Fábio de Melo e o “casamento” gay

a“Padre” Fábio de Melo participou no dia 18/01/2014 do programa “Altas Horas”, de Serginho Groisman. Como previsível, para quem está por dentro do assunto, o “padre”, muito popular entre jovens  e outras pessoas que não têm muita profundidade na área teológica e doutrinas da Igreja, falou aquilo que o povão (e a Globo) queria ouvir: um discurso simplista politicamente correto. É daquele tipo que agrada gregos e troianos. Se, coerentemente, o “padre” Fábio de Melo fosse realmente expressar as corretas posições da Igreja, sem trazer um assunto desse para uma plateia tão superficial e inconsequente com relação à Igreja, com certeza não seria tão popular e ganharia zombarias. Mas, como “prega para o coro”, então é aceito em seu discurso água com açúcar.

Num momento ele respondeu à pergunta de uma moça sobre a questão do “casamento gay”. Ora, se nem os termos estão clarificados, o “padre” caiu no jogo da patuleia. O assunto é complexo e já explicamos várias vezes aqui sobre isto. Mas vamos retornar a alguns pontos importantes para entendermos melhor o assunto, que não se trata nem de casamento nem de “diretos civis”.

Antes de continuarmos, pergunte-se quantas dessas pessoas que estão ouvindo esses discursos já ouviram falar de Gramsci, Horkheimer, Lukács, Adorno ou da Escola de Frankfurt. Creio que bem pouco ou ninguém. Isso não aprendem na universidade. Não aprendem sobre seus discursos e objetivos. Mas o que é este marxismo cultural, ou desconstrucionismo, mais conhecido pelo nome de “Politicamente Correto”? As conclusões dos teóricos da Escola de Frankfurt foram que a doutrina marxista não estava em causa mas que os povos imaturos não estavam receptivos. Era portanto necessário mudar os povos. Foi esse o objetivo do que chamaram marxismo cultural, ou desconstrucionismo, ditadura do pensamento que governa as democracias ocidentais depois dos anos 60.
A partir do momento em que as palavras se tornaram armas tornou-se imperativo ganhar o controlo dos Media e da Indústria Cultural. Isso foi feito. Podia-se, doravante, dar forma ao pensamento dos povos, promover a fragmentação da sociedade em minorias, religiosas, raciais, sexuais, e conduzir essas minorias contra a maioria tradicional que não tinha outra escolha do que calar-se.
Georg Lukacs fez a famosa pergunta: “Quem nos salvará da Civilização Ocidental?”. Um dos maiores obstáculos e pedra nos sapatos desses teóricos marxistas, socialistas e desconstrutivistas, promotores de ideias e teorias pseudocientíficas, era a família nuclear e esses ideólogos precisavam fazer algo com relação a minar ou destruir a influência da família monogâmica na sociedade, para que suas ideias dementes de “reconstrução social” pudessem ser levadas à cabo.  É essa a doutrina que chamaram “Marxismo Cultural”, ou desconstrucionismo. Mais conhecido sob o nome de Politicamente Correcto: Morte ao Populismo, Morte ao Povo!

Nas últimas décadas, a sabedoria convencional tenta alegar quer que a masculinidade e a feminilidade são nada além de “construções sociais”, que podem ser “desconstruídas” para se adequar a novos tempos e gostos individuais, ou que todo mundo é naturalmente “andrógino”. Ambas as teorias ignoram o fato óbvio de corpos masculinos e femininos, que estão sujeitos a diferentes experiências (o mais óbvio é que apenas as mulheres podem gestar e amamentar). Embora há mais semelhanças do que dissemelhantes, cada sexo é distinto. Os meninos não podem aprender a tornar-se homens saudáveis ​​mesmo criados pela mãe (ou par de mães) mais amorosa sozinha. E as meninas não podem aprender a tornar-se mulheres saudáveis ​​mesmo do pai (ou um par de pais) mais amoroso sozinho. Este aprendizado ocorre no dia a dia e muitas vezes por exemplo no contexto mais amplo da vida íntima da família. Além disso, a necessidade de pais é particularmente aguda para os meninos. Como as meninas, devem separar de suas mães. Ao contrário das meninas, no entanto, devem também mudar o foco da identidade de um sexo para o outro. Há estudos psicológicos e sociológicos para apoiar estas afirmações.
Os problemas em discussão aqui não se aplicam apenas aos pais gays, mas também e até principalmente para pais solteiros héteros. Sim, sempre houve pais solteiros, devido à morte, divórcio ou deserção. Mas essas foram as exceções. Agora que o divórcio se tornou tão comum, o fenômeno mudou. Pais solteiros – geralmente por mães e muitas vezes por opção – tornaram-se um “estilo de vida”. A mensagem para os pais e seus filhos é que os homens não têm nenhuma função distintiva, necessária e valorizada publicamente na vida familiar. E os resultados de crianças órfãs em grande escala, como descrito por psicólogos e sociólogos, não são exatamente animadores.

Fábio de Melo não soube sequer diferenciar a união entre homossexuais (o que é legal) da união entre pessoas do mesmo sexo. Porque o problema não está na união ou casamento de pessoas homossexuais, mas da união ou casamento de pessoas do mesmo sexo. C. S. Lewis tratou da questão dos papéis de gênero no clássico Cristianismo Puro e Simples. Ele escreve:


Se há a necessidade de um líder, por que o ho­mem? Em primeiro lugar, pergunto: existe uma vontade generalizada de que isso caiba à mulher? Como eu dis­se, não sou casado, mas, pelo que vejo, nem mesmo a mulher que quer ser a chefe de sua própria casa admira essa situação quando a observa na casa ao lado. Deve haver algo de anti-natural na proeminência das esposas sobre os maridos, pois as próprias esposas ficam bastante envergonhadas disso e desprezam o marido que se submete. (…) . As relações da família com o mundo exterior – o que poderíamos chamar de política externa — devem de­pender, em última análise, do homem, porque ele deve ser, e normalmente é, mais justo em relação às pessoas de fora.

Ao contrário do simplismo de Fábio de Melo, vejamos o que reza do Catecismo da Igreja:


2357 – A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que “os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados”. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

2358 – Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição.

2359 – As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de auto domínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

Então, muitas pessoas não conseguem entender a posição católica de não condenar o homossexual, enquanto condena o pecado da homossexualidade. A maioria das pessoas têm algum tipo de vício sexual, quer se trate de pensamentos impuros, pornografia, masturbação, ou o que seja. Todo pecado sexual é grave, seja a homossexualidade ou quaisquer outros. A diferença é que os homossexuais estão tentando mudar a definição de homossexualidade de ser pecaminosa para ser normal, correto e bom, e você vai ser condenado ao ostracismo e/ou processado se você não concordar com eles, e então eles dizem que “você os odeia”. Odiar o pecado não é odiar o pecador – nunca foi e nunca será. E esse negócio de desentendimento com alguém = “ódio” é muito estranho. Imagine se todos os que você não concordou com a política, o tempo, dinheiro, etc, afirmassem que “você os odeia”, porque você não concordar com eles. Muito estranho mesmo.
As posições controversas de Fábio de Melo já foram denunciadas aqui.
Se o Fábio de Melo fosse coerente e explicasse a real situação e definição dos termos sem cair no conto fácil do “casamento gay”, com certeza seria recebido de forma diferente, talvez até com cusparada pela gentalha. Mas, como falou exatamente aquilo que queriam ouvir (ou nem tanto, dado que na verdade o que a maioria dessa patuleia de simplistas irreligiosos queriam mesmo era que ou a Igreja acabasse ou que “casasse” gays) então foi recebido com uma aceitação imoral.
Pergunto: é moralmente certo para o nosso governo tolerar as relações sexuais entre duas pessoas do mesmo sexo? Se sim, então não vejo razão secular para proibir estas uniões. Se não, então eu não vejo como podem ser toleradas. Essa conversa é sobre se a lei civil deve permitir uniões do mesmo sexo. A fim de ter um direito civil, em primeiro lugar, há certas suposições que simplesmente devemos aceitar, uma das quais é a moralidade objetiva. O direito civil é, por definição, um padrão objetivo que se aplica a todos. O assassinato não é legal para uma pessoa, mas ilegal para outro (deixando justiça na aplicação das nossas leis de lado e falando exclusivamente a partir de uma filosofia de perspectiva de leis). Com que base é que vamos formular estas leis? Claramente, pelo menos, certas leis se destinam a prescrever moralidade. Por que o estupro é ilegal? Por se tratar de uma violação moral da vítima no mais alto grau. Não proibimos o estupro por razões puramente pragmáticas. Independentemente das consequências, a violação é uma violação dos direitos da personalidade de alguém.
A característica fundamental da civilização humana é o fato de que o casamento consiste unicamente de um homem (macho) e uma mulher ( feminino), conforme estabelecido pelo Criador no início do mundo (Gênesis 1,27; 2,24). Relações do mesmo sexo (e muito menos “casamentos” de mesmo sexo) são contrários à “natureza”, isto é, a ordem natural estabelecida pelo Criador no início. Deus não só está descontente com aqueles que participam desse comportamento, mas de acordo com a afirmação de Paulo em Rm. 1,26-32, Ele também está descontente com aqueles que dão mero apoio de tal conduta, embora eles próprios não exerçam a atividade. Os que pensam que se deve ter “compaixão” e “tolerância” faria, bem em se perguntar se eles pensam se são mais compassivos e tolerantes do que Deus.

Para saberem mais sobre a questão, vejam

Um dos principais argumentos contra a Igreja e os outros que se opõem ao “casamento” do mesmo sexo é que eles negam os direitos que todas as outras pessoas têm na mesma relação de amor que os casais heterossexuais têm permissão para desfrutar. No entanto, um entendimento doutrinário do casamento de acordo com a Igreja, quando contrastado com o conhecimento secular do termo explica a falsidade de tal afirmação. O padrão para o casamento na Igreja Católica é muito maior do que a de uma união matrimonial legal.

O casamento não é sobre duas “almas gêmeas”, se apaixonando e vivendo felizes para sempre. É sobre o amor, mas não algo como no filme Feitos um para o outro. O tipo de amor necessário para o casamento católico é o amor, cuja finalidade culminante é trazer vida ao mundo. É um amor mútuo desinteressado entre um homem e uma mulher que se unem em uma união permanente com a finalidade de procriação. A chave para a especificidade desta união é a utilização e finalidade do sexo.

O objetivo bíblico e doutrinariamente definido de sexo é para a procriação e a união matrimonial. De acordo com a doutrina da Igreja, “A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se doam um ao outro com os atos próprios e exclusivos dos esposos, não é algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana como tal. Realiza-se de uma maneira verdadeiramente humana, somente se é parte integral do amor com o qual homem e mulher se comprometem totalmente um para com o outro até a morte” (CCE, 2361). O sexo não é uma ferramenta de auto-satisfação mútua, ou seja, duas pessoas se envolvendo em atos sexuais com o propósito final de gratificação pessoal. É algo que é muito mais profundo e muito mais significativo. O sexo é o dom total, altruísta de uma pessoa para outra, como sinal de sua unidade e união ao longo da vida. O uso do sexo como qualquer outra coisa que é um abuso de sua finalidade. Para entender a oposição católica ao casamento do mesmo sexo é preciso entender este ponto.

A sociedade secular diminui o sexo e sexualidade a níveis de instintos básicos e impulsos bestiais. O sexo é usado como um meio para a satisfação pessoal, status social, e um marcador para o status de um relacionamento. Relacionamentos começam uma vez que um casal teve relações sexuais e uma relação é definida como “saudável” quando há uma vida sexual ativa. Na sociedade secular, sexo e casamento estão longe de mutuamente excludentes. O sexo é sobre o prazer e não necessariamente sobre qualquer outra coisa. Na doutrina católica sexo é necessariamente sobre a união conjugal e da procriação com prazer como um incentivo para ambos. Todas as relações sexuais fora dos limites desses requisitos são pecaminosas. Na verdade, as relações sexuais dentro do casamento, que não permitem o potencial para a procriação também são pecados (por exemplo, o uso de controle de natalidade ou qualquer prevenção intencional de fertilização). Dar suporte a casais do mesmo sexo “se casar”, mesmo em um nível legal, de acordo com a definição e normas da doutrina católica, exigiria a Igreja tolerar a pecaminosidade inerente de atos homossexuais.

A Igreja não valida a noção de “casamento civil” ou casamento unicamente sob a lei como uma união legal pelos direitos legais específicos. O casamento, aos olhos da Igreja, é sacramental e não tem um propósito maior do que a que eu tenho definido acima e encontra-se no parágrafo 1601 do Catecismo. O objetivo final do casamento é unir um homem e uma mulher em uma aliança com o outro ao longo da vida em Cristo para ministrar uns aos outros e trazer nova vida ao mundo. Enquanto o casamento civil pode muitas vezes espelhar essa finalidade, não exige os requisitos sacramentais para o casamento. Para este fim, a definição de casamento entre a Igreja e o Estado são diferentes. Para apoiar o casamento civil, em geral, a Igreja estaria dizendo que o casamento civil se enquadra na definição e os requisitos para o casamento, conforme determinado pela Igreja, que não é o caso. Apoiar o casamento civil pessoas do mesmo sexo é dar a mesma validade para a instituição, uma vez que iria ao apoiar o casamento civil heterossexual, o que vai contra a doutrina da Igreja.

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