Pular para o conteúdo

A Heresia como Prova da Historicidade de Jesus

Alguns defensores da teoria miticista, que argumentam que Jesus não foi uma figura histórica, afirmam que a presença do docetismo na Igreja primitiva é um sinal que valida suas alegações. No entanto, para sustentar essa visão, é necessário realizar um grande esforço de interpretação.

No livro The Fathers Know Best, Jimmy Akin apresenta o docetismo da seguinte maneira:

“O docetismo defendia a ideia de que Jesus não possuía um corpo físico, mas era um ser sobrenatural que apenas aparentava ser humano. O termo ‘docetismo’ deriva da palavra grega dokein (‘aparecer’, ‘parecer’). Essa crença parece ter surgido no primeiro século, e algumas passagens do Novo Testamento podem ter sido escritas para refutá-la (Lc 24:37-43; Jo 1:14; 4:1-3; 2 Jo 7). Estava claramente presente por volta de 100 d.C., quando Santo Inácio de Antioquia escreveu contra ela, e persistiu por um tempo, com influências do Gnosticismo.” (Os Padres Sabem Melhor, p. 85)

É importante destacar que o docetismo, assim como o gnosticismo, é um termo amplo e sem uma definição rígida. As variações dessa crença geralmente compartilhavam a ideia de que Jesus não era humano de forma verdadeira, mas um ser espiritual e imaterial.

Alguns miticistas, como René Salm, afirmam que o docetismo é uma prova de que havia dúvidas sobre a existência de Jesus desde os tempos dos apóstolos. Ele argumenta:

“É comum pensarmos que os docetistas acreditavam na existência de Jesus de Nazaré, mas, curiosamente, também acreditavam que Ele não tinha um corpo físico. Isso, no entanto, não faz sentido. A visão ‘dupla’ de Jesus nos permite ver os docetistas como os primeiros miticistas.” (Salmo, Miticistas, Docetistas, Nazarenos)

A teoria de Salm baseia-se na suposição especulativa de que os primeiros cristãos tinham uma “visão dupla de Jesus”. Sua afirmação de que o docetismo “não faz sentido” é, de fato, fácil de entender. A Enciclopédia Católica esclarece:

“O docetismo não pode ser considerado uma heresia cristã, pois não surgiu de uma incompreensão interna dentro da Igreja, mas foi introduzido por influências externas. Os gnósticos, que viam a oposição entre matéria e espírito, acreditavam que a salvação consistia em se libertar da matéria e retornar ao Espírito Supremo como espírito puro. Por isso, eles não aceitavam literalmente a ideia de ‘o Verbo se fez carne’. Para adotar a ideia cristã de um Salvador Filho do Deus Bom, eles modificaram a doutrina da Encarnação.”

O docetismo compartilha semelhanças com o gnosticismo, pois ambos acreditavam que a matéria era algo maligno e um obstáculo para a alma. Contudo, os docetistas reconheciam que Jesus realmente existiu, mas, para conciliar sua crença de que a matéria era má, negavam que Jesus tivesse um corpo físico. O docetismo, portanto, não nega a existência histórica de Jesus; na verdade, o contrário é verdade, ele serve como evidência de Sua existência.

Ademais, o fato de Santo Inácio de Antioquia ter combatido o docetismo no início do século II reforça a historicidade de Jesus Cristo. Inácio, que faleceu por volta de 110 d.C., foi discípulo do apóstolo João, e João, que conviveu diretamente com Jesus, transmitiu essas experiências a Inácio. Se isso não fosse verdade, seria estranho que Inácio combatesse o docetismo. Jesus não foi um espírito; Ele foi uma pessoa real. Santo Inácio escreveu:

“Ele sofreu verdadeiramente por nós para que fôssemos salvos. Ele sofreu de fato, e também ressuscitou verdadeiramente. Não como certos dissidentes afirmam, que Ele apenas aparentou sofrer, assim como eles mesmos apenas aparentam ser cristãos. O que acreditam, é o que acontecerá com eles, quando forem despojados de seus corpos e se tornarem apenas espíritos malignos.”

“Depois da Sua ressurreição, Ele ainda possuía carne. Quando se aproximou dos discípulos, disse: ‘Toquem em Mim, vejam que não sou um espírito imaterial’. Eles O tocaram e acreditaram, convencidos tanto pela Sua carne quanto pelo Seu espírito. Após Sua ressurreição, Ele comeu e bebeu com eles, como alguém que ainda possuía carne, embora espiritualmente estivesse unido ao Pai.” (Epístola de Inácio aos Esmirna, 2-3)

Nenhuma heresia na Igreja primitiva nega a existência de Jesus Cristo. Nenhum dos Pais da Igreja, nem os hereges ou opositores da Igreja, negaram Sua existência. Tudo isso constitui uma forte evidência da historicidade de Jesus.

Se você deseja aprender mais sobre os ensinamentos e as crenças dos primeiros cristãos, recomendo a leitura do livro The Fathers Know Best: Your Essential Guide to the Teachings of the Early Christians, de Jimmy Akin.

Heresias Cristológicas: Desvios Históricos sobre a Pessoa de Jesus Cristo

Olá! Eu sou Paulo Vitor de Aguiar. Ao longo da história, diversas correntes de pensamento tentaram distorcer a verdadeira percepção sobre Jesus Cristo. Neste artigo, vamos conhecer algumas das principais heresias cristológicas que surgiram nos primeiros séculos e como a Igreja respondeu a esses desafios doutrinários.

Após a morte e ressurreição de Jesus, Ele permaneceu por 40 dias com seus discípulos antes de ascender aos céus. A Igreja, então, iniciou sua missão de anunciar o Evangelho. Contudo, desde o início, surgiram dúvidas e heresias sobre quem era Jesus e qual sua natureza — divina, humana ou ambas?

Os primeiros pais da Igreja enfrentaram diversas controvérsias que exigiram definições doutrinárias claras. Perguntas como “Quem é Cristo?”, “Deus poderia se tornar humano?” e “Jesus era metade Deus e metade homem?” foram intensamente debatidas nos três primeiros séculos do cristianismo.

Durante esse tempo, os cristãos não apenas enfrentaram perseguições externas, mas também lutas internas contra falsas doutrinas. Muitas dessas heresias foram tão perigosas que reapareceram em diferentes formas nos séculos seguintes. A doutrina de Cristo foi, sem dúvida, a mais atacada na história do cristianismo.

Gnosticismo

Uma das primeiras heresias foi o gnosticismo, que afirmava que a matéria era má. Os gnósticos negavam a encarnação e a ressurreição corporal de Cristo. Hoje, ideias semelhantes ressurgem em seitas como a Ciência Cristã, fundada por Mary Baker Eddy, que vê o mundo material como uma ilusão.

Docetismo

O docetismo, semelhante ao gnosticismo, também afirmava que o corpo de Cristo era apenas uma ilusão. Segundo essa visão, Jesus não sofreu de verdade na cruz, pois sua natureza material seria apenas aparente.

Ebionismo e Adocionismo

O ebionismo era uma corrente judaizante que reconhecia Jesus como um homem especial, mas não como Deus. Para os ebionitas, Jesus foi escolhido por Deus no batismo, mas não era eterno nem divino. Uma variação disso é o adocionismo dinâmico, que via Jesus como um homem ungido com poder divino, mas não divino em essência.

Monarquianismo Modalista

O modalismo, uma forma de monarquianismo, dizia que Deus é uma só pessoa que se manifesta de maneiras diferentes (Pai, Filho e Espírito). Essa doutrina negava a distinção entre as pessoas da Trindade e também confundia a natureza de Cristo.

Arianismo

O arianismo, promovido por Ário, afirmava que Jesus não era Deus verdadeiro, mas a primeira criatura criada por Deus. Embora fosse chamado de “Deus”, não possuía a essência divina plena. Isso levou ao Concílio de Niceia (325 d.C.), onde o arianismo foi condenado.

O Concílio declarou que Jesus é “Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”. A igreja rejeitou veementemente qualquer ensinamento que dissesse que “houve um tempo em que o Filho não existia”.

Apolinarianismo

O apolinarianismo, de Apolinário de Laodiceia, dizia que Cristo tinha um corpo humano, mas sua mente era substituída pelo Logos divino. Isso negava a plena humanidade de Jesus, tornando-o uma espécie de “meio homem”.

Nestorianismo

O nestorianismo, associado a Nestor de Constantinopla, afirmava que havia duas naturezas separadas em Cristo, sem verdadeira união. Essa heresia não aceitava que uma única pessoa pudesse agir com ambas as naturezas ao mesmo tempo.

Eutiquianismo

O eutiquianismo, oposto ao nestorianismo, dizia que Cristo tinha apenas uma natureza — a divina. Até mesmo o corpo de Jesus seria divino. Isso desfigurava o equilíbrio entre a divindade e a humanidade de Cristo.

Monofisismo

O monofisismo também sustentava que Jesus tinha uma única natureza, uma fusão da divina e da humana. Essa doutrina foi condenada no Concílio de Calcedônia (451 d.C.), que afirmou que Jesus tem duas naturezas unidas em uma só pessoa.

Monotelismo

O monotelismo nasceu do monofisismo e afirmava que Jesus possuía apenas uma vontade — a divina. No entanto, o Sexto Concílio de Constantinopla (680 d.C.) declarou que Jesus tem duas vontades, uma humana e outra divina, agindo em perfeita harmonia, sem confusão ou divisão.


Conclusão

As heresias sobre a natureza de Cristo mostraram-se perigosas para a fé cristã. A Igreja, guiada pelo Espírito Santo, enfrentou e condenou essas doutrinas, afirmando com clareza que Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Conhecer essas controvérsias fortalece nossa fé e nos ajuda a preservar a sã doutrina.

Se você gostou deste conteúdo, deixe seu like, compartilhe e se inscreva no canal para mais vídeos sobre fé cristã, doutrina e história da Igreja. Fique na paz e até a próxima!

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

Descubra mais sobre Logos Apologetica

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading