Pular para o conteúdo

Resposta ao “Ateu Informa”: A Bíblia Vem do Politeísmo da Suméria [E Desafia Qualquer Um À Contraprova]

Há alguns dias deparei-me com um relativamente extenso vídeo de determinado ateu desenvolvido com o revolucionário e supremo objetivo de “destruir a ‘mitologia’ judaica”, como o próprio autor adjetiva o seu trabalho. O engraçado é que esse “destruidor do judaísmo” afirma, como se fosse grande coisa, que estudou uma semana inteira para fazer aniquilar a Bíblia – como se isso fosse muito, em comparação com estudiosos altamente graduados que passam trinta, quarenta ou até cinquenta anos estudando esse magnífico livro. No mais, são mais de quarenta minutos mostrando que os hebreus não podem ter escrito o Antigo Testamento antes do Exílio Babilônico e apontando, com base em semelhanças “mitológicas”, para uma cópia hebraica dos textos mesopotâmicos – mais de quarenta minutos de desnecessárias, porém interessantes, leituras, que facilmente podem ser revertidas em argumentos pró-Antigo Testamento. Que ironia! Segue o vídeo, conforme postado no youtube no espaço “Ateuinforma”, 20/03/2012, sob o título “Ateu Prova: A Bíblia Vem do Politeísmo da Suméria [E Desafia Qualquer Um À Contraprova]” – verifique o típico posicionamento arrogante e pretensioso típico dos neo-ateus. Nisso me lembro de um recente artigo aqui publicado: “A Ditadura dos Rinocerontes“.

Resumo do que seguirá, em ordem: Esboço; 1 – Relatos universais, não locais; 2 – O princípio sugerido pelo texto; 3 – A sobriedade do relato bíblico; 4 – O monoteísmo é mais coerente (inclusive cientificamente); 5 – O Antigo Testamento é monoteísta; A Trindade na Bíblia; 6 – Sustentação arqueológica e profética; 7 – Natureza literária da Bíblia; 8 – Abraão não existiu e Moisés não escreveu a Torá?; Sobre a escrita na Palestina; 9 – “Imagem e semelhança de Deus”; 10 – Semelhanças nos relatos da Criação e do Dilúvio; Conclusão.

Para facilitar o entendimento, listarei logo abaixo os principais argumentos pelo jovem ateu usados. É aconselhável que o vídeo seja assistindo, para que se compreenda adequadamente o que segue.

– Proteção ao Deus “Jeová da Samaria”. Astarote. (“Quem és tu entre os deuses”) Monolatria (“sei que o Senhor é maior que todos os outros deuses”). Mitologia
– Vários nomes prum deus só – “adaptações religiosas”
– Uma das línguas mais antigas é a suméria. Nosso alfabeto vem do escrito fenício, pai do grego e do hebraico. Alf. fenício – hieróglifos ou rupestres egípcios no Sinai. A inscrição mais antiga hebreia é de 950 a.C.
– A história de Moisés foi escrita depois de 1500 a.C.
– Caim e Abel – semelhante a Rômulo e Remo, “Pais de Roma”.
– Mundo tem 6000 anos segundo a soma das idades dos personagens da Bíblia.
– Todos falavam uma única língua – depois ocorre a variação das línguas. Babel refere-se à Babilônia e descreve, ou simboliza, um evento histórico de fracasso militar.
– Abração de Ur dos caldeus, Suméria. Abraão personifica o desenvolvimento de um povo de saiu da Mesopotâmia.
– Biblioteca de Nínive. Epopeia de Gilgamés e Enuma Elish – poema de Criação. Oceano Primordial. Deuses foram criados. = Gênesis 1.
Cap 2 de Gênesis dispensa capítulo 1. “Homem do pó da terra”. “Árvore da Vida”. “Rio Tigre e Eufrates”. Não é o processo de criação do mundo! É o processo de criação da Suméria!
– Epopeia de Gilgamés, Uruk. Herói vem da argila. Ninguém pode subir no monte e ver os deuses, senão morre, igual a Êx 33:20. Igual ao Olimpo.
– Utnapishtim. Jardins dos Deuses, frutas de rubi. Oceano do Mundo, águas da morte. Árvore da Vida. Gilgamés 2/3 humano, semelhante a um filho de Utnapishtim. Dilúvio. Filho de Deus que matou o dragão Tiamat.
– Dilúvio: barco sobre monte Nissir, soltar pomba, sacrifício. Deus Baal.
– Planta milagrosa cresce no fundo do mar, planta da vida eterna, “Planta da Vida”. Uma serpente come a planta.
– El – Elohim = “deuses”. “Deuses fazendo”.
– Semelhanças entre a descrição da Criação de Gênesis 1 com o mito da Criação grego.
– Antes os deuses gregos não tinham forma humana, mas os deuses do Olimpo passam a ter semelhança com os homens. “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança”.
 
Resposta:
 
Primeiramente, preciso deixar bem claro um ponto: quase todo o vídeo que se propõe a “destruir o judaísmo” trabalha com argumentos que eu mesmo tenho usado em favor da Bíblia, não contra! Desde 2011 tenho estudado as semelhanças entre as histórias da Bíblia e de outros povos, entendendo que tais semelhanças favorecem a compreensão de uma memória coletiva relativa ao que verdadeiramente aconteceu com o ser humano num passado remoto e comum a toda a Humanidade, havendo, com o tempo, uma variação maior entre a história de um povo e de outro, com base no isolamento e nas experiências locais, incutindo o relato de exageros míticos, de politeísmos e demais traços religiosos e culturais. No que me baseio?
1 – Relatos universais, não locais: o vídeo afirma que, pelas semelhanças “mitológicas”, a Bíblia brotou do pensamento mesopotâmico e grego, mas, felizmente, existem semelhanças “mitológicas” não só entre as histórias antigas do Oriente Próximo, Médio e Europa Mediterrânica, mas entre os relatos de ameríndios, de habitantes do Extremo Oriente e de nativos do Novíssimo Mundo. Determinados conceitos “mitológicos” são revelados em quase todas as “mitologias” de quase todos os povos do mundo e de quase toda a História Humana, o que gera o problema do isolamento: como povos que nunca tiveram nenhum tipo de contato nas últimas dezenas de milhares de anos poderão concordar em vários pontos de suas “mitologias”? Ora, se as semelhanças entre o relato bíblico e os contos gregos e mesopotâmicos sugere uma cópia judaica, tal conceito não deveria aplicar-se às infindáveis semelhanças existentes entre as “mitologias” do mundo todo? Faço questão de reforçar que determinados pontos do Antigo Testamento se aproximam mais de histórias de índios americanos do que de relatos babilônicos! Os hebreus também copiaram dos ameríndios?! Com base nisso, podemos entender que não houve uma impossível cópia universal de “mitos”, mas, sim, a perpetuação, com suas devidas alterações, de memórias comuns de um longínquo passado. No que me baseio? Em vários livros, que fiz questão de usar como fontes para a seguinte postagem do EOMEAB, essencial para o entendimento desse conceito: “As Mitologias Indicam um Passado Comum?
2 – O princípio sugerido pelo texto: a minha declaração nesse tópico pode soar estranha, por isso oriento para a leitura do texto até que ele se conclua. O meu ponto é o seguinte: entendendo que o “mitos” antigos quase que certamente sugerem a existência de uma memória coletiva deturpada com o tempo, podemos compreender que, mesmo se o Antigo Testamento tivesse sido copiado de documentos doutro povo, a sua mensagem histórica central seguiria relativamente firme, uma vez que a Bíblia não é a única fonte antiga que prega a criação do homem com base no barro, a Árvore da Vida, a Queda, a Serpente Maligna, o Dilúvio, etc. Havendo uma memória coletiva a preservar os aspectos principais dos primeiros milênios da Humanidade, a fonte literária na qual me basear, nesse sentido, não fará muita diferença, uma vez que quase todas convergem para os mesmos pontos. Eu escrevi algo sobre a possibilidade de Moisés ter se baseado, em parte, em várias tradições escritas de períodos pré-diluvianos de diversos povos, coisa que você pode conferir na postagem “A Origem do Judaísmo e a Conquista de Canaã“. Se os pilares centrais são, pelo menos em parte, os mesmos, e o cristão possui o Novo Testamento como fonte básica para a interpretação do Antigo Testamento, a origem dele não chega a ser um grande problema.
3 – A sobriedade do relato bíblico: para termos o Antigo Testamento como o herdeiro mais fiel das memórias pré-diluvianas precisamos analisar, primeiramente, se os relatos por ele transmitidos são mais coerentes do que as histórias paralelas doutras tradições – devemos verificar onde existe mais sobriedade, menos firulas mitológicas típicas de relatos tardios. Vamos começar com o relato da Criação de Gênesis, o mais coerente com a realidade da História Natural:
“[Dia] Um – Ativação dos elementos físicos do cosmos.
Dois – Formação da atmosfera e da hidrosfera.
Três – Formação da litosfera e da biosfera.
Quatro – Formação da estratosfera.
Cinco – Formação da vida na atmosfera e na hidrosfera.
Seis – Formação da vida na litosfera e na biosfera.
Sete – Descanso da obra completada de criar e fazer.” Fonte: O Enigma das Origens, Henry M. Morris, Origens, 1974, pg 208.
Consideremos que a Bíblia não se posiciona com relação a um processo evolutivo para as origens dos seres vivos, também devemos considerar que a Bíblia não determina a idade do Universo, de modo que é bem mais provável supor que os Dias da Criação foram “Dias Era”, expressões de eventos ocorridos dentro de grandes períodos de tempo sugeridos no breve, simbólico e dinâmico Gênesis 1.
“A duração dos dias da Criação, de Gênesis 1, não é especificada na Bíblia. A palavra ‘dia’ pode significar um período de luz entre dois períodos de escuridão, um período de luz mais o período precedente de escuridão ou um período prolongado de tempo. (…) A Bíblia não oferece nenhuma informação que nos ajude a determinar com clareza há quanto tempo foi criada a matéria a data do primeiro dia da Criação ou quando terminou o sexto dia.” Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 4.
Sobre a idade do Universo é aconselhável a leitura dos trechos iniciais da seguinte postagem do EOMEAB: “Primórdios: Autoria da da Torá, Idade do Universo e Dilúvio“. Dessa postagem faço questão de aqui postar a reflexão sobre as genealogias bíblicas, que supostamente sustentam uma idade de 6 mil anos para a Terra:
As genealogias do Antigo Testamento, seguindo os padrões hebraicos, são lacunosas, dando evidência aos heróis mais proeminentes de períodos relativamente grandes – Jesus, por exemplo, era considerado filho de Davi, mil anos de diferença. Entre Jarede e Enoque várias gerações podem ter se desenvolvido, já que é da tradição dos hebreus ressaltarem apenas os nomes mais significativos de sua história. Os termos hebraico “gerar”, “filho” e “filha”, encontrados nas genealogias do início de Gênesis, podem indicar tanto descendentes distantes quanto imediatos; as 10 gerações de Adão até Noé e as 10 de Noé até Abraão são mais um recurso simétrico, que enaltece a beleza do texto; na genealogia de Lucas 3, verso 36, vemos que entre Afraxade e Salá houve Cainã, entretanto Cainã não aparece na genealogia de Gênesis 10, por exemplo. Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, Edit. VidaNova, pg 45.
Outro aspecto do Gênesis que demonstra sobriedade está na sua descrição da Arca de Noé, muito mais coerente em termos de engenharia naval do que os relatos mesopotâmicos. Você pode ler um estudo completo sobre isso na seguinte postagem do EOMEAB: “A Arca de Noé Era Grande o Suficiente?“. Quero enfatizar alguns pontos:
“A história da Arca, em Gênesis, é semelhante ao Épico de Gilgamesh, porém as dimensões da embarcação do mito mesopotâmico são insanas: 59 metros de lado, formando um cubo perfeito, o que certamente levaria a embarcação ao naufrágio. A Arca de Noé, por sua vez, possuía as dimensões apropriadas para a navegação, sendo longa e retangular. A capacidade da Arca de alojar muitas espécies precisa ser melhor interpretada: no hebraico a palavra “espécie” possui definições muito genéricas – os animais que foram para a Arca eram representantes de gêneros ou grupos de espécies, havendo uma especiação posterior ao Dilúvio. De qualquer forma, a Arca possuía o espaço interno, somando os seus três pisos, de aproximadamente 1,4 milhões de pés cúbicos.” Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pg 19.
Certa vez o engenheiro e inventor Vogt declarou ao periódico Dagbladt: “durante anos tenho-me ocupado em experiências relacionadas com a navegação. (…) Refiro-me às medidas da arca de Noé. Com relação a estas medidas, é de se notar que, depois de milhares de anos de experiência na arte da construção de barcos, temos que confessar que são ainda as proporções ideias para a construção de uma embarcação de grande porte.”
O professor Simonsen diz que na leitura do texto original de Gênesis fica claro que o formato da arca era triangular – foi encontrada uma antiga moeda contendo o nome de Noé e o desenho de uma arca triangular. Tal formado soluciona todas as possíveis dificuldades acerca da resistência e capacidade de navegação – é impossível construir embarcação em formato melhor para se resistir às forças do mar. Vale lembrar que a arca foi construída apenas para flutuar.
Sr. Vogt diz: “estou convencido de que se déssemos ao engenheiro mais famoso do mundo e encargo de construir uma embarcação tão grande como a Arca e com a mesma capacidade de flutuar estavelmente, não lhe seria possível fazer uma embarcação melhor nem tão simples quanto a de Noé. (…) Noé [tinha] vastíssimo conhecimento de engenharia naval, o que prova o alto grau de civilização que alcançou a primitiva Humanidade.” Fonte: As Religiões, R. Coppel, Cedibra, 1972, pgs 13-16.
Ainda dentro da questão da sobriedade, podemos considerar a longevidade dos antigos descritas pelos mesopotâmicos e descritas pelos hebreus, comparando os relatos. É claro que o entendimento de um homem recém criado e, portanto, pleno geneticamente, indica uma excelência física e intelectual, o que também coopera na longevidade, mas há um exagero absurdamente maior no relato mesopotâmico do que no relato de Gênesis. Vejamos:
“A Lista de reis sumérios, antigo registro dos reis da Suméria e da Acádia, que foi composta originalmente no final do III milênio a.C. (…) apresenta notáveis semelhanças com as genealogias de Gênesis. (…) Os registros indicam reinados incrivelmente longos. Por exemplo, ‘En-men-lu-Anna reinou 43.200 anos; En-men-gal-Anna reinou 28.800 anos’. Há registro também de um grande dilúvio, que teria inundado a terra, e depois disso os reis tiveram reinados significativamente mais curtos” Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 12.
Se houver interesse em ler algo relativo às 12 Pragas do Egito e ao Êxodo, aconselho a leitura da postagem “A Escravidão no Egito, as 10 Pragas e o Êxodo“.
4 – O monoteísmo é mais coerente (inclusive cientificamente): além da precisão e sobriedade do relato bíblico, superando de longe as perspectivas pagãs, o próprio monoteísmo pregado pela Bíblia mostra que a tradição antiga preservada nas Escrituras é mais pura e original do que as variações politeístas. Primeiramente, o Antigo Testamento foi extremamente revolucionário em seu contexto histórico e cultural (vide a postagem “A Bíblia e as Suas Revoluções“), sendo o primeiro a introduzir o registro da história e o Direito Escrito no Oriente Médio, isso sem contar com a superioridade da Lei por sobre os demais códigos legais do período e com a insanidade lógica que foi propôr o monoteísmo e a existência de um único templo em Israel (leia na última postagem sugerida); em segundo lugar, a percepção de divindade, de relacionamento entre Deus e o mundo e do papel humano, descritos no Antigo Testamento, deram o mais sólido aval ideológico para o desenvolvimento da ciência moderna (vide “A Bíblia e a Ciência“). A perspectiva religiosa, “científica” e filosófica que a Bíblia propõe está muitíssimo à frente de qualquer sugestão literária pagã de qualquer período da História Humana. O que isso indica? Ou que o relato bíblico é o mais original e bem preservado dentre todos os antigos documentos ou que os hebreus eram absurdamente geniais, copiando tradições mitológicas pagãs e, ao invés de enfeitá-las e encorpá-las, como normalmente acontece com o tempo, reduziram a concentração de absurdos e tornaram tudo muito mais racional do que era anteriormente. Ora, como os “analfabetos” e “primitivos” hebreus exilados na Babilônia foram capazes de humilhar tão severamente o centro intelectual de seu período, copiando e aperfeiçoando assombrosamente as suas compreensões de mundo? Não me parece razoável supor algo assim!
5 – O Antigo Testamento é monoteísta: o jovial “destruidor do judaísmo”, autor do vídeo citado no início da postagem, também sugeriu que a Bíblia, por usar expressões indicadoras de politeísmo, não trabalha com um monoteísmo, mas uma “monolatria”. Será que isso é verdade?
Bom, ele começa citando tal “politeísmo” com a inscrição samaritana sobre o “Jeová de Samaria”, como sendo uma versão diferente do Deus hebreu, o que não é verdade, uma vez que “Jeová” é um dos nomes de Deus e os samaritanos brotaram de uma extensa tradição hebraica, que o próprio Antigo Testamento trata de evidenciar. Na sequência alguns versículos bíblicos são citados pelo ateu: todos fazendo referência à “superioridade do Deus de Israel sobre os demais deuses”, uma suposta “monolatria”, mas isso não indica que os hebreus eram incentivados biblicamente a acreditar no politeísmo, de um Deus existente maior do que outros deuses existentes – na verdade, todos os versículos que enaltecem Iavé sobre os demais deuses simplesmente estão colocando o declarado Único Deus (Deuteronômio 6:4 e 2 Samuel 7:22) em evidência sobre os falsos deuses pagãos, que existiam no imaginário popular e que se resumiam a objetos de fundição e madeira, sem vida e sem poder (Deuteronômio 5:7-9; Salmos 115:2-8; Isaías 44:8-20). Deus é colocado, nesses casos, como um poder superior a todos os demais poderes religiosos do mundo, que realmente exercem, sob o nome de supostas divindades, influência sobre as pessoas. O vídeo também apresenta a multiplicação de divindades natural com o passar do tempo, citando um punhado de nomes dados para Osíris com o andar da História, o que, na verdade, nada tem de “multiplicação de divindades”, uma vez que é da cultura antiga dar vários nomes aos mesmos deuses, cada nome indicando um atributo específico de cada deus – portanto, é natural que um deus que dá a vida, protege e traz a paz, possua, pelo menos, três nomes diferentes, cada um referindo-se a cada uma das qualidades ressaltadas.
Sobre a questão do “falso monoteísmo”, o jovem ateu ainda levanta a questão de “Elohim” indicar um plural de deus, ou seja, um panteão, um politeísmo, mas tal afirmação não possui sustentação nos costumes linguísticos judaicos. Vamos analisar as fontes:
“A palavra hebraica para ‘Deus’, Elohim, é gramaticalmente plural, mas não indica um plural número (isto é, ‘deuses’). O idioma hebraico usa a forma plural para indicar honra ou intensidade, às vezes chamado de ‘plural de majestade’. A aparição consistente de um adjetivo singular (Sl 7:9) ou verbo no singular (Gn 20:6) usado com Elohim mostra que o significado desejado é de um único Deus. Onde aparece o adjetivo plural ou verbo no plural, o contexto determina se Elohim significa os ‘deuses’ das nações (Êx 20:3) ou se a concordância plural é devida simplesmente a uma maior precisão gramatical dos escribas (Gn 19:13). Do ponto de vista israelita, a unicidade da verdadeira Divindade nunca é questionada. Em Deuteronômio 6:4, “o Senhor”, isto é, Yahweh, o Deus de Israel, é chamado de ‘nosso Elohim’, e declarado como ‘único’.
(…)

[Gn 1:26-27] ‘Façamos…’ (3:22; 11:7; Is 6:8) não indica múltiplos deuses. Essa teoria politeísta seria inconsistente com a teologia sublime do capítulo e com a expressão singular ‘à sua imagem’ (Gn 1:27). Antigas teorias da origem do universo explicam a criação como o resultado de uma coabitação sexual de divindades do sexo masculino e feminino, ou de uma batalha entre a principal divindade e alguma outra entidade hostil. A Bíblia afirma, uniformemente, que Deus é assexuado e não tem o que corresponderia a uma consorte do sexo feminino; Deus criou o universo pela sua palavra poderosa, e não pelo combate às divindades do caos. Gênesis 1 foi escrito, em parte, para mostrar que a visão do mundo físico que havia naquele tempo (isto é, entidades física representando várias divindades) estava errada. O cosmos é inanimado, e está inteiramente sob o controle do único Deus.” Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pgs 5-8.

A Trindade na Bíblia:

-A unidade de Deus no Antigo Testamento: Deuteronômio 6:4; Isaías 44:6, 8 e 45:5.
-A pluralidade de Deus no Antigo Testamento: Elohim (2.570 x usado), significa “os poderosos”. Adonai: “meus senhores”. Vide mais: Gênesis 1:26 e 27; Isaías 9:6-7, 44:6, 48:16, 55:11, 63:7-14; Provérbios 8:22-31; Salmos 2, 33:6, 119:89, 147:15-10. – Essa evidência plural indica que o AT é da mesma natureza que o NT.
-A unidade de Deus no Novo Testamento: Marcos 12:29; 1 Coríntios 8:4; 1 Timóteo 2:5.

-A Trindade no Novo Testamento:
a) Jesus como Deus: Mateus 1:23 -Emanuel significa “Deus conosco”. João 5:18 -Filho de Deus. João 8:58 -Eu Sou. João 5:27 -Filho do Homem- Daniel 7:13-14. Mateus 2:11, 14:32-33, 28:9 – Jesus é adorado, só Deus pode ser adorado. Mateus 3:3 -Jesus é tido como Iavé- Isaías 40:3; Romanos 10:9-13Isaías 2:32. Outras: Lucas 1:76Malaquias 3:1; Romanos 14:9-12Isaías 45:23; 1 Coríntios 2:13Isaías 40:13; Hebreus 1:10Salmos 102:25-27. – Repare na relação de “cumprimento – profecia”.
Referências explícitas: João 1:1, 18, 20:28; Tiago 2:13; Romanos 9:5; 1 João 5:20; Atos 20:28; Filipenses 2:6; Colossenses 2:9; 2 Tessalonicenses 1:12; 1 Timóteo 3:15-16; Hebreus 1:8; 2 Pedro 1:1.
Jesus mesmo disse: João 8:51-59, 10:22-39.
b) A divindade do Espírito Santo: Gênesis 1:2; Êxodo 31:3, 35:31; Números 24:2; 1 Samuel 10:10, 11:6, 19:20, 23; 2 Crônicas 15:1, 24:20; Jó 33:4; Ezequiel 11:24; Mateus 3:16, 12:28; Romanos 8:9, 14; 1 Coríntios 2:11, 14, 3:16, 7:40; Efésios 4:30; Filipenses 3:3; 1 João 4:2; João 14:16; 2 Coríntios 3:17-18; Atos 5:3-4; 2 Samuel 23:2; Isaías 40:13-18; Isaías 9:6; Atos 28:25; Salmos 95:7; Hebreus 3:7; Jeremias 31:31; Hebreus 10:15.
O Espírito Santo não é uma “força”, é uma “pessoa”: 1 Coríntios 2:10-13; Atos 8:29, 9:31, 13:2, 15:28, 16:6; 1 Coríntios 12:11; Efésios 4:30; Mateus 12:31; Filipenses 2:5-8; João 15:26, 16:13-14.
-A pluralidade de Deus no Novo Testamento: 1 Coríntios 12:4-6; 2 Coríntios 13:14; Mateus 3:16-17, 26:39, 27:46, 28:19; Efésios 2:18; João 11:41-41; Marcos 1:9-11. Fonte: dO Mirante, “Inescapável“. Leia uma reflexão sobre a Trindade nO Mirante, “O Perfeito“.
Observação: é interessante notar que o termo Elohim, embora gramaticalmente plural, orienta-se para a apresentação de uma divindade única e suprema. Associando o significado ao pé da letra com o contexto no qual se insere, podemos sugerir a existência das Três Pessoas da Trindade a representar o Único Deus.

6 – Sustentação arqueológica e profética: é interessante notar que o relato bíblico possui uma gama de comprovações arqueológicas assombrosamente mais numerosas do que os relatos pagãos, isso além da cortina de ferro que se instala entorno das Escrituras com base no cumprimento de milhares de suas profecias ao longo da História – tendo a sustentação arqueológica e papirográfica de que o texto profético fora escrito antes da consumação da profecia. O Antigo Testamento acontece dentro da história humana! Você pode verificar melhor essas informações nos primeiros links da postagem “Apologética para Polêmicas Históricas“, no artigo “A Exatidão Histórica da Bíblia” e, por fim, no estudo “A Autoridade Profética da Bíblia“.
7 – Natureza literária da Bíblia: alguns dos maiores equívocos com relação ao texto bíblico e o seu eventual uso de figuras de mitologias pagãs, como “sátiros”, “pilares da Terra” e “Hades”, está na compreensão de sua natureza literária. A Bíblia foi escrita primeiramente para o entendimento de homens de milênios atrás, dentro de seus devidos contextos pré-científicos – as Escrituras não poderiam servir apenas para o homem dos últimos séculos. Há vários textos poéticos e filosóficos na Palavra, de modo que fazer uso de símbolos variados não caracteriza erro. Você pode ler mais sobre isso na postagem “A Bíblia: Falhas Matemáticas, Biológicas e Geográficas?“.
8 – Abraão não existiu e Moisés não escreveu a Torá? Se “Abraão” foi apenas uma figura para o desenvolvimento de um povo, então a sugestão é que ele não tenha existido, mas as implicações de tal teoria são maiores do que as soluções que ela proporciona. A ideia é que o suposto povo analfabeto de Israel tenha escrito o Antigo Testamento basicamente na Babilônia ou em um período bastante tardio com relação ao que se sugere tradicionalmente, de modo que seria temporal e/ou geograficamente impossível construir um texto dos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) com detalhes culturais precisos, somente pouquíssimo atingíveis por meio de tradições orais diluídas no tempo ou por meio de extensos estudos em bibliotecas palestinas ou, ainda, através de escavações arqueológicas que se deparassem com documentos e monumentos que, de alguma forma, preservassem correspondências do período patriarcal. Os hebreus de alguns séculos antes de Cristo tinham pouquíssimas possibilidades de desvendar a cultura patriarcal do terceiro ou segundo milênio antes de Cristo, exceto por alguma herança oral e pela interpretação de uns poucos monumentos remanescentes – nós temos acesso a mais materiais arqueológicos relativos aos Patriarcas do que tinham os israelitas dos últimos tempos antes da vinda do Messias. Apesar disso tudo, o relato patriarcal de Gênesis é historicamente preciso com relação aos achados arqueológicos das últimas décadas, o que indica que tal texto foi quase que obrigatoriamente escrito nos dias de Moisés, ou quem sabe até antes – pelo menos em parte.
Com base em minha fontes, é natural que não encontremos em nenhum documento antigo os nomes dos Patriarcas, uma vez que suas atividades eram muito insignificantes para os escribas dos grandes impérios da época, porém os relatos bíblicos desse período são históricos, não mitos, se comparados aos achados arqueológicos remanescentes daqueles tempos. Vejamos:
“Uma vez que os sistemas de escrita estavam em uso por volta do III milênio a.C., o que torna desnecessário presumir que tenha existido um longo período de transmissão oral entre os próprios fatos e a sua documentação em relatos escritos. Os povos do final do III e início do II milênio a.C. mantinham registros escritos e não dependiam da memória para os assuntos que consideravam importantes. Os acontecimentos do período patriarcal podem ter sido registrados logo após sua ocorrência em textos que o escritos bíblico utilizaria mais tarde como fontes.
Nomes similares aos de Serugue, Naor, Terá, Abrão/Abraão (Gn 11) e Jacó (25) aparecem em documentos da primeira parte do II milênio a.C.
(…)
As viagens dos patriarcas não devem ser consideradas improváveis. Textos de Ebla (2300 a.C.) e da Capadócia (2000 a.C.) indicam que as viagens, o comércio e os negócios ocorriam de forma regular em todo o Oriente Médio.
A lei familiar hurrita, que vigorava em Harã (Gn 12 e 24) e em Nuzi, esclarece algumas atividades da família de Abraão que, de outra forma, nos deixariam perplexos. Outro paralelo foi encontrado numa carta de Larsa (antiga cidade suméria do Eufrates), indicando que um homem sem filhos podia adotar seu escravo como herdeiro (Gn 15:2).
As histórias patriarcais refletem fielmente costumes que não eram praticados e as instituições que não existiam nos períodos posteriores, alguns dos quais foram até mesmo proibidos pelas normas religiosas do Israel tardio. Por exemplo, o casamento com a meia-irmã (Lv 18:9) e de duas irmãs simultaneamente (Lv 18:18) eram permitidos nos tempos patriarcais, mas foram proibidos na sociedade israelita posterior. Esse fato desmente a teoria de alguns críticos, segundo a qual essas histórias foram inventadas durante o período da monarquia.” Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 73.
Há ainda outras fontes arqueológicas que comprovam a historicidade dos costumes patriarcais, como as questões referentes à primogenitura: o primeiro filho tinha precedência sobre os irmãos mais novos (Gn 43:33), ele recebia uma dupla porção da herança e uma bênção especial (Gn 27:48), além de poder vender a sua primogenitura, como aconteceu entre Esaú e Jacó. Documentos de Nuzi e de Mari revelam que, se uma concubina gerasse o primeiro filho, seu direito de nascimento podia ser retirado se a esposa principal gerasse um filho mais tarde (Ismael e Isaque). Alguns documentos de Nuzi, chamados “tabletes de parentesco”, dizem respeito à venda de um direito de nascimento a alguém de fora da família. Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 43.
Sobre a escrita na Palestina: as Cartas de Amarna demonstram que o cuneiforme era utilizado em Canaã no século XIV a.C., e era lido na corte real egípcia. Por volta de 1600 a.C., os fenícios inventaram o seu alfabeto, que foi o precursor do alfabeto moderno. Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 1108. Um estudo mais profundo sobre a autoria da Torá você pode ler no artigo “A Origem do Judaísmo e a Conquista de Canaã” – no artigo sugerido você também lerá algo sobre as semelhanças entre o judaísmo e as religiões cananitas.

9 – “Imagem e semelhança de Deus”: o vídeo se encaminha para o encerramento tratando do tema “imagem e semelhança” entre a divindade e o homem, comparando os deuses olimpianos, fisicamente idênticos aos seres humanos, com o conceito bíblico de o homem ser feito conforme a “imagem e semelhança de Deus”, como um indício de que o relato de Gênesis é nada mais do que uma cópia. Ora, não faz absolutamente nenhum sentido comparar o conceito de semelhança pagão com o bíblico, uma vez que os deuses pagãos são semelhantes em sua forma física, enquanto o Deus de Israel não possui sequer um corpo físico, não possui sequer aparência visível ou acessível para o homem na figura do Pai, tanto que o hebreu era proibido de retratar Deus em escultura ou desenho – e, quando acabou fazendo isso, tratou de fundi-lo com a imagem de um touro (Êxodo 32:8), algo altamente condenável, mas, acima de tudo, uma evidência descarada de que os hebreus nutriam uma visão de divindade astronomicamente diferente da dos gregos, na forma como concebiam Deus, e igualmente diferente doutros povos pagãos, uma vez que, embora incomparável com o ser humano, ainda assim o homem é a “imagem e semelhança de Deus”. Tratemos do que dizem as minhas fontes:

“Embora os seres humanos sejam criados à ‘imagem’ e ‘semelhança’ de Deus (as palavras são praticamente sinônimas; Gn 5:3), não se quer afirmar e muito menos se pode concluir que Deus tem um corpo. ‘Imagem’ e ‘semelhança’ frequentemente se referem a uma representação física de alguma coisa que pode ser não material. O homem foi criado para servir como representante de Deus, para governar a terra. Como o homem traz a imagem de Deus, o assassinato merece a mais rígida retribuição (Gn 9:6). O Antigo Testamento proíbe a confecção de qualquer imagem material de Deus (Êx 20:1-4; Dt 4:16), porque Deus é espírito (Jo 4:24). Em Lucas 14:39, Jesus explica que um espírito ‘não tem carne nem ossos’ (Is 31:3). Como Deus é espirito, Ele é invisível (Jo 1:18; Rm 1:20; Cl 1:15; 1 Tm 1:17).” Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pg 8.

“Mas como Deus ficou cansado no final da Criação?” Pode perguntar o cético. Eu respondo com base na Bíblia de Estudo Defesa da Fé, pg 8: “A palavra ‘descansou’ (hebraico shabat) não indica fadiga, mas somente ‘cessou'”.

10 – Semelhanças nos relatos da Criação e do Dilúvio: o vídeo termina enfatizando as semelhanças, coisa que, ao longo do trabalho, focou-se mais nos relatos semelhantes sobre a Criação do Universo – levantando a possibilidade de a Bíblia ter sido copiada de outras fontes. Vejamos o que as minhas fontes dizem:

Diferenças: em contraste com as antigas histórias de criação oriundas da Mesopotâmia, do Egito e da Siro-Palestina, o relato bíblico faz mais do que apenas tentar explicar como o mundo físico surgiu. Os mitos de Criação geralmente falam da elevação de um deus de algum altar à supremacia sobre todos os deuses, de modo a acrescentar prestígio para a determinada deidade e, por consequência, para a cidade que a representa e para o templo que a tem como centro. Um exemplo está no Egito Antigo: naquela cultura afirmava-se que uma colina primordial ou “ilha de Criação”, emergira de um oceano primevo e que um deus criara todas as coisas a partir daquele local  – os altares egípcios reivindicavam ser os locais daquela colina primordial.
Os temas mais comuns nos mitos de Criação indicam uma geração espontânea dos deuses, uma reprodução sexual entre eles e a deificação da natureza. A tendência mais comum é que tais mitos destaquem elementos geográficos e características exclusivas do local onde seu altar se encontra, como o Nilo para os egípcios antigos. Não raramente esses mitos apresentam batalhas entre deuses e monstros do primitivo e caótico oceano primordial, por meio das quais uma ou mais divindades alcançaram a supremacia. Noutros mitos a Criação ocorreu quando um determinado deus derrotou um monstro primitivo e dividiu seu corpo, que resultou no Universo – quando Marduque derrota Tiamat, a corta ao meio e usa as parte de seu corpo para formar o domo celestial. Através dessa luta, Marduque é estabelecido como divindade central de seu povo.
Os mitos gregos também são similares. Do caos inicial surgem as deidades primordiais, como Gaia e Urano (terra e céu, respectivamente). Deles nascem vários deuses monstruosos, como Cronos, Tífon e os titãs, mas Zeus, filho de Cronos, lidera uma revolta que os subjuga, estabelecendo-o como divindade máxima.
Em vários casos, os mitos apresentam a criação do homem como um capricho divino, tendo-o mais como um “animal de carga” disposto a realizar o “trabalho sujo”, alimentando os deuses com suas orações e sacrifícios.

“O relato de Gênesis desafia de forma implícita esses antigos mitos da Criação ao afirmar a unidade e a soberania de Deus e ao apresentar os corpos celestes e as grandes criaturas marinhas como sua criação e os seres humanos como administradores – e ainda portadores da imagem de Deus – em vez da ideia posterior de algo nascido da necessidade ou indolência divina.
A narrativa de Gênesis refere-se ao Sol e à Lua como luminares ‘maior’ e ‘menor’. (…) a Bíblia os reduz à condição de meros objetos físicos” – isso em contraste com a compreensão pagã de que todos os objetos celestes são divindades. “O relato de Gênesis rejeita o tema central da religião pagã: a deificação da natureza. Também é muito interessante que não haja a pretensão de elevar Yaweh  (…) Não há conquista de outros deuses ou monstros e nenhum altar ou cidade é apontado como o local do início do processo criador de Deus. Nenhum objeto sagrado é mencionado. O Deus de Gênesis 1 é, de fato, o Deus universal.” Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 5.

“O relato babilônico [Enuma Elish] é uma versão deturpada de uma tradição original, cuja verdade foi assegurada a Moisés pela inspiração e, assim, livre de suas incrustações politeístas.” Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, VidaNova, 2006, pg 41.

Na verdade, não há problema nenhum em encontrar semelhanças estruturais e de determinados conceitos entre o relato de Gênesis e mitos do período de Moisés, uma vez que o texto foi organizado segundo o padrão de escrita e aspectos da mentalidade local, feito por um homem crescido nesse contexto e destinado a garantir o entendimento de todo um povo inserido profundamente em seu tempo.

O Dilúvio: um outro aspecto de interesse fundamental no vídeo referiu-se ao Dilúvio, indicando que o relato bíblico brotou da mentalidade babilônica ou pagã em geral. Isso também está errado! Vou recorrer aos meus livros para justificá-lo:

Tradições de todo o mundo antigo falam de alguma grande inundação, mas não há discussão maior do que a dada entre o relato de Gênesis e o babilônico, com a Epopeia de Gilgamés, encontrado na biblioteca de Assurbanípal, rei da Assíria, proveniente do séc. VII a.C. Vamos aos pontos de interesse:
“Enlil, uma das divindades mais elevadas, fica aborrecido com a cacofonia dos ruídos que lhe chegam da parte dos seres humanos e decide inundar a terra e destruir a todos os seres humanos (…). Enki, o deus das águas, revela a intenção de Enlil ao mortal Utnapishtim, levando-o a construir um enorme barco e enchê-lo de pares de animais. (…) Por terríveis sete dias e sete noites, Utnapishtim e sua esposa são sacudidos na embarcação enquanto as águas do dilúvio cobrem a terra. Quanto as águas finalmente diminuem, o barco se aloja no topo de uma alta montanha, Utnapishtim solta uma pomba, uma andorinha e um corvo (…). O homem, então, desembarca e oferece generosos sacrifícios aos deuses (…) [que] concedem vida eterna e ele e à sua esposa (…)
Um texto acádio (1600 a.C.) reconta basicamente a mesma história (…), exceto pelo fato de que o herói correspondente a Noé recebe o nome de Atra-Hasis. Uma versão suméria ainda mais antiga, a Gênese de Eridu, contém (…) [o] relato de um grande dilúvio. Aqui o herói é Ziusudra. (…)
De acordo com a Bíblia, Deus não apenas se irritou com o ruído da humanidade: ele ficou profundamente ofendido, e a magnitude do pecado humano ‘cortou-lhe o coração’ (Gn 6:5-7). Além disso, seu plano não foi frustrado pela esperteza de outra divindade. (…) Gênesis atesta para o período mais longo para o Dilúvio, e Noé não recebeu a imortalidade (…) a maioria dos estudiosos bíblicos acredita que o conto bíblico não é uma simples adaptação das histórias mesopotâmicas, e sim uma das várias versões de uma mesma história.” Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 13.

“Mas em contraste marcante com o relato monoteísta hebraico, o babilônico é politeísta e não possui uma concepção moral adequada da causa do dilúvio.” Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, VidaNova, 2006, pg 46.

Conclusão: há mais material que poderia ser aqui disponibilizado – alguns dos que decidi não incluir, pra não tornar o texto exaustivo, vou indicar logo adiante. De qualquer forma, com o uso de alguns livros pude responder ao desafio do ateu e evidenciar a sua prepotência ao afirmar que “destruiu a ‘mitologia’ hebraica”. É possível que alguns dos meus argumentos não sejam dos melhores, mas, mesmo assim, o texto é suficiente para destruir de modo inquestionável a alegação absoluta de que “chegou ao fim a ‘mitologia’ hebraica”. Eu entendo que os inimigos da fé precisam, realmente, estudar bem mais do que uma semana e fazer um uso maior das fontes que se opõem ao seu pensamento, para realmente verificar se suas interpretações baseadas no texto bruto e no superficial conhecimento são, de fato, verazes – ao longo de bons milênios de tradição judaica e cristã é óbvio que todos os argumentos e percepções que um ateu pode ter contra as Escrituras já foram respondidos exaustiva e adequadamente. Basta procurar!

Natanael Pedro Castoldi
Fonte: http://entreomalhoeabigorna.blogspot.com.br/2013/09/o-antigo-testamento-originou-se-de.html

2 comentários em “Resposta ao “Ateu Informa”: A Bíblia Vem do Politeísmo da Suméria [E Desafia Qualquer Um À Contraprova]”

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Descubra mais sobre Logos Apologetica

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading