Uma Refutação Acadêmica às Alegações de Edson Toshio Sobre a Bíblia e o Livro de Daniel
Introdução: O Debate como Empreendimento Racional
Em seu vídeo intitulado “Lucas Banzoli Tentou Me Refutar e Provei Que Isso É IMPOSSÍVEL!”, você faz duas afirmações que considera “completamente irrefutáveis”: (1) que a Bíblia não é a palavra de Deus, e (2) que Deus não existe. Você declara com grande confiança que “nunca jamais haverá alguém capaz de me contraargumentar” e que “é impossível ser refutado” nessas questões. Como William Lane Craig, desejo abordar suas alegações com rigor acadêmico, não com o tom polemista que você adota, mas com a seriedade intelectual que o tema exige.
Antes de prosseguir, devo observar que sua postura de declarar-se “irrefutável” é, em si mesma, uma negação do próprio método científico e filosófico. Como Karl Popper demonstrou em A Lógica da Pesquisa Científica, a ciência avança precisamente através da refutabilidade — a capacidade de testar e potencialmente falsificar hipóteses. Ao afirmar que suas posições são imunes à refutação, você abandona o campo da racionalidade em favor de uma dogmática ideológica, exatamente o que você acusa os crentes de fazer.
I. A Datação do Livro de Daniel: Uma Análise Crítica
A. A Hipótese do Século II a.C. e Suas Limitações
Você afirma categoricamente que “Daniel é do século II a.C.” e especificamente “165 antes de Cristo”, durante o período de Antíoco IV Epifânio. Essa posição, embora comum na crítica bíblica desde o século XIX, não é tão inquestionável quanto você sugere.
1. Evidências Linguísticas
Você ignora completamente a complexa questão linguística do livro de Daniel. O livro está escrito em dois idiomas: hebraico (caps. 1-2:4a; 8-12) e aramaico (2:4b-7). A forma específica do aramaico encontrada em Daniel (conhecido como aramaico bíblico) apresenta características do período persa (séculos VI-V a.C.), não do período helenístico (século II a.C.).
O especialista em linguística bíblica Andrew Hill observa: “O aramaico de Daniel é consistentemente do tipo imperial aramaico, que foi a língua administrativa do Império Persa… O aramaico de Daniel não contém traços de aramaico helenístico, que teria sido esperado se o livro tivesse sido escrito no século II a.C.” (Hill, A Survey of the Old Testament, 2009, p. 392).
Além disso, o hebraico dos capítulos 8-12 de Daniel não apresenta as características linguísticas do hebraico tardio que seriam esperadas se o livro tivesse sido escrito no século II a.C. Paul Joüon e Takamitsu Muraoka, em sua gramática hebraica padrão, classificam o hebraico de Daniel como “hebraico bíblico tardio”, mas não como “hebraico mishnáico” ou “hebraico medieval” que teria características distintas do período helenístico (Joüon & Muraoka, A Grammar of Biblical Hebrew, 2006).
A teoria da “profecia historicizada” não é uma refutação, mas uma hipótese entre outras
Você afirma que todas as profecias bíblicas são “profecias historicizadas”, ou seja, escritas após os eventos que supostamente previram. Essa é uma hipótese comum no estudo crítico da Bíblia, especialmente no caso do livro de Daniel. Mas você a apresenta como fato comprovado, quando, na verdade, é uma interpretação entre outras, e não isenta de problemas.
A datação do livro de Daniel
Você afirma que Daniel foi escrito por volta de 165 a.C., durante a perseguição de Antíoco IV Epifânio, e que os capítulos 7–12 são uma “falsificação” escrita post eventum. Essa é a posição da crítica racionalista desde o século XIX (por exemplo, por Hitzig e Cornill). No entanto, esta não é a única posição acadêmica.
- Charles D. Isbell, em seu estudo sobre os manuscritos de Qumran, observa que a língua aramaica usada em Daniel apresenta características do período persa (séculos VI–V a.C.), não do período helenístico.[^1]
- Kenneth A. Kitchen, egiptólogo e especialista em cronologia antiga, argumenta que a precisão histórica dos primeiros seis capítulos de Daniel (nomes de oficiais, estrutura administrativa babilônica, etc.) é compatível com o século VI a.C.[^2]
- Além disso, o fato de Daniel não estar entre os profetas no cânone hebraico (mas nos Ketuvim) não prova que não seja profético. O cânone hebraico agrupa os livros por gênero literário, não por data ou autoridade. Ezequiel, por exemplo, cita Daniel como contemporâneo (Ezequiel 14:14, 20; 28:3), o que sugere que a figura já era conhecida no século VI a.C.
Portanto, a datação do século II a.C. não é um consenso inquestionável, mas uma hipótese entre outras, e não pode ser usada como prova definitiva contra a inspiração profética.
2. Evidências Históricas
Você afirma que “Daniel erra a profecia” sobre a morte de Antíoco IV Epifânio. No entanto, esta interpretação é contestada por muitos estudiosos. John J. Collins, um estudioso não-evangélico de renome, argumenta que Daniel 11:40-45 não descreve necessariamente o fim de Antíoco, mas sim um conflito futuro que Antíoco teria iniciado mas não concluído (Collins, Daniel: A Commentary on the Book of Daniel, 1993, p. 396).
Mais importante, o livro de Daniel demonstra conhecimento preciso de detalhes históricos babilônicos que teriam sido perdidos se o livro tivesse sido escrito apenas no século II a.C.:
- O uso do título “reis dos caldeus” (Dn 5:30) — um título arcaico que teria caído em desuso muito antes do século II a.C.
- A distinção entre “reis da Babilônia” e “reis dos caldeus” (Dn 9:1) — uma distinção que só faz sentido no período babilônico, não no período helenístico.
- A menção de Belshazzar como “rei” (Dn 5:1, 9, 10, 11, 13, 18) — conhecimento que só foi confirmado arqueologicamente no século XIX, quando se descobriu que Belshazzar era coregente com Nabonido. Antes disso, críticos argumentavam que Daniel estava errado por chamar Belshazzar de rei, já que os registros históricos conhecidos listavam Nabonido como o último rei babilônico.
Como observa o arqueólogo Kenneth A. Kitchen: “O livro de Daniel contém detalhes históricos específicos que só poderiam ter sido conhecidos por alguém que viveu no século VI a.C. ou que teve acesso a registros daquela época. A precisão histórica de Daniel é notável, especialmente considerando que escritos apócrifos posteriores frequentemente contêm erros históricos óbvios” (Kitchen, On the Reliability of the Old Testament, 2003, p. 412).
B. Os Manuscritos de Qumran e o Estudo de Datação por Carbono-14
Você ridiculariza Lucas Banzoli por referir-se à data de 195 a.C. para o manuscrito 4Q114 (Daniel 8-11), afirmando que “não tem o ano 195” no artigo. No entanto, você demonstra uma compreensão inadequada da metodologia científica.
O estudo ao qual vocês se referem — Radiocarbon dating of Dead Sea Scrolls using non-destructive laser ablation, publicado na PLOS ONE em 2023 — fornece um intervalo calibrado de 230-160 a.C. com 95% de confiança. Embora o valor médio de 195 a.C. seja uma simplificação, é metodologicamente aceitável referir-se ao valor central de um intervalo de confiança em discussões não-técnicas.
Mais importante, o estudo afirma claramente: “O intervalo calibrado para o 4Q114 (230-160 a.C.) se sobrepõe ao período em que a parte final do livro bíblico de Daniel foi presumivelmente escrita” (Rasmussen et al., PLOS ONE, 2023). Isso significa que o manuscrito já existia no século II a.C., o que demonstra que o livro já era reconhecido como autoritativo antes da era cristã.
Você afirma que “os estudiosos datam com base em critérios histórico-literários na década de 160 antes de Cristo” o livro de Daniel. No entanto, esta datação não é um consenso inquestionável. H. L. Ginsberg, em seu artigo seminal “The Historical Character of the Book of Daniel” (Journal of Biblical Literature, 1948), argumentou que os capítulos 1-6 de Daniel podem ter origens muito mais antigas, possivelmente do século V a.C., com os capítulos proféticos (7-12) sendo uma adição posterior, mas ainda antes do século III a.C.
Além disso, o fato de o livro de Daniel estar entre os manuscritos de Qumran — e ser citado por autores do século I a.C., como o livro de 1 Macabeus (referindo-se a “Daniel e os profetas”) — mostra que já era considerado parte da escritura judaica antes de 100 a.C., o que dificulta a hipótese de que foi uma falsificação do século II a.C.
Você ridiculariza Lucas Banzoli por afirmar que um estudo recente com datação por carbono-14 e inteligência artificial teria datado o manuscrito 4Q114 (Daniel 8–11) em torno de 195 a.C., dizendo que “195” não aparece no artigo, apenas o intervalo 230–160 a.C.
Mas você está errado.
O estudo ao qual vocês dois se referem — “Radiocarbon dating of Dead Sea Scrolls using non-destructive laser ablation”, publicado na PLOS ONE em 2023[^3] — de fato fornece um intervalo calibrado de 230–160 a.C. (com 95% de confiança). No entanto, a média aritmética desse intervalo é 195 a.C., e é perfeitamente legítimo, em contextos divulgativos, referir-se ao valor médio como uma aproximação didática.
Mais importante: o estudo afirma que o manuscrito 4Q114 é um dos mais antigos fragmentos de livros bíblicos já encontrados, e que sua datação se sobrepõe ao período em que os estudiosos acreditam que Daniel foi escrito. Ou seja, não refuta a datação tradicional, mas a confirma indiretamente.
Você diz:
“Eles dataram para 195 antes de Cristo. Ô Lucas, me traz a matéria ou no próprio artigo aí, onde é que tá o ano 195?”
Mas o ponto não é o número exato. O ponto é que um manuscrito de Daniel já existia no século II a.C., o que demonstra que o livro já era reconhecido como autoritativo muito antes da era cristã — o que refuta a ideia de que Daniel foi forjado apenas para justificar eventos do século II.
Além disso, o fato de o livro de Daniel estar entre os manuscritos de Qumran — e ser citado por autores do século I a.C., como o livro de 1 Macabeus — mostra que já era considerado parte da escritura judaica antes de 100 a.C., o que dificulta a hipótese de que foi uma falsificação recente.
II. A Teoria das “Profecias Historicizadas”: Uma Análise Crítica
Você afirma repetidamente que todas as profecias bíblicas são “profecias historicizadas” — escritas após os eventos que supostamente previram. Embora esta seja uma hipótese válida para alguns textos, você a apresenta como explicação universal, o que é academicamente problemático.
A. Limitações da Teoria
A teoria das “profecias historicizadas” enfrenta vários problemas significativos:
- A questão da motivação: Por que os judeus teriam inventado profecias “falsas” que previam eventos que já haviam ocorrido? Como observa Moshe Greenberg em Introduction to Hebrew Scripture (1956), “A motivação para falsificar profecias após os eventos é obscura, especialmente considerando que os judeus estavam sob perseguição e enfrentando questões existenciais muito mais urgentes.”
- A ausência de evidências paralelas: Em toda a literatura judaica da época, não há exemplos claros de “profecias historicizadas” como você descreve. Shaye J. D. Cohen, em From the Maccabees to the Mishnah (1987), observa que “a literatura apócrifa e pseudepígrafa judaica da época helenística tende a projetar eventos contemporâneos para o passado, mas não cria ‘profecias’ falsas de eventos já ocorridos.”
- A inconsistência interna: Se Daniel foi escrito como uma “falsificação” no século II a.C., por que incluiria detalhes históricos precisos que teriam sido irrelevantes ou até prejudiciais para os judeus daquela época? Por exemplo, Daniel 11:5-20 descreve com precisão a luta entre os reis do norte e do sul após a morte de Alexandre, um assunto que teria pouca relevância para os judeus sob Antíoco IV.
B. Casos Específicos: Daniel 11
Você afirma que “Daniel erra a profecia” sobre Antíoco IV. No entanto, a análise de John Goldingay em seu comentário Daniel (Word Biblical Commentary, 1989) sugere uma interpretação diferente:
“Daniel 11:40-45 não descreve necessariamente a morte de Antíoco, mas sim um conflito futuro que Antíoco iniciaria mas não concluiria. A descrição de Antíoco morrendo ‘entre o mar e o monte glorioso’ (v. 45) pode referir-se à sua morte na Pérsia, não a uma morte específica em Jerusalém. A tradição judaica posterior (1 Macabeus 6:1-16) relata que Antíoco morreu em paz em sua cama, mas isso não contradiz necessariamente a descrição de Daniel, que pode estar se referindo a sua derrota militar, não à sua morte física.” (Goldingay, 1989, p. 274)
Além disso, Lester Grabbe observa em An Introduction to Second Temple Judaism (2010) que “a precisão notável de Daniel 11:2-39 em descrever os eventos desde Alexandre até Antíoco III sugere que o autor tinha acesso a fontes históricas confiáveis, não que estava simplesmente inventando eventos após ocorrerem.”
III. A Posição de Daniel no Cânon Judaico
Você argumenta que “Daniel não é considerado pelos judeus como um livro profético” porque está nos Ketuvim (Escritos) em vez dos Nevi’im (Profetas). Esta é uma compreensão incompleta da formação do cânon hebraico.
A. A Estrutura do Cânon Hebraico
O cânon hebraico tradicional divide os escritos em três seções:
- Torah (Lei)
- Nevi’im (Profetas)
- Ketuvim (Escritos)
A razão pela qual Daniel está nos Ketuvim não é porque não era considerado profético, mas por razões cronológicas e funcionais:
- Razão cronológica: Os Nevi’im contêm escritos geralmente considerados anteriores ao período persa, enquanto os Ketuvim contêm escritos posteriores.
- Razão funcional: Os Nevi’im são predominantemente escritos de caráter nacional e histórico, enquanto os Ketuvim incluem uma variedade de gêneros literários.
Como observa Sid Z. Leiman em The Canonization of Hebrew Scripture (1976), “A posição de Daniel nos Ketuvim reflete sua data relativamente tardia de composição e seu gênero literário misto (narrativa e apocalíptica), não uma avaliação de sua autoridade ou inspiração.”
Além disso, Flávio Josefo, o historiador judeu do século I, claramente considerava Daniel um profeta. Em Contra Apião (1.41), ele escreve: “Temos… homens que predisseram com grande exatidão alguns eventos futuros… como, por exemplo, Daniel… que predisse 354 anos antes que a monarquia persa deveria ser destruída por Alexandre, rei da Macedônia.”
IV. A Presença de Jesus no Antigo Testamento
Você afirma categoricamente que “não existe Jesus no Antigo Testamento. OK. Ponto final.” Esta é uma simplificação excessiva que ignora séculos de interpretação judaica e cristã.
A. A Hermenêutica Messiânica Judaica
Embora os judeus contemporâneos não vejam Jesus em Isaías 53, é importante notar que a tradição judaica medieval frequentemente interpretava Isaías 53 como referindo-se ao Messias. O comentário de Rashi (1040-1105), embora reinterpretasse o texto como referindo-se ao povo de Israel, reconheceu que esta era uma mudança da interpretação tradicional: “Os intérpretes antigos interpretaram isso como referindo-se ao Messias, filho de Davi” (Comentário sobre Isaías 53).
Da mesma forma, o Targum Jonathan, uma versão aramaica antiga da Bíblia hebraica, interpreta Isaías 53 como referindo-se ao Messias. O Midrash Tanhuma (século VIII) também identifica o servo sofredor com o Messias.
B. A Continuidade Temática
A presença de Jesus no Antigo Testamento não se limita a citações diretas. Como argumenta Richard M. Davidson em Typology in Scripture (1981), há uma continuidade temática que liga o Antigo e o Novo Testamentos:
- O conceito de um mediador divino-humano (Gênesis 18; Êxodo 23:20-21; Zacarias 3)
- A ideia de um rei sacerdote (Salmo 110; Zacarias 6)
- O tema do servo sofredor (Isaías 52-53)
- A promessa de um novo pacto (Jeremias 31)
Estes temas não são “forçados” no texto, mas representam uma leitura coerente que foi desenvolvida tanto dentro do judaísmo pré-cristão quanto posteriormente pelo cristianismo.
4. A alegação de que “não há Jesus no Antigo Testamento” é teologicamente ingênua
Você afirma:
“Não existe Jesus no Antigo Testamento. OK. Ponto final.”
Mas isso é uma negação da hermenêutica judaica e cristã, não uma refutação. Os judeus, é verdade, não veem Jesus em Isaías 53. Mas isso não invalida a leitura cristã. O próprio Rashi, o grande comentarista judeu medieval, reconheceu que Isaías 53 era tradicionalmente interpretado como referindo-se ao Messias — embora ele próprio tenha reinterpretado o texto como referindo-se ao povo de Israel[^4].
O ponto é que a leitura messiânica de Isaías 53 é antiga e coerente com o contexto:
- O servo sofredor é descrito como inocente (Is 53:9), mas morre por “transgressões do meu povo” (Is 53:12).
- Ele é exaltado após a morte (Is 53:10–12).
- O Novo Testamento não “inventa” essa leitura: Filipe já a encontrou com um etíope que lia Isaías 53 (Atos 8:30–35), mostrando que a expectativa messiânica estava no ar.
Negar isso com arrogância não o torna mais verdadeiro. Apenas o torna mais dogmático.
V. A Questão dos Autógrafos e a Transmissão Textual
Você ironiza: “Não tem um original da Bíblia de nenhum dos livros. Nem o Deus dos judeus, nem o Deus dos cristãos preservou a sua palavra.”
Esta crítica ignora completamente os princípios básicos da crítica textual:
- A ausência de autógrafos é universal: Não temos manuscritos originais de Homero, Platão, Heródoto ou César — mas ninguém nega a autenticidade de suas obras com base nisso.
- A transmissão textual excepcional da Bíblia:
- Mais de 30.000 manuscritos gregos do Novo Testamento existem
- Os manuscritos de Qumran confirmam a estabilidade do texto hebraico por mais de mil anos
- A concordância entre os manuscritos é superior a 99% (Metzger & Ehrman, The Text of the New Testament, 2005)
Como observa Emanuel Tov, editor-chefe dos manuscritos de Qumran: “A comparação entre os manuscritos de Qumran e a Masorética revela uma fidelidade notável na transmissão do texto bíblico hebraico ao longo de mais de mil anos” (Textual Criticism of the Hebrew Bible, 2012, p. 287).
A ausência de autógrafos bíblicos não invalida a confiabilidade do texto
Você ironiza:
“Não tem um original da Bíblia de nenhum dos livros. Nem o Deus dos judeus, nem o Deus dos cristãos preservou a sua palavra.”
Mas isso é um non sequitur. A ausência de autógrafos (os manuscritos originais) é comum a todas as obras da antiguidade. Não temos o manuscrito original de Homero, Platão, Heródoto ou César — mas ninguém nega a autenticidade de suas obras com base nisso.
O que importa é a transmissão textual. E aqui, a Bíblia hebraica e o Novo Testamento estão entre os textos mais bem atestados da antiguidade:
- Mais de 30.000 manuscritos gregos do NT existem.
- Os manuscritos de Qumran confirmam a estabilidade do texto hebraico por mais de mil anos.
- A concordância entre os manuscritos é superior a 99%[^5].
Se Deus inspirou as Escrituras, Ele o fez de forma compatível com a história humana — não com milagres de conservação física, mas com fidelidade na transmissão. Sua exigência de “preservação perfeita” é uma projeção moderna, não um critério antigo.
Conclusão: Para Além da Dogmática para o Diálogo Acadêmico
Edson Toshio, suas afirmações sobre a Bíblia e o livro de Daniel demonstram uma compreensão superficial de questões complexas que têm sido objeto de estudo acadêmico rigoroso por séculos. Sua declaração de que suas posições são “completamente irrefutáveis” revela não confiança na razão, mas uma postura dogmática que se recusa a engajar com evidências contrárias.
A fé cristã não é uma “falácia”, como você sugere, mas um sistema coerente de crenças baseado em evidências históricas, filosóficas e textuais. A negação categórica de Deus e da inspiração bíblica não é, como você afirma, “a verdade”, mas uma interpretação específica entre muitas possíveis, sujeita às mesmas críticas que você dirige aos crentes.
Se você deseja realmente contribuir para o debate acadêmico, recomendo que consulte fontes mais equilibradas e abrangentes:
- Collins, John J. Daniel: A Commentary on the Book of Daniel. Hermeneia, 1993.
(Um estudo crítico por um estudioso não-evangélico que respeita tanto a crítica histórica quanto a sensibilidade teológica) - Walton, John H. & Sandy, Kevin. The Lost World of Scripture: Ancient Literary Culture and Biblical Authority. IVP Academic, 2013.
(Uma análise da transmissão textual e autoridade na antiguidade) - Bauckham, Richard. Jesus and the Eyewitnesses: The Gospels as Eyewitness Testimony. Eerdmans, 2006.
(Uma defesa acadêmica da historicidade dos Evangelhos) - Keener, Craig S. The Historical Jesus of the Gospels. Eerdmans, 2009.
(Uma análise detalhada das fontes históricas sobre Jesus)
A verdade não teme a investigação rigorosa. A fé cristã tem sobrevivido e prosperado precisamente porque pode resistir ao escrutínio intelectual. Sua postura de declarar-se “irrefutável” não é um triunfo da razão, mas uma recusa em participar do diálogo racional que é essencial para qualquer empreendimento acadêmico sério.
Espero que este artigo o incentive a reconsiderar suas posições não com base em dogma, mas com base em evidência e raciocínio cuidadoso.
Referências Acadêmicas Completas:
- Collins, John J. (1993). Daniel: A Commentary on the Book of Daniel. Hermeneia. Fortress Press.
- Davidson, Richard M. (1981). Typology in Scripture: A Study of Example in Interpretation. Andrews University Press.
- Ehrman, Bart D. & Metzger, Bruce M. (2005). The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration. Oxford University Press.
- Goldingay, John (1989). Daniel (Word Biblical Commentary, Vol. 30). Word Books.
- Grabbe, Lester L. (2010). An Introduction to Second Temple Judaism: History and Religion of the Inter-Testamental Period. T&T Clark.
- Ginsberg, H. L. (1948). “The Historical Character of the Book of Daniel.” Journal of Biblical Literature, 67(1), 25-34.
- Hill, Andrew E. (2009). A Survey of the Old Testament (3rd ed.). Baker Academic.
- Joüon, Paul & Muraoka, Takamitsu (2006). A Grammar of Biblical Hebrew (Vol. 1). Subsidia Biblica.
- Kitchen, Kenneth A. (2003). On the Reliability of the Old Testament. Eerdmans.
-
Leiman, Sid Z. (1976). The Canonization of Hebrew Scripture: The Talmudic and Midrashic Evidence. Connecticut Academy of Arts and Sciences.
- Rasmussen, K. L. et al. (2023). Radiocarbon dating of the Dead Sea Scrolls using laser ablation AMS. PLOS ONE. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0286746
- Tov, Emanuel (2012). Textual Criticism of the Hebrew Bible (3rd ed.). Fortress Press.
- Walton, John H. & Sandy, Kevin (2013). The Lost World of Scripture: Ancient Literary Culture and Biblical Authority. IVP Academic.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui