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Read the first verse of the Bible in the original Hebrew!

Leia o Primeiro Verso da Bíblia em Hebraico: Uma Análise Detalhada

O cuidado na interpretação bíblica é o tema principal do aprendizado do curso Kit Hebraico e Grego da Universidade da Bíblia.

Hoje você e eu vamos ler o primeiro versículo da Bíblia em sua língua original, o hebraico. Não se preocupe – você não precisa de nenhum conhecimento prévio de hebraico. Este artigo (e o vídeo que o inspirou) foi criado para tornar o hebraico acessível a qualquer pessoa interessada.

Se você é judeu, cristão, muçulmano, ou até mesmo ateu, este texto transcende barreiras religiosas. É uma obra universal que moldou civilizações e continua a influenciar bilhões de pessoas ao redor do mundo. O Tanakh (ou Antigo Testamento) foi escrito em hebraico, a língua de figuras históricas como o Rei Davi, Elias, Ezequiel e muitos outros.

Embora apenas cerca de 5 milhões de pessoas falem hebraico nativamente hoje, representando apenas 0,06% da população mundial, esta língua ainda é viva e vibrante, especialmente em Israel, onde nasci e cresci. Para nós, falantes nativos de hebraico, abrir uma Bíblia em sua versão original é algo natural. Podemos lê-la sem dificuldade e, na maioria dos casos, compreendê-la integralmente. No entanto, para quem não fala hebraico, as traduções podem deixar de capturar certos detalhes importantes. Este artigo busca “pontes” essa lacuna linguística, tornando o hebraico mais acessível e revelando insights fascinantes.


O Primeiro Verso em Hebraico

Antes de mergulharmos nas palavras individuais, aqui está o primeiro versículo do Gênesis em hebraico:

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ

Agora, vamos analisar cada elemento deste versículo, começando pela direita – já que o hebraico é escrito e lido nessa direção, ao contrário do inglês ou do português.


1. בְּרֵאשִׁית (Bereshit) – “No princípio”

A primeira palavra do versículo é Bereshit, que significa “no princípio”. Esta palavra também dá nome ao livro de Gênesis em hebraico. Os títulos dos cinco livros da Torá (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) são derivados de suas primeiras palavras.

Em hebraico, cada palavra tem uma raiz composta por três letras. A raiz de Bereshit é רֹאשׁ (rosh), que significa “cabeça”. Essa mesma raiz aparece em várias outras palavras importantes:

  • Rosh ha-memshalah (ראש הממשלה): “Chefe do governo” ou “primeiro-ministro”.
  • Rosh Hashaná (ראש השנה): Literalmente, “cabeça do ano”, o Ano-Novo judaico.

Portanto, Bereshit não apenas denota “no início”, mas sugere algo mais simbólico: um ponto de partida supremo, uma origem primordial. Em contextos modernos, os israelenses usam uma palavra diferente para “no início” (ba-teḥillah), mas Bereshit permanece reservada para ocasiões formais ou poéticas.

Além disso, o número sete é altamente simbólico na narrativa da criação. Ele aparece repetidamente no capítulo 1 do Gênesis, como nos sete dias da semana e nas sete vezes que a palavra “bom” é mencionada. Curiosamente, o próprio versículo introdutório contém exatamente sete palavras em hebraico – uma escolha intencional que reforça o tema da perfeição divina.


2. בָּרָא (Bara) – “Criou”

A segunda palavra é Bara, que significa “criou”. No entanto, essa palavra tem um significado muito mais específico em hebraico do que o verbo “criar” em inglês ou português. Bara refere-se à criação ex nihilo – algo feito do nada.

Por exemplo:

  • Quando criamos um arquivo digital, estamos usando ferramentas existentes (computadores, software). Isso não seria considerado bara.
  • Da mesma forma, produzir ruído ou arte envolve materiais pré-existentes.

Assim, Bara é reservado exclusivamente para Deus, indicando Sua capacidade única de criar algo do absoluto vazio. Essa distinção é crucial para entender a teologia subjacente ao versículo.

Outro detalhe interessante é a ordem das palavras. Em português, diríamos Deus criou, colocando o sujeito antes do verbo. Em hebraico, a estrutura é invertida: bara Elohim (“criou Deus”). Essa inversão é comum no hebraico bíblico e adiciona ênfase ao ato de criação.


3. אֱלֹהִים (Elohim) – “Deus”

A terceira palavra é Elohim, um dos nomes de Deus no hebraico bíblico. Surpreendentemente, Elohim está no plural gramatical, indicado pelo sufixo -im (similar ao “-s” em inglês). No entanto, isso não implica politeísmo. Para entender por quê, precisamos voltar ao verbo anterior, bara.

Em hebraico, os verbos são conjugados de acordo com o número e gênero. Aqui, bara está na forma singular masculina, referindo-se a Elohim como um único ser. Portanto, o uso do plural serve como uma forma de respeito ou majestade, similar ao “nós real” em algumas línguas europeias.

Curiosamente, Elohim também pode ser usado para referir-se a deuses pagãos, como nos Dez Mandamentos: “Não terás outros deuses diante de mim”. Contudo, no contexto do Gênesis, fica claro que estamos falando de um único Deus onipotente.


4. אֵת (Et) – Um Marca Textual Única

A quarta palavra, et, é uma peculiaridade do hebraico que não tem equivalente direto em outras línguas. Ela acompanha objetos diretos e é composta pelas duas primeiras e últimas letras do alfabeto hebraico: Aleph e Tav.

Embora desnecessária para o sentido geral da frase, et é extremamente comum no hebraico bíblico e cotidiano. David Ben-Gurion, o fundador do Estado de Israel, era conhecido por evitar essa palavra, considerando-a supérflua. No entanto, sua presença constante na Bíblia reflete a riqueza e complexidade da língua hebraica.


5. הַשָּׁמַיִם (Hashamayim) – “Os céus”

A quinta palavra é hashamayim, que significa “os céus”. O prefixo ha- funciona como o artigo definido “o” em inglês.

Enquanto “céu” em inglês pode evocar imagens espirituais ou metafísicas, shamayim tem um tom mais tangível. Pode se referir tanto ao firmamento físico (como o céu azul acima de nossas cabeças) quanto a uma dimensão celestial mais elevada. Essa dualidade é característica do hebraico bíblico.

Além disso, assim como Elohim, shamayim sempre aparece no plural. Não sabemos ao certo se existe uma forma singular (sham) ou se a ideia de múltiplos céus é inerente ao conceito.


6. וְאֵת (Ve-et) – “E”

A sexta palavra é outra instância de et, desta vez precedida pelo conectivo ve- (“e”). Novamente, ela marca o objeto direto, conectando-o ao próximo substantivo.


7. הָאָרֶץ (Ha-aretz) – “A terra”

Finalmente, chegamos à última palavra: ha-aretz, ou “a terra”. Enquanto “terra” em inglês pode significar o planeta Terra, solo ou até território político, aretz abrange essas interpretações e mais. No hebraico bíblico, ela frequentemente se refere à terra prometida ou ao solo sob nossos pés.

Uma distinção importante é que o hebraico possui outra palavra para “solo” ou “terra” em um sentido mais concreto: adamah. Essa palavra será relevante mais adiante no Gênesis, especialmente na história da criação de Adão (Adam).


Conclusão: Revisitando o Versículo

Agora que exploramos cada palavra, voltemos ao versículo completo:

בְּרֵאשִׁית בָּרָא אֱלֹהִים אֵת הַשָּׁמַיִם וְאֵת הָאָרֶץ

Traduzido literalmente, poderíamos dizer:
“No princípio, criou Deus os céus e a terra.”

No entanto, conforme discutimos, essa tradução simplificada perde muitas camadas de significado presentes no original. Ao ler o texto em hebraico, percebemos a profundidade linguística e teológica cuidadosamente tecida em cada palavra.


Próximos Passos

Se você achou essa análise interessante, fique ligado para o próximo vídeo, onde exploraremos o segundo versículo do Gênesis com o mesmo nível de detalhe. Planejo cobrir pelo menos o primeiro capítulo do Gênesis – e talvez muito mais!

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