Em mais um vídeo simplista e raso, o verdades ocultas da Bíblia tenta alegar. Vamos responder ponto a ponto.
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1. A Afirmação de que Javé foi “inventado” pelos hebreus
- Argumento do vídeo: O vídeo sugere que Javé foi uma criação dos hebreus como parte de um “plano de poder e controle social”, e que não era originalmente um Deus universal, mas sim um Deus étnico e local.
- Refutação: A ideia de que Javé foi “inventado” ignora evidências arqueológicas e textuais que apontam para a existência de Javé fora do contexto israelita. Inscrições como a Estela de Mesha (século IX a.C.) mencionam Javé como o Deus de Israel, mas também há evidências de que o nome “Yahweh” (Javé) pode ter raízes mais antigas, possivelmente ligadas a culturas do Levante. Além disso, a narrativa bíblica apresenta Javé como um Deus que se revela progressivamente, não como uma invenção política.
2. A Afirmação de que Javé era um Deus do Norte, não do Sul
- Argumento do vídeo: O vídeo afirma que Javé era originalmente um Deus do Norte (Reino de Israel) e que a narrativa bíblica o transformou em um Deus do Sul (Reino de Judá) após o exílio babilônico.
- Refutação: Embora haja evidências de que o culto a Javé era forte no Norte (como a Estela de Tel Dan), isso não exclui a possibilidade de que Javé também fosse adorado no Sul. A arqueologia mostra que o culto a Javé estava presente em ambos os reinos, embora com características distintas. A ideia de uma “fusão” entre o Deus do Norte e do Sul é plausível, mas não há evidências suficientes para afirmar que Javé era exclusivamente um Deus do Norte.
Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, em The Bible Unearthed, destacam que a centralização do culto a Javé em Jerusalém foi um processo gradual, mas não implica que Javé fosse desconhecido no Sul antes disso 7.
3. A Afirmação de que Javé foi uma fusão de divindades cananeias
- Argumento do vídeo: O vídeo sugere que Javé foi uma amalgamação de divindades cananeias, como El e Baal, e que os títulos e atributos desses deuses foram apropriados pela tradição israelita.
- Refutação: É verdade que há semelhanças entre Javé e divindades cananeias, como El (o deus supremo do panteão cananeu) e Baal (o deus da tempestade). No entanto, a Bíblia Hebraica frequentemente contrasta Javé com Baal, rejeitando o culto a este último. A apropriação de títulos como “El Shaddai” pode refletir um processo de sincretismo cultural, mas isso não significa que Javé seja uma mera fusão de deuses cananeus. A teologia bíblica apresenta Javé como distinto e superior a esses deuses.
Frank Moore Cross, em Canaanite Myth and Hebrew Epic, argumenta que Javé herdou alguns atributos de El, mas manteve uma identidade distinta como o Deus único de Israel 7.
4. A Afirmação de que o monoteísmo foi uma construção pós-exílica
- Argumento do vídeo: O vídeo argumenta que o monoteísmo judaico foi uma construção tardia, desenvolvida após o exílio babilônico, e que antes disso os hebreus eram politeístas.
- Refutação: Embora seja amplamente aceito que o monoteísmo judaico se consolidou após o exílio, há evidências de que o culto exclusivo a Javé já existia antes disso. Textos como o Cântico de Débora (Juízes 5) e a Estela de Mesha mostram que Javé era visto como o Deus nacional de Israel desde períodos anteriores. O processo de monoteização foi gradual, mas não pode ser reduzido a uma invenção pós-exílica.
5. A Afirmação de que Baal não era um deus, mas um título
- Argumento do vídeo: O vídeo afirma que “Baal” não era o nome de um deus, mas um título dado a divindades locais, como El.
- Refutação: Embora “Baal” signifique “senhor” e possa ser usado como um título, na literatura ugarítica e cananeia, Baal é claramente uma divindade específica: o deus da tempestade e da fertilidade. A Bíblia Hebraica frequentemente se refere a Baal como uma divindade distinta, não apenas como um título. A confusão entre título e divindade específica é um erro conceitual.
6. A Afirmação de que o Gênesis é uma construção pós-exílica
- Argumento do vídeo: O vídeo sugere que o livro do Gênesis é uma construção recente, pós-exílica, e que não reflete eventos históricos.
- Refutação: A crítica textual e a arqueologia mostram que o Gênesis contém tradições antigas, algumas datando do segundo milênio a.C. (como os paralelos entre o dilúvio bíblico e o épico de Gilgamesh). Embora a redação final do Gênesis possa ser pós-exílica, isso não significa que todo o conteúdo seja uma invenção tardia. Muitas narrativas do Gênesis refletem contextos históricos e culturais antigos.
7. A Afirmação de que o Reino do Norte era mais relevante que o do Sul
- Argumento do vídeo: O vídeo afirma que o Reino do Norte (Israel) era mais poderoso e relevante que o Reino do Sul (Judá), e que a narrativa bíblica distorce essa realidade.
- Refutação: É verdade que o Reino do Norte era mais populoso e economicamente poderoso, mas isso não significa que o Reino do Sul fosse irrelevante. A narrativa bíblica enfatiza Judá porque foi o reino que sobreviveu ao exílio e preservou a identidade judaica. A arqueologia confirma a importância de ambos os reinos, mas com ênfases diferentes.
Conclusão
O vídeo “As Origens de JAVÉ” apresenta algumas ideias interessantes, mas comete erros conceituais e históricos significativos. Embora seja correto afirmar que o culto a Javé passou por um processo de desenvolvimento e sincretismo cultural, a ideia de que Javé foi uma “invenção” política ou uma fusão de deuses cananeus é simplista e ignora evidências importantes. A teologia bíblica e a arqueologia mostram que Javé era visto como uma divindade distinta e superior, cujo culto evoluiu ao longo do tempo, mas não pode ser reduzido a uma mera construção humana.
Para uma análise mais aprofundada, recomendo consultar obras como:
- “The Early History of God” (Mark S. Smith)
- “The Origins of Biblical Monotheism” (Mark S. Smith)
- “Did God Have a Wife?” (William G. Dever)
- “The Bible Unearthed” (Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman).
Essas obras oferecem uma visão mais equilibrada e academicamente rigorosa sobre as origens de Javé e o desenvolvimento do monoteísmo judaico.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui