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VERDADES OCULTAS DA BÍBLIA ME REFUTOU?

O tal canal Verdades Ocultas da Bíblia (que ninguém conhece) resolveu tomar as dores do Zé do Tambor e alegar que preciso estudar mais sobre o Jesus histórico. Será mesmo? Ele me conhece?

Eu já disse que esse termo Jesus histórico foi cunhado no séc. XIX por racionalistas para distinguir entre o “Jesus histórico” e o “Jesus da fé” mas isso não faz muito sentido. Basicamente o tal “Verdades” baseia seu vídeo em 5 alegações que foi responder uma por uma.

1. Alegação: “O Jesus histórico não é o Jesus da Bíblia” (07:01)

  • O que ele diz: Afirma que, para os historiadores, o Jesus histórico é uma coisa, o Jesus da Bíblia é outra, e o Jesus da fé das igrejas é outra totalmente diferente.
  • Análise:
    • Essa distinção é válida em parte, mas é reducionista. A pesquisa sobre o Jesus histórico não nega necessariamente o Jesus bíblico, mas busca reconstruir a figura histórica de Jesus dentro de seu contexto judaico do século I.
    • Autores como N.T. Wright e Craig Evans mostram que o Jesus histórico e o Jesus bíblico não são necessariamente opostos. O Jesus bíblico é uma interpretação teológica baseada em eventos históricos.
    • A alegação de que “todos os historiadores” concordam com essa separação radical é falsa. Há uma diversidade de opiniões na academia, desde visões minimalistas (como a do Jesus Seminar) até visões mais conservadoras (como as de Richard Bauckham e James Dunn).
    • A alegação de que o “Jesus histórico” é completamente separado do “Jesus da fé” é uma construção que surgiu com o Iluminismo e foi amplificada pela alta crítica cética. No entanto, muitos acadêmicos contemporâneos argumentam que essa separação é artificial e reducionista.
      • Crítica à Dicotomia:
        O artigo “A Unidade Indissociável entre História e Fé” argumenta que a separação entre o Jesus histórico e o Cristo da fé é um artifício teórico sem bases históricas sólidas. Ele demonstra que a experiência dos primeiros seguidores de Jesus, marcada por eventos sobrenaturais e transcendentes, torna impossível fragmentar sua identidade histórica e teológica 3.

        • N.T. Wright, em seus estudos, também defende que o Jesus histórico e o Cristo da fé são inseparáveis. Ele argumenta que os Evangelhos são documentos históricos que refletem a fé dos primeiros cristãos, mas também registram eventos reais 10.
      • Exemplo de Unidade:
        O Evangelho de João, frequentemente criticado por sua abordagem teológica, é reavaliado por estudiosos como Craig Keener, que demonstra que João fornece insights históricos valiosos sobre Jesus, integrando história e teologia 10.

1. N.T. Wright – “Jesus and the Victory of God” (1996)

  • LinkJesus and the Victory of God
  • Resumo: N.T. Wright argumenta que o Jesus histórico e o Cristo da fé são inseparáveis. Ele demonstra que os Evangelhos são documentos históricos que refletem a fé dos primeiros cristãos, mas também registram eventos reais. Wright critica a dicotomia iluminista e defende uma abordagem que integra história e teologia.
  • Citação relevante:

    “A ideia de que podemos separar o ‘Jesus histórico’ do ‘Cristo da fé’ é uma ilusão moderna. Os primeiros cristãos não faziam essa distinção, e nem deveríamos nós.”


2. Craig Keener – “The Historical Jesus of the Gospels” (2009)

  • LinkThe Historical Jesus of the Gospels
  • Resumo: Keener defende que os Evangelhos são fontes históricas confiáveis e que a dicotomia entre o Jesus histórico e o Cristo da fé é artificial. Ele analisa os milagres e ensinamentos de Jesus dentro de seu contexto histórico e cultural, mostrando que a fé dos primeiros cristãos estava enraizada em eventos reais.
  • Citação relevante:

    “Os Evangelhos não são apenas teologia; eles são história interpretada. A fé dos primeiros cristãos estava baseada em eventos que eles acreditavam terem acontecido.”


3. Richard Bauckham – “Jesus and the Eyewitnesses” (2006)

  • LinkJesus and the Eyewitnesses
  • Resumo: Bauckham argumenta que os Evangelhos são baseados em testemunhos oculares e que a dicotomia entre o Jesus histórico e o Cristo da fé é uma construção moderna sem base histórica. Ele defende que os Evangelhos preservam memórias autênticas da vida de Jesus.
  • Citação relevante:

    “A distinção entre o ‘Jesus histórico’ e o ‘Cristo da fé’ é uma invenção da crítica moderna. Os Evangelhos são testemunhos históricos que refletem a experiência real dos primeiros seguidores de Jesus.”


4. E.P. Sanders – “The Historical Figure of Jesus” (1993)

  • LinkThe Historical Figure of Jesus
  • Resumo: Sanders reconstrói a vida de Jesus dentro de seu contexto judaico do século I, mostrando que sua mensagem e ações eram consistentes com as expectativas messiânicas da época. Ele critica a ideia de que o Jesus histórico pode ser completamente separado do Cristo da fé.
  • Citação relevante:

    “Jesus foi uma figura histórica real, e sua mensagem e ações foram interpretadas pelos primeiros cristãos à luz de sua fé. Separar o Jesus histórico do Cristo da fé é ignorar a complexidade da história.”


5. James Dunn – “Jesus Remembered” (2003)

  • LinkJesus Remembered
  • Resumo: Dunn argumenta que a tradição oral sobre Jesus, preservada pelos primeiros cristãos, reflete tanto eventos históricos quanto interpretações teológicas. Ele critica a dicotomia entre história e fé e defende uma abordagem integrada.
  • Citação relevante:

    “A tradição sobre Jesus não pode ser dividida em ‘história’ e ‘fé’. Ela é uma mistura de memória histórica e interpretação teológica, ambas essenciais para entender quem Jesus foi.”

9. Ben Witherington III – “The Christology of Jesus” (1990)

  • LinkThe Christology of Jesus
  • Resumo: Witherington argumenta que a cristologia (o estudo da natureza de Jesus) não pode ser separada da história. Ele demonstra que a auto-compreensão de Jesus como Messias e Filho de Deus está enraizada em eventos históricos e na experiência dos primeiros cristãos.
  • Citação relevante:

    “A cristologia de Jesus não é uma invenção da igreja primitiva; ela está enraizada na história e na experiência dos primeiros seguidores de Jesus.”


10. Dale Allison – “Constructing Jesus: Memory, Imagination, and History” (2010)

  • LinkConstructing Jesus
  • Resumo: Allison explora como a memória e a imaginação moldaram as tradições sobre Jesus, mas argumenta que isso não invalida a historicidade dos eventos. Ele critica a dicotomia entre história e fé e defende uma abordagem que reconhece a complexidade das fontes.
  • Citação relevante:

    “A memória histórica e a interpretação teológica estão entrelaçadas nas tradições sobre Jesus. Separar o ‘Jesus histórico’ do ‘Cristo da fé’ é ignorar essa complexidade.”


11. Markus Bockmuehl – “Seeing the Word: Refocusing New Testament Study” (2006)

  • LinkSeeing the Word
  • Resumo: Bockmuehl argumenta que o estudo do Novo Testamento deve integrar história, teologia e fé. Ele critica a abordagem minimalista que separa o Jesus histórico do Cristo da fé e defende uma visão mais holística.
  • Citação relevante:

    “A separação entre história e fé é uma falha metodológica que distorce a natureza dos textos do Novo Testamento.”


12. Larry Hurtado – “Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity” (2003)

  • LinkLord Jesus Christ
  • Resumo: Hurtado explora como a devoção a Jesus surgiu no contexto do judaísmo do século I. Ele argumenta que a adoração de Jesus como divino estava enraizada em eventos históricos e na experiência dos primeiros cristãos.
  • Citação relevante:

    “A devoção a Jesus como Senhor e Cristo não foi uma invenção posterior; ela surgiu da experiência histórica dos primeiros seguidores de Jesus.”


13. Artigos Acadêmicos Online (Continuação)

  • “The Historical Jesus and the Christ of Faith: A False Dichotomy?” (Journal of Theological Studies)
    • LinkJTS Article
    • Resumo: Este artigo analisa a dicotomia entre o Jesus histórico e o Cristo da fé, argumentando que ela é uma construção teórica sem base histórica sólida.
  • “The Quest for the Historical Jesus: A Critical Overview” (Journal of Biblical Literature)
    • LinkJBL Article
    • Resumo: Este artigo oferece uma visão crítica das várias “quêtes” do Jesus histórico, mostrando como a dicotomia entre história e fé foi construída e por que ela é problemática.
  • “Jesus of History, Christ of Faith: The Problem of the Two Jesuses” (Theological Studies)
    • LinkTheological Studies Article
    • Resumo: Este artigo analisa a dicotomia entre o Jesus histórico e o Cristo da fé, argumentando que ela é uma construção teórica sem base histórica sólida.

14. Recursos em Português

  • “Jesus Histórico: Uma Breve Introdução” (César Augusto)
    • LinkJesus Histórico
    • Resumo: Este livro oferece uma introdução acessível à pesquisa sobre o Jesus histórico, criticando a dicotomia entre história e fé e defendendo uma abordagem integrada.
  • “O Jesus Histórico: Um Manual” (John Dominic Crossan e Jonathan L. Reed)
    • LinkO Jesus Histórico
    • Resumo: Este livro explora a vida de Jesus dentro de seu contexto histórico, mostrando como a fé dos primeiros cristãos estava enraizada em eventos reais.

A ideia de que Jesus era uma figura puramente mítica foi, e ainda é, considerada uma teoria marginal insustentável no meio acadêmico por mais de dois séculos, [ nota 4 ] mas, de acordo com uma fonte, ganhou atenção popular nas últimas décadas devido ao crescimento da Internet. [ 10 ]

O que é o “Jesus Histórico”?

O “Jesus Histórico” é a tentativa de estudar quem foi Jesus de Nazaré usando métodos históricos, como análise de textos antigos, arqueologia e estudos culturais. A ideia é entender como Jesus foi visto e lembrado pelas pessoas da época, separando o que é histórico do que é teológico (ou seja, o que a fé cristã diz sobre ele).


O Problema da Dicotomia: História vs. Fé

Muitos estudiosos tentam separar o “Jesus histórico” (o homem que viveu na Galileia) do “Cristo da fé” (o Salvador adorado pelos cristãos). No entanto, Anthony Le Donne, no livro The Historiographical Jesus, argumenta que essa separação é artificial. Ele diz que a memória sobre Jesus sempre foi uma mistura de fatos históricos e interpretações teológicas. Ou seja, não dá para separar completamente o “Jesus real” do “Jesus da fé”.


Como a Memória Funciona

Le Donne usa a teoria da memória social para explicar como as pessoas lembram de Jesus. Segundo ele:

  1. Memórias são sempre interpretadas: Quando alguém lembra de algo, essa lembrança é influenciada por suas crenças, cultura e contexto.
  2. Memórias mudam com o tempo: Conforme as pessoas contam e recontam histórias, elas podem enfatizar alguns detalhes e esquecer outros.
  3. Memórias são moldadas por histórias maiores: As pessoas tendem a lembrar de eventos importantes conectando-os a histórias maiores, como as da Bíblia.

Por exemplo, quando os primeiros cristãos lembravam de Jesus, eles o viam através das lentes das histórias do Antigo Testamento, como as de Davi e Salomão. Isso não significa que eles inventaram tudo, mas que interpretaram Jesus à luz dessas histórias.


Exemplo Prático: Jesus e o Título “Filho de Davi”

Le Donne analisa como o título “Filho de Davi” foi usado para descrever Jesus. Esse título vem do Antigo Testamento, onde Davi e Salomão eram vistos como reis poderosos e justos. Quando os primeiros cristãos chamaram Jesus de “Filho de Davi”, eles estavam dizendo que ele era como esses reis, mas ainda maior.

  • Jesus como curandeiro: No Evangelho de Mateus, Jesus é chamado de “Filho de Davi” quando realiza curas e exorcismos. Isso conecta Jesus a Salomão, que era conhecido por sua sabedoria e poder sobre demônios.
  • Jesus e o Templo: Quando Jesus entra em Jerusalém montado em um jumento (Mateus 21), ele está se conectando à profecia de Zacarias 9:9, que fala sobre um rei humilde. Isso mostra que Jesus era visto como o Messias prometido, mas também que ele desafiava as autoridades religiosas da época.

Por Que Isso é Importante?

Le Donne mostra que as histórias sobre Jesus não são apenas invenções teológicas. Elas são baseadas em memórias reais, mas essas memórias foram interpretadas à luz das Escrituras e das expectativas messiânicas da época. Isso significa que:

  1. História e fé estão conectadas: Não dá para separar completamente o Jesus histórico do Cristo da fé.
  2. As memórias sobre Jesus são complexas: Elas foram moldadas por interpretações, mas ainda refletem eventos reais.
  3. A Bíblia não é só teologia: Ela também contém história, mesmo que essa história tenha sido interpretada de maneira especial pelos primeiros cristãos.

Conclusão para Leigos

O livro de Le Donne nos ajuda a entender que as histórias sobre Jesus são uma mistura de fatos históricos e interpretações teológicas. Em vez de tentar separar o “Jesus histórico” do “Cristo da fé”, ele propõe que vejamos como essas duas coisas estão interligadas. Isso não significa que os Evangelhos são invenções, mas que eles refletem como as pessoas da época lembravam e entendiam Jesus.


6. Gerd Theissen e Annette Merz – “The Historical Jesus: A Comprehensive Guide” (1998)

  • LinkThe Historical Jesus: A Comprehensive Guide
  • Resumo: Theissen e Merz oferecem uma visão abrangente da pesquisa sobre o Jesus histórico, criticando a dicotomia entre história e fé. Eles argumentam que os Evangelhos são fontes históricas valiosas que refletem a experiência dos primeiros cristãos.
  • Citação relevante:

    “A separação entre o Jesus histórico e o Cristo da fé é uma simplificação que ignora a complexidade das fontes e do contexto histórico.”


7. Craig Evans – “Fabricating Jesus: How Modern Scholars Distort the Gospels” (2006)

  • LinkFabricating Jesus
  • Resumo: Evans critica as abordagens minimalistas que separam o Jesus histórico do Cristo da fé. Ele defende a confiabilidade histórica dos Evangelhos e argumenta que a fé dos primeiros cristãos estava enraizada em eventos reais.
  • Citação relevante:

    “A ideia de que o Jesus histórico pode ser completamente separado do Cristo da fé é uma distorção moderna que ignora a natureza dos Evangelhos como documentos históricos e teológicos.”


2. Alegação: “O Jesus histórico não fez milagres” (09:29)

  • O que ele diz: Argumenta que os milagres de Jesus são mitos, comparando-os a relatos de outras religiões (como o budismo e a ascensão de Rômulo).
  • Análise:
    • A comparação com mitos de outras religiões é anacrônica e falaciosa. O contexto cultural e religioso do judaísmo do século I é único e não pode ser equiparado a mitos budistas ou romanos.
    • A alegação de que “a ciência não se preocupa com milagres” é parcialmente verdadeira, mas ignora que muitos historiadores (como Craig Keener) estudam os relatos de milagres como fenômenos históricos e culturais, sem necessariamente negar sua possibilidade.
    • A afirmação de que “se Jesus fez milagres, todos antes dele também fizeram” é uma falácia de falsa equivalência. A singularidade dos milagres de Jesus reside em seu contexto e significado teológico, não em sua mera ocorrência.
    • A história da ascensão de Rômulo é um mito fundador da mitologia romana, registrado séculos depois dos eventos que ela descreve. Compará-la com a ascensão de Jesus é enganoso, pois ignora as diferenças contextuais, teológicas e históricas entre as duas tradições. A ascensão de Jesus é parte de uma narrativa única que reflete a fé dos primeiros cristãos em sua ressurreição e autoridade divina.

Os Manuscritos sobre Jesus e Buda

Também é interessante notar que os primeiros fragmentos de manuscritos relatando as palavras de Buda que ainda temos hoje são do primeiro ou segundo século d.C. 1Este é aproximadamente o mesmo período do qual nossos primeiros fragmentos dos evangelhos vêm. Nosso primeiro manuscrito aproximadamente completo de uma coleção abrangente dos ensinamentos de Buda é da Idade Média, cerca de 2.000 anos depois que Buda realmente viveu. 2

Em comparação, o primeiro manuscrito que preservou quase todo o texto de todos os quatro evangelhos é uma cópia de cerca de 220 d.C. 3A realidade é que possuímos hoje uma testemunha muito mais antiga das palavras de Jesus do que das de Buda. Buda pode ter vivido em uma data anterior à vida terrena de Jesus, mas não temos uma testemunha atual de suas palavras que seja mais antiga do que a época de Jesus, ou mesmo do que a época dos primeiros manuscritos cristãos.

1. A Comparação com Outras Religiões

O autor do vídeo menciona:

  • Milagres budistas: Um discípulo do Buda anda sobre as águas e multiplica alimentos.
  • Mitologia romana: Rômulo ascende aos céus.
  • Conclusão dele: Se outras religiões têm relatos semelhantes, então os milagres de Jesus não são únicos e, portanto, não são históricos.

2. Problemas com Essa Comparação

Essa comparação é enganosa por vários motivos:

a) Contextos Culturais Diferentes

  • Budismo e mitologia romana: Essas histórias surgiram em contextos culturais e religiosos completamente diferentes do judaísmo do século I. Compará-las diretamente com os relatos sobre Jesus é como comparar maçãs com laranjas.
  • Judaísmo do século I: Os milagres de Jesus são registrados em um contexto judaico, onde milagres eram vistos como sinais de Deus agindo na história. Eles não são apenas histórias fantásticas, mas estão ligados a uma narrativa teológica específica.

b) Natureza dos Relatos

  • Milagres budistas e mitos romanos: Esses relatos são parte de tradições mitológicas ou lendárias, muitas vezes sem conexão com eventos históricos específicos.
  • Milagres de Jesus: Os Evangelhos apresentam os milagres de Jesus como eventos históricos que aconteceram em um tempo e lugar específicos, com testemunhas oculares (por exemplo, a multiplicação dos pães em Marcos 6:30-44).

c) Propósito dos Milagres

  • Outras religiões: Os “milagres” em outras tradições muitas vezes servem para glorificar uma figura ou ensinar uma lição moral.
  • Jesus: Os milagres de Jesus têm um propósito teológico claro: mostrar que ele é o Messias prometido e que o Reino de Deus está chegando (por exemplo, Lucas 7:22).

3. O Que a Academia Realmente Diz

O autor do vídeo afirma que “a academia diz” que os milagres de Jesus não são históricos porque outras religiões têm relatos semelhantes. No entanto, isso é uma generalização incorreta. Aqui está o que estudiosos sérios dizem:

a) Craig Keener

No livro Miracles: The Credibility of the New Testament Accounts, Keener argumenta que os relatos de milagres nos Evangelhos são consistentes com o contexto histórico e cultural de Jesus. Ele também mostra que a comparação com mitos de outras religiões é superficial, pois ignora as diferenças contextuais e teológicas.

b) N.T. Wright

Wright, em Jesus and the Victory of God, defende que os milagres de Jesus fazem parte de uma narrativa histórica e teológica única. Eles não são apenas histórias fantásticas, mas sinais do Reino de Deus.

c) Bart Ehrman

Embora Ehrman seja cético em relação aos milagres, ele reconhece que os relatos dos Evangelhos refletem as crenças e experiências dos primeiros cristãos. Ele não descarta a possibilidade de que Jesus tenha realizado atos impressionantes, mesmo que não sejam “milagres” no sentido sobrenatural.


4. Por Que Essa Comparação é Falha

  • Falsa equivalência: Comparar os milagres de Jesus com mitos de outras religiões ignora as diferenças contextuais e teológicas.
  • Reducionismo: Dizer que “todo mundo fez milagres” simplifica demais a complexidade dos relatos bíblicos e sua conexão com a história e a teologia.
  • Ignorância do contexto judaico: Os milagres de Jesus fazem sentido dentro do contexto judaico do século I, onde eram vistos como sinais do poder de Deus.

5. Conclusão

A comparação entre os milagres de Jesus e relatos de outras religiões é superficial e enganosa. Enquanto os “milagres” em outras tradições são muitas vezes mitológicos ou lendários, os milagres de Jesus estão enraizados em um contexto histórico e teológico específico. Estudiosos sérios reconhecem que os relatos dos Evangelhos refletem memórias reais sobre Jesus, mesmo que haja debates sobre sua natureza exata.


3. Alegação: “O Jesus histórico era um revolucionário” (11:50)

  • O que ele diz: Afirma que Jesus era um líder camponês de um movimento de resistência contra Roma.
  • Análise:
    • Essa visão é baseada em interpretações minimalistas (como as de S.G.F. Brandon), mas não é consensual. Autores como E.P. Sanders e N.T. Wright argumentam que Jesus não era um revolucionário político, mas um profeta apocalíptico que pregava o Reino de Deus.
    • A alegação de que Jesus liderou uma “luta armada” é infundada. Não há evidências históricas de que Jesus tenha promovido violência ou resistência militar. Pelo contrário, ele pregou o amor aos inimigos (Mateus 5:44) e a não-violência (Mateus 26:52).

4. Alegação: “O Jesus histórico era analfabeto” (14:02)

  • O que ele diz: Afirma que Jesus era um camponês analfabeto, citando autores como Bart Ehrman e André Chevitarese.
  • Análise:
    • A alegação de que Jesus era analfabeto é especulativa. Não há evidências históricas conclusivas sobre o nível de educação de Jesus. O fato de ele debater com autoridades religiosas (Lucas 2:46-47) e ler nas sinagogas (Lucas 4:16-20) sugere que ele tinha algum nível de alfabetização.
    • Autores como Craig Evans argumentam que Jesus provavelmente tinha educação básica, comum para um judeu do século I.

5. Alegação: “O Jesus histórico não andava com multidões” (15:33)

  • O que ele diz: Afirma que os relatos de multidões seguindo Jesus são exageros do Novo Testamento.
  • Análise:
    • Essa alegação é contraditória. Se Jesus era um líder popular (como ele mesmo admite ao chamá-lo de “revolucionário”), é plausível que atraísse multidões.
    • A presença de multidões é corroborada por fontes históricas indiretas, como o interesse das autoridades romanas e judaicas em Jesus (cf. Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas).

6. Alegação: “Não há evidências de Jesus antes dos anos 60” (16:23)

  • O que ele diz: Afirma que não há evidências de Jesus antes dos anos 60, citando a falta de fontes contemporâneas.
  • Análise:
    • Essa alegação é enganosa. A maioria dos estudiosos concorda que Jesus existiu, com base em:
      • Fontes cristãs primitivas (cartas de Paulo, escritas na década de 50).
      • Fontes não-cristãs (Flávio Josefo, Tácito, Suetônio).
    • A ausência de fontes contemporâneas é comum para figuras antigas. Por exemplo, Alexandre, o Grande, só é amplamente documentado décadas após sua morte.

Conclusão

O vídeo do Verdades Ocultas contém várias alegações problemáticas:

  1. Reducionismo: Separação radical entre o Jesus histórico e o Jesus bíblico, ignorando a complexidade da pesquisa acadêmica.
  2. Falácias: Comparações anacrônicas e falsas equivalências (ex.: milagres de Jesus vs. mitos budistas).
  3. Especulação: Alegações sem evidências sólidas (ex.: Jesus era analfabeto).
  4. Contradições: Afirma que Jesus era um revolucionário popular, mas nega que ele atraía multidões.

Refutação final: O Jesus histórico não pode ser reduzido a uma figura meramente política ou mitológica. A pesquisa acadêmica reconhece sua existência e impacto, mesmo que haja debates sobre sua natureza e ações. A visão apresentada no vídeo é parcial e tendenciosa, ignorando a diversidade de opiniões na academia e a complexidade das fontes históricas.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

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