Já tive a oportunidade de conversar com religiosos de várias denominações cristãs e constatei algo unânime: é instantâneo na mente da maioria dos cristãos, ao ouvir sobre a teoria do big bang, (uma grande explosão que teria formado o universo inteiro a quatorze bilhões de anos atrás), associa-la a um evento que contraria a concepção religiosa e a criação como relatada em Gênesis.
Sou estudante de física. Porém mais do que isso sou fascinado por um ramo específico da física conhecido como cosmologia. A cosmologia, de forma sucinta, estuda como o universo nasceu – sua origem – como ele evoluiu com o passar do tempo (e com isso a formação de estrelas, planetas, galáxias e da vida) até os momentos atuais, e quais são as perspectivas futuras. Porém, também sendo cristão, estudo fervorosamente as escrituras em busca de compreender o que Deus espera de mim. Foi uma oportunidade imensa poder unir essas duas grandes áreas e buscar evidências em uma que contrarie a outra, e visse versa. Porém, não encontrei nenhuma. Na verdade encontrei evidências muito sugestivas de que a teoria do big bang e a visão religiosa de criação tem muito em comum. Cito, entre várias delas, apenas três que podem chamar nossa atenção.
1) Gênesis trata sobre a criação desta terra. Quando lemos sobre a criação em Gênesis 1, é óbvio a qualquer um que nenhuma explosão é mencionada no ato criativo. Porém devemos lembrar que esse é um relato apenas dessa terra, como Deus a preparou para nós. O começo do universo como um todo e das diversas outras criações de Deus, portanto, foi um evento não-mencionado nas escrituras.
2) Matéria precisava ser produzida. Apesar de o relato comumente lido em português e em diversas línguas modernas seja “Deus criou os céus e a terra!”, a tradução original do hebraico e grego, bem como a opinião de muitos rabinos, é a de que esse termo deveria significar “Deus organizou os céus e a terra”. Se generalizarmos esse pensamento aos outros infinitos mundos que existem, concluímos que Deus não cria os mundos do nada, mas organiza matéria caótica já existente para forma-los. Sendo assim, nos primórdios da criação a matéria precisou ser criada. E a teoria do big bang nos diz que em algum momento a muito tempo atrás uma forte explosão emitiu radiação (luz) por todo espaço (e luz é o símbolo do poder de Cristo) e com o passar do tempo tal luz foi se condensando em matéria.
3) Ambos são testemunhas de um ato criativo e se complementam. Apesar de sabemos e testificarmos da grandiosidade do poder divino em criar e organizar todas as coisas, não sabemos exatamente o processo real usado por ele para fazer isso. Em contrapartida, a teoria do big bang explica exatamente como tudo que conhecemos (luz e matéria) em todo o universo evoluiu de um ponto do tamanho de uma cabeça de alfinete e extremamente pesado – que chamamos de singularidade – para o modo que está hoje. Porém quando se extrapola as equações da teoria geral da relatividade de Einstein ao seu limite inicial, não achamos o que seria essa singularidade. Nesse momento as equações apenas voam pelos ares. Se pensarmos um pouco compreenderemos que ambas ideias – do evangelho e da ciência – atestam o ato criador, porém enquanto uma responde ‘como’, a outra diz ‘quem’.
A ciência não está buscando provas da evidência religiosa. Tampouco a religião precisa das provas da ciência para que sua fé seja forte na existência e domínio de Deus. Porém seu amor por nós faz com que nos dê a conhecer alguns de seus mistérios. Muitos vem por meio de suas escrituras, mas se é por meio da ciência, por que devemos recusar? A verdade é a verdade, quer venha da boca do profeta ou de um laboratório de física. A obra de Deus é perfeita, e Ele tem seus meios de nos fazer saber sobre ela. Resta a nós, como mortais e imperfeitos, aceitar e tentar compreender isso com alegria”.
Por Lukas Montenegro
Graduando em Física- Bacharelado pela Universidade Federal da Paraíba, UFPB.
e-mail: lukasmontenegro.1@gmail.com