Resposta ao Fabio Sabino: E se a Bíblia mentiu?

Desta feita vamos responder a um short do Sabino onde ele alega as mesmas coisas nesses vídeos longos, normalmente usando thumbnails provocativas e duvidosas para chamar atenção.

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Sabino alega:

“Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo. Pera aí, gente. Jesus sai do batismo, ele é guiado pelo Espírito Santo com um propósito. O Espírito Santo guia Jesus para o deserto com o propósito de ser tentado. Aí diz assim: ‘A Bíblia diz, Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta.’ Aí eu pergunto: se Jesus é Deus, Jesus está sendo tentado por quem? Tá escrito aí: ‘Deus pode ser tentado pelo mal’?

Alguns pontos a considerar:

Apesar de o diabo conhecer a identidade de Jesus como Filho de Deus, a Bíblia indica que durante as tentações ele ainda estava testando essa realidade. Não é uma contradição, mas faz parte do processo de confrontação entre Jesus e Satanás.
É importante lembrar que o diabo é um ser espiritual caído, com um entendimento limitado. Ele pode ter conhecimento sobre Jesus, mas não compreende plenamente a natureza da divindade de Cristo.
Nas tentações, o diabo estava desafiando Jesus a provar sua identidade e poder divino de maneira equivocada. Jesus, por sua vez, respondeu com as Escrituras, recusando ceder às artimanhas de Satanás.
Em suma, o fato de o diabo conhecer Jesus não significa que ele aceitava ou compreendia totalmente quem Jesus era. As tentações faziam parte de um embate espiritual maior entre o Criador e a criatura rebelde.

**Refutação Completa e Acadêmica dos Pontos de Sabino**

**1. Jesus sendo guiado pelo Espírito Santo para ser tentado (Mateus 4:1)**

**Afirmação de Sabino:** “Jesus sai do batismo e é guiado pelo Espírito Santo ao deserto com o propósito de ser tentado pelo diabo. A Bíblia diz que Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. Se Jesus é Deus, como Ele pode ser tentado?”

**Refutação:**
A passagem em Mateus 4:1-11 é entendida, na teologia cristã, como um evento em que a natureza humana de Jesus é testada, não a natureza divina. De acordo com a doutrina da união hipostática, Jesus é totalmente Deus e totalmente homem. Sua natureza humana foi sujeita a tentações, como qualquer outro ser humano, para que Ele pudesse se identificar completamente com a condição humana (Hebreus 4:15).

**2. Alucinações devido ao jejum de 40 dias e 40 noites**

**Afirmação de Sabino:** “A possibilidade de pessoas terem alucinações em 40 dias de jejum é alta, mas os cristãos fundamentalistas negam isso, afirmando que Jesus não teve alucinações porque Ele é poderoso.”

**Refutação:**
A narrativa bíblica não sugere que Jesus estava alucinando. Os evangelhos apresentam a tentação como um evento real, com diálogos e interações. A negação das alucinações não é apenas uma questão de fé cega, mas de compreensão da natureza do relato como histórico e teológico. Além disso, Jesus, sendo plenamente Deus, teria a capacidade de sustentar sua humanidade de maneira sobrenatural.

**3. Satanás não sabendo quem era Jesus**

**Afirmação de Sabino:** “Satanás, que foi criado por Jesus e o conhecia no céu, pergunta: ‘Se tu és o Filho de Deus?’ Isso não faz sentido, pois ele deveria saber quem era Jesus.”

**Refutação:**
A pergunta de Satanás “Se tu és o Filho de Deus” (Mateus 4:3, 6) pode ser interpretada como um desafio ou provocação, não como uma dúvida genuína sobre a identidade de Jesus. Satanás estava testando Jesus para ver se Ele usaria Seu poder divino para benefício próprio, comprometendo assim Sua missão e submissão ao plano do Pai. A tentação não era para descobrir quem Jesus era, mas para desviar Sua missão.

**4. Contradição entre a natureza divina e humana de Jesus**

**Afirmação de Sabino:** “Se Jesus é verdadeiramente Deus e possui uma natureza divina que não pode ser tentada pelo mal, como Ele pode ser tentado por Satanás?”

**Refutação:**
A doutrina cristã da encarnação ensina que Jesus possui duas naturezas: divina e humana. Sua natureza divina não pode ser tentada, mas Sua natureza humana pode. As tentações visavam Sua humanidade, e Ele as enfrentou sem pecado (Hebreus 4:15). A experiência da tentação demonstra a plena humanidade de Jesus, que é essencial para Seu papel como mediador entre Deus e os homens.

**5. Infalibilidade das Escrituras e a necessidade de reavaliação**

**Afirmação de Sabino:** “Se aceitamos a Bíblia como a palavra inerrante de Deus, como reconciliamos essas aparentes contradições? Será que é possível que a interpretação literal das Escrituras precise ser reavaliada?”

**Refutação:**
A tradição cristã sustenta a inerrância das Escrituras quando corretamente interpretadas no seu contexto literário, histórico e teológico. As aparentes contradições geralmente surgem de leituras superficiais ou descontextualizadas. A exegese e a hermenêutica fornecem ferramentas para entender as passagens difíceis de maneira coerente. O relato da tentação de Jesus não é uma contradição, mas uma narrativa teologicamente rica que comunica verdades sobre a natureza de Jesus e Sua missão.

**Conclusão:**
A análise de Sabino apresenta questionamentos válidos que incentivam um exame mais profundo das Escrituras. No entanto, a tradição teológica cristã oferece respostas sólidas que harmonizam esses relatos com a doutrina da encarnação e a natureza dual de Jesus. Compreender essas nuances é crucial para uma interpretação correta dos textos bíblicos.

Lembrei-me então de uma palestra de um estudioso do Novo Testamento (há alguns anos) que disse que Jesus “sendo conduzido” usava uma palavra que denotava uma condução vigorosa do Espírito Santo. Não encontrei nenhuma menção a esta ação do Espírito em nenhum de seus cinco livros sobre Cristo. Nem Young tinha Mateus 4:1 ou Lucas 4:1 listados em ‘impulsionar’ ou ‘impulsionado’ etc. em sua Concordância.

Porém, os aspectos gramaticais já explicados na resposta com o sinal verde mostram que o mesmo Espírito Santo, ou Espírito de Deus, que acabara de ser manifestado na forma de uma pomba, foi o Espírito que imediatamente levou Jesus ao deserto, com o propósito expresso de dar ao Diabo a oportunidade de tentar tentá-lo. Isso deixa apenas a sua questão secundária, sobre Tiago 1:13-14, a ser abordada.

Tiago estava escrevendo aos cristãos, começando com uma advertência para que estivessem alerta quanto à verdadeira natureza de sucumbir ao pecado quando fossem tentados. Tradução de Young novamente:

“Ninguém diga, sendo tentado: ‘Por Deus sou tentado’, pois Deus não é tentado pelo mal, e Ele mesmo não tenta ninguém, e cada um é tentado, por seus próprios desejos sendo levado e seduzido, depois o tendo o desejo concebido, dá à luz o pecado, e tendo o pecado sido aperfeiçoado, gera a morte.” Ibidem. , Tiago 1:13-15

Deus não tenta ninguém com o mal, então o Espírito que conduziu Jesus ao deserto não o estava conduzindo para ser tentado pelo mal por Deus. A tentação maligna foi feita pelo Diabo. Isso porque não havia pecado em Cristo. Não tinha Deus acabado de declarar que Jesus era seu Filho amado, em quem ele se deleitava? (Mat. 3:17.) Jesus, sendo Deus encarnado, não tinha desejos malignos nele. O Diabo sabia que não havia nenhum desejo pecaminoso em Jesus que ele pudesse realizar. É por isso que ele usou as próprias palavras do Pai, quarenta dias antes, para fazer Jesus duvidar do que o Pai lhe havia dito – que ele era o Filho de Deus. As duas primeiras tentações tentaram essa tática. Afinal, isso funcionou com a mulher no jardim antes de ela pecar – ele a fez duvidar do que Deus havia dito.

Isto mostra quão radicalmente diferente foi a tentação de Jesus pelo Diabo do tipo de tentações sobre as quais Tiago estava alertando os cristãos. O Diabo nem sequer é mencionado por Tiago a este respeito. A tentação vem de dentro da pessoa, dos seus próprios desejos pecaminosos. Diferenças de giz e queijo aqui. O texto citado em Tiago não se aplica a esta questão sobre Jesus.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui