Essa técnica se baseia em algo que pode ser definido também como “Simulação do Falso Entendimento”, o que é uma variação mais elegante da famosa falácia do espantalho.
Importante ressaltar que quando se diz “simulação”, pode ser que isso não se aplique em todos os casos, já que é possível que existam situações em que o neo-ateu seja apenas um ignorante a respeito de filosofia. Neste caso não dá para dizer que o erro do neo-ateu é feito de forma dissimulada.
O que importa, no entanto, é que tal técnica ocorre com alta frequência.
Para entender o que é a inversão de “planos”, basta entender que existem vários planos de discussão, ou domínios de discussão.
Exemplos:
- ciência – evidências físicas, objetivas
- amor – evidências subjetivas, dependentes da impressão pessoal
- negócios – evidências diretas, mas advindas do mercado (e não peer review)
- matemática – provas
- lógica – evidências lógicas
- teologia – evidências lógicas, sob discussão utilizando-se de filosofia (é aqui que a questão Deus é discutida)
A tática de inverter os planos significa tentar jogar algo que está sendo discutido em um plano e lançá-lo a outro, no qual a refutação será feita fora do domínio em que a discussão deveria ocorrer.
Basta dizer que se o debatedor teísta permitir que um oponente desonesto intelectualmente execute tal técnica, e este não for advertido, o debate está perdido.
Para evitar que esse logro se mantenha, basta apenas intervir e informar ao oponente que ele está fugindo do plano de discussão.
Por exemplo, a questão Deus não pode ser discutida da mesma forma que o Bule de Chá proposto por Russell. Pois o bule é físico, portanto deverá ser estudado pela ciência tradicional. Deus não é afirmado como físico, e a discussão sobre ele é lógica (isso que nem estou aqui afirmando sobre sua existência ou não, apenas sobre o tom de discussão). Quando Bertrand Russel tentou aplicar a técnica “Bule de Russell” dentro de seu argumento, ele estava praticando a técnica da “Inversão de Planos”. E é justamente com essa técnica que ele inicia o seu argumento.
Refutação:
A refutação se baseia simplesmente em explicar ao oponente que ele está saindo do plano de discussão.
(1) O exemplo abaixo mostrará a tentativa de sair do domínio da teologia e pular para o domínio das artes:
- NEO-ATEU: Deus é igual um boneco.
- REFUTADOR: Me explique isso melhor…
- NEO-ATEU: Certo dia Mickey e Minnie foram inventados, por alguém dos estúdios Disney. Se Deus foi inventado, então é igual o Mickey e Minnie.
- REFUTADOR: Mas Mickey e Minnie são personagens, e não foram assumidos como tendo existência real. E nem se sabe se Deus foi inventado.
- NEO-ATEU: Mas se foram inventados, são iguais, e você tem que assumir que Deus é igual Mickey e Minnie.
- REFUTADOR: De jeito algum.
- NEO-ATEU: Como não?
- REFUTADOR: A discussão sobre existência de Deus é lógica. Não está no âmbito artístico, onde tudo se assume a priori que é fictício e não são feitas argumentações lógicas para estudar sua existência ou não.
(2) Outro exemplo de refutação, agora mostrando um debatedor neo-ateu tentando fingir que a questão Deus é científica, ou seja, saindo do domínio da religião (teologia) e indo para o domínio da ciência.
- NEO-ATEU: Ok. Se Deus não é um boneco, então temos que prová-lo.
- REFUTADOR: De que forma você quer provar?
- NEO-ATEU: Com um teste científico.
- REFUTADOR: Mas quem disse que a questão Deus é uma questão científica?
- NEO-ATEU: Senão é questão científica, então não existe.
- REFUTADOR: Nada mais falso. Algo pode ser definido logicamente, ou baseado em experiência pessoal (como o amor), ou até como princípio que dê sustentação à ciência, e não ser necessariamente inexistente.
- NEO-ATEU: Não, pois a ciência cuida da realidade.
- REFUTADOR: Não, a ciência trata de pequenos recortes da realidade. Somente aqueles acessíveis pelo método científico.
- NEO-ATEU: Mas se Deus não está nisso, então não existe.
- REFUTADOR: Nonsense! Várias coisas não são testáveis pelo método científico, e não necessariamente não existem. Nem a ciência existiria sem alguns fundamentos, não testáveis pelo método científico.
[aqui foi mostrado ao neo-ateu que ele estava tentando “inverter os planos” e levar a discussão sobre Deus para o domínio do método científico, e ao mesmo tempo ele queria dizer que tudo que não está no domínio do método científico é falso]
Conclusão:
É uma das mais hábeis técnicas de enganação, pois não são muitos que se interessam em estudar filosofia, área que explica exatamente como inversão de planos é um erro lógico grosseiro. Sem esse conhecimento, muitos teístas são enganados quando um neo-ateu aplica essa técnica. A única forma de se precaver contra isso é realmente estudar filosofia ou pelo menos a estrutura básica de uma argumentação, pois sem isso dificilmente o debatedor irá perceber com facilidade a tentativa da inversão de planos.