Esse argumento tem um apelo amplo e perene. Praticamente todas as pessoas admitem que uma reflexão a respeito da ordem e da beleza da natureza estimula algo em nosso íntimo. Entretanto, será que a ordem e a beleza são produtos de um desígnio inteligente e um propósito consciente? Para os teístas, a resposta é afirmativa. Os argumentos a favor do desígnio divino são tentativas de defender essa resposta; de demonstrar por que ela é a mais razoável a ser oferecida. Tais argumentos foram formulados de maneiras tão ricamente variadas quanto a experiência na qual estão arraigados. As declarações a seguir demonstram seu âmago, sua ideia central.
- O universo revela uma quantidade surpreendente de inteligibilidade tanto no interior das coisas que observamos como na maneira como essas coisas se relacionam com outras externas. Podemos, então, dizer que a maneira como elas existem e coexistem demonstram uma ordem bela e intrincada e uma regularidade que pode deixar perplexo até mesmo o observador mais casual. É a norma natural que muitos seres diferentes trabalhem em conjunto para produzir o mesmo fim valoroso — por exemplo, os órgãos em nosso corpo trabalham para manter nossa vida e nossa saúde. (Veja também o oitavo argumento.)
- Essa ordem inteligível é produto de um desígnio inteligente, não de mero acaso.
- Nada acontece por mero acaso.
- Portanto, o universo é produto de um desígnio inteligente.
- desígnio surge da mente de alguém que o estabelece.
- Portanto, o universo é produto de um Projetista inteligente.
A premissa 1 é verdadeira. Até mesmo os que discordam do argumento concordam com ela. Só uma pessoa extremamente patética e obtusa não concordaria. Uma única molécula de proteína possui uma ordem impressionante, e mais ainda uma célula. E muito mais ainda um órgão como o olho, em que as partes ordenadas de enorme e delicada complexidade trabalham juntas com inúmeras outras para alcançar um único fim. Até mesmo os elementos químicos são ordenados para combinar com outros elementos de determinada maneira e sob certas condições. A aparente desordem encontrada em certas situações na natureza é um problema exatamente por causa da imensa abrangência da ordem e da regularidade. Portanto, a primeira premissa se sustenta.
Se toda essa ordem não é de alguma maneira o produto de um desígnio inteligente, então o que seria? Obviamente, ela teria simplesmente acontecido; e as coisas teriam alcançado o estágio em que se encontram por mero acaso. Mas, se toda essa ordem não é produto de forças sem propósito e ocasionais, ela resulta de algum tipo de propósito; que só pode ser um desígnio inteligente. Portanto, a segunda premissa também se sustenta.
Obviamente é a terceira premissa que se mostra crucial. Em última instância, os não-crentes afirmam que é realmente pelo acaso, e não por desígnio divino, que o universo de nossa experiência existe da maneira como o conhecemos. Ele simplesmente passou a ter essa ordem, e fica a cargo dos crentes provar como isso não poderia ter acontecido apenas por meio acaso. Entretanto, a afirmação dos incrédulos é incorreta. Logo, são eles que deveriam produzir uma alternativa mais crível que a idéia do desígnio divino.
E a teoria do acaso é simplesmente insatisfatória. Não podemos compreender o acaso apenas analisando-o sobre um pano de fundo ordenado. Dizer que algo aconteceu por acaso é o mesmo que afirmar que aconteceu de maneira diferente do que havíamos esperado, de um modo que não tínhamos imaginado. Entretanto, a expectativa não pode existir sem a ordem. Se anularmos toda ordem e falarmos do acaso sozinho, como um tipo de fonte derradeira de existência, teremos retirado apenas o pano de fundo que permite falar de maneira significativa a respeito do acaso.
Em vez de pensarmos no acaso, analisando-o sobre um pano de fundo ordenado, somos convidados a pensar sobre a ordem — que se mostra intricada e presente — sobre o pano de fundo sem propósito e aleatório do acaso. Francamente isso não é crível! Portanto, é perfeitamente razoável validar a terceira premissa —nada acontece por acaso. A conclusão é que o universo é produto de um desígnio inteligente.
Primeira questão: Mas a Teoria da Evolução, de Darwin não demonstrou ser possível que toda a ordem do universo tenha surgido por mero acaso?
Resposta: De maneira alguma! Se a teoria de Darwin demonstrou algo, foi: (1) a maneira geral como as espécies podem ter surgido a partir de outras, através de mutações aleatórias; e (2) como a sobrevivência dessas espécies pode estar relacionada a uma seleção natural—a aptidão de algumas espécies de sobreviver num determinado ambiente.
De modo algum essa teoria pode dar resposta a respeito da ordem presente e inteligível na natureza. Em vez disso, a teoria pressupõe a ordem. Como diz uma frase famosa: “A sobrevivência dos mais aptos pressupõe a chegada do apto” Se os darwinianos, a partir de sua teoria puramente biológica, insistirem que toda a vasta ordem ao nosso redor é resultado de mudanças aleatórias, estarão afirmando algo que nenhuma evidência empírica pode confirmar, que nenhuma ciência empírica pode demonstrar; algo que, em face das evidências, está simplesmente além de qualquer possibilidade de crença.
Segunda questão: Talvez apenas em nossa região no universo possamos encontrar a ordem. Talvez haja outras partes totalmente caóticas desconhecidas por nós; ou, talvez o universo futuramente se torne caótico. O que acontece com o argumento, então?
Resposta: Crentes e não-crentes experimentam o mesmo universo. Ou este é formado a partir de um desígnio inteligente, ou então não é. E este nosso mundo de experiência comum apresenta uma ordem abrangente e inteligível. Não temos como negar esse fato. Antes de especular a respeito do que ainda acontecerá ou do que já pode existir, precisamos lidar sinceramente com o que temos diante de nós. Precisamos reconhecer de maneira resoluta a extensão surpreendente da ordem e da inteligibilidade em nosso universo.
Podemos perguntar: É possível supor que habitamos uma pequena ilha de ordem, rodeada por um vasto oceano de caos; um mar que ameaça engolir-nos um dia? Consideremos como, nas últimas décadas, temos alcançado de maneira fantástica os limites de nosso conhecimento. Lancemos a visão para muito além deste planeta, e atentemos para os diversos elementos microscópicos que o compõem. O que essa expansão de nossos horizontes revelou? Sempre a mesma coisa: mais, e não menos, inteligibilidade; mais, e não menos, ordem complexa e intrincada. Não existe razão para crermos em um caos que nos rodeie; e, ao mesmo tempo, há muitas razões para não fazer isso. Percebemos esse fato claramente pela experiência que todos nós — crentes e não-crentes — compartilhamos.
Podemos afirmar algo parecido a respeito do futuro. Conhecemos a maneira como as coisas no universo têm se comportado. Portanto, até que encontremos razões concretas para pensar de outra maneira, temos todos os motivos para crer que ele continuará nesse processo ordenado de decadência. Nenhuma especulação pode anular o que já sabemos.
Mas, então, exatamente que tipo de caos o questionador deseja que imaginemos? Que o efeito precederia a causa? Que estacontradiçãopode ser desprezada? Que nãoéneoessário existir algo que traga todas as coisas à existência? Essas sugestões são completamente ininteligíveis. Se pensarmos a respeito delas, será apenas para rejeitá-las como inconcebíveis. Por quê? Será que poderíamos imaginar a existência de menos ordem? Sim. De algum novo arranjo da ordem além do que já experimentamos? Sim. Entretanto, seria possível a total desordem e o caos. Isso nunca poderia ser considerado como possibilidade real. Especular a respeito, como se isto fosse realidade, seria perda de tempo.
Terceira questão: Mas e se a ordem que experimentamos for meramente produto de nossa mente? Mesmo que não possamos imaginar o caos total e a desordem, talvez a realidade seja realmente assim.
Resposta: Nossa mente é apenas um meio pelo qual podemos conhecer a realidade. Não temos nenhum outro meio de acessá-la. Se concordamos que algo não pode existir como idéia, não podemos afirmar que ele possa existir na realidade, pois estaríamos pensando em algo sobre o qual afirmamos ser impossível pensar.
Suponhamos que alguém diga que a ordem do universo é produto de nossa mente. Isso coloca a pessoa em uma posição bastante constrangedora. Ela estará dizendo que precisamos pensar a respeito da realidade em termos de ordem e de inteligibilidade, mas na verdade as coisas podem não existir dessa forma. Propor algo como consideração é o mesmo que pensar a respeito disso. Seria o mesmo que dizer: (a) temos de pensar a respeito da realidade de determinada
maneira, mas (b) como pensamos que as coisas podem na verdade não existir dessa maneira, então (c) não precisamos pensar a respeito da realidade da maneira como seria correto pensar a respeito dela! Será que estamos dispostos a pagar um preço tão alto para negar que a existência do universo demonstra um desígnio inteligente? Diante das evidências, aquele questionamento não parece ser vantajoso.
Fonte: http://www.strangenotions.com/god-exists/
Tradução do livro MANUAL DE DEFESA DA FÉ – APOLOGÉTICA CRISTÃ, de Peter Kreeft e Ronald K. Tacelli