Mateus Scherer Cardoso
Escreveu Allan Kardec, o expoente máximo da doutrina espírita:
“O Cristianismo e o Espiritismo ensinam a mesma coisa.” 1
“O Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana.” 2
À parte da liberdade religiosa vigente em nosso país e do dever cristão de amar ao seu próximo, sinto-me na obrigação de esclarecer uma falácia muito propagada pelo Espiritismo: a de que este é compatível com o Cristianismo — e até mesmo um aperfeiçoamento deste último.
Seguem abaixo os principais pontos de discórdia entre as duas doutrinas.
- A BÍBLIA
Espiritismo: Nega a Bíblia como divinamente inspirada.
“A Bíblia não pode ser considerada produto da inspiração divina. É de origem puramente humana, semeada de ficções e alegorias, sob as quais o pensamento filosófico se dissimula e desaparece na maior parte das vezes.” 3
“Nem a Bíblia prova coisa nenhuma, nem temos a Bíblia como probante. O espiritismo não é um ramo do cristianismo como as demais seitas cristãs. Não assenta seus princípios nas Escrituras. Não rodopia junto à
Bíblia. A nossa base é o ensino dos espíritos, daí o nome espiritismo.” 4
Cristianismo: A Bíblia é a “Palavra de Deus”. Ela consiste de escritos divinamente inspirados e que testificam a respeito de Jesus Cristo. Veja Mateus 5:17–18 e 22:29, João 5:39, Atos 17:10–11 e 18:24–28, Romanos 1:1–4, 1 Coríntios 15:3–4, 2 Timóteo 3:14–17, 2 Pedro 1:20–21.
- NECROMANCIA
Enquanto que um dos pilares do Espiritismo é a consulta aos espíritos dos humanos já falecidos (através dos médiuns), a Bíblia é clara ao ensinar que Deus proíbe aos homens a consulta aos mortos. Veja Levítico 19:31, 20:6 e 20:27, Deuteronômio 18:9–12, Isaías 8:19–20 e 19:2–3, Lucas 16:19–31.
- REENCARNAÇÃO
Outro princípio básico do Espiritismo é o da reencarnação, a fim de que os humanos se aperfeiçoem até que alcancem um nível tal de desenvolvimento semelhante ao nirvana da doutrina budista (incorporação ao divino). A reencarnação é necessária para que cada um pague seu carma a fim de que a própria pessoa salve a si mesma.
“Através desse processo, de vidas sucessivas, o espírito vai se aperfeiçoando, desligando-se dos laços materiais que ainda o prendem, a caminho da perfeição (…) é óbvio que devemos passar por inúmeras existências corporais (…) O número dessas existências vai depender de nós, do aproveitamento que tivermos nas nossas vidas sucessivas (…) depois da última encarnação, teremos alcançado a posição de espírito puro.” 5
E também:
“Não, a missão de Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. É o que os espíritos, aos milhares, afirmam em todos os pontos do mundo.” 6
A Bíblia, entretanto, afirma que não existe reencarnação (veja 2 Samuel 12:23, Jó 7:9–10, 10:21, 14:1012 e 16:22, Salmo 78:39, Eclesiastes 9:5 e 12:7, João 5:28–29 e Hebreus 9:27–28). Além disso, a própria existência e necessidade da reencarnação invalidaria o motivo de um Salvador ter morrido para pagar por nossos pecados conforme pregado pelo Cristianismo.
4) JESUS CRISTO
Segundo o Espiritismo, Jesus Cristo é apenas um dentre tantos espíritos evoluídos, que cumpre o papel de mostrar aos humanos o caminho do auto aperfeiçoamento espiritual. O Espiritismo nega também que Cristo seja Deus encarnado. Um artigo muito revelador da ideia espírita a respeito de Jesus Cristo é Jesus para o Espiritismo, do escritor, médium e apologista espírita Amílcar Del Chiaro Filho 7.
Já a base do Cristianismo é a correta definição do caráter de Cristo. Ele é sim Deus na carne e o
Salvador da humanidade, e prega que a única forma de os homens serem justificados perante Deus é através Dele. Ele morreu por nossos pecados para que pudéssemos nos reconciliar com Deus, mediante unica e exclusivamente em nossa fé nesse Seu supremo ato de amor e sacrifício.
Veja Mateus 7:21–23 e 26:27–28, Lucas 24:44–47, João 1:1–3, 1:14, 3:14–18, 3:36, 6:39–48, 14:6 e 17:3, Atos 2:21, 4:8–12, 15:10–11 e 16:30–31, Romanos 3:20–28, 6:22–23, 10:3–13 e 11:6, 1 Coríntios 1:17–18 e 15:14, 2 Coríntios 5:21, Gálatas 1:3–8, 2:16–21, 3:10–14, 3:21–26 e 5:4–6, Efésios 2:8–16, Filipenses 3:2–9, Colossenses 1:13–22 e 2:8–14, Tito 2:11 e 3:3–7, 1 Pedro 1:13–21 e 2:21–25, 1 João 1:7–9, 2:1–2, 4:9–10 e 5:1113, Judas 1:4, Apocalipse 1:5–6.
O Jesus afirmou que era Deus e jamais repreendeu aqueles que assim O reconheciam (veja Mateus 9:1–8 e 16:13–17, Marcos 10:17–18, Lucas 22:66–71, João 6:46–48, 8:18–19, 8:25–29, 8:58–59, 9:35–38, 10:30–33, 11:25–27, 12:44–46, 14:5–11 e 20:26–29) e foi justamente por isso que os fariseus o condenaram à morte (Marcos 14:60–64).
Outro aspecto fundamental do Cristianismo é a crença na ressurreição de Cristo. Segundo o Espiritismo, Cristo ressuscitou em um corpo espiritual (chamado de perispírito) e a ressurreição física não existe. Já o Cristianismo (e a Bíblia) é bem claro ao afirmar que Cristo ressuscitou com o mesmo corpo físico que tinha até a sua morte na Cruz e que a ressurreição é uma realidade (Mateus 28:5–10, Marcos 16:6–14 e 16:19, Lucas cap. 24, João 11:38–45 e caps. 20 e 21, Romanos 6:9 e 10:9, 1 Coríntios 15:1–8 e 15:12–22, 1 Tessalonicenses 4:16, 1 Pedro 1:3 e 1:18–23, Apocalipse 20:5–6).
Como aqui mostrado, são óbvias e claras as diferenças irreconciliáveis entre o Espiritismo e o Cristianismo. A doutrina espírita é contrária às revelações divinas como encontradas na Bíblia. Obviamente, cada pessoa é livre para acreditar naquilo que bem entender, mas há de se separar as duas doutrinas — um espírita não pode também ser um cristão, assim como um cristão não pode também ser um espírita. “Espírita cristão” (ou “cristão espírita”) é, portanto, um oxímoro.
UMA QUESTÃO DE LÓGICA
Suponha que dois homens de visão normal, Fulano e Beltrano, adentrem juntos e ao mesmo tempo em um quarto, sem tocar no interruptor de luz. Nisso, Cicrano, que está do lado de fora do quarto, pergunta a ambos: “A luz do quarto está acesa ou apagada?”. Enquanto Fulano responde que ela está acesa, Beltrano afirma com convicção que a mesma está apagada.
Minha pergunta é: existe alguma possibilidade de estarem AMBOS FALANDO A VERDADE naquele determinado instante (ou AMBOS MENTINDO)?
Duas leis da Lógica Clássica, o Princípio da Não–Contradição e a Lei do Terceiro Excluso, impedem que a luz esteja tanto acesa quanto apagada no mesmo instante — ou ela está acesa ou está apagada! Assim sendo, um dos dois está mentindo.
As crenças do Cristianismo (Jesus Cristo é Deus encarnado, a salvação é dada por Ele, não há reencarnação, a necromancia é proibida) e as do Espiritismo (Jesus Cristo não é Deus encarnado, a salvação é alcançada pelos méritos dos homens, há várias reencarnações, a necromancia é incentivada) são antagônicas e, portanto, mutuamente exclusivas. Não há a MENOR possibilidade de ambas estarem certas (ou ambas estarem erradas) quando comparadas entre si.
O escritor irlandês C. S. Lewis refutou brilhantemente a ideia do Espiritismo sobre Jesus de Nazaré:
“Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus’. Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático — no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e ainda é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.” 8
Note que é simplesmente incoerente chamar Jesus de “grande mestre da moral” ou um “espírito evoluído” e ao mesmo tempo negar a Sua divindade. Cristo afirmou que era Deus — e isso ou é ou não é verdade! Se é verdade, então é o Espiritismo que está transmitindo um falso ensinamento — e ainda que ou por má-fé ou por ignorância, é de qualquer forma uma falsidade. Mas se Ele não é Deus (e é o que o Espiritismo afirma), então Jesus ou estava mentindo (dolosamente, por pura má-fé) ou era um lunático (culposamente, devido a algum transtorno psicológico). De qualquer forma, nem um mentiroso nem um lunático podem ser “espíritos evoluídos”, seja, respectivamente, por mau-caratismo ou por deficiência mental.
Com amor por você, mas também — e sobretudo — pela verdade.
- O Evangelho Segundo o Espiritismo, introdução, VII
- Obras Póstumas, 308
- León Denis, Cristianismo e Espiritismo, 130
- Carlos Imbassahy, À Margem do Espiritismo, 3ª ed., 1981, p. 214
- Emanuel Swedenborg, Mundo dos Espíritos, p. 92
- Léon Denis, ibid., p. 88
- Disponível em org.br/portal/artigos/amilcar/jesus–para-o-espiritismo.html. Acesso em 1o de julho de 2015.
- Cristianismo Puro e Simples, último parágrafo do livro 2 (No que Acreditam os Cristãos), capítulo 3 (Uma Alternativa Estarrecedora)
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