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Rotina neo-ateísta: Seleção do Adversário

investigaçãoÉ uma das técnicas mais utilizadas pelos neo-ateístas, em especial quando estes querem simular um falso conflito entre ciência e religião.

É preciso de uma certa experiência em debates para identificar tal técnica. A boa notícia: após algum tempo de prática o teísta ficará imune à essa fraude intelectual.

Durante a execução da técnica, os neo-ateus se disfarçam de “porta vozes da ciência” e então estabelecem algumas comparações, colocando em oposição ciência e religião. Nessas comparações a ciência sempre venceria a religião.

Na verdade, essa técnica é simplesmente a Seleção do Adversário.

A Seleção do Adversário funciona basicamente da seguinte maneira: por medo de falar sobre interpretações corretas de ciência e religião, eles afirmam que ciência e religião estão em luta, e então colocam um componente da entidade que dizem defender (ciência) em duelo com um componente falso (ou mal associado) do adversário (religião). Depois disso, fingem que a religião foi derrotada. [N.E. – Eu duvido que exista tal conflito entre ciência X religião, mas como os neo-ateus acreditam nessa bobagem, eles colocam ciência e religião em duelo. Estou apenas assumindo essa premissa deles.]

No mundo dos esportes seria o mesmo que o time do Corinthians se recusar a jogar contra o time do Palmeiras. E então criar um falso jogo, e colocar a camisa do Palmeiras em alguns torcedores do Palmeiras, mas que não sejam atletas. Isso é para que o Corinthians possa ganhar o jogo com extrema facilidade, pois se os verdadeiros atletas do Palmeiras estivessem jogando, o jogo seria difícil.

Geralmente essa técnica é usada quando o neo-ateu começa com um discursinho assim: “o religioso age assim… em contraposição ao cientista que age assim” ou “a diferença entre Deus e a teoria da evolução é que esta é testável”. Quando essa ladainha começa, podem ter certeza que o sujeito está aplicando a técnica de Seleção do Adversário.

Não vou me aprofundar em detalhes na explicação teórica do modelo, pois em breve haverá aqui um artigo específico para isso.

Entretanto, somente com a observação da imagem já dá para notar que há um modelo de domínio que descreve exatamente os principais componentes da religião e da ciência. Escolhi esses dois por serem justamente os domínios que os neo-ateus dirão ser conflitantes. Detalhe: cada componente está em um nível diferente (dá para notar pelos números). A comparação entre componentes só poderia ser feita pelos que estão em nível similar. Ou seja, princípio da religião comparado com princípio da ciência, teologia com epistemologia. E daí por diante.

Portanto, se o debatedor neo-ateu fosse honesto intelectualmente, ele saberia que ele só poderia comparar o trabalho de um teólogo com o de um cientista, pois ambos são ESPECIALISTAS em seus domínios de conhecimento.

Lembre-se que o neo-ateu não participa do jogo, ele simplesmente cria um FALSO jogo no qual ele coloca “religião X ciência” em disputa, e diz que a ciência ganhou, e a religião perdeu.

Da mesma forma, é possível que alguém que queira difamar a ciência (assim como os neo-ateus querem difamar a religião) use essa técnica. Ele poderia chamar o caseiro do sítio, que é um usuário de pesquisa científica (pois todos são), e perguntar para ele o que á teoria da relatividade. Aí ele só vai dar uma visão metafórica e até incompleta da teoria. Aí o difamador sairia pulando dizendo “derrubei a ciência, derrubei a ciência, iupiii”.

Como se nota, é picaretagem em alto grau. Uma sem vergonhice.

É importante observar o modelo na imagem acima e entender as refutações abaixo, pois, se um neo-ateu usar essa técnica no debate e o teísta NÃO PERCEBER, este último perde o debate com certeza.

Entretanto, se o teísta conhecer a refutação, o neo-ateu dificilmente terá chances no debate, pois provavelmente este entrou para falar de um suposto jogo com dois adversários escolhidos por ele. Sendo que do lado da religião ele escolheu um componente errôneo justamente para criar uma falsa sensação de vitória da ciência.

A sensação, para o neo-ateu, seria a mesma do time do Corinthians ao ver a notícia: “Olha, vocês não vão jogar mais com um grupo de torcedores, e sim com os ATLETAS do Palmeiras”.

Será que o neo-ateu está preparado para ver a ciência e a religião de forma que realmente elas são?

Faça o teste com eles e veja.

Refutação

(1) Refutando um neo-ateu que tenta comparar Deus a uma teoria científica:

  • NEO-ATEU: A diferença entre a crença em Deus e a crença em uma teoria científica é que esta última está passível de métodos.
  • REFUTADOR: Mas Deus não está no status de uma teoria científica.
  • NEO-ATEU: Então não podemos acreditar nele.
  • REFUTADOR: Deus é aceito como um princípio, assim como na ciência existe um princípio aceito, dentre muitos, que é a universalidade das leis físicas.
  • NEO-ATEU: Como é?
  • REFUTADOR: Nós não sabemos se as leis da física valem em todo o universo, mas ACEITAMOS isso racionalmente, pois sem isso a ciência não acontece. Assim como se aceita tal princípio da ciência, de forma racional, aceitamos Deus também de forma racional.

[A partir daí, o neo-ateu provavelmente vai espernear ainda um pouco, mas é só não se esquecer da hierarquia e do status de cada componente (itens 1 a 4, da figura) para mostrar que o neo-ateu estava tentando malandramente colocar o mesmo status de uma teoria científica para Deus. Aliás, a universalidade das leis físicas não é uma teoria científica. Ela é aceita racionalmente, assim como Deus. No modelo acima, Deus está no nível 1, ao passo que teoria científica está no nível 3, pois é um produto de trabalho de um player ou mais players (cientistas).]

(2) Refutando um neo-ateu que tenta comparar o religioso a um cientista:

  • NEO-ATEU: Eu escolho a ciência ao invés da religião, pois a diferença entre um religioso e um cientista é que este último usa um método para se chegar à verdade.
  • REFUTADOR: Já errou na comparação, pois cientista é um profissional, e um religioso não é. Portanto, só um profissional irá confiavelmente seguir métodos para executar sua profissão em sua área de conhecimento.
  • NEO-ATEU: Mas é uma diferença básica…
  • REFUTADOR: Se há uma diferença, há uma diferença de função. Por exemplo, os usuários de pesquisas científicas (são a totalidade da população mundial, menos as Testemunhas de Jeová) são apenas praticantes, assim como os religiosos. Estes não seguem método científico algum. Na verdade, se seguirem métodos ou não, isso não fará diferença.
  • NEO-ATEU: Mas para a ciência faz…
  • REFUTADOR: Não faz nenhuma diferença. O único que precisa seguir o método científico é o cientista. Se ele seguir, está bom. O teólogo também segue métodos, como por exemplo a hermenêutica e a lógica.
  • NEO-ATEU: Mas a diferença é que o cientista sempre tem dúvida, e o religioso parte da fé para justificar suas crenças.
  • REFUTADOR: O religioso pode até partir da fé, se quiser, mas pode partir da razão também. Mas ele é religioso, e não um profissional. Somente quem não irá EXECUTAR a fé no trabalho é o cientista (que pode ter fé, desde que o seu trabalho não seja só baseado nisso), assim como o teólogo. Mas, voltando para as comparações, os religiosos, os leitores de divulgação científica, os leitores de Dawkins e o resto podem ter tanta fé quanto quiserem, pois não estão no domínio de conhecimento a ponto de alterar este domínio. Só quem pode isso são teólogos (do lado da religião), e cientistas (do lado da ciência).

[Então a partir disso basta ficar explicando para o neo-ateu o que é ciência, o que é religião, e o que cada componente significa em cada uma delas. Muitos podem se recusar a aceitar esse esclarecimento, se forem fanáticos. Mas o público que acompanha o debate verá que o neo-ateu está tentando maquiar conceitos, ao passo que o teísta, se agir conforme demonstrado nos dois exemplos acima, estará agindo em busca da verdade.]

Dicas

  • Uma forma de identificar fácil o uso da técnica é ver os números dos componentes que são colocados em comparação. Se os números associados a eles (ver na figura) forem diferentes, há fortes suspeitas de fraude intelectual. Ex.: “religioso X cientista” (4,3), “Deus X teoria científica” (1,3), etc.
  • Muitos neo-ateus NÃO SÃO CIENTISTAS (raros deles são) e fingem serem “representantes da ciência’. Eles costumam ficar irritados quando se descobre que eles não são o que afirmam ser.
  • A fé é um componente que está presente em todos praticantes, que estão no nível 4, e também presente nos participantes do nível 3, tanto em teólogos quanto cientistas. Só que os que estão no nível 3 são profissionais, portanto precisam utilizar um método para atuação. Quem está no nível 4 não faz uso dos mésmos métodos, pois é regido só pela sua consciência.

P.S.: A importância de dominar as refutações à essa técnica é tamanha que, para se ter uma idéia, livros neo-ateus que fingem “divulgação de ciência” são praticamente todos construídos em cima desta técnica. Dominando as refutações, grande parte do castelo de areia neo-ateísta é derrubado.

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