O seguinte artigo foi escrito para responder a uma TJ chamada Carlos Silva, que escreveu uma matéria em defesa da tradução de Jo.8.58 da TNM (o artigo original se encontra aqui). Os argumentos dele estão em citação.
>>1) O Contexto
O nosso amigo Marcelo Silva disse o seguinte:
“É obvio que eles entenderam que Jesus estava se referindo a um titulo de Jeová (Eu Sou), o texto é bem claro com relação a isso.”
Vamos verificar o que o Marcelo falou? Que tal? Muito bem, vamos lá então!
Sobre a expressão “Eu Sou” em João capítulo 8, a Bíblia de Jerusalém, numa nota ao pé de página, afirma: “EU SOU é o nome divino revelado a Moisés…. Atribuindo-se esse nome a si mesmo, Jesus apresenta-se como o único e verdadeiro Salvador, para o qual tendiam a fé e a esperança de Israel.” Isso está em harmonia com a opinião do Marcelo. Pois muito bem. Vejamos o desenrolar dessa conversa entre Jesus e os judeus, para verificarmos se o uso da expressão “eu sou” foi realmente o que escandalizou os judeus. Usemos, inicialmente, a própria Bíblia de Jerusalém.
> Bíblia de Jerusalém, Edições Paulinas, 1992:
– João 8:23-24: ” ‘Vós sois daqui de baixo e eu sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Disse-vos que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que EU SOU, morrereis em vossos pecados’. Diziam-lhe então: ‘Quem és tu?’”
Como podem ver, muito embora a afirmação sue generis da sua origem extraterrestre, Jesus não causou nenhum espanto nos judeus quando disse “eu sou”, na passagem acima. Os judeus de forma alguma entenderam que Jesus dizia que era o Deus de Israel. Ao contrário de Êxodo 3:10, a expressão “eu sou” não está sendo usada com função de nome identificador, é tanto que não causou reação nos judeus. É tão evidente que esse não era o caso, que quando Jesus disse “eu sou”, os seus opositores perguntaram: “Quem és tu?”, talvez como se dissessem: “Eu sou? eu sou? eu sou quem?”, ou então: “Tu és de outro mundo? Quem tu és?”. Se falar “eu sou” significasse uma auto-identificação não haveria necessidade dessa pergunta feita pelos judeus. Se fosse como os trinitaristas entendem, essa pergunta nem teria sido feita, pois os judeus já teriam corrido para pegar pedras e atirá-las em Jesus. Parece-me muito claro que Jesus estava falando de suas origens.
O que Carlos aparentemente quer dizer é que Jesus falou várias vezes “eu sou” em João (como esses versículos citados) e não foi senão Jo.8.58 que os judeus tentaram lhe apedrejar. A pergunta é: por que então não tentaram antes, quando ele falou “eu sou”? A resposta encontraremos no grego. Em português (ou outra língua em que a Bíblia é traduzida) algumas nuances do grego podem passar desapercebidas.
Para início de conversa, “eu sou” em grego é ego eimi (tempo presente do indicativo). Jesus usou “eu sou” realmente em Jo.823-24;28;58. A Bíblia de Jerusalém – BJ (na minha opinião, a versão mais correta da Bíblia em português) traduz as três vezes em que aparece como “EU SOU” (tanto faz maiúsculo ou minúsculo). A bíblia TJ, a TNM, traduz Jo.8.58 como: “eu tenho sido”.
Se ficarmos só na interpretaão em português, poderemos ficar emperrados, tendo que ver o contexto para saber qual a interpretação. Mas existe uma maneira mais rápida (mas não tão simples) de descobrirmos. Veja o que diz o Quadros Verbais do Novo Testamento, de A. T. Robertson:
Jo.8.24 – “que eu sou” (oti ego eimi). Discurso indireto, mas sem predicado depois da cópula ego eimi. Jesus pode querer dizer “que eu sou de cima” (v. 23), “que eu sou o enviado do Pai ou o Messias” (7:18,28), “que eu sou a Luz do Mundo” (8:12), “que eu sou o Libertador da escravidão do pecado” (8:28,31,36), “que eu sou” sem proporcionar um predicado no sentido absoluto como os judeus (De 32:39) usado por Jeová (cf. Isa 43:10 onde as mesmas palabras ocorrem ina pisteushte—oti ego eimi). A frase ego eimi ocorre três vezes aqui (8:24,28,58) e também em 13:19. Jesus parece exigir ser o ser divino absoluto como em 8:58.
Entendeu, Carlos? O grego é que mostra a forma de tradução dos vv. 24,28 e 58. No v. 24, Jesus estava só dizendo que Ele “vinha de cima” (os judeus sabiam muito bem o que Ele quis dizer, veja Mr. 13.6 e Mt.24.5). Carlos, eu não digo que toda vez que Jesus falava “EU SOU” Ele estava querendo uma identificação com Jeová (não que Ele e Jeová fossem o mesmo. Eu não creio no modalismo). Nem o “EU SOU” de Jo.8.58 e Ex..3.14 é um título. As Tj é que pensam que nós dizemos isso. O “EU SOU” de Jo. 8.58 se refere a EXISTÊNCIA ETERNA (sem começo) de Cristo, não um TÍTULO (e nisto até as TJ concordam, mas vamos ver depois como distorcem este entendimento). Aliás, Carlos, nem digo que Jo. 8.58 se refere tanto a Ex.3.14 mas a Is. 43.10 (que vamos ver depois).
>> – João 8:57-59: “Disseram-lhe, então, os judeus: ‘Não tens ainda cinqüenta anos e viste Abraão! [?] Jesus lhes disse: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU.’ Então apanharam pedras para atirar nele.”
Ôpa! Vemos algo fantástico aqui. Jesus disse que viu Abraão! Ora, se Abraão já estava morto há uns dois mil anos, significaria que Jesus teria, pelo menos, essa idade. Isso deve ter soado bem espantoso para os judeus, pois eles viam que Jesus era um jovem, e não alguém de origem remota no passado. Nesse ponto do relato, o uso das palavras “eu sou” não foi nenhuma novidade, pois Jesus já tinha feito uso delas sem que isso lhe gerasse conseqüências.
Não tinha “gerado conseqüências” porque há uma regra gramatical aqui que explica o porquê. Não é verdade, Carlos, que os três usos de “eu sou” são iguais. Vamos ver o porquê abaixo.
>> Certamente, há tradutores trinitaristas que percebem que os judeus só tentaram apedrejar Jesus na terceira vez que ele disse “eu sou”, e que nas outras vezes isso não causou nenhum problema. Esse deve ter sido o caso do Frei franciscano Pedreira de Castro. Note como é a versão dele para esse relato.
Em português a maioria das versões traduzem ego eimi como “eu sou” nas três passagens. A frase “ego eimi” é bastante comum e ocorre em cerca de 24 versículos diferentes em João. Estes podem ser colocados em duas categorias: 1. Na maioria das vezes “ego eimi” é seguido de predicado (exemplo: “Eu sou a luz” 8:12 ou ICr. 21:17 na LXX: “Disse Davi a Deus:…Realmente, eu sou [ego eimi] o que pecou “) 2. há 8 vezes onde “ego eimi” está sem o predicado. Não há nada incomum com 8 dos 9 versículos. O que diferencia Jo. 8:58 dos outros usos, não é o “predicado” mas é o único caso onde a “existência no tempo”se constrasta com uma forma mais incomum, gramatical. Quando Jesus disse: “antes que Abraão existisse, eu sou” não é a forma normal de falarmos sobre nossa existência passada (preexistência entre a origem e o tempo presente). O meio mais natural de falarmos em português seria: “antes de Abraão nascer, eu era” ou “eu já era antes de Abraão nascer” ou mais naturalmente, “eu nasci, antes que Abraão nascesse”. Mas o texto contrasta claramente o tempo passado da existência de Abraão com o tempo presente de existência de Jesus. Jesus disse literalmente: “antes que Abraão existisse, eu sou”. Literalmente, Jesus falou numa gramática muito incomum, “eu existo agora antes de Abraão nascer”. É este o uso único de contrastar o passado e o presente, que faz Jo. 8:58 tão claro. Os judeus entenderam este contraste e interpretaram como uma afirmação de existência sem início e por isso quiseram apedrejar Jesus. O outro único caso que aparece este uso do tempo presente é em referência a Deus no Velho Testamento. Ex 3:14, “eu SOU me enviou a vós”.
Parece complicado, mas é só entendermos que nos vv.24 e 28 o “eu sou” tem predicado e no 58 não tem, além do que quer dizer “Abraão teve um início, eu não”.
>> Observamos que Pedreira de Castro deu um enfoque diferenciado no terceiro uso de “eu sou”. Isso explica, até certo ponto, porque os judeus não se espantaram nas duas primeiras ocasiões em que Jesus disse “eu sou”. Mas lembre-se que aqui temos uma tradução, tentando reconstruir o entendimento daquela discussão entre Jesus e alguns judeus. Nos três casos houve o uso da mesma expressão: “eu sou”. Então, a pergunta continua: por que os judeus não ligaram para o “eu sou” nas duas primeiras citações? Podemos avançar um pouquinho mais, e caminhar para a resposta. Vejamos como o conhecido professor de língua grega Edgar Goodspeed traduziu essas passagens.
Sim. Pedreira de Castro interpretou corretamente (é claro que as palavras que eu colocou em colchetes não estão no grego – ouviu, Torre de Vigia?:) Para a resposta a sua pergunta, veja acima. E a tradução de Goodspeed, apesar dele ser um erudito respeitado, é liberal e tem muitas liberdades no grego. As TJ gostam muito de citar outras versões que traduzem parecido com a TNM. Mas não dizem que essas versões são obscuras, obsoletas, algumas liberais e feitas antes das novas descobertas.
>> Por essa versão, percebemos mais claramente porque das três citações somente a terceira teve um forte impacto. Passamos a entender porque a expressão literal “eu sou” não foi o fator preponderante em nenhuma das citações, e sim o sentido que ela adquiriu na terceira passagem (isso será analisado daqui à pouco).
Sim. Até aí concordo, mesmo que não concorde com a tradução de Goodspeed e Moffatt. O que está em jogo aqui é que as TJ continuam insistindo que nós, trinitarianos, dizem que Jo.8.58 Jesus usa como um título de sua pessoa. NÃO. Ele o usa como uma forma de falar de sua EXISTÊNCIA ETERNA (Jesus não foi criado como as TJ dizem).
>> Portanto, somente a terceira passagem chamou a atenção dos judeus, induzindo-os à violência. Eles ouviram Jesus dizer que antes de Abraão existir ele já existia, tendo então bem mais de dois mil anos. Esse é o ponto! Jesus em diversas outras ocasiões também enfatiza a sua existência pré-humana (João 3:13; 6:32, 33, 38; 6:50, 51; 6:62; 8:42; 17:5, 24), e é isso o que ele fez em João 8:58.
Várias traduções desde o quarto século EC mostram claramente que Jesus, em João 8:58, estava falando da sua “idade”, e não da sua identidade:
O que está em discussão aqui é a forma como a TNM manipula a forma ego eimi (no presente) em Jo.8.58 e não Jo.3.13 (que não diz nada de Eu Sou). Concordo com você nestes versículos citados, mas as TJ ensinam que Jesus foi criado! Mudar Jo.8.58 para “eu tenho sido” é gravíssimo sim e não importa quantas versões traga parecida. Todas serão erradas neste ponto se fizerem o mesmo. Carlos, em Jo.8.58 ele não diz meramente que “já existia” antes de Abraão, mas o grego diz bem claro que Ele “não teve princípio” e “Abraão sim”. É um constraste e não tem nada a ver com esses versículos acima.
Sim. Jesus falava de sua “idade”. Não disse que era de sua identidade (o EU SOU não é um nome, mas significa “Eu Sou por mim mesmo” ou “Eu existo”). É esse contraste que a Torre não quer que você veja: que Jesus nunca teve princípio mas Abraão sim. A Torre, com essas traduções, diz: “Jesus existia em forma pré-humana, tendo um princípio”, coisa que no grego não existe. Desde a época em que a primeira edição da TNM foi lançada em 1950, a Sociedade tem tido grande trabalho em alterar este versículo (e explicar por que fez isso). Todas as outras Bíblias terminam este versículo com as palavras “EU SOU”, que em grego é “ego eimi”.
A TNM oferece notas de referência para “explicar” por que fez isso. E inventam várias regras “gramaticais” para tanto. A Sociedade disse que “ego eimi” estava no:
1950 – tempo perfeito indefinido – [não há este tempo em QUALQUER idioma!]
1969 – tempo perfeito – [Isto é impossível para o verbo “ser”]
1985 – tempo indicativo perfeito – [Isto também está errado – está no tempo presente simples.]
É muito mais interessante vermos como pode a Tradução Interlinear do Reino traduzir Jo.8.58 como “eu sou” e na coluna da direita a TNM traduz como “eu tenho sido”. Pode me explicar isso? Por que sua própria NM não segue sua Interlinear?
>> 2) A gramática do texto
Sobre este ponto em questão, o professor universitário de língua grega, Nicholas Kip, fez o seguinte comentário:
“Em alguns lugares, os trinitaristas manipulam claramente a evidência. O exemplo clássico disto é, acho eu, João 8:58. Ali, Jesus disse: ‘Antes que Abraão existisse eu sou.’ (Almeida) Os trinitaristas pegam este uso de ‘eu sou’, por parte de Jesus aqui, e relacionam-no com a declaração feita por Jeová a Moisés, em Êxodo 3:14 (Al): ‘Eu sou o que sou.’ Visto que tanto Jesus como Jeová usaram a expressão ‘Eu sou’, eles argumentam que isto faz com que Jesus e Jeová sejam uma só pessoa. E o radical grego realmente diz sou no presente, em João 8:58.
“No entanto, até as próprias gramáticas de teologia deles reconhecem que, quando uma expressão aparece no tempo passado na sentença, o verbo no presente pode às vezes ser traduzido como se já tivesse iniciado no passado e prosseguido até o presente. Isto também ocorre no francês e no latim. Por isso, quando a Tradução do Novo Mundo diz ‘eu tenho sido’, em vez de ‘eu sou’, ela está traduzindo corretamente o grego. (João 8:58) Todavia, os trinitaristas agem como se: ‘Não, isso nem mesmo é possível!’ Assim, comecei a notar esta distorção da evidência por parte dos detratores da Sociedade.” – Despertai!, de 22 de março de 1987, p. 14.
Bom, uma coisa é certa: não confie nas citações que a Torre faz de terceiros. Ainda mais se for de alguém que nutre simpatia pela NM. Kip faz parte de uma nova turma de apologistas TJ que tentam usar a erudição para defender a Torre. Kip está redondamente enganado. Para ver a relação com Ex. 3.14 veja aqui. “Manipular a evidência” é risível. A Torre é que manipula, com suas modificações em Jo.1.1, por exemplo. Veja esta explicação para o caso:
“Nem eu desaprovo a opinião de Crisóstomo, que o tempo presente do verbo é enfático; porque ele não diz ‘eu era’ mas ‘eu sou’; porque ele denota uma condição uniformemente a mesma do princípio ao fim. E ele não diz: ‘antes que Abraão fosse’ mas, ‘antes que Abraão fosse FEITO’, que implica que Abraão teve um princípio. (Comentário de João Calvino em Jo. 8:58)
As TJ citam alguns “especialistas” de “gato pingado” (desculpe a expressão) aqui e ali só para dar a impressão de “erudição”. Mas a maioria dos especialistas de grego são opositores da NM. O que a Torre quer fazer é esconder o fato que Jo.8.58 prova que Jesus NÃO TEVE PRINCÍPIO.
>> b) Exemplos bíblicos
> João 14:9
“Por tanto tempo convosco eu sou e não tens me conhecido?” – O Novo Testamento no Grego Original, de B. F. Westcott e F. J. A. Hort (1881).
Aparentemente, Carlos deseja mostrar que ego eimi pode ser flexionado em vários tempos verbais (inclusive o ‘eu tenho sido’). Mas o ego eimi de Jo.8.58 não tem predicado e por isso denota um tempo absoluto. A construção, no grego, de Jo.14.9 não tem nada a ver com Jo.8.58. Já afirmei que não é toda vez que aparece “eu sou” em João que significa o EU SOU de Êxodo. Jo.8.58 é único, não tem comparação.
> João 7:36
“Onde eu sou vós não estais aptos a vir.” – O Novo Testamento no Grego Original, de B. F. Westcott e F. J. A. Hort (1881).
Tradução literal:
Álvaro Negromonte: “Onde Eu estou vós não podeis ir.”
Centro Bíblico Católico: “Onde eu estou para lá não podereis ir.”
Não, Carlos. Não é a mesma coisa. Estes tradutores estão certos mas parece que sua opinião é que não está. A construção no grego de Jo. 8.58 é muito diferente destes vv que você cita. Jo.8.58 diz “ego eimi” no absoluto. Mas Jo.14.9 diz “umon eimi”, Jo.7.36 diz: “opou eimi ego”. Na dúvida, consulte o grego.
>> Ah! Agora o texto faz mais sentido! Jesus iria para o céu, e ninguém poderia ir atrás. Vejam que a expressão “eu sou” foi traduzida por “eu vou”, “vou estar” e “estarei”, embora o verbo (Eimi) esteja no presente, e não no futuro.
Esqueceu de mencionar que em nenhum desses versículos aparece ego eimi. Só o eimi (ser). Você não está conjugando bem os tempos, amigão.
>> 3) A Septüaginta e o uso da Expressão Eimi.
É muito comum notas de pé de página em versões de tradutores trinitários mencionarem que os judeus do primeiro século viam na expressão “ego eimi” um sinônimo de “Jeová”. O detalhe é que eles não mencionam provas documentais desse entendimento. Francamente, eu nunca vi nada que comprove isso.
Só não vê esta relação quem não entende os tempos em grego (aliás, Carlos, você deve admitir que a Torre foi absolutamente DESONESTA em mudar tantas vezes a forma como dizia eimi: perfeito indefinido, perfeito histórico, etc. Como alguém pode confiar numa tradução que não tem certeza de que tempo está o simples presente?)
Para ver a COMPLETA relação veja o meu artigo sobre as respostas a Jo. 8,58. Só alguém que não conhece hebraico ou grego ou tem um fã clube da torre de Vigia pode ainda acreditar nela.
>> Mas posso adiantar que parece que a filosofia de escritores não-cristãos como Platão influenciaram o desenvolvimento dessa teoria. É essa linha de pensamento que faz com que muitos tradutores prefiram traduzir o verbo “eimi” no presente, ao invés de fazer a adaptação temporal.
É essa a linha de pensamento que a Torre impinge em seus seguidores (não estou falando que é o caso do Carlos, que pode ter sua opinião própria). Diz que a Trindade e outros conceitos cristãos foram influenciados pelo “paganismo” platônico, socrático, etc. Nada mais errado. Parece que fizeram história por correspondência. Desculpe, Carlos, mas eu mostrei provas contextuais da ligação João-Êxodo e você não me mostrou NENHUMA que essa “teoria” é pagã (sic). A NM diz que não é uma PARÁFRASE mas traduz sempre ego eimi por “eu sou” menos em Jo.8.58. Que descaramento dela! Sua idéia é ingênua e sem sentido.
>> Pelo visto, eles acham que fazendo assim proporcionam um aspecto filosófico e transcendental às declarações de Cristo, confundindo a existência de Jesus com a eternidade do Pai – o Ser sempre Existente.
Hã? “eles acham que fazendo assim”? Agora que te mostrei como o grego não permite traduzir “eu tenho sido” essa sua alegação que nós, trinitários, traduzimos porque “cremos na Trindade” vai para o beleléu.
>> Por que transformar uma expressão de uso corriqueiro num carregado sentido teológico?
Desculpe, mas agora vou rir de verdade. A Torre de Vigia é que faz bagunça, publica dezenas e dezenas de brochuras, artigos e matérias só para provar que a tradução dos “trinitários” está errada e você diz que “nós” é que fazemos alvoroço? Quer dizer, a TNM começou e “nós” é que fazemos alarde? Parece que vc não leu toda a literatura TJ que é na maioria contra a tradução de nossas bíblias.
>> “Se os doutores, teólogos e filósofos acreditam assim, quem eu sou para discordar?” No entanto, uma simples leitura atenta como fizemos no ponto “1” é suficiente para desmontar uma teoria humana, ou, pelo menos, para mostrar que a coisa não é tão imutável quanto se pensava.
Não creio em algo só porque algume erudito disse mas porque vejo que ele está certo. Quem é “Maria vai com as outras” (desculpe) são as TJ, que admitem tudo o que a Torre diz, mesmo que absurdo. E o seu ponto ‘ foi demonstrado falho, como vimos, pois o EU SOU nos três casos são diferentes.
>> Uma outra coisa que vale salientar é que a Septuaginta (LXX) não usa a expressão “ego eimi” (de Êxodo) na forma simples em que ela aparece em João. Na LXX, Êxodo 3:14 está da seguinte maneira:
Disse Jeová: “Eu Sou o Ser” ou “Eu Sou o Existente”. (em grego: Egó eimi ho on)
Carlos, para uma resposta COMPLETA a isto, veja meu artigo de respostas a Jo. 8,58.
>> Se houvesse alguma reverência ou restrição quanto ao uso de eimi, no presente, eu creio que seria mais lógico achar que isso pudesse se referir à expressão completa conforme aparece na LXX (egó eimi ho on), e não na forma simples (egó eimi ou Eimi). Mesmo no Antigo Testamento encontra-se Egó eimi sendo utilizada por um humano (1 Crônicas 21:17). O apóstolo Paulo também usou a expressão “eu sou” referindo-se a si mesmo:
“Cristo Jesus veio ao mundo para pecadores salvar, dos quais o primeiro eu sou.” – O Novo Testamento no Grego Original, de B. F. Westcott e F. J. A. Hort (1881).
Para esta resposta, veja o link acima. Em Is. 45:18, onde Deus diz: “eu sou Yahweh” (heb, ANI HU YHWH), a LXX traduz como o predicado absoluto “ego eimi”. A nota de rodapé da Tradução do Novo Mundo de 1984 em Ex 3:14, mostra que o hebracio seria traduzido em grego como “ego eimi” (“eu sou”). Compare com a Tradução Interlinear do Reino de 1985 que mostra que palavras de Jesus em Jo. 8:58 são as mesmas: “ego eimi” (“eu sou”).
A sua insinuação que outros também usaram “eu sou” não tem sentido. Lendo só EM PORTUGUÊS poder parecer a mesma coisa mas em GREGO Jo.8.58 tem muita força e isto você não pode negar. Compara alguém que teve origem (Abraão) com alguém que não teve origem (Jesus). Capicce?
Jo. 8:58 é mais paralelo ao Sl. 90:2. Nenhuma Testemunha de Jeová vai negar que o contraste entre o criado e o Deus eterno é bem claro no Sl. 90:2. Negar o mesmo em Jo. 8:58 é pura desonestidade.
>> Se em João 8;58 Jesus tivesse dito: “Eu sou o EU SOU”, ou “Eu sou o Ser”, ou ainda “Eu Sou o Existente”, seria diferente, porque a fraseologia da Septuaginta seria claramente perceptível. Mas ele fez um uso simples, e comum na língua grega, do verbo ser, conforme analisado no ponto “2”. Essa divinização de uma expressão grega é tão arriscada que nem sempre é possível divinizá-la, mesmo quando sai da boca do Mestre. Lembram da noite em que ele foi capturado, depois da traição de Judas?” Essa mesmíssima expressão “ego eimi” foi utilizada. Vejam:
“[Jesus] lhes disse: ‘A quem procurais? Responderam: ‘Jesus, o Nazareu.’ [Jesus] disse-lhes: ‘sou eu’ [ego eimi].” – João 18:4, 5.
Se você lesse as explicações acima, sobre a gramática do grego, iria saber que não foi “nenhuma teoria pagã do platonismo” ou invenção moderna, mas o grego mesmo contrasta a criação de Abraão e a eternidade de Jesus. A Torre é que faz baderna na cabeça dos membros inventando mil explicações para negar isso.
>> Fugir do sentido simples e específico do versículo, e colocar “Eu Sou” nessa passagem seria forçar o sentido do texto. Por isso, normalmente se traduz “sou eu”, embora no grego esteja “eu sou” (a ordem não importa, a não ser para melhorar a naturalidade em nossa língua). Deve ter sido por causa dessa ordem mais natural que a Tradução do Novo Mundo verteu João 8:28 da seguinte maneira:
“Uma vez que tiverdes erguido o Filho do homem, então sabereis que sou eu e que não faço nada de minha própria iniciativa.” (Ela não não ordenou as palavras da forma mais comumente usada – “eu sou”.).
Isto é uma interpretação pessoal e não a gramática de Jo.8.58. Se você me provar que Sl. 90.2 não contrasta a criação com o Criador eu viro uma Testemunha de Jeová agora mesmo! Não tem negação. Vejamos o salmo:
“Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus”
Se ele lesse como Jo.8.58 na TNM, seria:
“Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, desde um certo tempo, tu és Deus”
Notou? Esta segunda versão está errada, porque não diz isso. A primeira é a correta. Da mesma forma Jo.8.58 nas outras bíblias não-TJ.
>> Conclusão:
Como eu disse na mensagem prévia que eu havia enviado ao Walter, sinceramente eu não sei porque as pessoas criam tanta polêmica sobre essa passagem (João 8:58), uma vez que está muito claro (agora mais ainda, espero) que, pelo menos, ninguém pode ter certeza que ela se refere ao “Eu Sou” mencionado em Êxodo. Só o que eu comentei aqui é suficiente para não se ser dogmático.
Sim, podemos ter tanta certeza como 2+2=4. Porque você analisou só o PORTUGUÊS aqui e nem tanto o grego, que já provei, não tem como ser traduzido de outra forma (ou INTERPRETADO de outra forma). Não é verdade que os trinitários fazem polêmica. Quem faz é a Torre que escreve toneladas de artigos só para desmentir as traduções tradicionais e tirar a divindade de Jesus. Sempre a maioria dos cristãos entenderam que Jesus era Deus até chegar as Testemunhas no séc. XIX e bagunçar o coreto tirando a divindade de Jesus e mudando a Bíblia. Quem está fazendo polêmica?