Em mais um vídeo simplista e repleto de desinformação, Benites vem com mais essa para iludir incautos. Desta feita tenta com o mesmo clickbait de sempre “o que a Igreja não quis que você lesse” que, como vamos ver, é mais uma mentira dele.
Esses vídeos ateus e céticos de Youtube com esse tipo de clickbait para chamar a atenção são repletos do mais do mesmo: as mesmas bobagens já refutadas e recicladas. Na ânsia de ganhar like e engajamento vale tudo, até mentiras.
Vamos refutar ponto por ponto com fontes acadêmicas.
Alegação: O Evangelho de Tomé não é uma narrativa, mas uma coletânea de 114 ditos atribuídos a Jesus (02:03)
Transcrição:
“O evangelho de Tomé é um evangelho apócrifo gnóstico descoberto em 1945 em Nag Hammadi no Egito. Diferente dos Evangelhos canonizados, ele não é uma narrativa sobre a vida de Jesus, mas uma coletânea de 114 ditos atribuídos a Ele.”
Refutação Acadêmica:
A ausência de narrativa histórica no Evangelho de Tomé é um dos motivos pelos quais ele foi rejeitado como texto canônico pela Igreja primitiva. Os Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e o Evangelho de João apresentam uma estrutura biográfica que combina eventos históricos, ensinamentos e milagres de Jesus, alinhados com o propósito apostólico de testemunhar a vida, morte e ressurreição de Cristo.
De acordo com Irineu de Lyon (Contra as Heresias , século II), os textos gnósticos, incluindo o Evangelho de Tomé, foram rejeitados porque “separavam o Salvador da história”. Ou seja, eles descontextualizavam Jesus de sua encarnação, vida terrena e obra salvífica. Em contraste, os Evangelhos canônicos enfatizam que a salvação ocorre através da encarnação, morte e ressurreição de Cristo, conforme afirmado em Romanos 5:8 e Hebreus 2:14-15.
Além disso, a falta de contexto histórico nos ditos de Tomé torna difícil verificar sua autenticidade. Como observa o estudioso Bart Ehrman (Lost Scriptures ), muitos dos ditos no Evangelho de Tomé são versões distorcidas de passagens encontradas nos Evangelhos canônicos, adaptadas para se encaixar na cosmovisão gnóstica dualista.
1. Afirmação: O Evangelho de Tomé foca no autoconhecimento como caminho para a salvação
Citação do vídeo:
“O evangelho onde o foco está em algo muito mais poderoso: o autoconhecimento.”
Refutação:
Embora seja verdade que o Evangelho de Tomé enfatiza o autoconhecimento, é importante contextualizar essa ideia dentro do gnosticismo, que frequentemente subverteu os ensinamentos cristãos tradicionais. A perspectiva gnóstica de “autoconhecimento” (gnose) não é sinônimo do conhecimento bíblico de Deus, mas sim uma forma de iluminação espiritual que rejeita o mundo material como criação divina.
A teologia cristã ortodoxa, por outro lado, ensina que o conhecimento de Deus vem através de uma relação pessoal com Jesus Cristo, mediada pela fé e não apenas pelo intelecto ou introspecção. Como explica Irineu de Lyon em Contra as Heresias (séc. II), os gnósticos distorciam as Escrituras ao reinterpretar os ensinamentos de Jesus para promover um dualismo radical entre matéria e espírito, algo que contradiz a visão bíblica de criação como “muito boa” (Gênesis 1:31).
Portanto, enquanto o vídeo sugere que o Evangelho de Tomé oferece uma perspectiva mais “profunda” ou “poderosa”, na verdade ele reflete uma cosmovisão que foi amplamente rejeitada pelos primeiros cristãos por ser incompatível com os ensinamentos apostólicos.
Transcrição:
“O texto defende o autoconhecimento como caminho para salvação e sugere que o reino de Deus está presente no mundo e dentro de cada pessoa, acessível por meio da iluminação espiritual.”
Refutação Acadêmica:
Embora o conceito de “autoconhecimento” possa parecer atraente, ele contradiz a teologia cristã ortodoxa. No cristianismo, a salvação não é alcançada por meio do conhecimento individual ou introspecção, mas pela graça de Deus recebida pela fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9).
O Novo Testamento enfatiza que o ser humano, após a queda, está em um estado de pecado e alienação de Deus (Romanos 3:23). Portanto, o autoconhecimento isolado não pode levar à salvação, pois o ser humano precisa de redenção divina. Como afirma Agostinho de Hipona (Confissões ), o coração humano só encontra descanso quando repousa em Deus, não em si mesmo.
Além disso, a ideia gnóstica de que o “reino de Deus está dentro de você” (como interpretado no vídeo) é frequentemente mal compreendida. Em Lucas 17:21, Jesus diz aos fariseus que “o reino de Deus está entre vós”, referindo-se à sua própria presença como Messias, e não a uma experiência subjetiva de iluminação interior.
Fonte: Craig Blomberg, The Historical Reliability of the Gospels .
Alegação: O Evangelho de Tomé pertence ao gnosticismo, que via o mundo material como uma prisão criada por um demiurgo inferior (03:25)
Transcrição:
“Os gnósticos condenados como hereges por Irineu de Lyon e pela tradição Ortodoxa Cristã viam este mundo como uma prisão ilusória criada por uma divindade inferior, o demiurgo.”
Refutação Acadêmica:
O gnosticismo, como sistema filosófico-religioso, contradiz diretamente a visão bíblica da criação. Em Gênesis 1:31, Deus declara que toda a criação é “muito boa”. A doutrina cristã tradicional sustenta que o mundo material foi criado por Deus e, embora tenha sido afetado pelo pecado, não é intrinsecamente mau.
O conceito gnóstico do demiurgo — uma divindade inferior responsável pela criação do mundo material — é incompatível com o monoteísmo bíblico. De acordo com Tertuliano (Contra os Gnósticos ), os gnósticos distorciam a natureza de Deus ao introduzir entidades intermediárias, como o demiurgo, para explicar o mal no mundo. Isso contrasta com a teologia cristã, que atribui tanto a criação quanto a redenção ao único Deus verdadeiro (Colossenses 1:16-17).
Ademais, o gnosticismo tende a promover um dualismo radical entre matéria e espírito, o que leva à negação do valor do corpo e da criação física. Essa visão é criticada por pensadores cristãos como Justino Mártir e Atanásio de Alexandria, que enfatizam a encarnação de Cristo como prova da bondade da criação material.
2. Afirmação: O Evangelho de Tomé não contém milagres ou eventos sobrenaturais
Citação do vídeo:
“Um evangelho onde Jesus não faz milagres, não caminha sobre as águas e nem ressuscita mortos.”
Refutação:
Essa afirmação é enganosa, pois ignora o fato de que o Evangelho de Tomé não é um relato biográfico ou histórico da vida de Jesus, mas sim uma coleção de ditos atribuídos a Ele. A ausência de narrativas sobre milagres ou eventos sobrenaturais não implica que esses eventos sejam menos importantes ou autênticos; simplesmente reflete a natureza fragmentada e alegórica do texto gnóstico.
Além disso, muitos dos ditos no Evangelho de Tomé são versões distorcidas de passagens encontradas nos Evangelhos canônicos. Por exemplo, o dito 7 do Evangelho de Tomé (“Bem-aventurados os solitários e os escolhidos, porque vós encontrareis o reino”) ecoa Mateus 5:3 (“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus”), mas altera o significado original para se alinhar com a filosofia gnóstica.
Os milagres de Jesus nos Evangelhos sinóticos e no Evangelho de João têm um propósito teológico claro: demonstrar Sua divindade e autoridade como Filho de Deus. A exclusão desses eventos no Evangelho de Tomé não prova sua superioridade, mas sim sua incompletude como documento histórico e teológico.
3. Afirmação: O Evangelho de Tomé representa um cristianismo alternativo que foi suprimido pela Igreja
Citação do vídeo:
“Um cristianismo que a tradição se esforçou para apagar.”
Refutação:
Embora seja verdade que textos gnósticos como o Evangelho de Tomé foram marginalizados pela Igreja primitiva, isso não significa que eles representavam um “cristianismo alternativo” igualmente válido. Os primeiros pais da Igreja, como Irineu de Lyon e Atanásio de Alexandria, rejeitaram esses textos porque eram inconsistentes com os ensinamentos apostólicos transmitidos oralmente e por escrito.
O cânon bíblico foi formado com base em critérios claros: apostolicidade (origem ligada aos apóstolos), ortodoxia doutrinária e uso universal nas comunidades cristãs. O Evangelho de Tomé falha nesses critérios, pois data do século II ou III d.C. (muito posterior aos Evangelhos canônicos) e reflete influências gnósticas que contradizem as doutrinas centrais do cristianismo, como a encarnação de Cristo e a redenção pela graça.
Além disso, a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi em 1945 mostrou que os textos gnósticos não eram amplamente aceitos nem difundidos na antiguidade. Eles eram produtos de grupos sectários que buscavam reinterpretar o cristianismo à luz de filosofias helenísticas e dualistas. Portanto, a exclusão desses textos não foi um ato de “supressão”, mas sim de preservação da integridade da fé cristã.
4. Afirmação: O Evangelho de Tomé ensina que o reino de Deus já está presente no mundo e dentro de cada pessoa
Citação do vídeo:
“O reino de Deus está presente no mundo e dentro de cada pessoa, acessível por meio da iluminação espiritual.”
Refutação:
Embora o Evangelho de Tomé enfatize a presença interna do reino de Deus, essa interpretação ignora a dimensão escatológica e comunitária do reino nos Evangelhos canônicos. Jesus ensinou que o reino de Deus já começou com Sua presença, mas será plenamente realizado apenas na consumação dos tempos (Mateus 6:10; Lucas 17:20-21).
A ideia gnóstica de que o reino é alcançado exclusivamente através de uma iluminação interior é problemática, pois desconsidera a necessidade da graça divina e da obra redentora de Cristo. Nos Evangelhos sinóticos, Jesus chama Seus discípulos a buscar o reino de Deus em comunidade, vivendo uma vida de amor, serviço e obediência ao Pai (Mateus 6:33; Marcos 1:15).
Além disso, a ênfase gnóstica na iluminação individual pode levar a uma espiritualidade egocêntrica, onde o relacionamento com Deus é reduzido a uma experiência subjetiva, sem responsabilidade ética ou compromisso com o próximo. Isso contrasta com a visão bíblica do reino como uma realidade tanto presente quanto futura, que transforma tanto indivíduos quanto sociedades.
Embora seja verdade que o Novo Testamento ensina que o reino de Deus está “já, mas ainda não” (already-not yet), essa perspectiva difere significativamente da interpretação gnóstica. Nos Evangelhos canônicos, Jesus ensina que o reino de Deus está presente em sua pessoa e ministério (Lucas 11:20), mas também que sua plena manifestação ocorrerá apenas no futuro, na consumação dos tempos (Apocalipse 21:1-4).
O Evangelho de Tomé, por outro lado, ignora a dimensão escatológica do reino, focando exclusivamente em uma “iluminação espiritual” individual. Essa abordagem negligencia a missão de Jesus como Salvador universal e a necessidade de uma comunidade redimida que vive em obediência ao Evangelho.
Além disso, a ênfase gnóstica no “despertar espiritual” como condição para entrar no reino contradiz o ensino bíblico de que a entrada no reino depende da graça de Deus e da fé em Cristo (João 3:3-5; Efésios 2:8-9). Como observa N.T. Wright (Surprised by Hope ), o reino de Deus é tanto uma realidade presente quanto uma esperança futura, mas sempre centrada na obra salvífica de Jesus.
5. Afirmação: O Evangelho de Tomé é compatível com filosofias orientais como o taoísmo e o budismo
Citação do vídeo:
“Jesus em Tomé não está longe de Lao-Tsé ou de Buda. Ele nos chama para o autoconhecimento, o desapego e a aceitação do momento presente.”
Refutação:
Embora existam paralelos superficiais entre alguns ditos do Evangelho de Tomé e ensinamentos orientais, essas semelhanças não provam que Jesus compartilhava essas filosofias. Na verdade, elas refletem a tendência gnóstica de sincretismo, combinando elementos do cristianismo com outras tradições religiosas e filosóficas.
Por exemplo, o conceito de “desapego” no budismo está enraizado na ideia de que o sofrimento surge do desejo e da identificação com o eu. No cristianismo, por outro lado, o desapego é entendido como uma entrega total a Deus, não como uma negação do eu, mas como uma transformação pela graça.
Além disso, a comparação entre Jesus e figuras como Lao-Tsé ou Buda ignora as diferenças fundamentais entre suas missões. Enquanto essas figuras orientais buscavam iluminação pessoal, Jesus veio como Salvador para reconciliar a humanidade com Deus (João 3:16). Sua mensagem não era de mera sabedoria humana, mas de redenção divina.
6. Alegação: O Evangelho de Tomé rejeita a dualidade entre exterior e interior, sugerindo que o reino inclui ambos (10:19)
Transcrição:
“Este evangelho rejeita a dualidade entre exterior e interior, nos diz que o reino inclui ambos.”
Refutação Acadêmica:
Embora o vídeo sugira que o Evangelho de Tomé oferece uma visão equilibrada entre o externo e o interno, isso é questionável à luz de sua cosmovisão gnóstica. Na prática, o gnosticismo tende a privilegiar o interior (o mundo espiritual) em detrimento do exterior (o mundo material).
Por exemplo, o dito 114 do Evangelho de Tomé afirma que “Maria [Magdalena] será digna de vida” apenas se ela se tornar masculina, simbolizando a transcendência do corpo feminino-material para alcançar a alma espiritual-masculina. Esse tipo de linguagem dualista é problemático, pois desvaloriza a criação física e contradiz o ensino bíblico de que homens e mulheres são igualmente criados à imagem de Deus (Gênesis 1:27).
Além disso, a ênfase gnóstica no “interior” como fonte de verdade absoluta ignora a importância da revelação divina na Escritura e na história. Como argumenta Karl Barth (Church Dogmatics ), a verdade cristã não é derivada da introspecção humana, mas da Palavra de Deus revelada em Jesus Cristo.
7. Alegação: O Evangelho de Tomé compartilha semelhanças com Nietzsche e outras filosofias (14:41)
Transcrição:
“E se Jesus e Nietzsche estivessem dizendo a mesma coisa, separados por quase 2000 anos?”
Refutação Acadêmica:
Essa comparação é problemática, pois mistura categorias distintas. Enquanto Nietzsche critica o cristianismo tradicional por promover valores como humildade, compaixão e sacrifício — que ele via como “anti-vida” —, o Evangelho de Tomé, mesmo sendo gnóstico, ainda mantém elementos cristãos que Nietzsche rejeitaria.
Nietzsche, em O Anticristo , critica especificamente a moralidade cristã por negar os instintos vitais e promover uma visão ascética da existência. Embora o gnosticismo também negue o valor do mundo material, ele o faz por razões diferentes, baseadas em seu dualismo metafísico.
Além disso, a ideia de que Jesus e Nietzsche poderiam estar dizendo “a mesma coisa” ignora as diferenças fundamentais entre suas cosmovisões. Enquanto Nietzsche busca uma afirmação radical da vida terrena, o Evangelho de Tomé promove uma fuga do mundo material para alcançar a iluminação espiritual. Essas duas perspectivas são diametralmente opostas.
Alegação: O Evangelho de Tomé propõe um processo iniciático de busca espiritual com etapas específicas (busca, descoberta, perturbação, espanto e reinado).
Essa interpretação do Evangelho de Tomé apresenta uma estrutura espiritual que parece atraente à primeira vista, especialmente para aqueles inclinados ao misticismo ou filosofias introspectivas. No entanto, essa abordagem pode ser questionada tanto do ponto de vista teológico quanto histórico e bíblico. Abaixo, apresento uma refutação detalhada dessa alegação:
1. Contradição com a Teologia Cristã Ortodoxa
O cristianismo ortodoxo, fundamentado nos ensinamentos dos Evangelhos canônicos e das Escrituras, enfatiza que a salvação não é alcançada por meio de um processo iniciático ou autoconhecimento isolado, mas pela graça de Deus recebida através da fé em Jesus Cristo. Em Efésios 2:8-9, está escrito:
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
O Evangelho de Tomé, ao propor um caminho de transformação espiritual centrado no autoconhecimento e em etapas iniciáticas, contradiz essa perspectiva. Ele sugere que o ser humano pode alcançar a salvação por meio de um processo interno de iluminação, o que desconsidera a necessidade de uma intervenção divina e a obra redentora de Cristo.
Além disso, a ideia de “reinado” como um estado de consciência universal (descrito como “reconhecer-se como parte do universo consciente”) contrasta com a visão bíblica do reino de Deus. Nos Evangelhos canônicos, o reino de Deus é apresentado como uma realidade objetiva, estabelecida por Deus, e não como uma experiência subjetiva ou metafísica individual (Mateus 6:10, Lucas 17:21).
2. Ausência de Base Bíblica para as Etapas Propostas
As etapas descritas no Evangelho de Tomé (busca, descoberta, perturbação, espanto e reinado) não têm paralelo claro nos ensinamentos de Jesus conforme registrados nos Evangelhos canônicos. Embora Jesus tenha falado sobre o reino de Deus e incentivado seus seguidores a buscar a verdade, ele nunca apresentou um sistema de transformação espiritual baseado em etapas iniciáticas.
Por exemplo:
- Busca : Nos Evangelhos canônicos, Jesus chama os discípulos para segui-lo, não para iniciar uma jornada de autoconhecimento solitário. A busca é direcionada para Deus, não para si mesmos (João 14:6).
- Descoberta : A descoberta no cristianismo tradicional é a revelação de Deus através de Jesus Cristo, e não uma verdade oculta acessível apenas aos “iluminados” (Hebreus 1:1-2).
- Perturbação e Espanto : Esses sentimentos podem surgir ao confrontar a verdade, mas no cristianismo ortodoxo, eles são resultado do reconhecimento do pecado e da necessidade de arrependimento, não de uma nova cosmovisão gnóstica (Romanos 3:23).
- Reinado : No cristianismo, o reinado é associado à soberania de Deus e à participação na vida eterna por meio de Cristo, não à fusão do indivíduo com o cosmos (Apocalipse 22:5).
Portanto, as etapas propostas no Evangelho de Tomé carecem de fundamento bíblico e refletem mais a influência do gnosticismo do que os ensinamentos de Jesus.
3. Influência Gnóstica e Dualismo Problemático
O processo iniciático descrito no Evangelho de Tomé está profundamente enraizado na cosmovisão gnóstica, que via o mundo material como uma prisão criada por um demiurgo inferior. Esse dualismo radical entre matéria e espírito é incompatível com a visão bíblica da criação.
Em Gênesis 1:31, Deus declara que toda a criação é “muito boa”. O cristianismo ortodoxo rejeita a ideia de que o mundo material é intrinsecamente mau ou que a salvação consiste em escapar dele. Pelo contrário, a encarnação de Cristo demonstra a bondade da criação física e a intenção de Deus de redimi-la (João 1:14, Colossenses 1:15-20).
Além disso, o conceito gnóstico de “reinado” como uma fusão com o universo consciente ignora a distinção fundamental entre Criador e criatura. Na teologia cristã, o ser humano foi criado para glorificar a Deus, não para se tornar divino ou absorver a divindade (Isaías 43:7).
4. Comparação com Nietzsche e Outros Filósofos
A comparação feita no vídeo entre o Evangelho de Tomé e filósofos como Nietzsche é problemática. Embora ambos possam compartilhar certas semelhanças superficiais (como a ênfase no presente e no autoconhecimento), suas cosmovisões são diametralmente opostas.
Nietzsche criticava o cristianismo tradicional por promover valores como humildade, compaixão e sacrifício, que ele via como “anti-vida”. Por outro lado, o Evangelho de Tomé, mesmo sendo gnóstico, ainda mantém elementos religiosos que Nietzsche rejeitaria, como a busca por um conhecimento transcendente ou a ideia de um reino espiritual.
Além disso, a interpretação de Nietzsche sobre Jesus como alguém que afirmava a vida e rejeitava o além é altamente especulativa e não encontra respaldo nos Evangelhos canônicos. Jesus claramente ensinou sobre a vida eterna e o julgamento final, temas ausentes ou reinterpretados no Evangelho de Tomé (João 5:24, Mateus 25:31-46).
5. Falta de Evidência Histórica para Autenticidade
Embora o Evangelho de Tomé seja frequentemente apresentado como um texto antigo e autêntico, sua origem e datação são altamente questionáveis. A maioria dos estudiosos concorda que o texto foi composto no século II d.C., muito depois dos Evangelhos canônicos. Isso significa que ele não pode ser considerado uma fonte histórica confiável sobre os ensinamentos de Jesus.
Ademais, Irineu de Lyon (Contra as Heresias , século II) já havia identificado os textos gnósticos, incluindo o Evangelho de Tomé, como heréticos por distorcerem os ensinamentos de Jesus para se alinharem com a filosofia gnóstica. Essa crítica permanece válida, especialmente quando analisamos as etapas iniciáticas propostas no texto.
O processo iniciático descrito no Evangelho de Tomé reflete uma cosmovisão gnóstica que está em desacordo com os ensinamentos do cristianismo ortodoxo. As etapas propostas (busca, descoberta, perturbação, espanto e reinado) carecem de base bíblica e contradizem a teologia cristã tradicional, que enfatiza a graça de Deus e a centralidade de Cristo na salvação.
Além disso, a influência gnóstica e a falta de evidências históricas para a autenticidade do texto reforçam a posição da Igreja primitiva de rejeitar o Evangelho de Tomé como herético. Para aqueles que buscam entender os ensinamentos de Jesus, os Evangelhos canônicos permanecem a fonte mais confiável e teologicamente coerente.
Conclusão
Embora o Evangelho de Tomé seja um documento fascinante para estudiosos da história do cristianismo, ele não oferece uma alternativa válida aos Evangelhos canônicos. Suas distorções teológicas, falta de historicidade e alinhamento com filosofias não cristãs explicam por que foi rejeitado pelos primeiros cristãos. Ao analisar criticamente as afirmações do vídeo, fica claro que o Evangelho de Tomé não deve ser visto como uma revelação perdida, mas como um reflexo das tensões entre o cristianismo ortodoxo e as heresias gnósticas nos primeiros séculos da era cristã.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui