O canal deuses e homens tentou fazer uma refutação ao Argumento Cosmológico Kalam.
A refutação do vídeo apresentado por Emerson Borges sobre o Argumento Cosmológico Kalam envolve uma análise filosófica e científica. Abaixo, apresento uma refutação acadêmica ponto por ponto das alegações feitas no vídeo:
1. “Suposições não provadas” e o uso de leis distorcidas
Borges argumenta que o Argumento Cosmológico Kalam se baseia em suposições não provadas e que distorce leis universais, em especial a lei da causa e efeito. No entanto, isso ignora o fato de que o argumento não depende da observação direta da criação de matéria ou energia, mas se baseia em um raciocínio filosófico. A primeira premissa, de que “tudo o que começa a existir tem uma causa”, está enraizada em um princípio metafísico que, até onde sabemos, é universalmente aceito tanto na ciência quanto no cotidiano. A objeção de que nunca se observou a criação de matéria ou energia não desqualifica essa premissa, pois ela se aplica ao conceito de causalidade, e não apenas à observação empírica direta.
2. Aplicação da Lei de Causa e Efeito
Borges sugere que a lei de causa e efeito não se aplica à criação de matéria ou energia, pois isso nunca foi observado. Contudo, essa objeção ignora a distinção entre mudança ontológica e mudança física. Embora não se tenha observado a criação ex nihilo (a partir do nada) de matéria, o argumento filosófico por trás do Kalam não se limita a fenômenos observáveis no universo físico. Em vez disso, o Kalam lida com a origem do próprio universo, onde as leis do tempo e do espaço podem não se aplicar da mesma forma que observamos no universo atual.
Além disso, o conceito de causa em metafísica não exige a observação de um fenômeno, mas é baseado em princípios racionais que transcendem a observação empírica. No contexto do argumento, o foco é na causa primeira ou causa incausada (Deus), que, por definição, estaria fora das leis do tempo e da matéria.
3. Falácia da Súplica Especial
Alega-se que os defensores do Kalam cometem a falácia da súplica especial ao isentar Deus das leis de causa e efeito, aplicando-as apenas ao universo. No entanto, isso é um mal-entendido do conceito de causalidade que o argumento propõe. A premissa do argumento cosmológico é que tudo o que “começa a existir” tem uma causa, mas Deus, segundo a teologia clássica, não “começou a existir”. Ele é eterno, sem início, e portanto não se enquadra na premissa.
Este tipo de distinção não é uma “súplica especial”, mas uma consequência lógica da definição de Deus dentro do contexto filosófico. A regressão infinita de causas que Borges sugere seria um problema para qualquer modelo que não introduza uma causa primeira atemporal. Ao contrário do que Borges afirma, teólogos e filósofos que defendem o argumento cosmológico não estão ignorando a necessidade de explicar a origem de Deus, mas sim afirmando que, como Deus não teve começo, Ele não necessita de uma causa.
4. A Navalha de Ockham e o Multiverso
Borges recorre à Navalha de Ockham, afirmando que, por simplicidade, é preferível supor que o universo sempre existiu ou surgiu sem causa, já que isso exige menos suposições. No entanto, a Navalha de Ockham sugere que devemos evitar multiplicar entidades desnecessariamente, não que devemos optar por explicações mais simples ao custo da coerência lógica. A teoria do multiverso que Borges menciona é uma hipótese altamente especulativa e não confirmada empiricamente, envolvendo suas próprias suposições complexas.
Além disso, a afirmação de que o universo poderia “sempre ter existido” não resolve o problema, pois o universo como o conhecemos parece ter tido um início definido (o Big Bang). As evidências cosmológicas apontam para uma origem finita do universo, o que fortalece a segunda premissa do Kalam, de que “o universo começou a existir”. Isso torna necessária uma causa externa ao universo físico, que, dentro do argumento, é Deus.
5. O Problema da Regressão Infinita
A objeção de regressão infinita apresentada por Borges assume que, se tudo requer uma causa, então Deus também requereria uma. No entanto, o argumento cosmológico sustenta que uma regressão infinita de causas é logicamente impossível. Isso levaria a uma série sem fim de causas, o que significa que nada jamais poderia existir, pois não haveria uma primeira causa para desencadear o processo. A conclusão lógica, então, é que deve haver uma causa primeira que não seja causada — e essa é a função de Deus no argumento.
6. Teoria dos Multiversos e Expansão/Contração Infinita
A hipótese de que o universo faz parte de um multiverso ou de ciclos infinitos de expansão e contração é uma teoria especulativa sem evidência empírica robusta. Mesmo que essa hipótese fosse verdadeira, ainda assim ela não resolveria a questão da causa primeira. Mesmo o multiverso precisaria de uma explicação para sua existência. A origem do “primeiro” multiverso ou o mecanismo que desencadeia a expansão infinita teria que ser abordado filosoficamente.
Conclusão
As objeções levantadas por Emerson Borges falham ao não levar em conta a complexidade filosófica do Argumento Cosmológico Kalam. Suas críticas baseiam-se em mal-entendidos sobre causalidade, além de recorrer a hipóteses científicas não comprovadas e especulativas como o multiverso. O argumento cosmológico, especialmente quando refinado por pensadores como William Lane Craig, continua sendo uma das defesas mais sólidas para a existência de Deus, precisamente porque aborda questões filosóficas profundas sobre o início do universo e a necessidade de uma causa primeira.
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