corroborado por fontes extra-bíblicas, sua plausibilidade histórica é alta, dada:
- A crueldade documentada de Herodes,
- O tamanho pequeno do evento (facilmente ignorado por historiadores),
- A coerência interna com a narrativa mateana e com a prática historiográfica antiga.
Portanto, a ausência de evidência não é evidência de ausência — e não refuta a historicidade do relato de Mateus.
b) Incompatibilidade cronológica entre Mateus e Lucas sobre o nascimento de Jesus
(1:58:42–1:59:13)
“Herodes morreu em 4 a.C., mas o censo de Quirino foi em 6 d.C…. Dá 10 anos de diferença.”
Toshio argumenta que, como Mateus situa o nascimento de Jesus durante o reinado de Herodes, o Grande (Mt 2:1, 19–22), e Lucas o situa “no primeiro censo feito quando Quirino era governador da Síria” (Lc 2:1–2), e como Herodes morreu em 4 a.C. e o censo de Quirino ocorreu em 6 d.C., os evangelhos são cronologicamente incompatíveis e, portanto, historicamente não confiáveis.
Refutação
A crítica de Toshio parte de uma suposição histórica simplificada: que só houve um censo sob Quirino, ocorrido em 6 d.C., conforme registrado por Flávio Josefo (Antiguidades Judaicas 18.1–3). No entanto, essa suposição ignora evidências históricas, inscrições arqueológicas e soluções propostas por estudiosos sérios.
1. Evidência de múltiplos governos de Quirino na Síria
A inscrição de Tivoli (Itália), datada do século I d.C., descreve a carreira de Públio Sulpício Quirino (Publius Sulpicius Quirinius) e afirma que ele foi governador da Síria em duas ocasiões distintas:
“…legatus pro praetore Caesaris Augusti iterum…”
(“…legado de César Augusto por segunda vez…”)
O historiador E. M. Blaiklock e o arqueólogo Sir William Ramsay demonstraram que Quirino exerceu autoridade na Síria antes de 6 d.C., possivelmente entre 12 a.C. e 2 a.C., como comandante militar ou legado imperial, mesmo que não como governador titular.
O teólogo Darrell L. Bock observa:
“A inscrição de Tivoli sugere que Quirino teve duas nomeações na Síria. A primeira pode ter ocorrido durante o reinado de Herodes.”
— Luke 1:1–9:50, Baker Exegetical Commentary, 1994, p. 907
2. O censo de Lc 2:1–2 é distinto do censo de 6 d.C.
Lucas não diz que o censo ocorreu em 6 d.C. Ele escreve:
“Este foi o primeiro censo feito quando Quirino era governador da Síria.” (Lc 2:2)
A palavra grega πρώτη (prōtē) pode significar “primeiro” em uma série — ou seja, houve um censo anterior ao de 6 d.C.
O historiador Jack Finegan conclui:
“Lucas distingue claramente este censo como o primeiro sob Quirino, implicando que houve um segundo — o de 6 d.C. Isso é consistente com a inscrição de Tivoli.”
— Handbook of Biblical Chronology, 1998, p. 303
3. Censos romanos eram comuns e podiam ocorrer localmente
O Império Romano realizava censos regularmente para fins tributários. Augusto ordenou vários censos em diferentes províncias ao longo de seu reinado (27 a.C.–14 d.C.).
O historiador A. N. Sherwin-White argumenta:
“Não há razão para duvidar que um censo tenha sido realizado na Judeia durante o reinado de Herodes, especialmente se ele estivesse sob supervisão romana indireta.”
— Roman Society and Roman Law in the New Testament, 1963, p. 168
Além disso, Herodes, como rei cliente de Roma, poderia ter conduzido um censo sob autoridade romana, sem que isso fosse registrado por Josefo — que não menciona todos os eventos administrativos.
4. Harmonização cronológica plausível
Uma cronologia coerente é possível:
- 7–6 a.C.: Nascimento de Jesus (antes da morte de Herodes em 4 a.C.) → Mateus.
- Entre 8–2 a.C.: Quirino atua como legado imperial na Síria e supervisiona um censo preliminar na Judeia → Lucas.
- 6 d.C.: Quirino retorna como governador titular e realiza o segundo censo, que desencadeia a revolta de Judas, o Galileu → Josefo.
Essa harmonização é defendida por Craig L. Blomberg:
“A aparente discrepância desaparece quando se reconhece que Quirino pode ter exercido autoridade na Síria em duas ocasiões e que Lucas distingue explicitamente o ‘primeiro’ censo.”
— The Historical Reliability of the Gospels, 2ª ed., 2007, p. 112
Conclusão
A alegação de Toshio comete dois erros críticos:
- Pressupõe que só houve um censo sob Quirino, ignorando a inscrição de Tivoli e a distinção feita por Lucas entre o “primeiro” e o segundo censo.
- Confunde ausência de menção com inexistência, como se Josefo tivesse registrado todos os eventos administrativos da Judeia.
Portanto, não há incompatibilidade cronológica real — apenas uma leitura superficial da evidência histórica.
A crítica de Toshio, embora popular, não resiste ao escrutínio acadêmico sério.
c) O dilúvio global é historicamente e cientificamente impossível
(1:13:42–1:22:28)
“Mistura de água doce e salgada mataria a vida marinha… Como o urso polar chegou lá? Teletransportou?”
Toshio argumenta que o relato do dilúvio em Gênesis 6–9 é científica e historicamente impossível por várias razões:
- Seria inviável abrigar “milhões de espécies” em uma arca de madeira;
- A mistura de águas doces e salgadas mataria a vida marinha;
- Não há explicação para como animais como o urso polar ou o canguru teriam chegado à arca e retornado a seus habitats;
- Não há evidência geológica de um dilúvio global;
- A logística de alimentação, higiene e cuidados com os animais é absurda.
Ele conclui que o relato é uma farsa, copiado de mitos mesopotâmicos como o de Atrahasis ou a Epopeia de Gilgamesh.
Refutação Acadêmica
1. A maioria dos estudiosos evangélicos não defende um dilúvio global no sentido moderno
Toshio ataca uma caricatura do criacionismo, não a posição acadêmica séria. Muitos teólogos e cientistas cristãos — incluindo John Lennox (Oxford), Hugh Ross (astrofísico, Reasons to Believe) e C. John Collins (professor de Antigo Testamento) — defendem um dilúvio regional, não planetário.
“O hebraico erets pode significar ‘terra’ ou ‘região’. Em Gênesis 6–9, o contexto sugere o mundo conhecido dos patriarcas — não o planeta inteiro.”
— Hugh Ross, Navigating Genesis, 2014, p. 142
Essa interpretação é coerente com a linguagem fenomenológica da Bíblia, que frequentemente usa termos como “todo o mundo” para se referir ao mundo conhecido (cf. Gn 41:57: “toda a terra vinha ao Egito para comprar grão”).
2. A distinção entre “espécies” e “tipos” (min) é crucial
Toshio fala em “milhões de espécies”, mas a Bíblia não usa o conceito biológico moderno de espécie. O termo hebraico מִין (min) significa “tipo” ou “classe”, não espécie taxonômica.
- Um “tipo” canino poderia incluir lobos, cães, raposas, chacais — todos descendentes de um ancestral comum criado por Deus.
- Estimativas conservadoras sugerem que menos de 2.000 “tipos” teriam entrado na arca — não milhões (veja Woodmorappe, Noah’s Ark: A Feasibility Study, 1996).
Isso reduz drasticamente os desafios logísticos.
3. A “mistura de águas doces e salgadas” é uma objeção baseada em pressupostos geológicos equivocados
Toshio assume que o dilúvio envolveu a mistura completa e homogênea de oceanos e águas continentais. Mas:
- Se o dilúvio foi regional (ex.: vale da Mesopotâmia), não haveria mistura global.
- Mesmo em um cenário catastrófico, zonas de salinidade variável existiriam naturalmente (como em estuários), permitindo que muitos organismos sobrevivessem.
- Além disso, muitos peixes toleram variações de salinidade (eurihalinos), como o salmão e a enguia.
Portanto, a objeção exagera o impacto ecológico com base em um modelo geológico não exigido pelo texto.
4. A questão do “urso polar” revela má compreensão da biogeografia pós-diluviana
Toshio pergunta: “Como o urso polar chegou lá? Teletransportou?” — mas isso parte de dois erros:
- Erro 1: Assume que os animais foram coletados de todo o planeta, quando o texto sugere que Deus trouxe os animais até Noé (Gn 6:20: “virão a ti”).
- Erro 2: Assume que os habitats atuais (Ártico, Austrália) existiam imediatamente após o dilúvio, quando a biogeografia pós-diluviana envolve migração, adaptação e especiação dentro de “tipos”.
O teólogo Kenneth A. Mathews observa:
“O foco do relato não é a zoologia, mas a justiça e misericórdia de Deus diante do pecado humano.”
— Genesis 1–11:26, New American Commentary, p. 389
Além disso, modelos de dispersão pós-diluviana (ex.: pontes terrestres durante a Era do Gelo) explicam plausivelmente como marsupiais chegaram à Austrália e ursos ao Ártico — sem teletransporte.
5. A ausência de evidência geológica não prova a inexistência do evento
Toshio afirma que “não há evidência geológica de um dilúvio global”. Mas:
- Se o dilúvio foi regional, não se esperaria evidência global.
- Se foi catastrófico mas localizado, suas marcas estariam erosionadas ou soterradas ao longo de milênios.
- Curiosamente, camadas sedimentares maciças e fósseis em escala global são consistentes com algum tipo de evento catastrófico, mesmo que não planetário (veja Turbidites, megasequências, etc.).
O historiador Paul L. Maier conclui:
“A historicidade do dilúvio não depende de provar um evento global, mas de reconhecer que uma catástrofe real inspirou a narrativa — assim como o Êxodo.”
— In the Fullness of Time, 1991, p. 34
6. A semelhança com mitos mesopotâmicos não prova plágio — prova memória comum
Toshio menciona Atrahasis e Gilgamesh como “prova” de que Gênesis copiou mitos. Mas a semelhança não implica plágio — pode indicar uma memória histórica comum de um dilúvio real no Oriente Próximo.
- O relato bíblico desmitologiza o evento: não há deuses caprichosos, apenas um Deus justo e soberano.
- Enquanto os heróis mesopotâmicos são salvos por acaso, Noé é salvo por justiça moral (Gn 6:9).
- A arca de Gênesis tem proporções marinhas viáveis; a de Gilgamesh é um cubo — não navegável.
Como afirma Richard Averbeck (semitista, Trinity Evangelical Divinity School):
“A Bíblia transforma o mito em história teológica, não o copia.”
— A Comparison of Ancient Near Eastern and Biblical Flood Stories, 2003
5. A Bíblia apresenta um Deus moralmente problemático
a) Deus ordena genocídio, incluindo crianças de colo
(1:24:58–1:25:17)
“Mate todos… desde os meninos até os de peito.”
1. Contexto histórico e teológico: não é genocídio moderno, mas julgamento divino
A ordem em 1 Samuel 15 não deve ser lida como um mandato universal de violência, mas como um ato judicial divino específico contra uma nação que, por séculos, praticou maldade sistemática contra Israel.
- Os amalequitas atacaram Israel no deserto (Êxodo 17:8–16), matando os mais fracos que iam atrás do grupo (Deuteronômio 25:17–19).
- Eles eram conhecidos por sacrifícios infantis a deuses como Moloque (cf. Levítico 18:21; 2 Reis 23:10).
- A destruição de Amaleque é descrita como “vingança do Senhor” (1 Samuel 15:2), não como iniciativa humana.
O teólogo Paul Copan explica:
“Deus não ordenou o extermínio de Amaleque por ódio étnico, mas como julgamento divino contra uma cultura profundamente corrupta e violenta — comparável a um tribunal condenando criminosos de guerra.”
— Is God a Moral Monster?, 2011, p. 172
Portanto, não se trata de genocídio no sentido moderno (extermínio étnico), mas de execução judicial de uma nação perversa, após séculos de paciência divina (cf. Gênesis 15:16).
2. A santidade da vida e a justiça de Deus
Toshio assume que todas as vidas humanas têm o mesmo valor moral absoluto, independentemente do contexto. Mas a visão bíblica é mais complexa:
- Deus é o autor da vida (Atos 17:25), e, como tal, tem autoridade sobre ela (Deuteronômio 32:39).
- A morte de crianças inocentes é trágica, mas não implica injustiça divina, pois Deus conhece o fim desde o princípio (Isaías 46:10).
- A teologia bíblica afirma que todas as pessoas estão sob o pecado (Romanos 3:23), e nenhuma é inocente diante de Deus (Salmo 51:5; Romanos 5:12).
O filósofo William Lane Craig argumenta:
“Se Deus existe, Ele tem o direito moral de dar e tirar a vida. A questão não é se a ação parece cruel para nós, mas se Deus tem justa razão para agir assim — e a Bíblia afirma que sim.”
— Hard Questions, Real Answers, 2003, p. 116
Além disso, a tradição judaica posterior (Targum, Midrash) sugere que até as crianças amalequitas eram ensinadas desde cedo a adorar deuses da guerra e praticar crueldade — o que tornaria a nação irrecuperável.
3. Contraste com o Novo Testamento: progressão da revelação
Toshio ignora o princípio da progressão da revelação: Deus se revela gradualmente, adaptando Sua comunicação à capacidade moral e cultural do povo.
- No Antigo Testamento, Deus lida com nações pagãs em um contexto de guerra santa (herem).
- No Novo Testamento, Jesus ensina amor aos inimigos (Mateus 5:44) e não violência (João 18:36).
- A Igreja não tem autoridade para executar julgamentos nacionais — essa era uma função única de Israel como teocracia.
O teólogo D. A. Carson observa:
“O Antigo Testamento não é o fim da revelação, mas o começo. Cristo cumpre e transforma a lei — não a abole, mas a leva à sua plenitude (Mateus 5:17).”
— How Long, O Lord?, 2006, p. 187
Portanto, julgar o Antigo Testamento isoladamente, sem considerar sua função histórica e escatológica, é um erro hermenêutico grave.
4. A crítica de Toshio pressupõe um padrão moral absoluto — que só faz sentido se Deus existe
Ironia final: Toshio condena Deus por ser imoral, mas não pode fundamentar a moralidade sem Deus.
- Se o universo é um acaso (como Toshio afirma em 2:09:38), não há bem ou mal objetivos — apenas preferências biológicas.
- Mas ele pressupõe que matar crianças é objetivamente errado — o que requer uma lei moral transcendente, ou seja, Deus.
Como escreveu C. S. Lewis:
“Meu argumento contra Deus era que o universo parecia injusto. Mas como eu podia chamar o universo de injusto, a menos que houvesse uma justiça real com a qual ele pudesse ser comparado?”
— Surprised by Joy, 1955, p. 245
b) Deus mente em Gênesis 2:17 (“no dia em que comerdes, certamente morrereis”)
“Adão não morreu no mesmo dia… A serpente disse a verdade… Deus mentiu.”
Refutação Acadêmica da Alegação de Edson Toshio
(1:27:41–1:34:16)
Toshio:
“Deus disse que no dia em que Adão comesse do fruto, certamente morreria… Mas Adão não morreu no mesmo dia. A serpente disse a verdade. Deus mentiu.”
1. Análise do texto original
O versículo em questão é Gênesis 2:17 (Almeida Corrigida e Fiel):
“Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.”
Toshio interpreta “no dia” (beyôm em hebraico) de forma literalista e cronológica, como se Deus tivesse prometido a morte física imediata no mesmo dia solar. Mas essa leitura ignora tanto o uso idiomático do hebraico quanto o contexto teológico imediato.
2. “No dia” é uma expressão idiomática hebraica de certeza, não de cronologia
Na língua hebraica, a expressão beyôm (“no dia”) frequentemente indica certeza imediata da consequência, não necessariamente um evento dentro das 24 horas seguintes.
O estudioso Gleason L. Archer observa:
“Em 1 Reis 2:37, Salomão diz a Joabe: ‘No dia em que saíres… certamente morrerás’. Joabe saiu dias depois e foi morto — mas a ameaça foi cumprida. O idioma hebraico enfatiza a certeza, não o cronograma.”
— Encyclopedia of Bible Difficulties, 1982, p. 60
Portanto, Gênesis 2:17 afirma que a morte é uma consequência inevitável e direta do pecado, não que ela ocorrerá dentro de 24 horas.
3. A morte anunciada é tripartida: espiritual, relacional e física
A Bíblia entende a “morte” não apenas como cessação biológica, mas como separação:
- Morte espiritual: Adão e Eva foram expulsos da presença de Deus imediatamente após o pecado (Gn 3:23–24). Essa é a morte espiritual: separação da fonte da vida.
- Morte relacional: Relações humanas se corrompem (Gn 3:12, 16).
- Morte física: O processo de morte começa imediatamente — Adão vive 930 anos (Gn 5:5), mas não é mais imortal.
O apóstolo Paulo confirma essa visão em Romanos 5:12:
“Por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte…”
E em Efésios 2:1:
“Estáveis mortos em ofensas e pecados.”
Aqui, “morte” claramente se refere à condição espiritual, não à ausência de pulso.
4. A serpente não disse a verdade — ela distorceu parcialmente a verdade para enganar
Toshio afirma que “a serpente disse a verdade”, mas isso é uma leitura seletiva. Vejamos Gênesis 3:4–5:
“Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.”
A serpente:
- Nega a advertência divina (“não morrereis”) → falso.
- Confirma parcialmente a promessa (“sereis como Deus”) → verdade distorcida.
De fato, os olhos de Adão e Eva se abriram (Gn 3:7), mas não para a glória divina, e sim para a vergonha e o medo. Eles não se tornaram como Deus, mas como escravos do medo (Gn 3:10).
Portanto, a serpente misturou verdade e mentira — a estratégia clássica da tentação.
5. Deus não mente — a Bíblia afirma repetidamente que Deus é a verdade
A alegação de que “Deus mentiu” contradiz o testemunho unânime das Escrituras:
- Números 23:19: “Deus não é homem, para que minta.”
- Tito 1:2: “Deus, que não pode mentir.”
- Hebreus 6:18: “É impossível que Deus minta.”
Se Gênesis 2:17 fosse uma mentira, todo o fundamento da teologia bíblica desmoronaria. Mas, como vimos, não há mentira — há uma promessa cumprida em múltiplos níveis.
c) Deus demonstra ignorância (“Onde estás?”; “Onde está Abel?”)
“Deus não sabe onde Adão está… Ele já sabia, tá vendo?”
Refutação
A crítica de Toshio comete um erro fundamental: confunde forma literária com conteúdo ontológico. Ele lê as perguntas de Deus como se fossem interrogações cognitivas (busca de informação), quando, na verdade, são perguntas retóricas pedagógicas — uma prática comum na literatura antiga e na própria linguagem humana.
1. Perguntas retóricas na Bíblia e na comunicação humana
Deus não pergunta porque não sabe, mas para convidar o ser humano ao autoexame, à confissão e à responsabilidade moral.
- Em Gênesis 3:9, Deus pergunta “Onde estás?” não para localizar Adão geograficamente, mas para confrontá-lo com sua condição espiritual: ele está escondido, envergonhado, separado da presença divina.
- Em Gênesis 4:9, a pergunta “Onde está Abel?” não busca informação — Deus já sabe que Caim matou Abel (v. 10: “a voz do sangue de teu irmão clama a mim desde a terra”). A pergunta serve para dar a Caim a oportunidade de se arrepender e confessar.
O teólogo John H. Walton observa:
“As perguntas de Deus em Gênesis 3–4 não revelam ignorância, mas misericórdia. Ele poderia ter julgado imediatamente, mas, em vez disso, inicia um diálogo para restaurar o relacionamento.”
— Genesis, NIV Application Commentary, p. 234
2. Precedentes bíblicos de perguntas retóricas divinas
A Bíblia está repleta de exemplos em que Deus faz perguntas não por falta de conhecimento, mas por propósito pedagógico:
- Jó 38:2: “Quem é este que obscurece o conselho sem conhecimento?” — Deus sabe exatamente quem é Jó, mas o confronta com sua limitação.
- Jonas 4:4: “Fazes bem em te irar assim?” — Deus não ignora os sentimentos de Jonas; Ele os desafia.
- Mateus 16:15: “E vós, quem dizeis que eu sou?” — Jesus, sendo onisciente, pergunta para levar os discípulos à confissão de fé.
3. A onisciência de Deus é afirmada explicitamente na Bíblia
A alegação de Toshio contradiz o testemunho unânime das Escrituras:
- Salmos 139:1–4:
“Senhor, tu me sondas e me conheces… Antes que a palavra me esteja na língua, eis que tu já a conheces toda.”
- Isaías 46:10:
“Desde o princípio anuncio o que há de vir, e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam.”
- 1 João 3:20:
“Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas.”
Se Deus realmente não soubesse onde Adão ou Abel estavam, essas afirmações seriam falsas — o que minaria toda a teologia bíblica.
4. Pressuposto filosófico: ignorância divina como prova de não existência
Toshio assume que um Deus onisciente não faria perguntas. Mas isso é uma projeção moderna de comunicação utilitária, não uma exigência lógica.
Na verdade, a capacidade de fazer perguntas sem precisar da resposta é um sinal de superioridade relacional, não de ignorância. Um pai pode perguntar ao filho: “Você fez sua lição de casa?” não porque não sabe, mas para ensinar responsabilidade.
O filósofo William Lane Craig argumenta:
“Deus usa linguagem adaptada à compreensão humana. Suas perguntas não revelam limitações cognitivas, mas sua disposição de se relacionar conosco como pessoas.”
— Reasonable Faith, 3ª ed., p. 294
d) Deus se cansa e descansa (Gn 2:2–3)
“Deus se cansa?… Não faz sentido… Ele se corrompe como ser humano.”
Ele interpreta o “descanso” de Deus como prova de cansaço físico, o que, segundo ele, contradiz a onipotência e imutabilidade divinas, tornando Deus semelhante a um ser humano corruptível.
Refutação
A crítica de Toshio comete um erro fundamental: interpreta linguagem teológica e simbólica como se fosse descrição fisiológica literal. Isso revela falta de compreensão do gênero literário, da intenção autoral e do uso de antropomorfismo na Bíblia.
1. “Descansar” não significa “recuperar-se do cansaço”
Na Bíblia, o verbo hebraico שָׁבַת (shabat) significa “cessar”, “parar”, “interromper”, não “descansar por exaustão”. O mesmo verbo é usado em Josué 5:12, onde o maná “cessou” (shabat) — sem implicar cansaço.
O teólogo John H. Walton explica:
“O ‘descanso’ de Deus em Gênesis 2 não é recuperação de fadiga, mas assunção de domínio. No Antigo Oriente Próximo, os deuses ‘descansavam’ quando entravam em seus templos — não para dormir, mas para reinar.”
— The Lost World of Genesis One, 2009, p. 72
Portanto, o “descanso” de Deus é uma metáfora para Sua entrada no templo cósmico (a criação) como Rei soberano — não um sinal de fraqueza.
2. A Bíblia nega explicitamente que Deus se canse
Toshio ignora passagens que explicitamente negam que Deus experimente fadiga:
- Isaías 40:28:
“Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos confins da terra, não se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento.”
- Salmo 121:4:
“Eis que não dormitará nem dormirá o que guarda a Israel.”
Se Gênesis 2 ensinasse que Deus se cansa, haveria contradição interna com o restante das Escrituras. Mas não há — porque Gênesis 2 não afirma isso.
3. O sétimo dia é modelo teológico, não biográfico
O propósito de Gênesis 2:2–3 é instituir o sábado como sinal da aliança (Êxodo 20:8–11) e afirmar a santidade do tempo. O descanso de Deus é paradigma para o ser humano, não relato de necessidade divina.
Como observa Gerhard von Rad:
“O descanso de Deus não é um estado passivo, mas a consumação da criação — o momento em que o mundo se torna habitável e ordenado para a comunhão com Deus.”
— Genesis: A Commentary, 1972, p. 62
4. Antropomorfismo é recurso literário, não erro teológico
A Bíblia frequentemente descreve Deus com corpo, emoções e ações humanas (ex.: “braço forte”, “olhos do Senhor”, “arrependimento”), mas isso é antropomorfismo pedagógico — não afirmação ontológica.
O filósofo William Lane Craig argumenta:
“Deus se revela em linguagem humana adaptada à nossa compreensão finita. Dizer que Ele ‘descansa’ é como dizer que o sol ‘nasce’ — é verdadeiro fenomenologicamente, não cientificamente.”
— Reasonable Faith, 3ª ed., p. 293
6. A condenação da homossexualidade é cultural, não eterna, e igrejas afirmativas negam a Bíblia
“A Bíblia fala que isso é pecado… Romanos 1… Levítico 20… Então, por isso que eu falo: o pastor que tá tendo uma igreja afirmativa… tá indo contra.”
Refutação:
Toshio confunde descrição com prescrição e ignora o contexto teológico e histórico.
Toshio argumenta que Lv 18:22 e Rm 1:26–27 são culturais, mas ignora que:
- Levítico 18 está no contexto da santidade moral, não cerimonial. Os atos listados (incesto, bestialidade, homossexualidade) são chamados de “abominações” (v. 27) que “defilem a terra” — não leis dietárias ou rituais.
- Romanos 1:26–27 condena relações homossexuais não por causa de cultura, mas por violarem a ordem criacional de Gênesis 1–2 (macho e fêmea).
O teólogo Robert Gagnon conclui:
“Paulo vê a homossexualidade como uma rejeição deliberada da intenção criacional de Deus, não como um tabu cultural.”
— The Bible and Homosexual Practice, 2001, p. 310
Portanto, a condenação é moral e teológica, não meramente cultural.
7. Os evangelhos são tardios, anônimos, contraditórios e não confiáveis historicamente
a) Nenhum evangelho foi assinado; nomes foram atribuídos séculos depois
Respondido aqui
“Ninguém assinou… Isso foi atribuído séculos depois.”
b) Marcos (o mais antigo) foi escrito 40+ anos após a morte de Jesus
Respondido aqui
“Primeiro evangelho… depois da década de 70… dezenas de anos depois da suposta morte de Jesus.”
c) Narrativas da ressurreição divergem radicalmente entre os quatro evangelhos
“Cada um narra a ressurreição de um jeito diferente… Prova que não aconteceu.”
8. A virgindade de Maria é cientificamente impossível e historicamente duvidosa
“Não tem como nascer de virgem… cientificamente falando… tá mentindo.”
Essas oito categorias, subdivididas em 25 alegações específicas, representam todas as críticas centrais e refutáveis feitas por Edson Toshio no vídeo. Cada uma delas corresponde a um ponto de debate acadêmico legítimo em teologia, história antiga, crítica textual, filosofia da religião ou ciência.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui