Vendo por acaso a página do ateu Matt Dillahunty (ex-batista e apresentador do programa na Internet “Atheist Experience”) onde, supostamente, ele tenta fazer uma “exegese” tentando “destruir” o Sermão da Montanha (http://wiki.ironchariots.org/index.php?title=Sermon_on_the_mount), não me admirou constatar coisas que já supunha em aventuras de ateus desse tipo e confirmou minha constatação de que, se REALMENTE quiser uma AUTÊNTICA explicação e comentários, não recorra a certos ateus, pois seria o mesmo que pedir para o Martin Bormann comentar a História dos Judeus, de Josefo.
Já vi inúmeros textos, vídeos e blogs de ateus tentando interpretar os textos bíblicos a seu modo. Para variar, como não é de surpreender, como o fazem? Sem profundidade, critério, conhecimento de linguística, história e arqueologia, etc. E depois reclamam quando exigimos que aprendam corretamente o que é exegese. Já vi muitos (como o tal do ateu Yuri) ficarem espavoridos e raivosos quando insistimos na metolodogia da Igreja de se entender um texto bíblico mas eles, como muitos fundamentalistas protestantes, querem tirar “suas próprias conclusões”, sem se ater a qualquer regra de entendimento. Seria o mesmo que tentar explicar o Código de Trânsito usando regras de culinária.
Vamos lá para alguns comentários dos comentários dele e meus comentários
Sobre Mt. 5,13-16:
O sal não pode perder o seu sabor. Esta declaração específica é uma metáfora, mas é horrível. Ele poderia muito bem ter dito “Vós sois o oceano da Terra. Mas se o oceano perder a sua umidade, como pode ficar molhado de novo?“Isso não representa a sabedoria além das limitações da época, é uma analogia pobre e não seria razoável assumir que qualquer ser divinamente sábio teria feito uma analogia pobre. Este erro é semelhante ao feito por Jesus ao se referir a semente de mostarda sendo a menor de todas as sementes (Mc 4,31 ) – Não é. Estes são erros de fato que só são possíveis se o orador não tem conhecimento ou é intencionalmente enganoso, nenhuma das quais é consistente com as alegações da divindade de Jesus.
Mas o mais importante, qual é a significado da metáfora? Jesus está dizendo que as pessoas que não têm Deus em suas vidas não valem nada?
Sobre o sal perder o sabor, Matt (em parte se descuidando por usar somente a KJV e não analisar outras vertentes) está desinformado. Um comentador bíblico observa sobre Mateus 5,13:
“O sal empregado neste país [Estados Unidos] é um composto químico — muriato de sódio — e se a sua salinidade fosse perdida, ou se ele perdesse seu sabor, nada restaria dele. Penetra na própria natureza da substância. Nos países orientais, porém, o sal usado era impuro, misturado com substâncias vegetais e outras do solo; de modo que poderia perder toda a sua salinidade, e ainda restaria considerável quantidade de matéria do solo. Isto não prestava para nada, exceto que era usado, como se diz, para ser colocado em trilhas, ou caminhos, como nós usamos cascalho. Esta espécie de sal ainda é comum naquele país. É encontrado na terra em veios ou camadas, e, quando exposto ao sol e à chuva, perde inteiramente sua salinidade.” — Barnes’ Notes on the New Testament (Notas Sobre o Novo Testamento, de Barnes), 1974.
Pois é. O “incrível” Matt não sabe que o sal a que Jesus se referia era o sal da época, impuro e misturado, e não o sal americano atual. O comentarista bíblico Albert Barnes observou que, diferente do sal de mesa comum (cloreto de sódio), o sal que Jesus e seus contemporâneos conheciam era “impuro, misturado com substâncias vegetais e terrosas; de modo que podia perder toda a sua salinidade, sobrando uma grande quantidade de matéria terrosa. Não servia para nada, exceto para ser usado, como se informa, para ser lançado em veredas ou caminhos, assim como nós usamos o cascalho”. A ilustração de o sal perder a sua força e ser lançado fora para ser pisado pelos homens pode ser explicada pelo modo em que os beduínos ainda usam placas de sal em seus fogões primitivos, em que o sal de início estimula a combustão do esterco de camelo, mas depois, mediante uma mudança química, tem o efeito oposto. As placas de sal então inúteis seriam usadas como aterro de estrada.” Mas disto, o ateu não fala nada.
As metáforas não são muito diferentes dos símiles. Também destacam uma similaridade entre duas coisas bem diferentes. O símile emprega palavras tais como “como” ou “igual”, ao passo que a metáfora fala como se uma coisa fosse a outra.
Jesus usou uma metáfora quando disse aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra.” (Mateus 5,13) Não, os discípulos não eram literalmente sal. Mas o sal é um preservativo, e os discípulos possuíam uma mensagem que preservaria a vida de muitas pessoas. Por dizer: “Vós sois o sal” (uma metáfora), Jesus estava falando bem mais vigorosamente do que se dissesse: “Vós sois como o sal” (um símile). As metáforas são muitíssimo comuns na Bíblia. Observamos alguns outros exemplos nas seguintes declarações de Jesus: “Eu sou a porta”; “vós sois a luz do mundo. . . .Deixai brilhar a vossa luz”. — João 10,7-9, 11; Mateus 5,14-16.
É. Matt perdeu o seu “sal”. E sobre Mc.4,31? Ora, Matt. Jesus não estava falando do mundo. A terra referida aqui é Israel, a terra onde ele estava e qualquer criança de escola de neocatecumenato pode entender isso, provavelmente. Nos dias de Jesus, era a menor das sementes costumeiramente semeadas em Israel. Seu diâmetro é de cerca de um milímetro, o que justifica seu uso como a menor unidade de medida do Talmude. — Berakhot 31a.
Jesus não estava dando uma aula de botânica. Dentre as sementes conhecidas aos galileus dos seus dias, a de mostarda realmente era a menor. Podiam assim avaliar a questão dum desenvolvimento fenomenal, ilustrado por Jesus.
Ora, Dillahunty, Jesus era humano e divino. Nesta condição humana, Jesus tinha a mesma limitação que muitos homens da época. Nestes termos, muitas de suas falas e declarações ecoavam o conhecimento da época. Jesus não é um “Zaratustra” ou um robô extraterrestre com mensagens paranormais ou além do natural. Sua divindade repousa em outros termos: em sua obra salvífica. Vocês, ateus, podem não concordam com isso mas não têm o direito de fazer o texto (ou Jesus) dizer aquilo que não está dizendo, sem uma correta confrontação com as regras e contextualização.
O significado da metáfora era para aqueles aos quais Jesus estava se dirigindo: seus discípulos. Ao acatarem esse aviso, os cristãos devem ter cuidado em não parar de dar testemunho público, nem se envolver numa conduta que Deus desaprova. Caso contrário, deteriorariam em sentido espiritual e poderiam tornar-se inúteis, como o ‘sal que perdeu a força’.
Entendeu, “Matt”?