Os neo-ateus são divertidos, muito divertidos. Fazem de tudo para tentar (ou imaginar) se passar por alguém sério, com espetaculares “argumentos” devastadores, mas na realidade, mostram o que são: os mesmos simplistas de sempre. Já há muito não se fazem ateus como Camus, Sartre ou Nietzsche, que tiveram a audácia de ir aonde nenhum neo-ateu sequer ousaria ir. Conseguiram pelo menos ser honestos e sinceros e apontar as imensas falhas em sua posição ateísta e demonstraram a vida de absurdo que é viver sem Deus. Mesmo ateus, ainda assim foram honestos. Coisa que falta e muito nesses neo-ateus simplórios.
Esse argumento de Lewis está no cerne de qualquer diálogo ateu/cristão. Muitas vezes, gastamos nosso tempo tentando defender os manuscritos do Novo Testamento ou a historicidade de Cristo. Com certeza, essas coisas são pontos importantíssimos de se abordar, mas não chegam ao cerne do problema. O problema é que o ateu e o cristão tem dois pressupostos drasticamente diferentes. Esses pressupostos devem ser comparados uns com os outros, e ver qual se adapta à realidade. Isso é o que C. S. Lewis está se comunicando nesta breve seção de sua obra.
Desta feita, vamos responder a este poster de um sujeito que se intitula “Alberto Martyn”. Vamos ver suas alegações (entre citações) e minhas respostas a seguir.
CS Lewis, O Ignorante.
Sujeito que já começa detratando o oponente é sinal de que não vale alguma coisa, assim como seus “argumentos” não merecem muita consideração.
1 – …então ninguém planejou meu cérebro para o propósito de pensar”.
R: O pensamento emergiu de condições prévias, que poderiam ou não ter ocorrido, inclusive, ocorrerem em alguns seres vivios e em outros não.
A teoria principal (na verdade, alegação) desse sujeito, é que Deus, segundo C. S. Lewis, é um ‘jarro de leite! Segundo ele (e outros que pensam iguais) quais seriam as chances de que uma bem afinada, ser ultra-inteligente, com faculdades cognitivas confiáveis, seria apenas só “existe” por acaso, a fim de dar-nos faculdades cognitivas confiáveis? Seria como me virando um jarro de leite e esperando que ele salpicos um mapa de Londres! Ele quer dizer que, sob uma teoria naturalista da mente e do conhecimento, um processo lento, demonstrável e gradual pode ser usado para explicar como essas faculdades cognitivas acabaria por desenvolver não por acidência, mas como o provável resultado dos processos naturais.
O que o pequeno ignorável neo-ateu está se esquecendo de mencionar é que Lewis aqui não dizendo que isso prova a existência de Deus. Ele está apenas dizendo que o ateísmo/materialismo não lhe dá nenhuma base para confiar em seu próprio pensamento. No entanto, o cristianismo/teísmo (se for verdadeiro) lhe dá a base de confiança cognitiva a seu pensamento, pois Deus criou você para ser um ser racional pensante. Lewis está demonstrando sua incredulidade no fato de que um cérebro pensante poderia ocorrer em um universo naturalista materialista. O argumento de Lewis é contra aqueles que usam a lógica para não acreditar em Deus. Se a lógica é a base para Deus, então eles não têm uma perna para se sustentar. Fé e lógica não são a mesma, é claro. Mas ambas têm o seu lugar. Entretanto, Lewis não está falando sobre seus papéis aqui. Ele está discutindo qual cosmovisão ou posição, se for verdadeira, dá-lhe uma base para confiar em seu próprio pensamento, como sendo confiável.
Alvin Plantinga, em sua grande obra “Onde o conflito realmente está: Ciência, Religião e Naturalismo”, apresenta uma versão muito mais ampliada e profunda do mesmo argumento que Lewis apresenta. No livro, Plantinga demonstra muitas maneiras em que podemos estar enganados longe da verdade em um cenário naturalista. Ele dá muitos exemplos de crenças que podem ser vantajosas para a sobrevivência, mas poderia ser falsas. Plantinga questiona o naturalismo. Pois, se naturalismo é verdadeiro, não podemos fazer ciência. Uma vez que podemos fazer ciência, o naturalismo não é verdadeiro. Isso é o que todo o livro desenvolve em argumento.
O argumento de Lewis é muito bom quando você entra e olha para todos os detalhes. O que é bom para a sobrevivência nem sempre pode ser bom para chegar à verdade. A evolução pode nos dar razões para discernir a verdade em assuntos como a captura de queda de maçãs e coisas desse tipo, mas há muitos casos em que podemos demonstrar que este não é o caso. Mesmo Darwin expressou consternação sobre as implicações de confiar a sua própria “mente” se fosse simplesmente uma versão mais avançada do cérebro de um macaco, chegou por acaso e tempo aleatório. Plantinga metodicamente desenvolve e defende a visão de que a evolução combinada com o naturalismo é autodestrutiva.
Há muito mais a acrescentar ao argumento de Lewis do que nesta citação. Ele argumenta de forma mais plena, creio eu, em “Milagres”. A alegação de Plantinga é ainda mais forte, e como um filósofo, em vez de um leigo, tecnicamente mais rigorosa – ele diz que o naturalismo, levada à sua conclusão lógica, é realmente incompatível com a ciência. Pode-se realmente desfrutar de seu argumento, concorde com ele ou não. O famoso filósofo ateu Thomas Nagel tem uma obra onde demonstra que o naturalismo quase certamente não pode ser verdadeiro. Aposto que o seu raciocínio, pelo menos em parte, é bem parecido com a obra de Plantinga.
Assim, respondendo “o pensamento emergiu de condições prévias, que poderiam ou não ter ocorrido, inclusive, ocorrerem em alguns seres vivios e em outros não”, é interessante porque demonstra quão superficial é o ateísta que afirmou isso e o quão distante está da problemática acadêmica do caso. Até mesmo o famoso evolucionista de Harvard, Stephen Jay Gould, candidamente admitiu que “a consciência, concedida apenas a nossa espécie na história da vida na Terra, é a invenção evolutiva mais divina já desenvolvida“(“Foreword: The Positive Power of Skepticism,” Why People Believe Weird Things, Michael Shermer [New York: W.H. Freeman].1997, p. Ix). Não. As coisas não são tão simples como os neo-ateus imaginam. A resposta a como a consciência se desenvolveu iludiu, e continua a iludir, os pesquisadores materialistas em cada disciplina da ciência a filosofia.
C. S. Lewis expressou assim:
“Se a mente é totalmente dependente do cérebro, e os cérebros da bioquímica e a bioquímica (a longo prazo) do fluxo de sentido dos átomos, eu não consigo entender como o pensamento dessas mentes devem ter mais importância do que o som do vento nas árvores.” – C. S. Lewis, em “Teologia é poesia?”
2 – “Como posso confiar que meu próprio pensamento é verdadeiro?”
R: Que tipo de pergunta sem noção é essa? Se o átomos por razões químicas se organizam de determinadas maneiras, isso é necessáriamente verdadeiro, caso contrário, não existiriam pensamentos.
Absurdo. Completo disparate desse cara. O indivíduo não explicou NADA ou refutou NADA da observação de Lewis, apenas apresentou um ponto de vista totalmente opinativo. Como mostrei acima, esses ateístas falham em fazer uma análise profunda, não só dos argumentos do oponente mas de si mesmos. São extremamente simplistas. Já demonstrei que o problema da consciência não é tão simples como o sujeito quer fazer parecer. A alegação desses sujeitos é “seu cérebro não é projetado aleatoriamente. Ele evoluiu para um órgão especializado que lhe permite formular ideias inovadoras, testá-las e usá-las a seu favor, a fim de sobreviver e prosperar. A religião é apenas um capricho, um acidente de pensamento”. É isso o que querem que você acredite. Mas é factível?
Como os evolucionistas John Eccles e Daniel Robinson observaram corretamente em A Maravilha de Ser Humano: nosso cérebro e nossa mente: “Seja alguém afirmar que os seres humanos são ‘filhos de Deus’, ‘ferramentas de produção’, ‘matéria em movimento’, ou uma espécie de primata, tem consequências” (1984, p 1.). A questão é muito importante.
A alegação do tal “Alberto Martyn” é parecida com uma velha ideia conhecida como panpsiquismo. Quando Gregory perguntou: “Qual é a relação entre a consciência, a matéria ou funções do cérebro?” (1977, p. 274), ele bateu no coração de panpisiquismo, que é o conceito de que “alguma consciência primordial atribui a toda a matéria, presumivelmente até átomos e partículas subatômicas“(Eccles e Robinson, 1984, p. 37, grifo nosso). Como Eccles e Robinson comentaram em relação ao materialismo radical que discutimos acima: “A alternativa é a abraçar panpsiquismo. Todos os tipos de panpsiquistas fogem dos problemas, propondo que existe uma proto consciência em toda a matéria, mesmo em partículas elementares! De acordo com panpsiquismo, o desenvolvimento evolutivo do cérebro está associada apenas com a ampliação e refinamento do que já estava lá como uma propriedade de toda a matéria. Ele simplesmente se manifesta de forma mais eficaz nas organizações complexas do cérebro de animais superiores” (p. 14, emp.).
O eminente Paul Davies foi obrigado a perguntou:
A mente pode penetrar, de alguma maneira, no mundo físico de elétrons e átomos, células cerebrais e nervos, e criar forças elétricas? A mente realmente atua na matéria sem respeito pelos princípios fundamentais da física? Há, de fato, duas causas do movimento no mundo material: um devido a processos físicos ordinários e outro devido a processos mentais?… As únicas mentes das quais temos a experiência direta são os associados com cérebros (e possivelmente computadores). Ainda assim ninguém seriamente sugere que Deus, ou almas, têm um cérebro. A noção de uma mente desincorporada, sem falar em uma mente completamente separada do universo físico, faz algum sentido? (1983, páginas 75,72, grifo nosso)
Enquanto os materialistas monistas responderiam “não” a cada uma de perguntas do Dr. Davies, eu respondo “sim” a cada uma delas. Com evidência científica disponível (de cientistas respeitáveis como Penfield, Eccles, e outros) que documentam que a mente realmente interage com a matéria (o cérebro), a que outra conclusão podemos chegar?
Assim, Eccles e Robinson concluíram: “[O panpsiquismo] não encontra qualquer apoio na física” (1984, p 37.). Nem, podemos acrescentar, encontra qualquer tipo de apoio em qualquer outro lugar!
Esses átomos, tem forma de códigos elétricos com padrões que o cérebro identifica como palavras, sons, frases e etc. Portanto, não tem do que duvidar aqui, o pensamento é real, porém, o conteúdo do pensamento pode ou não ser verdadeiro. O cara pode pensar num círculo redondo, o que não é verdadeiro no sentido de não existir, porém, ele pode pensar num círculo circular, o que é verdadeiro no sentido de existir. Tanto faz se deus existe ou não, as ferramentas físicas como o pensamento, as mãos, os pés, o estomago continuam funcionando.
O sujeito é um poço de superficialidade. Por esta lógica, a declaração “eu tenho razões para acreditar que o naturalismo é válido” é auto-referencialmente incoerente da mesma maneira como a frase “Uma das palavras desta frase não tem o significado que parece ter” ou a declaração: “Eu nunca digo a verdade“. Ou seja, em cada caso, para assumir a veracidade da conclusão seria eliminar a possibilidade de um motivo válido a partir do qual a alcançá-lo. Para resumir o argumento no livro, Lewis cita J. B. S. Haldane que apela a uma linha similar de raciocínio:
Se os meus processos mentais são determinadas totalmente pelos movimentos dos átomos em meu cérebro, eu não tenho nenhuma razão para supor que minhas crenças são verdadeiras … e, portanto, eu não tenho nenhuma razão para supor que meu cérebro ser composto de átomos.
3 – “É como virar uma jarra de leite e esperar que a forma como o leite se espalha lhe apresente um mapa de Londres.”
R: POr isso que caio na risada com essas frases estúpidas do Lewis, porque o cara era um tremendo ignorante. Com essa analogia do leite, ele pressoe de forma absurda que os padrões elétricos que formam os códigos do pensamento, se dão de forma aleatória, só que claro que isso não é verdade. Ex: Quando alguém ouve pela primeira vez a palavra “Microndas”, seu cérebro prepara um padrão elétrico que vai corresponder sempre a essa nova palavra. Esse padrão, quando lembrando, vai trazer uma imagem associada ( foto do microondas) e um som (o som da palavra M I C R O O N D A S) e como bonus, alguma explicações sobre como isso funciona. Portanto, não tem nada de aleatório aqui como ele ridículamente pressupoe com a analogia do leite.
Quem parece não entender absolutamente nada sobre o que Lewis quis dizer, assim como não entende absolutamente nada de ciência, consciência e racionalidade é esse tal de “Alberto”. O argumento de Lewis (ou da razão) pressupõe, ainda, que a racionalidade não pode surgir de não-racionalidade . Por que não? Por que não elementos materiais em algum momento não poderiam ter se organizado de tal forma que possa surgir racionalidade? A resposta é que a racionalidade é algo diferente em espécie do material físico. Quando alguém raciocina, força-se partículas em nosso cérebro a mover-se de modo que não se teriam movido à parte deste poder. A racionalidade é o governador não o governado. As partículas que antes se moviam apenas como o resultado de causas físicas agora movem-se em resposta a motivos lógicos, ou seja, causas racionais. Se não o fizeram, então a escolha é uma ilusão, porque a escolha implica uma decisão tomada por razões além de compulsão física. E assim, se não pudéssemos controlar partículas físicas de forma racional,portanto, não poderíamos escolher se uma afirmação é verdadeira ou falsa.
O argumento afirma que mesmo que o universo sempre existiu e fosse incriado, não seria possível que materiais não-racionais se organizassem de tal forma que surgisse a racionalidade. Portanto, um ser racional que não começa a existir é necessário para a suposição de que os seres humanos podem ser convencidos por este argumento.
4 – “Mas se não posso confiar no meu pensamento, certamente não posso acreditar nos argumentos que levam ao ateísmo”
R: KKKKKKKKK Que ridículo, o cara aplicou uma falácia circular terrível agora: Ele tem que pressupor do nada que Deus existe (Falácia de petição de princípio), para então confiar no seu pensamento, para então acreditar nos argumentos que levam ao teísmo, para então concluir que Deus existe.
Quem é totalmente ridículo é este “Alberto”, um sujeito completamente nonsense. Lewis não pressupôs que Deus existiu para formar seu raciocínio. O ateísta aqui envenena o poço como tentativa de desacreditar o autor. Não é uma petição de princípio. Lewis não está desacreditando do ateísmo a priori para formular a questão (que, como dissemos, é mais bem elaborada e aprimorada em seus outros escritos e em Plantinga e Haldane). Vamos ver um exemplo:
A racionalidade de um computador não é um contador para este argumento. Um computador deriva sua racionalidade de seu criador racional, a mente humana. O argumento afirma que a racionalidade humana tem uma fonte racional, que não começou a existir, ou seja, Deus. Apenas entidades racionais que não possam ser traçadas em sua origem em um ser racional que não começou a existir contrariam ao argumento. Muitos ateus com quem falo têm uma grande confiança em seu pensamento e raciocínio, mas muitas vezes não tentam conciliam a uma questão que precisa ser respondida: por que o seu pensamento é confiável? Se eles não podem responder a essa pergunta, o que eu gostaria de sugerir que não podem, todos os argumentos que dão contra o cristianismo poderiam ser falho, pois seu raciocínio não é confiável.
5 – Em resumo, ele usou uma ignorante argumento da transcendentalidade da lógica, onde pressupoe que a lógica é provinda de deus. Só que isso é um erro lógico: “A lógica pressupõe que seus princípios sejam necessariamente verdadeiros. Entretanto, segundo a vertente do Cristianismo subjacente ao ATD, Deus criou tudo, incluindo a lógica; ou no mínimo tudo, incluíndo a lógica, depende de Deus. Mas se alguma coisa é criada por ou é dependente de Deus, ela não é necessária – ela é contingente em Deus. E se os princípios da lógica são contingentes em Deus, eles não são logicamente necessários. Além disso, se os princípios da lógica são contingentes em Deus, Deus poderia altera-los. Portanto, Deus poderia tornar a lei da não-contradição falsa; em outras palavras, Deus poderia arranjar as coisas de maneira que uma proposição e sua negação sejam simultaneamente verdadeiras. Mas isto é absurdo. Como poderia Deus arranjar as coisas de modo que a Nova Zelândia esteja ao sul da China e que a Nova Zelândia não esteja ao sul da China? Assim, deve-se concluir que a lógica não é dependente de Deus, e, na medida em que a cosmovisão cristã assume que a lógica possui esta dependência, ela é falsa.”
Em resumo, o ignorante e simplista é o autor da alegada “refutação infalível” ao Lewis, mais um simplório de Internet querendo seus minutos de fama. Como passou por cima de várias problemáticas à sua posição ateísta e além de em nenhum momento fazer uma autocrítica de sua posição (só investindo sobre o argumento de Lewis sem analisar sua própria situação crítica ateísta neste quesito), demonstra que é mais um simplório, que raramente tende a ir a maiores profundezas. A razão não é apenas impossível em um mundo ateu, mas a afirmação típica ateia de que devemos confiar apenas na razão não pode ser justificada. Por que não? Porque a razão realmente exige fé. Como J. Budziszewski aponta em seu livro O que não podemos não saber, “o lema ‘razão!’ é um absurdo mesmo. A própria razão pressupõe a fé. Por quê? Porque uma defesa da razão pela razão é circular, portanto, inútil. Nossa única garantia de que a razão humana funciona é Deus quem a fez.” Nossos pensamentos não teriam confiabilidade se não houvesse Deus. Então, por que as leis da lógica universal? Porque Deus nos criou para sermos lógicos, mas nem sempre todos são racionais. Sem um Criador com uma mente final, não podemos confiar em nada do que pensamos. No entanto, uma vez que confiamos que no que pensamos e valorizamos, deve haver um Criador que nos deu mentes racionais.
Então, eu tenho duas perguntas para os ateus: 1) Qual é a fonte desta realidade imaterial conhecida como razão, da qual todos estamos pressupondo, utilizando em nossas discussões, e acusando um e outro de violar? e 2) se Deus não existe e nós não somos nada mais que produtos químicos, por deveríamos confiar em qualquer coisa que pensamos, incluindo o pensamento de que Deus não existe
Arthur Schopenhauer afirmou, em O Mundo como Vontade e Representação:
“O materialismo é a filosofia do sujeito que se esquece de tomar conta de si mesmo”.
Com certeza ele foi bem mais fundo e mais exato que esses simplistas ateístas de Internet.