Mais uma vez vamos dar uma resposta a um vídeo do Matheus Benites, o qual já refutamos aqui outras vezes e no canal e demonstramos suas falácias.
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Neste vídeo ele tenta alegar
- Origens de Yavé e o culto de El: O vídeo sugere que Yavé era inicialmente um deus guerreiro associado às tempestades, e que absorveu características de El e Baal. Embora seja verdade que, no contexto das crenças cananeias e israelitas antigas, Yavé possa ter compartilhado atributos com outras divindades locais, a ideia de que Yavé surgiu como um deus menor antes de ascender à divindade suprema é contestada por alguns estudiosos. Pesquisas acadêmicas em história antiga e teologia sugerem que Yavé pode ter sido uma divindade única desde o início, mas seu culto se desenvolveu ao longo do tempo, em uma evolução interna de seu entendimento, à medida que o povo de Israel lidava com diferentes desafios culturais e políticos.
- Transição de monolatria para monoteísmo: O vídeo menciona que a transição de monolatria para monoteísmo ocorreu durante o exílio babilônico, com Yavé sendo reinterpretado como o único Deus. Isso pode ser interpretado de forma simplificada, já que a ideia de monoteísmo total não surgiu de uma única mudança religiosa, mas de uma série de eventos e transformações teológicas que ocorreram ao longo de séculos. No entanto, o conceito de um Deus único, especialmente em relação à ética, justiça e soberania divina, já estava presente em textos bíblicos anteriores ao exílio, como no Deuteronômio, que proclama a unicidade de Deus, embora o monoteísmo exclusivo tenha se consolidado mais tarde.
- Yavé como demiurgo nos textos gnósticos: O vídeo faz referência à visão gnóstica, onde Yavé é interpretado como um demiurgo maligno. Este ponto pode ser refutado com base nas evidências históricas e teológicas que mostram que a visão gnóstica foi uma heresia, conforme amplamente reconhecido pela Igreja primitiva. Embora alguns grupos gnósticos, como os seguidores de Marcião, tenham interpretado Yavé de maneira negativa, essa visão não é representativa da tradição judaica ou cristã majoritária, que considera Yavé como o criador bom e soberano do universo.
- A existência histórica de Jesus: O vídeo menciona que há historiadores que questionam a existência histórica de Jesus. Embora seja verdade que existam algumas críticas ao relato histórico de Jesus, a maioria dos estudiosos acadêmicos, incluindo historiadores e especialistas em textos antigos, concorda com a existência de Jesus como uma figura histórica. Isso é sustentado por fontes não cristãs e uma grande quantidade de documentos do Novo Testamento que atestam sua vida e morte, embora os detalhes de sua natureza divina e os milagres atribuídos a ele sejam interpretados de maneiras diferentes dentro das várias tradições religiosas.
Em resumo, o vídeo mistura alguns pontos de fato com interpretações teológicas controversas e simplificadas, sem levar em consideração a complexidade das questões históricas e teológicas envolvidas. Uma refutação acadêmica mais aprofundada exigiria uma análise detalhada de fontes primárias e secundárias de historiadores, arqueólogos e teólogos que estudam o Antigo Testamento, a história de Israel e as origens do cristianismo.
1. Origem de Yahweh e a associação com deuses cananeus
Argumento do vídeo: O vídeo afirma que Yahweh era originalmente um deus guerreiro associado a tempestades e montanhas, semelhante a Baal e El, deuses do panteão cananeu. Além disso, sugere que Yahweh teria tomado o lugar de El e até sua consorte, Aserá.
Refutação: A ideia de que Yahweh foi uma fusão de deuses cananeus não é amplamente aceita entre os estudiosos. De fato, a evidência arqueológica indica que Yahweh já era venerado em áreas fora da Canaã, como em Edom, onde inscrições do século 9 a.C. mencionam o culto a Yahweh. Além disso, a Bíblia e outros textos não indicam que Yahweh tenha “tomado” o lugar de El, mas sim que El e Yahweh foram considerados aspectos diferentes de uma divindade suprema em algumas correntes de pensamento dentro do Israel antigo (cf. H.W. Nibley, “The Biblical Origins of Yahweh,” 1957). A ideia de que Yahweh absorveu as características de outros deuses pode ser uma interpretação exagerada das transformações sociopolíticas e religiosas da época.
2. A Pedra Moabita e a adoração de Yahweh
Argumento do vídeo: O vídeo menciona a Pedra Moabita, onde Yahweh é citado como protetor do povo israelita.
Refutação: Embora a Pedra Moabita, datada do século 9 a.C., mencione Yahweh, ela não apresenta evidências de que Yahweh tenha sido um deus estrangeiro ou completamente distinto dos deuses locais. Pelo contrário, a evidência de adoração de Yahweh em Moabe reflete a complexidade religiosa da época, onde diferentes grupos adotavam deuses compartilhados ou sincretizados, mas sem modificar a essência de suas crenças originais (cf. M. D. Coogan, “A História da Bíblia,” 2003).
3. A transição do monoteísmo
Argumento do vídeo: O vídeo descreve a transição do politeísmo para o monoteísmo no judaísmo, ocorrendo principalmente durante o exílio babilônico, onde Yahweh é exaltado como o único deus verdadeiro.
Refutação: O vídeo sugere que o monoteísmo surgiu a partir do exílio babilônico, mas os estudiosos discutem que o monoteísmo israelita estava em desenvolvimento muito antes disso. De fato, a ideia de um deus único e supremo, embora não completamente formalizada, já estava presente no contexto do Israel pré-exílico, como evidenciado no Primeiro Isaias (cf. Isaías 44:6-8, onde Yahweh é proclamado como o único deus). A visão de Yahweh como um deus universal não é exclusiva do período babilônico, mas faz parte de um processo gradual de consolidação teológica que pode ser rastreado em textos como o Deuteronômio e a Torá.
4. Yahweh como um “demiurgo” gnóstico
Argumento do vídeo: O vídeo cita as crenças gnósticas que viam Yahweh como um demiurgo, um ser inferior e vingativo, responsável por criar um mundo imperfeito.
Refutação: A identificação de Yahweh com o demiurgo é um ponto interessante, mas é importante destacar que a visão gnóstica não representa o entendimento mainstream das tradições judaicas e cristãs. As ideias gnósticas, como as encontradas nos evangelhos gnósticos, são interpretações marginalizadas e heréticas dentro da história do cristianismo (cf. Ireneu de Lyon, “Contra as Heresias,” 180 d.C.). Além disso, as representações de Yahweh nas Escrituras Hebraicas não o caracterizam como um deus cruel e vingativo, mas como um deus justo, zeloso e amoroso, como se vê em textos como Ezequiel 18:23.
5. O papel de Yahweh no Cristianismo e Islã
Argumento do vídeo: O vídeo menciona a transição para o cristianismo e o islamismo, que reinterpretaram Yahweh (ou sua forma associada a Alá) como o único Deus.
Refutação: Embora o vídeo faça uma conexão superficial entre Yahweh e Alá, é fundamental reconhecer que a teologia islâmica, embora tenha raízes no judaísmo e no cristianismo, apresenta uma concepção de Deus que é única e distinta, como o Deus transcendente e unitário de Alá. O conceito de Alá é profundamente enraizado na teologia do Tawhid, a unicidade de Deus, que se distingue das representações judaicas e cristãs de Deus. O islã, portanto, não compartilha a mesma visão teológica que o judaísmo ou o cristianismo, embora os três monoteísmos compartilhem algumas raízes comuns (cf. M. K. Masud, “Islam and the Concept of God,” 1995).
Conclusão
Em resumo, a interpretação apresentada no vídeo sobre as origens de Yahweh, seu papel como uma divindade guerreira, sua relação com deuses cananeus e a transição para o monoteísmo apresenta uma visão simplificada e, em alguns aspectos, imprecisa dos desenvolvimentos teológicos no Israel antigo. A argumentação sobre a figura de Yahweh como um “demiurgo” gnóstico também carece de fundamento dentro do contexto teológico tradicional judaico e cristão.
Fontes recomendadas para refutação e aprofundamento acadêmico:
- Coogan, M.D. “A História da Bíblia: Uma Introdução à Literatura Sagrada.”
- Nibley, H.W. “The Biblical Origins of Yahweh,” 1957.
- Ireneu de Lyon, “Contra as Heresias,” 180 d.C.
- Masud, M.K. “Islam and the Concept of God,” 1995.
- Kugel, J.L. “The Bible as It Was,” 1997.
Essas fontes fornecem uma base sólida para compreender as origens de Yahweh, sua evolução teológica e seu papel nas tradições judaica, cristã e islâmica.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui