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Resposta ao Fábio Sabino: a homossexualidade e a Bíblia


Esse Fábio Sabino é um cara muito insistente em seus nonsenses. Agora parte para tentar fazer apologia de que a Bíblia, ou o judaísmo e o cristianismo, não condenam ou têm críticas válidas contra a prática homossexual. É mesmo? Vamos responder abaixo a cada um dos textos utilizados por ele:

Lv. 18,22 – A lei de Moisés não tem nada de ambígua. Duas vezes, no livro de Levítico, declara-se precisamente a proibição contra o homossexualismo (e, no mesmo contexto, contra o incesto e a bestialidade). A tradução de Levítico 18,22 na New English Bible (Nova Bíblia Inglesa) é: “Não deves deitar-te com um homem como se fosse mulher: isso é abominação.” Em sua paráfrase deste mesmo versículo, The Living Bible (A Bíblia Viva) assim se expressa: “O homossexualismo é absolutamente proibido, pois é um pecado enorme.” Qual era a sanção então imposta por tal ofensa? Novamente, a paráfrase de The Living Bible reza: “A penalidade por atos homossexuais é a morte de ambas as partes. Elas a trouxeram sobre si mesmas.” (Lev. 20,13) Explanando a palavra “abominação” amiúde usada numa tradução literal deste versículo, The Amplified Bible fornece como alternativas “— perverso, desnatural, execrável e detestável”.
Destas duas referências torna-se evidente que o homossexualismo era plenamente entendido e praticado há quase 4.000 anos atrás. Também, que Deus tomou posição firme contra isso, no que dizia respeito à adoração verdadeira. Jamais foi um modo de vida aprovado por Deus.
A Nova Vulgata reza: Cum masculo non commisceberis coitu femineo: abominatio est. Ou seja, e daí se foi praticada tanto no Egito como em Canaã, Sabino? A condenação continua enfática e não tem o mínimo sentido de ser temporária. Lembrando que não estou afirmando que as Escrituras dizem que a homossexualidade é antinatural mas sim que a prática é pecaminosa. Por não entenderem isso é que muito engolem as bobagens que esse Fábio Sabino gnóstico fala.
Engraçado que o sujeito começa falando que “não vai comentar impondo sua própria ideologia. Só vai expor o texto”. Mas o faz sem analisar que está exposto na Torá, que é pertencente ao judaísmo também. Assim, temos que entender do ponto de vista judaico toda a questão também. De acordo com o Talmud, a homossexualidade é proibida entre os não-judeus, e está incluída entre as restrições sexuais da Leis de Noé. As relações sexuais proibidas no judaísmo (איסורי ביאה Isurey bi’ah) são as relações íntimas que são proibidas por proibições na Torá e também pelas injunções rabínicas. Algumas destas proibições, enumeradas em Levítico 18, conhecido como arayot (hebraico: falta de castidade) – são consideradas uma transgressão tão grave da lei judaica que se deve dar a própria vida ao invés de transgredir uma delas (isto não se aplica necessariamente a uma vítima de estupro.) Isto é ao contrário da maioria de outras proibições, em que geralmente é necessário transgredir o mandamento quando uma vida está em jogo.

O judaísmo ortodoxo interpreta (Levítico 18,22) como uma proibição de homens deitarem com outros homens da mesma maneira que fariam com uma mulher, e chama isso de abominação (Levíticos 18,14 especificamente proíbe tais relações com um pai ou um tio.)

Há três razões rabínicas pela quais homens que fazem relações com outros homens são proibidas pela lei judaica:

  1. É um desafio da anatomia de gênero, que é diferente de intenção de procriação e atividade sexual de Deus.
  2. A excitação sexual resultante envolvia uma emissão inútil de sêmen.
  3. Ela pode levar um homem a abandonar sua família.

Não há proibição explícita na Torá contra a relação sexual entre duas mulheres, mas a lei judaica proíbe sob a categoria de “as atividades do (antigo) Egito” (ver Levítico 18,03). No entanto, isso não é considerado adultério, e não proíbe a mulher de um sacerdote.

Desejar e ter ídolos das nações que os judeus conquistavam é considerado uma toaiva (abominação). Comer alimentos não-kosher é também chamado de toaiva. Há uma declaração geral de que todos os costumes das nações de Canaã são considerados toaiva. Depois, há uma advertência gera para não aprender ou o copiar toaiva – abominações de todas as nações cananitas. Isto é seguido por alguns exemplos (mencionados acima), incluindo o sacrifício de crianças para seus deuses, usar um vidente ou adivinho para entrar em contato com os mortos ou prever o futuro. Então, Deus diz que é porque essas nações fizeram todos esses atos de toaiva. Por isso que, neste contexto, a expulsão ou execução de “homens dormindo com outros homens” tinha uma admoestação e execução são sérias (morte). E por isso, vale frisar, que se referia à época de “purificação” do povo hebraico e israelita dos costumes pagãos. Obviamente, a prática homossexual (sexo anal) sempre foi vista como antiética pelo judaísmo tradicional. O que todos esses atos têm em comum? São costumes pagãos das sociedades cujos valores são a antítese ao judaísmo. Deus adverte enfaticamente o povo judeu a não aprender estes costumes ou seguirem estes valores. Com base nisso, a homossexualidade , também chamada de toaiva, pode ser entendida como um valor social e do pecado que é alheio ao judaísmo e os valores judaicos, e não deve ser aprendida das sociedades onde os judeus viviam ou conquistaram.

O judaísmo separa entre o desejo do pecado e o ato do pecado em si . Em todos os domínios da vida , o judaísmo reconhece que os judeus , como seres humanos normais, têm desejos de cometer pecados. A premissa do conceito da batalha interna entre o bem e o mal e a inclinação é baseado em Manis desejo normal a pecar . É só por causa do grande desejo , que é normal, que a Torá proíbe
todo homem judeu de estar a sós com uma mulher (yichud) . Da mesma forma, como a Torá reconhece o desejo normal entre os homens a ter atividade sexual (em certas sociedades) a Halachá proíbe-os de estar juntos (nas sociedades) . Mas a Torá diz repetidamente (Números 15,39, por exemplo) a não agir e não seguir esses desejos. Enquanto os desejos são normais e não
proibidos, agir sobre esses desejos viola os princípios judaicos e lei judaica.
Assim, ao mesmo tempo que é normal para um homem heterossexual casado desejar uma bela mulher casada que não seja sua esposa, agir sobre este desejo viola o sétimo dos Dez Mandamentos. Da mesma forma, enquanto a Torá pode entender o desejo homossexual, agir sobre ele é proibido . Portanto, a Midraxe diz especificamente ensina que um judeu não deveria dizer “eu não posso desejar o que é proibido” e sim que “eu não deveria PRATICAR isso, dado que Deus me ensina a não agir de acordo com esses desejos”. Toda sociedade, mesmo secular, exige que os desejos sexuais ser mantido sob controle e regula agindo sobre sua sexual desejos. O judaísmo faz isso muito bem, e, portanto, proíbe o homem de agir em seu desejo homossexual.

Ninguém nunca disse que as práticas homossexuais não existiram no Egito ou em Canaã. A questão é o aspecto moral disto. As relações homossexuais, obviamente, envolvem penetração anal e outras carícias. De um ponto de vista bíblico, obviamente que procurar prazer por prazer e simplesmente sua própria satisfação egoísta vai claramente contra todos os postulados das Escrituras.
A confusão mirabolante que o sujeito faz em 3:43 é sofrível, alegando que o escritor de Levítico quer meramente fazer distinções, por meio de estatutos, entre o monoteísmo e politeísmo. Ridículo.  O judaísmo tradicional considera os atos homossexuais como uma violação da lei judaica (halakha). Nunca ouvi comentarista algum alegar que a condenação da prática homossexual como sendo imoral (não disse antinatural) era só aos povos do Egito e Canaã. Esse Sabino é um ludibriador de carteirinha. De acordo com a Bíblia, os atos homossexuais são “to’evah,” uma abominação. Além disso, a Torá condena o ato homossexual, e não o amor homossexual ou o desejo homossexual. “O judaísmo não proíbe o amor homossexual. Aos olhos do judaísmo o amor entre dois homens ou duas mulheres pode ser tão natural como o amor entre um homem e uma mulher. O que ela proíbe é a relação homossexual.”É isso o que o gnóstico do Fábio Sabino finge em não entender.

Lv. 20,23 – que toque de “jênio” observar isso, Sabino. Mas é óbvio que tanto a prática homossexual quanto outras manifestações de sexo já existiam e não havia estatuto para isso. Óbvio. O que nos diz o v. 24c? Sou o Senhor, vosso Deus, que vos separei dos povos. Veja: SEPAREI. Isto denota que as leis e estatutos foram exatamente para separar (daí deriva a palavra “santo”) das práticas errôneas e imorais de outros. O que há de novo aqui?

Dt. 23,18 – Aqui se refere a um pederasta, alguém que pratica o coito anal. Deus falou ali contra alguém tornar-se homem que se prostitua no serviço dum templo (“ou ‘catamito’, menino mantido para fins de perversão sexual”). Estes versículos proibiam também que alguém trouxesse à “casa do Senhor” o preço dum “cão” (“provavelmente um pederasta; alguém que praticasse cópula anal, especialmente com um menino”). Essas referências bíblicas e seculares confirmam o que o Logos considerou referente a um adulto usar uma criança para fins de abuso sexual, incluindo carícias íntimas.  Todos aqueles que, semelhantes a cães necrófagos das ruas, praticam coisas repugnantes, tais como a sodomia, o lesbianismo, a depravação e a crueldade, têm barrado seu acesso à Nova Jerusalém. — Ap. 22,15; veja também Fil. 3,2.

IRe. 15,12. É óbvio que as práticas da imoralidade existiam, Sabino. Ninguém está negando isso. Isso não tira o mérito da admoestação judaica em seu todo de que a prática homossexual é imoral.

IIRe. 23,7 – Esse Sabino é ardilosamente desonesto. Alega que “no próprio templo existia a prática homossexual e era comum no povo hebreu”. Somente alguém extremamente desonesto para ocultar os fatos aqui. A adoração degradada de Axerá (deusa pagã mãe de Baal) veio a ser praticada no próprio templo do Senhor. O Rei Manassés chegou a colocar ali uma imagem esculpida do poste sagrado, evidentemente uma representação da deusa Axerá. (2Rs 21,7) Manassés foi disciplinado por ser levado cativo para Babilônia, e, ao voltar a Jerusalém, mostrou que se beneficiou da disciplina e purificou a casa de Deus dos itens de idolatria. Contudo, seu filho, Amom, deu prosseguimento à degradante adoração de Baal e de Axerá, junto com a acompanhante prostituição cerimonial. (2Cr 33,11-13, 15, 21-23) Isto tornou necessário que o justo Rei Josias, que sucedeu a Amom no trono, demolisse “as casas dos homens que se prostituíam no serviço dum templo, que havia na casa de Jeová, onde as mulheres teciam sacrários de tenda para o poste sagrado”. — 2Rs 23,4-7. Quer dizer, só por que também a adoração iníqua, a idolatria e outras imoralidades eram “comuns” por causa da apostasia de certos reis, isso significa que a prática homossexual era endossada? A prostituição no templo constituía uma modalidade destacada da religião falsa. O historiador Heródoto (Clássicos Jackson, Vol. XXIII, I, 199) relata: “Os babilônios possuem, todavia, uma lei vergonhosa: Toda mulher nascida no país é obrigada, uma vez na vida, a ir ao templo de Vênus [Afrodite] para entregar-se a um estrangeiro.” As prostitutas de templo também estavam ligadas à adoração de Baal, Astorete, e outros deuses e deusas adorados em Canaã e em outras partes.

A prática homossexual pode ter sido comum mas nunca permitida dentro do povo judeu. E já vimos isso, onde é inclusive condenada como evah (abominação). Tanto Livros de Reis (1 Reis 14,24, 15,12, 22,46; 2 Reis 23,7), referem-se a intervalos históricos quando os Kadeshim (“os consagrados”) começaram a ter algum destaque na Terra Santa, até serem purgados pelo reis javistas revivalistas como Josafá e Josias.

Os kadeshim estavam ligados de alguma forma com os rituais da religião cananéia. A Bíblia hebraica consistentemente faz o paralelo entre o equivalente feminino, uma kedeshah, com zanah, a palavra para uma prostituta comum. Isto levou à conclusão de que pode ter havido um elemento sexual para os rituais. A versão King James  traduz sistematicamente a palavra como “sodomitas”, enquanto que o versão Revisada traduz como “prostitutos”. Em 1 Reis 15,12, a Septuaginta heleniza como teletai – personificações dos espíritos que presidiam a ritos de iniciação das orgias de Baco. Pode ter havido um elemento travesti também. Vários autores clássicos afirmam isso de iniciados masculinos de cultos deusa do Oriente, e na versão Padrão para todos esses quatro referências. São Jerônimo traduz kadeshim como “efeminados”. Os filhos de Israel são proibidos de se tornarem kadeshim e as filhas de Israel de se tornarem kadeshot. Em Deuteronômio 23,17-18, suas atividades são identificadas como “abominações”.

Seja qual for o significado de um culto kedeshah para um seguidor do religião cananéia, a Bíblia hebraica deixa claro que a prostituição cultual não tinha lugar no judaísmo. Assim, a versão hebraica de Deuteronômio 23,17-18 diz o seguinte:

Nenhuma das filhas de Israel será uma ‘kedeshah’, nem qualquer dos filhos de Israel será um ‘kadesh’. Não deveris trazer o aluguer de uma prostituta (‘zonah’) ou o salário de um cão (‘kelev’) na casa do Senhor, teu Deus, para pagar uma promessa, pois ambos são abomináveis ​​ao Senhor, teu Deus.

Stephen O. Murray descreveu passagens bíblicas proibindo o qdeshim e os liga com os deuses e “formas de adoração detestadas pelos seguidores ortodoxos de Yahweh (1). Celia Brewer Sinclair escreveu que “as exigências éticas do pacto impediam a adoração do Senhor em ritos sexuais licenciosos (prostituição sagrada)”Sacerdotes do sexo masculino que se envolvia em prostituições (homossexuais) sagradas foram chamados kadesh ou Qadesh (lit. “santos”), a palavra evoluiu do hebraico antigo para assumir um significado semelhante a “sodomita” (2). A palavra hebraica kelev (cão) na linha seguinte também pode significar um dançarino ou prostituta. As liminares contra a adoração externa, incluindo a prostituição sagrada masculina são, provavelmente, a causa original do que viria a tornar-se a condenação da homossexualidade do judaísmo. Assim, Sabino mente. Independente de ser “comum”, como alega, a prática homossexual nunca foi tratada como permissiva.

Rm. 1,23-32 – Sabino alega que a prática da homossexualidade é igualada a outros termos como malícia, injustiça, etc. e que não há uma condenação ou reprovação bíblica de que a prática homossexual seja imoral ou pecado. Além de já termos demonstrado, tanto por fatos históricos, como lexicográficos, de que é, Sabino oculta os fatos. A conduta descrita em Romanos 1,24-32 se refere aos judeus ou aos gentios? Essa descrição poderia se aplicar aos dois grupos, mas o apóstolo Paulo se referia especificamente aos israelitas do passado que, por séculos, falharam em cumprir a Lei. Eles conheciam os justos decretos de Deus, mas não viviam de acordo com eles. Sabino mente sobre o termo ‘mudaram’. Aqui, a construção comum do verbo allassein em grego quando isso significa “trocar”, ou é ti tinov, ou ti anti tinov, mas o apóstolo imita a construção hebraica, b Rygh, que pela LXX é traduzida em grego como allassein en, como no Sl 106,20​​. O sentido não é que eles mudaram uma coisa para outro, mas que eles trocaram uma coisa por outra.
Por isso… Não que Deus impôs sobre qualquer um deles, mas os deixou andarem de acordo com a  poluição da sua natureza, retirando suas restrições providenciais, e dando-lhes até dureza judicial. A  mensagem  total  dos  profetas  hebreus  era  que  neste  mundo  há  uma  ordem  moral.  A  conclusão  é  clara:  essa  ordem  moral  é  a  ira  de  Deus em ação. Deus fez este mundo de tal maneira que quebramos  suas leis por nossa conta e risco. Se fôssemos deixados somente à  mercê  desta  ordem  moral  inexorável  e  implacável,  não poderíamos  esperar mais que morte e destruição. Certamente, o mundo é feito de tal  maneira que a alma pecadora deve morrer — se somente agir a ordem  moral. Mas neste dilema do homem irrompe o amor de Deus, e este amor  de Deus, por um ato incrível de graça imerecida, arrebata o homem das  conseqüências do pecado e o salva da ira da qual se fez merecedor.

Deus entregou… “entregou”, aqui, em grego, é paredoken, O Quadros Verbais do Novo Testamento, do erudito A. T. Robertson, nos explica:

Primeiro aoristo verbo indicativo de paradidomi,  ativo antigo e com para entregar (ao lado, para) a sua potência como em # Mt 4,12. Essas pessoas já haviam deliberadamente abandonado a Deus, que apenas lhes deixou para a sua própria autodeterminação e autodestruição, parte do preço da liberdade moral do homem. Paulo refere-se a esta fase e estado do homem em At. 17,30 por “esquecidos” (uperidon). A retirada de restrição de Deus enviou homens mais profundamente para baixo. Por três vezes Paulo usa paredoken aqui (versículos 24,26,28), não três fases do entregas, mas uma repetição do mesmo levantamento. As palavras soam para nós como pregos sobre o caixão pelo fato de que Deus deixa os homens agirem por sua própria má vontade.

Mudaram a glória de Deus… Sabino deveria saber que o sentido correto é trocar e não mudar. A tese maluca e louca de Sabino é que “quem permitiu todas essas coisas, segundo a tese de Paulo? Foi Deus! Por que Deus permitiu? Por que a pessoa, primeiro, mudou a glória Dele para a glória de um homem e mudaram a verdade de Deus para adorar e servir a criatura e não o Criador. Então Deus ficou irado, e entregou para que essas pessoas fizessem o que quisessem da sua vida. É a tese de Paulo. É o que está escrito aqui”.
Deixemos o erudito William Barclay responder:

O  Dr. C. H. Dodd escreve sábia e profundamente sobre o assunto. Paulo  fala frequentemente desta ideia da ira. Mas o que chama a atenção é que  embora  fale  da  ira  de  Deus,  nunca  fala  de  que  Deus  estivesse  irado. Paulo fala do amor de Deus e do Deus amante. Fala da graça de Deus e do Deus graciosamente dadivoso, fala da fidelidade de Deus e do Deus  fiel a seu povo. Mas, surpreendentemente, embora fale da ira de Deus, nunca  se  refere  a  Deus  como  um  ser  encolerizado.  De  modo  que, portanto, aqui há algo diferente. Há algo distinto na relação entre o amor e a ira com Deus.
(…) Como  apareceria  e  operaria  esta  ira?  Seria  vista  como  cativeiro  e  derrota, e desastre nacional. Em outras palavras, a mensagem profética  era: “Se não forem obedientes a Deus, sua ira os sumirá com a ruína e o  desastre”.  Ezequiel  expressa  isto  mesmo  de  outra  maneira  vívida:  “A  alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18:4). Se puséssemos isto em linguagem moderna, deveríamos usar um tipo diferente de terminologia. Diríamos:  “Há  uma  ordem  moral  neste  mundo,  e  o  homem  que  transgrida a lei moral, mais cedo ou mais tarde, é sujeito a sofrimento.”
A  mensagem  total  dos  profetas  hebreus  era  que  neste  mundo  há uma  ordem  moral.  A  conclusão  é  clara:  essa  ordem  moral  é  a  ira  de Deus em ação. Deus fez este mundo de tal maneira que quebrantamos suas leis por nossa conta e risco. Agora, se fôssemos deixados somente à mercê  desta  ordem  moral  inexorável  e  implacável,  não  poderíamos
esperar mais que morte e destruição. Certamente, o mundo é feito de tal maneira que a alma pecadora deve morrer — se somente agir a ordem moral. Mas neste dilema do homem irrompe o amor de Deus, e este amor de Deus, por um ato incrível de graça imerecida, arrebata o homem das consequências do pecado e o salva da ira da qual se fez merecedor.

A forma mecanicista e de uma exegese superficial que Sabino faz é de doer. A  ira  de  Deus  é  o  castigo  inevitável  do  pecado.  Está  inscrita  na estrutura  do  universo.  E  é,  precisamente,  das  conseqüências  de  nossa rebelião  contra  essa  ordem  moral  que  nos  salva  o  amor  de  Deus,  pelo que Jesus fez por nós. O apóstolo Paulo talvez pensasse no comportamento decadente de pessoas no primeiro século quando escreveu: “Deus os entregou a ignominiosos apetites sexuais, pois tanto as suas fêmeas trocaram o uso natural de si mesmas por outro contrário à natureza; e, igualmente, até os varões abandonaram o uso natural da fêmea e ficaram violentamente inflamados na sua concupiscência de uns para com os outros, machos com machos, praticando o que é obsceno e recebendo em si mesmos a plena recompensa, que se devia ao seu erro.” (Romanos 1,26-27) Decidida a satisfazer desejos carnais impuros, a sociedade romana ficou inundada de vícios.
A História não esclarece quão prevalecente era o homossexualismo entre os romanos. Sem dúvida, porém, eles foram influenciados pelos seus predecessores gregos, entre os quais esse era amplamente praticado. Era costumeiro que homens mais velhos corrompessem meninos, tomando conta deles num relacionamento de estudante com instrutor, o que muitas vezes levava os jovens a um comportamento sexual deturpado. Sem dúvida, Satanás e seus demônios estavam por detrás de tais vícios e maus-tratos infligidos a crianças. — Joel 3,3; Judas 6, 7.
A carta inspirada de Paulo condenava assim a imoralidade sexual, dizendo que ‘fornicadores não herdariam o reino de Deus’. No entanto, depois de alistar diversos vícios, Paulo disse: “Isso é o que fostes alguns de vós. Mas vós fostes lavados.” Com a ajuda de Deus, era possível que transgressores se tornassem limpos aos olhos dele.
Note que o homossexualismo não só é chamado de ‘ignominioso’, “obsceno” e ‘impróprio’, mas também de “contrário à natureza”. Sobre esses versículos, certo relatório da igreja Anglicana diz: “O que Paulo quer dizer com ‘desnatural’ é ‘desnatural’ para a humanidade, no padrão da criação de Deus. Todo comportamento homossexual é uma divergência do projeto da criação de Deus.” O antropologista Weston LaBarre classificou-o de “frustração da natureza biológica essencial da pessoa e de outros”. Isto coincide com o significado da palavra grega usada na Bíblia e traduzida “natural” ou “de acordo com a natureza”.
A  palavra  traduzida  concupiscência  (epithumia)  é  a  chave  desta  passagem. Aristóteles define epithumia como um esforço para alcançar o prazer. Os estóicos a definiram como o esforço para alcançar o prazer que  desafia  toda  razão.  Clemente  de  Alexandria  a  chamou  uma tendência e esforço irrazoável para alcançar aquilo com o que alguém se gratifica  a  si  mesmo.  Epithumia  é  o  desejo  apaixonado  dos  prazeres proibidos.
Quando  lemos  Romanos  1,26-32  parece  que  esta  passagem  é  obra  de  algum  moralista  quase  histérico  que  exagerou  a  situação  contemporânea pintando-a com cores de exagero retórico. Descreve uma  situação de degeneração moral quase sem paralelos na história humana.  Mas Paulo não diz nada que os escritores gregos e romanos da época não  tenham dito.  Era  um  mundo  em  que  a  violência  corria  desenfreada.  Quando Tácito escreveu sobre a história deste período, expressou:

Estou entrando na história de um período rico em desastres, nublado com guerras, esmigalhado por rebeliões, selvagem em suas próprias horas de  paz.  ..  Tudo  era  um  delírio  de  ódio  e  de  terror;  os  escravos  eram subornados para trair a seus amos, os empregados a seus patrões. Aquele que não tinha inimigos era destruído por seus amigos.

Não  há  nada  que  Paulo  haja  dito  sobre  o  mundo  pagão  que  os próprios moralistas pagãos já não tivessem dito. E a imoralidade não se detinha  nos  vícios  crus  e  naturais.  A  sociedade,  do  alto  abaixo,  estava assoberbada  de  vícios  contra  a  natureza.  Dos  primeiros  quinze imperadores romanos quatorze foram homossexuais.  Paulo, longe de exagerar o quadro ele o traça com moderação — e era ali onde Paulo estava ansioso para pregar o evangelho, e era ali onde Paulo  não  se  envergonhava  do  evangelho  de  Cristo.  O  mundo necessitava  do  poder  que  operasse  salvação,  e  Paulo  sabia  que  em nenhum outro a não ser em Cristo existia esse poder.

O relatório muito controvertido da Igreja Anglicana, Homosexual Relationships (Relacionamentos Homossexuais), comenta isto como segue: “O que Paulo quer dizer com ‘desnatural’ é ‘desnatural’ para a humanidade, no padrão da criação de Deus. Todo comportamento homossexual é uma divergência do projeto da criação de Deus e, nas palavras de certo escritor, ‘quando colocadas no contexto da criação, todas as relações homossexuais são relações desnaturais’.” O relatório conclui: “Seja qual for a evidência que exista, ela parece claramente mostrar a condenação do comportamento homossexual. Para muitos, isto resolve o assunto. Eles sustentam que a Bíblia indica tão claramente a desaprovação divina de tal comportamento que deve estar errado em todas as circunstâncias, e especialmente para os cristãos, que reconhecem a Bíblia como uma coletânea inspirada de escritos que fornece orientações autorizadas para a conduta da vida humana.”

Sobre o termo “entregou” do v. 28 já expliquei. Dificilmente haja uma passagem que tão claramente assinale o que o acontece ao homem quando deixou que levar Deus em conta. Não é tanto  que  Deus  envie  um  juízo  sobre  o  homem,  mas  sim  o  homem  se torna  sobre  si  mesmo  o  juízo  quando  não  dá  lugar  a  Deus  em  seu esquema  de  coisas. Naturalmente Paulo não afirma que o relacionamento homossexual entre os gentios seja a regra; do contrário, os povos há muito teriam desaparecido. Pelo contrário, ele está reconhecendo um sinal que cai especialmente na vista, e que denuncia a enfermidade da sociedade. Também fica estabelecido que não se deve ver cada homossexual como especialmente culpado. Cada caso é diferente. Há sedutores e seduzidos, bem como situações que deixam alguém enfermo. Objetivamente trata-se do seguinte: Uma sociedade que declara que sua contraparte primária, ou seja, Deus, não lhe interessa (v. 23), obtém a quitação correspondente: ela tampouco é capaz de conviver com o “tu”. Realmente possui nada mais que a si própria, não tem mais nada a amar exceto a si própria, e não pode buscar outra coisa que a si mesma e a própria espécie. Sob essa perspectiva, os homossexuais, enquanto apaixonados pelo próprio sexo e retraídos sobre a própria espécie até na esfera sexual, constituem-se nos portadores dos sintomas de uma sociedade.

Notas

1. Murray, Stephen O. (2002). Homosexualities. University of Chicago Press. p. 295.
2. http://rictornorton.co.uk/homopho1.htm

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