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Por que Deus permitia legalmente o saque mesmo dizendo para os antigos israelitas não roubar

Leitor pergunta: por que Deus permitia legalmente o saque mesmo dizendo para os antigos israelitas não roubar?

Introdução

Ao longo dos séculos, a Bíblia tem sido alvo de inúmeras críticas por parte de céticos que apontam supostas contradições em seus ensinamentos. Um tema recorrente dessas acusações é o conceito de roubo. Enquanto diversas passagens bíblicas condenam explicitamente o furto, outras são interpretadas como exemplos de comportamento contraditório. Dois episódios frequentemente citados pelos críticos são (1) a saída dos israelitas do Egito com os pertences dos egípcios e (2) o incidente envolvendo Jesus e Seus discípulos utilizando um jumento e seu potro sem, aparentemente, a permissão dos donos. Este artigo busca analisar essas histórias à luz do contexto bíblico e oferecer uma explicação coerente que harmonize esses eventos com as claras proibições contra o roubo encontradas nas Escrituras.


A Saída dos Israelitas do Egito: Pilhagem ou Compensação?

Uma das principais questões levantadas pelos céticos é a descrição da saída dos israelitas do Egito, quando eles teriam “saqueado” os egípcios (Êxodo 3:21-22; 12:35-36). A narrativa afirma que Deus instruiu os israelitas a pedirem aos egípcios utensílios de prata, ouro e roupas antes de sua partida. No entanto, ao invés de caracterizar esse ato como roubo forçado, a Bíblia descreve claramente que os israelitas pediram esses bens e que os egípcios concederam voluntariamente .

O contexto histórico é crucial para entender essa situação. Os israelitas haviam sido escravizados no Egito por mais de 200 anos, sofrendo trabalhos forçados e tratamento cruel (Êxodo 1:11-14). Além disso, as pragas enviadas por Deus sobre o Egito deixaram os egípcios temerosos e dispostos a cooperar com os israelitas. Assim, a “pilhagem” mencionada não foi um ato de violência ou roubo, mas sim uma compensação justa por décadas de trabalho escravo. Como observado pelo estudioso Gleason Archer, a palavra hebraica usada para “despojar” (natsal) nesses versículos carrega um sentido figurativo, refletindo a ideia de que os israelitas receberam esses bens como se tivessem conquistado uma vitória militar — uma analogia válida considerando as circunstâncias extraordinárias.

Portanto, chamar essa ação de “roubo” seria ignorar o contexto completo da narrativa e o propósito divino por trás dela. Longe de ser uma violação do oitavo mandamento (“Não furtarás”), esse episódio ilustra a justiça de Deus ao garantir que Seu povo recebesse o que lhe era devido após séculos de opressão.


Jesus e o Jumento: Propriedade Não Autorizada ou Uso Pré-Aprovado?

Outro ponto de controvérsia está no evangelho de Mateus, onde Jesus instrui Seus discípulos a pegarem um jumento e seu potro em uma aldeia próxima (Mateus 21:1-3). Quando confrontados pelos donos dos animais, os discípulos simplesmente responderam: “O Senhor precisa deles”. Surpreendentemente, os donos aceitaram a explicação e permitiram que os animais fossem levados. Para alguns céticos, isso parece ser um caso evidente de roubo.

No entanto, há vários aspectos importantes a considerar aqui. Primeiro, a Bíblia não registra todos os detalhes de cada evento que menciona. João escreveu que “muitas outras coisas Jesus fez, as quais, se fossem escritas uma por uma, nem ainda no mundo inteiro, penso eu, caberiam os livros que se escrevessem” (João 21:25). Isso significa que a ausência de informações específicas — como uma conversa prévia entre Jesus e os donos dos jumentos — não implica necessariamente que tal interação não tenha ocorrido. É plausível que Jesus já tivesse combinado previamente o uso dos animais com seus proprietários, especialmente considerando Seu conhecimento divino e autoridade.

Além disso, se os discípulos realmente estivessem roubando os animais, é improvável que os donos os tivessem entregado tão facilmente. O fato de os proprietários aceitarem a resposta dos discípulos sugere que havia uma compreensão implícita ou acordo prévio. Por fim, nada no texto indica que os animais não foram devolvidos imediatamente após o uso por Jesus. Sem provas conclusivas de má intenção ou uso indevido, acusar Jesus e Seus discípulos de roubo carece de fundamento.


Harmonizando as Passagens

As duas histórias analisadas acima demonstram que as acusações de roubo contra figuras bíblicas baseiam-se em interpretações superficiais e fora de contexto. A Bíblia é clara em sua condenação ao roubo, tanto na lei mosaica quanto nos ensinamentos do Novo Testamento. Contudo, os exemplos frequentemente citados pelos céticos podem ser explicados dentro do quadro maior das Escrituras:

  1. Compensação Justa : No caso dos israelitas, os bens obtidos dos egípcios eram uma forma de reparação pelos anos de escravidão sofridos. Essa prática não só estava alinhada com a justiça divina, mas também preenchia uma profecia feita a Abraão muito antes do êxodo (Gênesis 15:13-14).
  2. Acordos Implícitos : No caso de Jesus e os jumentos, a ausência de detalhes sobre negociações prévias não prova que elas não existiram. Pelo contrário, a cooperação tranquila dos donos sugere que havia um entendimento mútuo, reforçando a inocência de Jesus e Seus seguidores.

Conclusão

Os céticos que apontam essas histórias como exemplos de contradições bíblicas falham em reconhecer o contexto cultural, histórico e teológico das passagens em questão. Ao examinar cuidadosamente os textos e considerar explicações plausíveis, fica evidente que não há inconsistências legítimas. As Escrituras permanecem consistentes em sua condenação ao roubo, enquanto os episódios envolvendo os israelitas e os discípulos de Jesus devem ser vistos como exceções justificadas pelas circunstâncias únicas de cada evento.

Em vez de minar a credibilidade da Bíblia, essas histórias destacam a profundidade e complexidade de suas narrativas, convidando-nos a explorar suas verdades com mente aberta e coração sincero.


Referências

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