Uma recente notícia me chocou. Uma seita canadense alega que traduções da Bíblia sobre Êxodo, por exemplo, estão incorretas e que a Bíblia realmente endossa o uso da maconha. Já não bastava a famigerada “teologia gay” (onde gays tentam torcer a Bíblia para sua ideologia) agora temos a “teologia da maconha”. Esta página defende que a maconha era mencionada no Antigo Testamento. Era só o que faltava.
Basicamente, essas seitas alegam que a palavra para cannabis é kaneh-bosm, também traduzida em hebraico tradicional como kaneh ou kannabus. A raiz kan nessa construção significa “cana” ou “haste”, enquanto bosm significa “aromático”. Esta palavra aparece cinco vezes no Antigo Testamento: nos livros de Êxodo, o Cântico dos Cânticos, Isaías, Jeremias e Ezequiel.
O termo hebraico qaneh bosem em Ex. 30,23, lit. ‘bálsamo de cana’, etc., era uma cana aromática, encontrada na Arábia e em outro lugar. Não tem aqui nenhuma relação com a cannabis sativa, marijuana ou maconha. Isso é pura especulação da seita. A cana perfumada foi provavelmente o que agora é conhecido na Índia como o capim-limão.
Enquanto que a mirra era uma das especiarias mais comuns no mundo antigo, a canela era uma das mais raras. É o produto do cinnamomum laurs ou cinnamomum zeylanicum, uma árvore parecida com o laurel, que agora cresce apenas no Ceilão, Bornéu, Sumatra, China, China e na Índia, na costa de Malabar.
Dentre os ingredientes usados na preparação do óleo de santa unção havia o “cálamo fragrante”, com referência ao cheiro. (Êx 30,22-25) O Cântico de Salomão (4,14) inclui o “cálamo” entre outras especiarias odoríferas. Iahweh, por meio do seu profeta Isaías (43,24), repreendeu os israelitas pecaminosos por ‘não terem comprado’ (hebr.: qa·ní·tha) para o serviço no seu templo nenhuma “cana [doce]” (qa·néh), fazendo assim um trocadilho em hebraico. Jeremias (6,20) refere-se à cana recebida “desde a terra longínqua”, ao passo que Ezequiel (27,3.19) inclui o cálamo entre os produtos negociados pela rica Tiro.
A palavra portuguesa “cálamo” deriva da grega ká·la·mos, usada pelos tradutores da Septuaginta grega para verter a hebraica qa·néh. Igual à palavra hebraica, ká·la·mos também tem o sentido básico de caniço ou cana, ao passo que a palavra “cálamo”, hoje em dia, é usada principalmente para se referir ao cálamo-aromático (Acorus calamus) ou à sua raiz aromática.
A respeito da cana doce, ou cálamo, do Velho Testamento, muitos peritos preferem identificá-la com uma planta gramínea, aromática, da Índia, tal como Cymbopogon martini, uma gramínea perene, cujas folhas, quando esmagadas, produzem um óleo fragrante conhecido como óleo de ginger-grass. Outras variedades destas gramíneas indianas produzem óleo de citronela e óleo de erva verbena. A idéia de que uma ou mais dessas gramíneas de cheiro aromático sejam representadas pela cana doce, ou cálamo, baseia-se principalmente na referência de Jeremias ao produto como procedente de uma “terra longínqua”, a qual neste caso seria a Índia. Todavia, outras regiões talvez fossem produtoras da cana aromática, ou cálamo, conforme indicado pela profecia de Ezequiel (27,19). Assim, embora a referência seja a algum tipo de caniço ou cana aromáticos, a identificação exata da planta continua incerta.
Em Eclesiastes 12,6 chama-se poeticamente o cérebro humano de “a tigela de ouro”. Sendo um pouco maior do que seu punho fechado, e mal chegando a pesar um quilo e quatrocentos gramas, o cérebro não é somente o receptáculo precioso de suas recordações, mas também o centro de comando de todo o seu sistema nervoso. Todavia, avisa o Instituto de Medicina: “Podemos afirmar com confiança que a maconha produz efeitos agudos sobre o cérebro, incluindo alterações químicas e eletrofisiológicas.” — O grifo é nosso.
Desconhece-se o modo exato como tal tóxico realiza estes golpes de alteração do cérebro. Nem existe prova conclusiva de que a maconha prejudique de forma permanente o cérebro. O dr. Robert Heath tem realizado algumas experiências em que se expuseram macacos a altas doses de maconha. Um exame dos cérebros dos macacos revelou danos causados às células cerebrais. Os estudos de Heath, contudo, foram alvo de ataques por terem sido limitados (alegadamente, apenas quatro macacos foram examinados), e não terem incluído controles científicos. Todavia, como reconheceu o Instituto de Medicina, as possibilidades de que a maconha possa causar danos à “tigela de ouro” não deveriam ser levianamente desprezadas.