(Publicado em “O Lutador”, de 4 de julho de 1943).
Os livros de Allan Kardec e dos demais espíritas admitem a existência de maus espíritos, embora neguem a existência dos demônios, os maus espíritos por excelência. Assim, por exemplo, no “Evangelho segundo o Espiritismo”, todo o capítulo 21 trata dos falsos profetas “entre os desencarnados”, os quais, diz Allan Kardec, “são bem mais perigosos que os vivos” (pág. 309). Apresentam-se, diz o autor máximo do Espiritismo, na mesma página, como Cristo, como Maria, sua Mãe e, até, como Deus”. Na (pág. 314) diz textualmente:
Neste momento há em vários países, muitos pretensos Cristos, como há muitos pretensos Elias, muitos S. João ou S. Pedro e não é possível absolutamente que sejam verdadeiros todos. Desconfiai, pois, dos falsos profetas, porque muitos impostores se dirão enviados de Deus. Para vergonha da humanidado hão encontrado pessoas assás crédulas que lhes crêem nas torpezas.
E ele Allan Kardec e todos os espíritas creem nas torpezas dos espíritos mentirosos, afastando-os do caminho da verdade. Sim, porque o problema da identidade dos espíritos é o ponto fraco do Espiritismo e é o ponto mais importante.
E a questão não ó tratada por Allan Kardec e muito menos pelos demais espíritas como, por exemplo Carlos Imbassahy, em seu livro O espiritismo à luz dos fatos com a seriedade necessária. Admitimos os fatos, mas quem é o causante? Aí é que está o calcanhar de Aquiles do Espiritismo.
Vamos ver como o Espírita nº 1, que critica as pessoas assás crédulas que creêm nas torpezas dos maus espíritos, trata a questão. E vamos ver desde o início do espiritismo. Desde que as meninas Fox começaram a pantomima das pancadas, o demônio procurou enfiar-se entre os homens sem ser pressentido.
Todo o mundo se dava à curiosidade de brincar com as mesas dançantes. Um deles era Allan Kardec. Viu-se, diz ele na introdução do Livro dos Espíritos que havia sob as pancadas um fator inteligente e não meramenle fatores mecânicos. E ele, assaz crédulo, foi perguntar ingenuamente ao fenômeno quem era.
Era lógico que o diabo não disse que era ele, demônio. Disse que era um espírito, um gênio, deu um nome e diversas informações a respeito de si mesmo, as quais foram cridas como Evangelho. Depois o espírito, visto que era crido como um dogma, ensinou outro modo de escrever. Aplicando um lápis num cesto, este rodopiava e escrevia frases. Livro dos Espíritos, introdução, pg. 20). Depois aos poucos atuavam ao mesmo médium de tal forma que ele escrevia automaticamente, mecanicamente. E as primeiras comunicações formaram o Livro dos Espíritos, a Bíblia do Espiritismo moderno ao lado do Livro dos Médiuns, começado a 10 de Julho de 1853.
Entretanto, nasceu de uma ingenuidade, de um erro jurídico de fazer do fenômeno causa e juiz ao mesmo tempo. Era assás crédulo esse Allan. E já que Allan ataca aos que não sabem distinguir os bons dos maus espíritos dir-se-io que, pelo menos, ele seria escrupuloso nesse assunto. Mas é engano. Ele também é assaz crédulo neste assunto importante.
Senão vejamos. Ele ensina (pág. 315 do Evangelho segundo o Espiritismo), que o meio principal é passar os ensinamentos dos espíritos pelo crivo da razão e do bom senso. Ora, os que frequentam as sessões estão em geral já desregulados. Que razão e que bom senso vão ter certos analfabetos e beócios, que só vivem de ódio contra a religião católica e seus sacramentos?
E depois o espírito saído das trevas vem como espírito do luz. Faz o bem ao corpo, ensinar coisas que à primeira vista podem parecer certas. Muitas coisas do Espiritismo coincidem com o catolicismo. Mas basta se distanciar de um só dogma para fazer de um homem um herege e condenado. Por mais filósofo que seja um homem, nunca superará em astúcia ao demônio.
O crivo da razão e do bom senso seriam norma segura, não naturalmente falando, mas desde que se comparem os ensinos dos espíritos com a mesma Igreja do Cristo e de todos os seus dogmas eternos por Ele ensinados. A norma principal, porém, Allan Kordec não a faz consistir em seu cotejo e identificação com os ensinos de Cristo, da Igreja mas no seguinte:
Uma só garantia existe para o ensino dos espíritos: A concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número do médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares (ld. pág. 14).
Allan Kardec de minha alma, então para se conhecer a identidade dos bons ou maus espíritos não entram os ensinos de Cristo?
A Igreja Católica admite o aparecimento, permitindo Deus, de almos do outro mundo, como os anjos e santos. Mas seus ensinos, uma vez que o Filho de Deus deu a última palavra em religião, não podem contrariar os do Igreja. A pedra de toque dos bons espíritos seria a concordância sim, não com êles mesmos, mas com os ensinamentos de Cristo. Os que o contrariarem “são maus espíritos”.
E tu, Allan Kardec, foste assaz ingênuo de crer nos demônios “desde que todos êles ensinassem em diversos lugares a mesma coisa”. Meu Deus, quanta ingenuidade! E dizer que desta ingenuidade, deste “logro de satanás” nasceu essa heresia que a tantos engana, especialmente no Brasil, terra simples e boa.
Espíritas, reconhecei este erro de vosso pai, deixai o engano e voltai à casa paterna, onde se acham guardados os ensinamentos puros de Cristo, o “grande Espírito”, que veio ao mundo para dar aos homens a última revelação.
Fonte: “Horas de Combate”, do Mons. Ricardo Domingos Liberali, OFM, pg. 161ss.