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REFUTANDO FABIO SABINO: A Bíblia está cheia de incongruências?

Neste artigo vamos responder ponto por ponto das alegações do Sabino contra o padre.

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1. Necessidade de José na Genealogia de Jesus

Argumento de Sabino: Sabino questiona a presença de José no contexto da concepção virginal de Jesus, sugerindo que sua inclusão não era necessária e que haveria uma possível infração à “lei do adultério.”

Refutação Acadêmica: A necessidade de José na genealogia de Jesus é amplamente explicada pela teologia cristã e pela tradição judaica que valoriza a paternidade legal. No contexto judaico, a descendência de Davi é fundamental para afirmar a legitimidade messiânica de Jesus, e isso se concretiza através de José, considerado o pai legal, mesmo sem ser o pai biológico. O Evangelho de Mateus (1:1-16) enfatiza que Jesus é filho de Davi através de José, o que cumpre a profecia messiânica de Isaías 11:1. Além disso, José fornece um modelo familiar de justiça e obediência, exemplificando o papel do pai em um contexto teológico, sem infringir qualquer lei de adultério, já que o noivado judeu (o “erusin”) tinha status de compromisso matrimonial.

Jesus, para ser aceito como o Messias pelos judeus, precisava estar conectado à linhagem de Davi, conforme Isaías 11:1 e Jeremias 23:5. José, como descendente de Davi, fornece a Jesus essa legitimidade genealógica, um elemento que a tradição judaica da época reconheceria e validaria. Em “The Gospel According to Matthew” (Davies e Allison, 1988), os autores explicam que a genealogia não se limita a uma transmissão biológica, mas inclui a paternidade legal, validando Jesus como herdeiro legítimo de Davi através de José.

Citação Acadêmica: ‘O propósito da genealogia no Evangelho de Mateus é teológico e também histórico, demonstrando o lugar legítimo de Jesus na linhagem davídica através da paternidade legal de José’ (Davies & Allison, Matthew, 1988, p. 162).

2. Imagem e Semelhança de Deus e a Capacidade Humana de Ser como Deus

Argumento de Sabino: Ele desafia o conceito de que o homem foi criado à “imagem e semelhança de Deus” e questiona como alguém pode ser “como Deus” sem entender o que Deus é.

Refutação Acadêmica: A expressão “imagem e semelhança” em Gênesis 1:26-27 é teologicamente interpretada como a capacidade do ser humano de refletir atributos divinos, como racionalidade, moralidade, e espiritualidade, sem implicar igualdade com Deus. De acordo com Agostinho e Tomás de Aquino, essa “imagem” se refere ao intelecto e à capacidade de amar e agir conforme a justiça, algo que distingue a humanidade das outras criaturas. “Semelhança” denota a potencialidade do ser humano em se aperfeiçoar espiritualmente em sua relação com Deus. Essa interpretação é aceita em teologia e filosofia cristãs e permite que o conceito de “ser como Deus” seja visto como um chamado ao desenvolvimento moral e espiritual, sem sugerir que se tenha o pleno entendimento da natureza de Deus.

A noção de “imagem e semelhança” (Gênesis 1:26-27) é central no entendimento judaico e cristão sobre a dignidade humana e a relação entre Deus e a humanidade. Segundo Claus Westermann (Genesis 1-11, 1994), a expressão não implica em uma correspondência física, mas sim em uma vocação espiritual e moral, indicando que a humanidade reflete atributos como racionalidade, criatividade e uma capacidade para relacionamento com o divino. Este conceito é o que confere ao ser humano a responsabilidade moral e a capacidade de refletir a bondade e a justiça de Deus no mundo.

Citação Acadêmica: “A ‘imagem de Deus’ não deve ser tomada como uma semelhança física, mas como uma designação da posição e responsabilidade únicas da humanidade dentro da criação’ (Westermann, Gênesis 1-11, 1994, p. 146).

3. A Luz no Gênesis como Divindade Menor

Argumento de Sabino: Ele sugere que a luz criada antes dos astros em Gênesis representa uma divindade menor, que se conecta com conceitos de politeísmo presentes na narrativa.

Refutação Acadêmica: A narrativa do Gênesis, especialmente o relato de criação, tem um propósito teológico e litúrgico, sendo uma resposta ao politeísmo das culturas circunvizinhas, como o Egito e a Babilônia. A criação da luz antes dos corpos celestes é uma forma de subordinar os astros ao Deus único, YHWH, contrariando a prática de veneração das estrelas comum na região. Diversos estudiosos, incluindo Gerhard von Rad, argumentam que a omissão de nomes para o sol e a lua visava evitar qualquer confusão com divindades pagãs. A narrativa, ao invés de sugerir politeísmo, reforça o monoteísmo ao mostrar Deus criando e governando todos os elementos do universo.

A crítica de Sabino sobre o politeísmo no Gênesis desconsidera a evolução do monoteísmo hebraico. O uso de “Elohim” é uma particularidade do hebraico antigo que, conforme explica Mark Smith em The Early History of God (2002), reflete uma pluralidade majestática. O termo “luz” em Gênesis 1 não implica uma entidade divina separada, mas sim um símbolo teológico que representa a ordem criada por Deus. Em Genesis: A Commentary (von Rad, 1972), Gerhard von Rad explica que a “luz” precede as fontes físicas de luz (o sol e a lua) para enfatizar que Deus é a fonte primordial de toda a criação.

Citação Acadêmica: “O termo ‘Elohim’ funciona como um plural de majestade, refletindo a transcendência e a magnitude do Deus único, em vez de implicar politeísmo’ (Smith, The Early History of God, 2002, p. 72).

Citação Acadêmica: “A criação da luz antes dos corpos celestes serve como uma declaração teológica sobre a soberania de Deus sobre toda a ordem criada’ (von Rad, Genesis: A Commentary, 1972, p. 50).

4. Trindade e Interpretação de Elohim como Politeísmo

Argumento de Sabino: Sabino afirma que o uso do termo “Elohim” no Gênesis indica um contexto politeísta e não uma referência à Trindade.

Refutação Acadêmica: A palavra “Elohim” é de fato um plural, mas no contexto bíblico hebraico, ela é usada como plural majestático ou intensivo, uma construção comum para denotar grandeza ou supremacia, em especial quando acompanhada por verbos no singular. O uso de Elohim para descrever o Deus de Israel é amplamente aceito como um reflexo da magnitude de Deus, e não de múltiplas divindades. A interpretação da Trindade no Antigo Testamento é teológica, e enquanto o conceito Trinitário surge explicitamente no Novo Testamento, teólogos patrísticos e contemporâneos interpretam “Elohim” como uma referência apropriada ao Deus triuno.

5. A Serpente no Gênesis e o Conceito de Satanás

Argumento de Sabino: Ele questiona a identificação da serpente com Satanás, afirmando que o autor original de Gênesis não teria essa concepção.

Refutação Acadêmica: A identificação da serpente com Satanás é uma interpretação que evoluiu na tradição judaico-cristã, culminando nos escritos do Novo Testamento, como em Apocalipse 12:9 e 20:2. Em seu contexto original, a serpente pode simbolizar a astúcia e o engano, mas a revelação progressiva nas Escrituras permite que a tradição cristã relacione a serpente ao mal personificado. Embora o autor de Gênesis não tenha a concepção de Satanás, a tipologia cristã permite a interpretação de eventos anteriores como prenúncios dos temas plenamente revelados no Novo Testamento.

As profecias messiânicas foram interpretadas pelos primeiros cristãos como cumpridas em Jesus com base em uma leitura tipológica. A tipologia permitia que os escritores do Novo Testamento vissem eventos e figuras do Antigo Testamento como sombras ou prefigurações de eventos futuros, uma prática comum no judaísmo helenístico. Richard Hays, em Echoes of Scripture in the Gospels (2016), argumenta que a narrativa da serpente foi reinterpretada como representação de Satanás devido ao desenvolvimento posterior da teologia judaica e cristã, consolidada em textos como Apocalipse 12:9.

Citação Acadêmica: “A identificação da serpente como Satanás reflete um desenvolvimento na interpretação judaica e cristã primitiva, vendo o adversário de Deus operando ao longo da história” (Hays, Echoes of Scripture in the Gospels, 2016, p. 295).

6. A Transfiguração e a Revelação de Moisés e Elias

Argumento de Sabino: Sabino questiona como Pedro reconheceu Moisés e Elias na Transfiguração e sugere que o relato pode ser uma construção narrativa.

Refutação Acadêmica: A narrativa da Transfiguração nos Evangelhos (Mateus 17:1-9; Marcos 9:2-8; Lucas 9:28-36) é interpretada teologicamente como uma revelação divina da identidade de Jesus, onde Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas. A identificação de Pedro pode ter sido uma revelação divina, o que é comum nas narrativas bíblicas de encontros proféticos e teofânicos. Os estudiosos interpretam essa passagem como uma manifestação teológica que aponta Jesus como o cumprimento das promessas da Lei e dos Profetas, reafirmando sua missão divina.

Conclusão

A abordagem de Fábio Sabino parece estar baseada em uma interpretação literalista e histórica que desconsidera a teologia cristã e a exegese bíblica. Sabino utiliza princípios de crítica literária sem levar em conta a tradição interpretativa e o contexto religioso dos textos sagrados. Refutando cada ponto, observa-se que as questões levantadas por Sabino refletem interpretações parciais que desconsideram os objetivos teológicos e literários da Bíblia, bem como a natureza progressiva da revelação cristã.

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