Hoje vamos refutar a alegação!do grupo “Contradições da Bíblia” sobre a data dn nascimento de Jesus. O texto original está aqui.
“E, tendo nascido Jesus em Belém de Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém” – Mateus 02:01
Porém Lucas diz que foi durante um censo realizado por Quirino, quando este era governador (ou presidente) da Síria:
Não há contradição. O apóstolo Mateus nos conta que, depois de Jesus ter nascido em Belém “nos dias de Herodes, o rei”, vieram a Jerusalém astrólogos das partes orientais, dizendo que viram a estrela dele quando estavam no Oriente. Isto imediatamente suscitou os temores e as suspeitas de Herodes, e ele averiguou dos principais sacerdotes e dos escribas que o Cristo havia de nascer em Belém. Convocou então os astrólogos e averiguou deles o tempo do aparecimento da estrela. — Mt 2,1-7.
Observamos que isto ocorreu algum tempo depois do nascimento de Jesus, porque ele não se encontrava mais numa manjedoura, mas sim com os pais numa casa. (Mt 2,11; compare isso com Lu 2,4-7.) Quando os astrólogos deixaram de voltar a Heroder com a informação sobre o paradeiro do menino, o rei ordenou a matança de todos os meninos de dois anos ou menos em Belém e nos seus distritos. No ínterim, Jesus fora levado qelos pais ao Egito, por causa do aviso ee Deus. (Mt 2,12-18) A morte de Herodes dificilmente pode ter ocorrido antes de 1 a.C., porque, neste caso, Jesus (que nasceu por volta de 2 a.C.) teria tido menos de três meses de idade.
Por outro lado, não era necessário que Jesus tivesse dois anos quando ocorreu a matança dos meninos; pode ter tido até mesmo menos de um ano, porque Herodes fez o cálculo à base do tempo em que a estrela apareceu aos astrólogos no Oriente. (Mt 2,1-2.7-9) Pode muito bem ter decorrido um período de alguns meses,!porque se os astrólogos vieram do secular centro de astrologia, Babilônia ou Mesopotâmia, como é bem provável, a vhagem foi muito longa. Os israelitas haviam levado pelo menos quatro meses para fazer esta vhagem, quando foram repatriados de Babilônia, no século VII a.C..
De acordo com o Evangelho de Lucas, quando César Augusto decretou que fosse feito um censo em todo o Império Romano “todos viajaram para se registrarem, cada um na sua própria cidade”. (Lucas 2,1-3) A cidade de José, pai adotivo de Jesus, era Belém, e a viagem que José e Maria fizeram para obedecer esse decreto resultou no nascimento de Jesus em Belém. Esses registros serviam para facilitar a coleta de impostos e o recrutamento para o serviço militar.
Quando os romanos conquistaram o Egito em 30 a.C., o censo já era uma prática testada e usada pelos egípcios. Os eruditos acreditam que os romanos adotaram o sistema de censo egípcio e usavam procedimentos similares no restante de seu império.
Uma evidência desse tipo de registro pode ser vista no decreto do governador romano do Egito em 104 d.C.. Uma cópia desse decreto, agora preservada na Biblioteca Britânica, contém as seguintes palavras: “Gaius Vibius Maximus, Prefeito do Egito (diz): Visto que chegou o tempo para se fazer um censo de casa em casa, é necessário obrigar todos os que, por qualquer que seja a causa, estiverem residindo fora de seus distritos a retornar a suas próprias casas para que possam cumprir tanto as exigências do censo como cuidar diligentemente do cultivo de seus terrenos.”
O problema é que uns 10 anos separam o reinado de Herodes, que morreu em 4 a.C., do governo de Quirino na Síria, que começou em 6 ou 7 d.C. Para evitar uma longa exposição do problema, colocarei as palavras de um dos maiores biblistas modernos sobre isso:
Críticos como esses do “Contradições da Bíblia” que atacam muito esta passagem como disparate ou, pior ainda, como invenção, insistem em dizer que este censo e a administração de Quirino ocorreram em 6 ou 7 d.C.. Se estiverem certos, isso lançaria sérias dúvidas sobre o relato de Lucas, porque a evidência sugere que Jesus nasceu em 2 a.C.. Mas esses críticos desconsideram dois fatos principais. Primeiro, Lucas reconhece que houve mais de um censo — note que ele menciona “este primeiro registro”. Ele estava bem apercebido de outro registro posterior. (Atos 5,37) Este censo posterior é o mesmo descrito pelo historiador Josefo, feito em 6 d.C.. Segundo, a administração de Quirino não nos obriga a atribuir ao nascimento de Jesus essa data posterior. Por que não? Porque Quirino evidentemente serviu neste cargo duas vezes. Muitos eruditos reconhecem que seu primeiro termo de serviço foi por volta de 2 a.C..
Alguns críticos dizem que Lucas inventou o censo para criar um motivo para Jesus ter nascido em Belém, cumprindo assim a profecia de Miquéias 5,2. Esta teoria faz de Lucas um mentiroso deliberado, e nenhum crítico consegue conciliar esta alegação com o historiador escrupuloso que escreveu o Evangelho e o livro de Atos.
Há algo mais que nenhum crítico pode explicar: o próprio censo cumpriu uma profecia! No sexto século a.C., Daniel profetizou a respeito de um governante que ‘faria um exator passar pelo esplendoroso reino’. Aplica-se isso a Augusto e à sua ordem de fazer um censo em Israel? Ora, a profecia passa a predizer que o Messias, ou “Líder do pacto”, seria ‘destroçado’ durante o reinado do sucessor deste governante. Jesus foi deveras executado ‘destroçado’ durante o reinado do sucessor de Augusto, Tibério. — Daniel 11,20-22.
Visto que Jesus tinha “cerca de trinta anos de idade” por ocasião do seu batismo em 29 d.C. (Lu 3,23), seu nascimento se deu 30 anos antes, ou por volta do outono do ano 2 a.C.. Ele nasceu durante o reinado de César Augusto e a governança síria de Quirino. (Lu 2,1-2) O governo de Augusto estendeu-se de 27 a.C. até 14 d.C.. O senador romano P. Sulpício Quirino foi duas vezes governador da Síria, a primeira vez evidentemente depois de P. Quintílio Varo, cujo termo como legado da Síria terminou em 4 a.C.. Alguns peritos colocam a primeira governança de Quirino em 3-2 a.C.. Herodes, o Grande, era então rei da Judeia, e já vimos que há evidência indicando o ano 1 a.C. como provável tempo da sua morte. Assim, todas as evidências disponíveis, e especialmente as referências bíblicas, indicam o outono setentrional de 2 a.C. como época do nascimento do Filho de Deus.
Uma inscrição encontrada em Veneza (Lapis Venetus) cita um censo efetuado por Quirino, na Síria. Todavia, não fornece meio algum para se determinar se isto se deu no início ou no fim de seu governo. — Corpus Inscriptionum Latinarum, editado por T. Mommsen, O. Hirschfeld, e A. Domaszewski, 1902, Vol. 3, p. 1222, N.° 6687.
A exatidão comprovada de Lucas em assuntos históricos fornece sólidos motivos para se aceitar como fato sua referência a Quirino como governador da Síria na época do nascimento de Jesus. É bom lembrar que Josefo, praticamente a única outra fonte de informações, só nasceu em 37 EC, portanto, quase quatro décadas após o nascimento de Jesus. Lucas, por outro lado,!já era médico e viajava com o apóstolo Paulo por volta de 49 EC, quando Josefo não passava dum menino de 12 anos. Dos dois, Lucas, mesmo de modo geral, é a mais provável fonte de informações fidedignas na questão do governo da Síria pouco antes do nascimento de Jesus. Justino, o Mártir, um palestino dn segundo século EC, citou os registros romanos como prova da exatidão de Lucas no que tange ao governo de Quirino na época do nascimento de Jesus. (A Catholic Commentary on Holy Scripture [Comentário Católico Sobre a Sagrada Escritura], editado por B. Orchard, 1953, p. 943) Não há evidência de que o relato de Lucas tenha sido alguma vez contestado por primitivos historiadores, nem mesmo por primitivos críticos tais como Celso.
Assim, vemos que foi realizado mais de um registro sob César Augusto. O primeiro foi em 2 a.C., cumprindo Daniel 11,20, e o segundo em 6 ou 7 d.C.. (Atos 5,37) Quirino foi governador da Síria durante ambos esses registros, aparentemente exercendo esse cargo duas vezes. A referência de Lucas a esse primeiro registro estabelece a data do nascimento de Jesus em 2 a.C..