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Cristo não era comunista

Christ_Lord_01_250x252Os cristãos desejam viver virtuosamente, com suas crenças fundadas no amor, na verdade e na justiça. No entanto, para muitas igrejas, a justiça tem sido pervertida de seu significado bíblico – conformidade com as leis de Deus – em uma busca por igualitarismo. A verdade – correspondente ao caráter e à vontade de Deus – perdeu sua claridade. O amor foi reduzido a uma mera emoção. Muitas das principais denominações dão mais credibilidade a ateístas da academia e na mídia do que às Escrituras.

Muitos cristãos abandonaram as Escrituras, envergonhados de seus ensinamentos em qualquer ponto que difira dos pensamentos que se passam por progressistas, nuançados ou sofisticados. Paulo alertou contra o perigo de sermos enganados pelas filosofias mundanas (Cl. 2,8), mas muitas das principais Igrejas foram atropeladas pelas mesmas ideologias esquerdistas que atropelaram outras facetas da intelectualidade americana atual. Babel ergue-se novamente.

Salsman percebe, mas confunde as bases disso. A esquerda religiosa e, mais frequentemente, oportunistas irreligiosos transformam os ensinamentos de Cristo, de espirituais, em político-econômicos. Eles até interpretam o evangelho através das lentes decididamente não cristãs do socialismo humanista.

Não é que “a menor familiaridade com as Escrituras” reforce o moderno estado de bem-estar social. Mas sim que pessoas como Salsman, com pouca familiaridade, citam as Escrituras erroneamente. As passagens que ele cita relevam verdades espirituais, não verdades seculares. Ele até mesmo lança citações referindo-se ao socialismo, “dirigindo-se não para a alma, mas para os sentidos do homem”.

Jesus, porém, tratava primeiramente sobre a alma e não sobre os sentidos do homem. Tais versos apoiam o socialismo apenas se divorciarmos as Escrituras de seus significado real.  Apenas ao ler os ensinamentos de Jesus através de lentes naturalistas ou materialistas é plausível apoiar o estado de bem-estar social; mas mesmo nesta hipótese é necessária uma “cafeteria” cristã ignorando muito mais trechos que argumentam fervorosamente contra a expansão governamental.

Não é contraditório tomar os ditos de Jesus separando-os das intenções dEle? Pessoas que não creem na Bíblia frequentemente usurpam sua autoridade para sustentar suas próprias teorias, mas aqueles que afirmam a inerrância das escrituras raramente abraçam o socialismo secular. Reduzir as escrituras a ideias seculares é rejeitar sua autoridade. A verdade não vem da Bíblia, mas a Bíblia vem da Verdade como revelação divina.

O Cristo nunca elevou o corpo acima da alma e raramente tratou de assuntos mundanos. Ele pregava o arrependimento – que está longe de ser um tema mundano – então morreu uma morte corporal horrível para resgatar a humanidade da danação espiritual. Os versículos cogitados para a promoção do socialismo foram proferidos para revelar a maior verdade: o homem é incapaz de salvar a si mesmo.

Há ainda outros ensinamentos que claramente rejeitam o socialismo igualitário. Se afastados de sua toada espiritual, muitos versículos que advogam direitos de propriedade ou estimam o sucesso [pessoal] contradizem aqueles citados por Salsman. Matheus 25 inclui, ao mesmo tempo, o “todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos”, versículo que o presidente Obama aprecia, e a parábola dos talentos “Dar-se-á ao que tem e terá em abundância. Mas ao que não tem, tirar-se-á mesmo aquilo que julga ter”.

A leitura das Escrituras em seu contexto espiritual supera todas as aparentes contradições. E aflige aqueles que citam uma passagem mas negligenciam seus corolários.

Quando solicitado a explicar seus ensinamentos, Jesus afirmou repetidamente que eles deveriam ser entoados espiritualmente. Ele admoestou a não temer aqueles que podem matar apenas ao corpo, mas temer aquele que pode matar o corpo e a alma no inferno (Mt. 10,28). Porque, como Cristo disse a Pilatos, “O meu Reino não é deste mundo.” (Jo. 18,36). Portanto, os cristãos devem viver como peregrinos, preocupados primeiramente com o Céu. Enquanto vivendo aqui, damos a César o que é de César, mas nunca devemos dar a ele o que é de Deus (Mt. 22,21).

Salsman deve ser louvado por citar as escrituras (Fl. 1,17-18) e esperamos que uma busca mais profunda encontre solo fértil em seu coração. Embora, estou curioso para saber em qual tradução [das Escrituras] consta que “um homem rico não pode entrar no Reino dos Céus”.

Nós temos a obrigação moral absoluta de ajudar aos outros. Somos chamados a amar ao próximo como a nós mesmos e a amar a Deus ainda mais. Auto sacrifício é nobre. Orgulho é pecado. É melhor dar do que receber.

Mas as obrigações morais cristãs dispensam o estado de bem-estar social e pesadas taxações. Como instruiu o Apóstolo Paulo em 1Tm 1,5, a Igreja não deveria distribuir ajuda às viúvas inválidas com família, pois isso privaria as pessoas de suas relações das oportunidades para exercitar sua fé. É difícil acreditar que tais decretos feitos por Paulo visando a benevolência na Igreja beneficiariam programas ateus de estado de bem-estar.

Se, como afirma Lucas, a verdadeira religião preocupa-se com as necessidades das viúvas e dos órfãos; ou, como Isaías instrui, a defender os órfãos; é um tanto estranho afirmar apoio bíblico para subsídios públicos que encorajem mães solteiras a produzir crianças sem pai.

A benevolência bíblica implica em responsabilidade moral para restaurar vidas destruídas e resgatar almas perdidas, não para criar dependentes do governo. Oportunistas sempre evocaram a ajuda aos pobres para enriquecer a si mesmos. Esta horrível característica lembra mais Judas Iscariotes (Jo.12, 4-6) do que Jesus Cristo. O estado de bem-estar social dá a Cesar o que é de Deus e os resultados são previsivelmente terríveis.

O Presidente Obama exemplifica isso. E não, não estou comparando-o com Judas e rezo para que sua fé seja sincera e sua salvação assegurada. Salsman cita Obama prolificamente para demonstrar seu ponto. Mas citar as escrituras para ganho pessoal não faz [de Obama] um presidente versado em Bíblia, do mesmo modo que citar Thomas Jefferson não faz dele um bastião da limitação governamental.

Paulo instruiu os tessalonicenses a trabalhar diligentemente e cuidar de suas próprias vidas de modo à nunca ter de incomodar os outros. E, mais adiante, que aquele que não trabalhasse não deveria comer. Um ensinamento ainda relevante hoje, quando pessoas que ganham o salário mínimo têm mais abundância material do que tinha o jovem rico que confrontou o Cristo.

É impressionante o quão frequentemente esta passagem é usurpada. Quando Jesus instruiu o jovem rico a abandonar tudo em troca de tesouros no céu, ele apresentou um argumento espiritual que ilustrava a gravidade da escolha apresentada.

Isso não pode ser considerado como um ensinamento universal para renuncia de posses, assim como não é um ensinamento universal afirmar que todos devem arrancar seus próprios olhos ou odiar os próprios pais. Todos nós devemos alegremente renunciar a tudo que nos dificulte a salvação, porque perder parentes ou um órgão apenas palidamente compara-se à danação eterna. E Jesus não disse para o jovem rico vender as posses de seus vizinhos, e nem para entrega-las a um estado sem Deus.

Se Lawrence O’Donnell da MSNBC discorda, por que ele não vende tudo? Veja Romanos 14 sobre viver de acordo com suas crenças.

Citando Jesus fora do contexto à parte, “é mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus” (Mc.10,25). Os ricos expandem nossas tentações e diminuem a habilidade de reconhecimento de sua pobreza espiritual (Mt.5,3). Mas ninguém alcança a salvação por mérito, o qual nenhum de nós possui (Rm.3,23). Se a perfeição fosse atingível, a cruz teria sido desnecessária. Felizmente, Deus considera possível o que para o homem é impossível.

Tomar a passagem em sentido materialista e não espiritual é um erro. Em Matheus, 11, o Cristo diz que seu fardo é leve. Não é para uma vida boa afirmada em algum evangelho da prosperidade que o Cristo nos disse em Matheus 10 para morrermos para nós mesmos. Mas o fardo é leve pois a graça de Deus nos libertou da condenação da lei.

Não somos justificados por vender nossas posses e entrega-las ao estado secular. Somos justificados apenas pelo sacrifício do Cristo na cruz selado por sua ressureição.

Nem os cristãos “rejeitam a razão, a ciência e os fatos”. Jesus disse que o maior dos mandamentos é “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito” (Mt.22,37). A garantia bíblica de um planeta racional ordenado com leis naturais apreensíveis foi o que deu vida à ciência moderna.

A ira de Salsman está fora de lugar. Se ele despreza o estado de bem-estar social, ele deveria, ao invés de denegrir as escrituras, dirigir sua indignação àqueles que buscam um imprimatur bíblico para fins não bíblicos. Leiam o artigo dele e olhem as passagens citadas, mas não em um vácuo espiritual.

Pode-se acreditar que Jesus incarnou ou não. Trata-se de uma decisão individual com ramificações eternas. Pode-se também acreditar que a Bíblia é a palavra revelada de Deus, e é esta outra escolha profunda. Mas aqueles que rejeitam a divindade do Cristo e a inerrância das Escrituras devem renunciar a citá-las erroneamente para fins seculares.

E não, não há “muito em comum entre Karl Marx e Jesus Cristo.” Trataremos disso na próxima semana.

Fonte: http://www.orthodoxytoday.org/blog/2013/07/christ-was-not-a-communist/
Traduzido por Rafael Pereira de Menezes
Citações da Bíblia desde a tradução da Ed. Ave Maria

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