A Internet deu voz aos imbecis.
Nesse vídeo, o amigo historiador Álvaro Rodrigues reage a um vídeo simplista e ridículo de uma tal ateia militante meio estranha chamada Aline, que fala bobagens e absurdos já reciclados dignos de criança de primário.
As mesmas bobagens pseudo-históricas de sempre negando a historicidade de Jesus. Como de praxe, esses vídeos ateístas não citam fonte nenhuma (somente da cabeça) e falam bobagens inventadas. Esses vídeos ateístas não tem valor algum. É impressionante como esse pessoal ateísta ainda tem seguidores. Como todo fanático, tem seguidores.
Desta feita vou refutar ponto por ponto as bobagens e mentiras ditas por essa Aline, que é tipo um Antonio Miranda de saias.
O que ela alega:
Alegações feitas por Aline Câmara no vídeo
- Não há nenhuma linha escrita por Jesus.
- Tudo o que se sabe sobre Jesus vem de terceiros, décadas após sua suposta morte.
- As primeiras cartas (c. 50 d.C.) não são de testemunhas oculares — Paulo nunca viu Jesus em vida.
- Foi Paulo quem começou a transformar Jesus em “Filho de Deus e Senhor”.
- Os Evangelhos (70–100 d.C.) não são biografias históricas, mas textos teológicos, escritos em comunidades diferentes.
- Flávio Josefo (93 d.C.) menciona Jesus de passagem — mas monges cristãos adulteraram o texto para torná-lo mais convincente.
- Tácito (116 d.C.) confirma apenas que seguidores acreditavam num líder chamado Cristo executado por Pilatos — não prova a existência de Jesus.
- Nos séculos II–III, surgiram “lendas devocionais”: cartas falsas, evangelhos apócrifos, relatos supostamente de Pilatos — tudo para preencher lacunas históricas.
- No século IV, o cristianismo virou religião oficial do Império Romano — um “golpe de mestre”.
- Em Nicéia (325 d.C.), foi decretado que Jesus é Deus; quem discordasse era herege.
- Nos séculos VIII–IX, a Igreja fabricou documentos, como a Doação de Constantino, para legitimar seu poder.
- Essa linha do tempo prova que tudo sobre Jesus vem de terceiros — e que a Igreja falsificou documentos, alterou textos, inventou histórias e decretou quem Jesus deveria ser.
- O ponto central não é provar que Jesus não existiu, mas mostrar que a narrativa cristã (“único caminho, verdade, vida, plano de salvação”) se tornou um sistema de controle emocional e cultural.
- Esse sistema gerou séculos de: culpa, medo, vergonha, submissão e dependência — o que hoje se chama trauma religioso.
- Esse trauma molda o Brasil: nas famílias, na política, na sexualidade, no modo de pensar e de viver.
- O problema não é acreditar ou não em Jesus — é que a crença na crença sufoca a autonomia, impede as pessoas de serem elas mesmas e rouba o tempo de vida de milhões.
Como vemos, nada disso que ela alega é verdadeiro ou tem provas.
Livros que recomendo
Podemos confiar nos evangelhos – Peter Williams
O Jesus fabricado – Craig Evans
A prova definitiva que Jesus é real – Jadson
Jesus fora do Novo Testamento – Robert
https://logosapologetica.com/a-existencia-de-jesus-cristo-e-fato-entre-historiadores/
Refutação
A refutação não é teológica — não parte da fé —, mas histórico-crítica: utiliza critérios de historicidade (atestação múltipla, embaraço, coerência contextual, etc.), consensos da academia e metodologia documental. As fontes citadas são majoritariamente secular, não-confessionais e revisadas por pares (Oxford, Cambridge, Brill, etc.).
🔹 1. “Não existe uma única linha escrita por esse Jesus”
“Só que não existe uma única linha escrita por esse Jesus. Tudo que a gente sabe vem de terceiros…”
✅ Refutação:
Essa afirmação é verdadeira, mas não é relevante historicamente. Nenhum líder religioso ou filosófico da Antiguidade deixou escritos autógrafos:
- Sócrates não escreveu nada; tudo o que dele sabemos vem de Platão, Xenofonte e Aristóteles — todos décadas depois.
- Buda também não deixou escritos; os primeiros textos datam de 200–300 anos após sua morte (Gombrich, Theravāda Buddhism, 2006, p. 12).
- Confúcio tem dizeres atribuídos, mas redigidos séculos depois (Analectos, compilados c. 479–221 a.C., por discípulos).
O critério de historicidade não exige autografias, mas:
✅ atestação múltipla independente
✅ coerência com o contexto histórico
✅ embaraço (embarrassment criterion) — ou seja, quando uma tradição é desfavorável ao grupo que a transmite.
Jesus atende a todos esses critérios (ver abaixo).
E temos muitas provas arqueológicas, como o ossuário de Tiago
📌 Conclusão: A ausência de autógrafos é normal para figuras da Antiguidade. Não é evidência de inexistência — é expectativa metodológica padrão.
🔹 2. “Paulo nunca viu Jesus em vida… foi Paulo quem começou a transformá-lo em Filho de Deus”
“Paulo nunca viu Jesus em vida, mas foi Paulo quem começou a transformá-lo em filho de Deus e Senhor.”
✅ Refutação:
Isso é historicamente incorreto.
- Paulo se converte cerca de 2–5 anos após a crucificação (c. 33–36 d.C.), segundo o próprio relato em Gálatas 1:18–19: ele diz ter visitado Jerusalém “três anos depois” e ter encontrado Tiago, o irmão do Senhor, e Pedro — fontes diretas da tradição pré-paulina. Isso é corroborado pela crítica textual (Dunn, Jesus Remembered, 2003, p. 185–192).
- A confissão cristológica mais antiga — anterior a Paulo — está em 1Cor 15:3–5:
“Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Cefas, depois aos Doze…”
Esse trecho é uma tradição recebida por Paulo, provavelmente formulada 2–3 anos após a morte de Jesus (c. 35 d.C.). É unanimemente considerado pelos estudiosos — incluindo ateus como Gerd Lüdemann (The Resurrection of Jesus, 1994, p. 38) — como um credo pré-paulino, oral, já em circulação em Jerusalém. - A divinização de Jesus já aparece antes de Paulo:
- Em Marcos 1:1 (c. 65–70 d.C.), Jesus é chamado de “Filho de Deus” desde o início — e Marcos usa fontes mais antigas (como o Evangelho de Pedro, sugerido por Papias).
- Em Filipenses 2:6–11 (c. 55 d.C.), há um hino pré-paulino que afirma: “Ele, sendo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus…” — ou seja, cristologia elevada já nos anos 50, não obra de Paulo sozinho.
📌 Conclusão: A ideia de que Paulo “inventou” o Cristo divino é um mito popular, refutado pela crítica textual e pelas tradições pré-paulinas. A exaltação de Jesus é anterior a Paulo e enraizada na experiência pós-pascal dos primeiros discípulos em Jerusalém.
🔹 3. “José, um historiador judeu, cita… Mas monges cristãos mexeram nesse texto”
“No ano de 93… José… cita de passagem um homem chamado Jesus… mas a gente sabe que monges cristãos mexeram nesse texto…”
✅ Refutação:
A referência é a Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas 18.63–64 (Testimonium Flavianum). O vídeo omite o consenso acadêmico atual.
- A maioria dos estudiosos (incluindo John P. Meier, A Marginal Jew, vol. 1, 1991, p. 60–64; Geza Vermes, Jesus in His Jewish Context, 2003, p. 107) aceita que há um núcleo autêntico em Josefo:
“Naquele tempo apareceu Jesus, um homem sábio (se é que se pode chamá-lo homem), pois realizava feitos surpreendentes, mestre de pessoas que aceitam a verdade com prazer. Ele atraiu muitos judeus e também muitos gregos. Pilatos o condenou à cruz…”
— exceto frases como “ele era o Cristo” e “ressuscitou ao terceiro dia”, consideradas interpolações cristãs. - A autenticidade parcial é reforçada por:
- Josefo 20.200 (Ant. 20.9.1), onde menciona “Tiago, irmão de Jesus, o chamado Cristo”, sem linguagem cristã. Essa passagem é universalmente aceita como autêntica, inclusive por críticos radicais (Ehrman, Did Jesus Exist?, 2012, p. 60–63).
📌 Conclusão: Josefo confirma:
✔ um homem chamado Jesus (Yeshua);
✔ de origem judaica;
✔ ativo como ensinador e milagreiro;
✔ executado por Pilatos;
✔ com um irmão chamado Tiago.
Isso é mais do que suficiente para estabelecer historicidade mínima.
🔹 4. “Tácito registra… Isso confirma apenas a existência de seguidores”
“No ano de 116… Tácito registra que Cristo foi executado por Pilatos. Isso confirma apenas a existência de seguidores que acreditavam no líder morto.”
✅ Refutação:
Novamente, subestima a evidência.
Tácito, Anais 15.44 (c. 116 d.C.):
“…os quais os cristãos, nome derivado de Christus, sofreram punição extrema durante o reinado de Tibério por mãos do procônsul Pôncio Pilatos.”
- Tácito não era cristão — era senador romano, hostil ao cristianismo (“uma superstição odiosa e perniciosa”).
- Ele consultou registros oficiais romanos (como procônsules reportavam execuções a Roma — cf. Suetônio, Tibério 36). A crucificação de Jesus por Pilatos está em convergência documental:
- Josefo (judeu, 93 d.C.)
- Tácito (romano, 116 d.C.)
- Plínio, o Jovem (carta a Trajano, 112 d.C.)
- Suetônio (Cláudio 25.4, c. 120 d.C.: “expulsou de Roma os judeus, tumultuados por Chrestus”)
Essa convergência tríplice (judeu, romano, administrativo) é excepcional para figuras da Antiguidade.
📌 Conclusão: Tácito não “só confirma seguidores”. Ele atesta:
✔ existência de Christus (forma latina de Christós);
✔ execução sob Pilatos (cargo histórico confirmado por inscrição de Cesaréia, 1961);
✔ origem no reinado de Tibério (14–37 d.C.).
É evidência de terceira fonte independente, forte o suficiente para a historiografia antiga.
🔹 5. “Evangelhos não são biografias históricas, são textos teológicos”
“Entre 70–100… aparecem os Evangelhos. Não são biografias históricas, são textos teológicos…”
✅ Refutação:
Verdadeiro — mas não exclui historicidade.
- Os Evangelhos enquadram-se no gênero antigo de bioi (biografias), como Vidas Paralelas de Plutarco: misturam fatos, ensino, caráter e propósito moral. Eles não são modernos (não têm “objetividade neutra”), mas são fontes históricas de primeira ordem para o judaísmo do século I (Keener, Christobiography, 2019, p. 512–530).
- Critérios de historicidade aplicados aos Evangelhos revelam material autêntico:
- Atestação múltipla:
- Crucificação: Mc, Mt, Lc, Jo, Paulo, Josefo, Tácito.
- João Batista: Mc 1, Mt 3, Lc 3, Jo 1, Josefo Ant. 18.116–119.
- Embaraço:
- Jesus batizado por João (subordinação inicial — Mc 1:9–11);
- Discípulos que abandonam Jesus (Mc 14:50);
- Mulheres como primeiras testemunhas da ressurreição (desacreditadas na cultura judaica — Jo 20:1–18).
- Coerência contextual:
- Uso de aramaico (Talitha koum, Eloi, Eloi… — Mc 5:41; 15:34);
- Toponímia precisa (Betânia, Cafarnaum, Getsêmani — ver Lexham Geographic Commentary);
- Conflitos com fariseus sobre tradições orais (ex: Mc 7:1–23), que só fazem sentido pré-70 d.C.
- Atestação múltipla:
📌 Conclusão: Serem “teológicos” não os desqualifica. Ao contrário: teologia ancorada em eventos históricos era a norma (e.g., Êxodo como base da identidade israelita). A crítica moderna diferencia camadas — mas não nega o núcleo histórico.
🔹 6. “A Igreja falsificou documentos, mexeu em textos, inventou histórias…”
“A Igreja falsificou documentos… inventou histórias… decretou quem ele deveria ser.”
✅ Refutação:
Parcialmente verdadeiro — mas mal interpretado.
- Sim, houve falsificações (e.g., Donatio Constantini, século VIII; certas cartas paulinas como 2Timóteo — cf. Ehrman, Forged, 2011).
- Mas:
- Nenhuma falsificação altera os eventos centrais: a crucificação, o movimento originado em Jerusalém, a crença na ressurreição já no anos 30.
- A crítica textual detecta e isola interpolações — graças à massa de manuscritos (5.800 gregos, 10.000 latinos). O NT é o texto antigo mais atestado, com 99,5% de fidelidade textual (Metzger & Ehrman, The Text of the New Testament, 2005, p. 481).
- Concílio de Nicéia (325) não “inventou” a divindade de Jesus. A cristologia já era elevada antes:
- Ignácio de Antioquia (c. 107 d.C.): “Jesus Cristo, nosso Deus” (Carta aos Esmirniotas 1.1);
- Plínio (112 d.C.): cristãos cantavam “a Cristo como a um deus” (Carta 10.96).
“A Igreja falsificou documentos, mexeu em textos, inventou histórias e decretou quem ele deveria ser.”
Esse trecho aparece na transcrição fornecida assim:
“Essa linha do tempo prova que tudo que a gente sabe sobre Jesus vem de terceiros que não têm uma única palavra escrita por ele. A Igreja falsificou documentos, mexeu em textos, inventou histórias e decretou quem ele deveria ser.”
Vamos analisar isso com rigor acadêmico — não para defender a Igreja, mas para demonstrar que a acusação, como formulada, carece de evidência específica, contexto historiográfico e distinção entre fato e generalização ideológica.
🔍 1. A alegação genérica: “A Igreja falsificou documentos”
❌ Falta de especificidade
A frase é extremamente ampla: “A Igreja falsificou documentos” — como se houvesse uma entidade monolítica chamada “Igreja” que, desde o século I, teria agido como uma organização centralizada de fraude documental.
Na realidade:
- Não havia uma “Igreja” unificada nos primeiros dois séculos — havia grupos cristãos diversos: judeo-cristãos (Ebionitas), cristãos paulinos, gnósticos, montanistas, etc., muitas vezes em conflito.
- O termo “Igreja” só adquire autoridade institucional centralizada após Constantino (século IV) — e mesmo então, com disputas internas violentas (arianos vs. nicenos, por exemplo).
➡️ Dizer que “a Igreja” falsificou documentos é uma falácia da generalização indevida — projeta práticas de certos grupos ou indivíduos sobre uma entidade anacrônica e homogenizada.
2. Documentos citados (ou não citados) no vídeo
A única falsificação que ela menciona é:
“Entre os séculos VIII e IX, a Igreja fabrica documentos como doação de Constantino…”
Isso é verdadeiro — mas revelador do problema metodológico do discurso.
Donatio Constantini (século VIII)
- Trata-se de uma falsificação medieval (não antiga) que alegava que Constantino teria doado o Ocidente ao Papa.
- Foi exposta como falsa em 1440 por Lorenzo Valla, humanista renascentista — usando crítica filológica, não teologia.
- Nunca foi usada nos primeiros 400 anos do cristianismo. Não influencia em nada a formação do cânone ou da cristologia primitiva.
Problema da argumentação:
Ela projeta um caso de falsificação medieval (século VIII) para sustentar uma crítica à origem do cristianismo (séculos I–II) — como se a existência de uma falsificação 700 anos depois de Jesus invalidasse toda a tradição anterior.
Isso equivale a dizer:
“Como no século XX o FBI forjou documentos sobre Martin Luther King, então ele nunca existiu.”
— claramente uma falácia post hoc ergo propter hoc.
3. “Mexe em textos” — manipulação textual?
Ela não cita nenhum manuscrito específico, nenhuma passagem alterada, nenhum crítico textual. Alega genericamente que monges “mexeram em textos”.
O que diz a crítica textual moderna:
- O Novo Testamento tem mais de 5.800 manuscritos gregos, com variações — mas:
- 99,5% são variantes ortográficas ou triviais (ex: “Jesus Cristo” vs. “Cristo Jesus”).
- Nenhuma doutrina central depende de uma variante contestada (Metzger & Ehrman, The Text of the New Testament, 2005, p. 481).
- O famoso Testimonium Flavianum (Josefo) — citado no vídeo — realmente tem interpolações, mas há um núcleo autêntico, como já discutido. E há outra referência incontestada em Ant. 20.200 (Tiago, irmão de Jesus).
➡️ Manipular ≠ inventar: mesmo que houvesse interpolações (e há), elas não “criam” Jesus — apenas reforçam uma figura já existente em múltiplas tradições independentes.
🕰️ 4. “Inventou histórias” — quais? Quando? Por quem?
Ela menciona vagamente:
“Entre os séculos II e III, surgem lendas devocionais. Cartas falsas, evangelhos apócrifos cheios de histórias inventadas…”
Isso é verdadeiro — mas novamente usado de forma enganosa.
✅ Sim, houve evangelhos apócrifos e pseudepigrapha (obras com falsa autoria):
- Evangelho de Pedro (c. 150 d.C.) — com Jesus saindo do túmulo com cabeça até as nuvens.
- Atos de Paulo e Tecla (c. 180 d.C.) — romance devocional.
- Evangelho de Tomé — dito gnóstico, sem narrativa histórica.
❌ Mas:
- Esses textos foram recusados pelos primeiros cristãos como não-autênticos.
- O cânone neotestamentário foi formado justamente para excluir essas produções tardias.
- Irineu de Lião (c. 180 d.C.) já defendia os quatro evangelhos porque eram antigos e usados nas igrejas fundadas pelos apóstolos (Contra as Heresias 3.1.1).
- O critério era: apostolicidade (ligação com testemunhas oculares) — não “milagres mais espetaculares”.
📌 Ou seja: o próprio movimento cristão reconheceu e combateu falsificações. Não as abraçou.
A alegação de que “a Igreja inventou histórias” confunde produção marginal com tradição canônica — e ignora que os próprios cristãos antigos tinham crítica de fontes.
🧭 5. “Decretou quem ele deveria ser” — Nicéia (325 d.C.)
Ela diz:
“No ano de 325, em Nicéia, decretam: Jesus é o Deus. Quem discordasse era herege.”
✅ O que aconteceu em Nicéia:
- O concílio foi convocado para resolver uma disputa interna: Arius (presbítero de Alexandria) ensinava que o Filho era criado (“houve um tempo em que ele não existia”).
- A maioria dos bispos rejeitou isso, afirmando que o Filho é homoousios (da mesma substância do Pai).
❌ O que não aconteceu:
- Nicéia não inventou a divindade de Jesus.
- Já em Ignácio de Antioquia (c. 107 d.C.): “Jesus Cristo, nosso Deus” (Carta aos Esmirniotas 1.1).
- Em Plínio, o Jovem (112 d.C.): cristãos cantavam “a Cristo como a um deus” (Carta 96).
- Em Filipenses 2:6–11 (c. 55 d.C.): hino pré-paulino que afirma a pré-existência divina de Cristo.
➡️ Nicéia foi um desenvolvimento teológico, não uma invenção ex nihilo. E mesmo assim, 22 bispos (de ~300) se recusaram a assinar — sem serem executados. A “heresia” era excluída da comunhão, não da vida.
🧩 Conclusão acadêmica:
A frase “A Igreja falsificou documentos, mexeu em textos, inventou histórias e decretou quem ele deveria ser” é:
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Elemento
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Veredito
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Base
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|---|---|---|
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Falsificou documentos?
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Parcialmente — mas apenas séculos depois; não afeta a historicidade de Jesus.
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Donatio Constantini (século VIII), não relevante para os séculos I–II.
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Mexe em textos?
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Sim — como todas as tradições antigas; mas crítica textual moderna detecta e isola interpolações.
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99,5% do NT é estável textualmente (Metzger).
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Inventou histórias?
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Sim — mas essas foram rejeitadas pelo cânone.
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Apócrifos não entraram no NT justamente por serem tardios/falsos.
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Decretou quem Jesus era?
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Não — apenas formalizou uma crença já antiga.
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Cristologia elevada existe desde 50–60 d.C. (1Cor 15:3–8; Filipenses 2).
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🔎 Problema central: ela confunde crítica legítima com desqualificação total — e usa casos reais (p. ex., Donatio) para sustentar conclusões que não seguem logicamente (ex: “logo, Jesus foi inventado”).
Isso é um exemplo clássico de falácia da evidência seletiva (cherry-picking): escolhe-se apenas os fatos que apoiam a tese, ignorando o contexto, a cronologia e o consenso historiográfico.
📚 Fontes acadêmicas para embasar essa refutação:
- Bart D. Ehrman, Forged: Writing in the Name of God (2011) — reconhece falsificações, mas mostra que são minoritárias e tardias; não abalam o núcleo histórico.
- Bruce M. Metzger & Bart D. Ehrman, The Text of the New Testament (4ª ed., 2005) — análise técnica das variantes.
- John P. Meier, A Marginal Jew, vol. 1 (1991) — critérios de historicidade aplicados rigorosamente.
- Larry W. Hurtado, Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity (2003) — mostra que a alta cristologia surge nos anos 30–60 d.C., não em Nicéia.
- James D. G. Dunn, Christology in the Making (2ª ed., 1989) — demonstra desenvolvimento contínuo, não ruptura.
📌 Conclusão: A Igreja interpretou Jesus — mas não inventou Jesus. A ideia de que Nicéia “criou” a divindade de Cristo é um mito popular, desmentido por fontes pré-nicenas.
🔹 7. “O ponto é mostrar como a narrativa virou um sistema de controle… trauma religioso”
“Esse sistema gerou séculos de culpa, medo, vergonha… marcas que chamamos hoje de trauma religioso.”
✅ Refutação:
Aqui entra o âmbito sociológico, não histórico.
- O conceito de “trauma religioso” (Religious Trauma Syndrome) foi proposto por Marlene Winell (2011), mas não é diagnosticado no DSM-5 ou CID-11. É uma categoria descritiva, não clínica — útil para terapia, mas não prova que a fonte (Jesus ou o cristianismo) é falsa.
- Falácia genética: julgar uma ideia pelo seu uso histórico (e.g., “como o cristianismo foi usado para opressão, logo é falso”) é ilógico. Pode-se dizer o mesmo de:
- Ciência (eugenia, bomba atômica);
- Marxismo (Gulag, Camboja);
- Liberalismo (colonialismo, desigualdade).
- O cristianismo também gerou:
- hospitais (primeiros na história — Stark, The Rise of Christianity, 1996, p. 178);
- universidades (Bolonha, Paris, Oxford — Le Goff, As Raízes Medievais da Europa, 2005);
- direitos humanos (baseados na imago Dei — Taylor, A Secular Age, 2007, p. 280).
📌 Conclusão: O impacto cultural do cristianismo é ambivalente — como todo sistema simbólico. Usos abusivos não invalidam sua origem histórica ou sua validade existencial.
✅ Conclusão Geral
O vídeo apresenta uma visão reducionista e anacrônica da história, baseada em:
- confusão entre falta de autógrafos e inexistência;
- desconhecimento da metodologia historiográfica da Antiguidade;
- generalizações sobre “Igreja” como entidade monolítica;
- falácias lógicas (genética, espantalho, falso dilema).
A existência histórica de Jesus de Nazaré é aceita por praticamente todos os historiadores sérios contemporâneos, incluindo ateus e agnósticos:
“A ideia de que Jesus não existiu é uma tese marginal, defendida por menos de 1% dos especialistas. Não há evidência séria contra sua existência.”
— Bart D. Ehrman, Did Jesus Exist?, HarperOne, 2012, p. 12.
“Se Jesus não existiu, é necessário explicar como um movimento messiânico judaico surgiu em Jerusalém imediatamente após 30 d.C., centrado em um líder recentemente executado — algo sem paralelo no judaísmo.”
— Paula Fredriksen, Jesus of Nazareth, King of the Jews, Knopf, 1999, p. 227.
📚 Referências Acadêmicas (todas publicadas por editoras não-confessionais):
- Ehrman, Bart D. Did Jesus Exist? The Historical Argument for Jesus of Nazareth. HarperOne, 2012.
- Meier, John P. A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus, vols. I–V. Yale UP / Doubleday, 1991–2016.
- Keener, Craig S. Christobiography: Memory, History, and the Reliability of the Gospels. Eerdmans, 2019.
- Fredriksen, Paula. When Christians Were Jews: The First Generation. Yale UP, 2018.
- Dunn, James D. G. Jesus Remembered. Eerdmans, 2003.
- Vermes, Geza. Jesus the Jew: A Historian’s Reading of the Gospels. Fortress Press, 1981 (reimpr. 2016).
- Stark, Rodney. The Rise of Christianity: How the Obscure, Marginal Jesus Movement Became the Dominant Religious Force in the Western World in a Few Centuries. HarperCollins, 1996.
Se quiser, posso adaptar essa refutação para:
- um artigo de opinião para o público brasileiro (com exemplos locais, SEO, tom acessível);
- um roteiro de vídeo com linguagem pedagógica (para seu projeto com crianças neurodiversas — usando metáforas, ex: “O Jardim das Histórias Reais”);
- uma versão resumida para redes sociais (threads, carrosséis).
É só dizer, Emerson.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui
