O vídeo em questão “POR QUE O JESUS HISTÓRICO NÃO FOI SEPULTADO?” faz várias alegações relacionadas à sepultura de Jesus e o contexto histórico dos evangelhos. O palestrante utiliza uma abordagem crítica, fundamentada em leituras de historiadores como Filon de Alexandria e Josefo, e tenta argumentar que a narrativa do sepultamento de Jesus nos Evangelhos é puramente teológica, não histórica. Para fazer uma refutação acadêmica robusta, precisamos examinar as afirmações em diferentes níveis: histórico, teológico, e literário.
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1. Contexto Histórico da Crucificação e Sepultamento
A principal alegação do vídeo é que a história do sepultamento de Jesus, em particular o envolvimento de José de Arimateia, é ficcional, devido à improbabilidade de que alguém tão humilde quanto Jesus fosse permitido um enterro formal. O argumento baseia-se em duas fontes: Filon de Alexandria e Flávio Josefo, que são usados para sugerir que a remoção de corpos de crucificados era algo raro e só acontecia por intervenção de figuras poderosas.
No entanto, este argumento carece de uma análise mais equilibrada do contexto histórico. É verdade que a crucificação era um método brutal e humilhante usado pelos romanos, e que muitas vezes os corpos eram deixados para apodrecer. Entretanto, a Palestina do século I tinha características sociais e religiosas particulares que não podem ser ignoradas. A lei judaica dava grande importância ao sepultamento, mesmo de criminosos. Em Deuteronômio 21:22-23, está escrito que “o corpo não deve permanecer na cruz durante a noite”, mas deve ser enterrado no mesmo dia. Para os judeus, deixar um corpo exposto era uma profanação. Embora os romanos governassem a Judeia, muitas vezes permitiam que as leis locais fossem respeitadas, especialmente em assuntos religiosos, para manter a paz social.
Joan Taylor, historiadora especializada na Judeia romana, argumenta que, mesmo sob o governo romano, as autoridades permitiam que os corpos de crucificados fossem entregues às famílias para sepultamento, especialmente durante festivais como a Páscoa, o que poderia explicar por que o corpo de Jesus foi removido da cruz e sepultado rapidamente.
2. Personagem de José de Arimateia
O palestrante sugere que José de Arimateia foi uma figura literária criada para resolver o “problema” do sepultamento de Jesus. Esse argumento é fraco sob várias perspectivas.
Primeiro, o fato de que José de Arimateia surge apenas nos relatos do sepultamento pode ser visto como uma evidência da sua autenticidade histórica, e não o contrário. Em estudos de historiografia, quando uma figura aparece de maneira discreta, em vez de ser enaltecida ou glorificada, isso pode apontar para uma tradição genuína. Se os autores dos Evangelhos quisessem “inventar” um personagem, seria esperado que ele tivesse uma presença mais destacada ao longo de toda a narrativa.
Além disso, a alegação de que José de Arimateia seria uma invenção teológica ignora o fato de que os evangelistas tinham pouco a ganhar ao incluir um personagem que, historicamente, poderia ser facilmente contestado por contemporâneos. Se José de Arimateia fosse uma criação posterior, teria sido prudente excluir uma figura que qualquer pessoa na Judeia do primeiro século poderia questionar.
A figura de José de Arimatéia, como um membro do conselho judaico e alguém com recursos, se encaixa plausivelmente no contexto da época. Além disso, a presença de José em todos os Evangelhos Sinóticos fortalece a autenticidade dessa figura. A alegação de que ele “desaparece” da narrativa após o sepultamento ignora a função específica de seu papel nos textos — ele não é um personagem principal, mas alguém cuja função era providenciar o sepultamento de Jesus, conforme a lei judaica.
O argumento do autor do vídeo de que a narrativa do sepultamento é puramente teológica não se sustenta, pois há elementos de historicidade corroborados pelas práticas e costumes judaicos da época. A ênfase no sepultamento em uma tumba nova pode ter um significado teológico, mas não é razão suficiente para descartar completamente a historicidade do evento.
3. Fontes Literárias e Evidência Externa
O vídeo argumenta que os Evangelhos são essencialmente obras teológicas, não históricas, sugerindo que não se pode confiar neles como fontes sobre o sepultamento de Jesus. No entanto, essa linha de raciocínio ignora o consenso acadêmico de que os Evangelhos, embora certamente carreguem uma dimensão teológica, são também documentos históricos escritos por pessoas próximas aos eventos descritos.
A própria narrativa da crucificação e sepultamento de Jesus é apoiada por fontes externas, como o historiador romano Tácito, que confirma a execução de Jesus sob Pôncio Pilatos no reinado de Tibério. Além disso, Mara Bar-Serapion, um filósofo sírio, faz referência à morte de Jesus, embora de forma indireta.
A tentativa de separar completamente a teologia da história em textos antigos é uma abordagem simplista. Muitos dos textos históricos daquela época, incluindo as obras de Josefo e Filon, têm dimensões teológicas ou apologéticas, mas isso não significa que eles não contenham informações históricas valiosas.
4. Pilatos e o Contexto Político
O vídeo argumenta que seria altamente improvável que Pilatos, um governador romano conhecido por sua brutalidade, permitisse que um camponês como Jesus recebesse um enterro adequado. Embora Pilatos seja retratado em fontes como um governador rígido, há evidências de que ele, em algumas ocasiões, permitia exceções. Como já mencionado, os romanos frequentemente faziam concessões às sensibilidades religiosas locais para evitar distúrbios, especialmente durante períodos sensíveis como a Páscoa, quando grandes multidões de judeus estavam presentes em Jerusalém.
Além disso, o fato de José de Arimateia ser descrito como um membro do Sinédrio, um conselho judaico de grande importância, reforça a plausibilidade de que ele poderia ter tido a influência necessária para obter o corpo de Jesus, mesmo em um contexto de opressão romana.
5. A Raridade das Exceções
O vídeo aponta que as exceções em que corpos de crucificados foram retirados são extremamente raras, citando exemplos de Filon e Josefo, e usa isso para argumentar que o caso de Jesus é altamente improvável. Entretanto, a própria existência de exceções, por mais raras que sejam, contradiz o argumento de que seria impossível Jesus ter sido sepultado. De fato, o relato de Josefo menciona a remoção de corpos crucificados a pedido de pessoas influentes, o que se encaixa na narrativa dos Evangelhos, onde José de Arimateia, um homem rico e influente, faz o pedido a Pilatos.
O vídeo faz referência a Josefo e Filon de Alexandria para reforçar a ideia de que apenas pessoas poderosas ou influentes poderiam obter permissão para enterrar crucificados. Entretanto, o uso dessas fontes é seletivo e incompleto. Quando Filon menciona o caso de um governador que recusou a entrega do corpo de um crucificado, ele está descrevendo um exemplo de exceção, não uma regra universal. Filon escreve sobre a brutalidade específica de um oficial, não sobre uma norma inflexível do império.
Da mesma forma, a narrativa de Josefo sobre os amigos crucificados que ele conseguiu resgatar é usada no vídeo para sugerir que apenas indivíduos poderosos teriam essa possibilidade. No entanto, essa interpretação desconsidera a prática comum entre os judeus de enterrar seus mortos, mesmo os crucificados, quando permitido. O sepultamento de Jesus pode ter sido uma exceção permitida por Pilatos, dada a intervenção de José de Arimatéia, um homem influente na comunidade.
A citação de Josefo, relatando a crucificação de milhares de escravos após a revolta de Spartacus, é usada para questionar a falta de ossadas encontradas. No entanto, o fato de que a maioria dos crucificados não tenha deixado ossos não prova que nenhum corpo tenha sido sepultado. A escassez de restos mortais de crucificados se deve a uma combinação de fatores, como a decomposição natural e a remoção de corpos por familiares.
Ninguém nega que essa era a prática padrão preferida por Roma, mas isso não significa que você pode fazer uma conjectura de que era sempre assim que era feito. Por exemplo, Josefo diz que depois que Jerusalém foi tomada, ele implorou ao general Tito para derrubar três antigos companheiros que foram condenados a morrer por crucificação (Vida de Flávio Josefo, 75) . Como era a prática romana padrão deixar corpos em cruzes, deveríamos dizer que Josefo inventou esse relato apenas para fazer Tito parecer misericordioso? Até onde sei, a esmagadora maioria dos historiadores não acha que Josefo inventou essa história. Como cito em minha declaração de abertura, Filo registra que no Egito corpos eram retirados de cruzes no aniversário do imperador (Flaccus 83). Nem mesmo Bart Ehrman sugere que Filo inventou esse evento. Também observo outros exemplos em minha declaração de abertura.
Há muito a dizer sobre isso, mas tentarei ser breve e apenas anotar duas observações muito importantes. Primeiro, parece que Paulo apenas aceita a palavra de Filo sobre isso. Por quê? Isso vai contra a prática romana padrão, como o sepultamento de Jesus, então por que Paulo não aplica o mesmo padrão e diz que Filo deve estar errado? Por que esse ceticismo se aplica apenas aos Evangelhos? Como meus seguidores sabem, estou constantemente apontando que a Bíblia não é tratada como outras obras antigas. Bem, este é um exemplo de onde o ceticismo excessivo e desnecessário aplicado aos Evangelhos não é aplicado a outras obras, como Filo.
O Corpo de Jesus Foi Jogado em um Lixão e Devorado por Cães Selvagens? Uma Análise Crítica da Afirmação de Crossan
No estudo histórico sobre Jesus, uma das afirmações mais controversas vem do estudioso John Dominic Crossan. Ele sugeriu que, após a crucificação, o corpo de Jesus foi jogado em um lixão e devorado por cães selvagens, em vez de ser enterrado de forma honrosa, como descrito nos Evangelhos do Novo Testamento. A afirmação de Crossan, feita durante um especial da ABC, gerou debates tanto entre acadêmicos quanto entre o público em geral. Mas quanto dessa afirmação é suportada por evidências históricas? Este artigo examinará criticamente essa alegação e a contrastará com os dados históricos disponíveis.
A Afirmação de Crossan
Durante o especial televisivo, Crossan afirmou: “Depois que Jesus morreu na cruz, ele foi jogado em um lixão e mastigado por cães selvagens.” Essa visão se baseia em uma interpretação de como os romanos tratavam os crucificados em algumas circunstâncias, deixando seus corpos para apodrecerem ou serem comidos por animais, sem qualquer sepultamento digno. Crossan sugere que, como Jesus era um camponês pobre e crucificado como um criminoso, ele teria sido tratado dessa maneira, em vez de receber um enterro respeitável.
Faltam Fatos para Sustentar Essa Hipótese
Embora essa hipótese de Crossan seja intrigante, ela carece de evidências concretas. De fato, como mencionado por estudiosos críticos de sua posição, não há um único fato histórico que confirme que o corpo de Jesus foi jogado em um lixão e comido por cães. Os Evangelhos, que são as fontes mais próximas dos eventos, indicam que Jesus foi enterrado em uma sepultura, cortesia de José de Arimateia, um membro rico do Sinédrio.
Além disso, se o corpo de Jesus tivesse sido jogado em uma vala comum ou devorado por animais, seria extremamente difícil entender como o movimento cristão primitivo, centrado na ressurreição de Jesus, poderia ter surgido e ganhado força em Jerusalém, o local onde ele foi crucificado. O túmulo vazio e as aparições de Jesus ressuscitado são elementos centrais do Cristianismo primitivo e estão entre os fatos mais bem atestados sobre Jesus.
O Enterro Honroso de Jesus e o Túmulo Vazio
O enterro honroso de Jesus é um dos eventos mais antigos e amplamente aceitos entre os estudiosos que investigam a historicidade dos relatos evangélicos. Se Jesus realmente foi enterrado por um membro do Sinédrio, como os Evangelhos afirmam, isso significa que tanto judeus quanto cristãos sabiam onde o túmulo de Jesus estava localizado. Isso torna a ideia de um corpo não enterrado e comido por animais extremamente improvável, já que qualquer alegação da ressurreição teria sido rapidamente desacreditada se o corpo de Jesus ainda estivesse no túmulo ou, pior ainda, exposto em algum lixão público.
Além disso, o fato de que os primeiros cristãos pregaram a ressurreição de Jesus em Jerusalém, o local exato de sua morte e suposto sepultamento, sugere que a tumba estava vazia. Isso porque o túmulo era conhecido tanto por judeus quanto por cristãos, o que seria uma barreira insuperável para a disseminação da crença na ressurreição se o corpo de Jesus ainda estivesse presente.
Conclusão
A alegação de John Dominic Crossan de que o corpo de Jesus foi jogado em um lixão e devorado por cães selvagens não se baseia em evidências históricas concretas. Pelo contrário, os relatos mais antigos indicam que Jesus foi sepultado em uma tumba, e a crença na ressurreição se espalhou justamente por causa do túmulo vazio. Sem fatos sólidos que apoiem a visão de Crossan, parece muito mais plausível que Jesus tenha recebido um enterro honroso, conforme relatado nos Evangelhos.
Assim, a hipótese de Crossan, embora interessante do ponto de vista especulativo, não tem o peso necessário para desafiar a narrativa tradicional de que Jesus foi enterrado e que o túmulo foi encontrado vazio.
Conclusão
O vídeo baseia-se em uma leitura parcial de fontes históricas e na tentativa de reinterpretar os Evangelhos como puramente literários, desconsiderando o contexto histórico e cultural do judaísmo do primeiro século e a importância da lei religiosa judaica em relação ao sepultamento. A alegação de que Jesus não foi sepultado não é apoiada por uma análise equilibrada das evidências históricas e ignora a plausibilidade de que figuras como José de Arimateia poderiam interceder por ele.
Portanto, a hipótese de que o sepultamento de Jesus foi uma invenção literária é altamente questionável, especialmente quando confrontada com as práticas históricas e as fontes que corroboram a narrativa dos Evangelhos.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui