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Pio XII sobre os nazistas: “Se querem luta, não nos assustaremos!”

PioXIIA Harvard University Press publicou uma biografia de Pio XII (Soldier of Christ: The life of Pope Pius XII [Soldado de Cristo: a vida do Papa Pio XII) que mais uma vez demonstra a retidão da conduta do Papa Eugenio Pacelli diante da perseguição a que os judeus e outros foram submetidos na Europa sob o regime nazista.

Um proceder que veio de antes. Como demonstrou o autor do livro e professor da Universidade de Ontário, o canadense Robert Ventresca, em L’Avvenire , a correspondência entre o cardeal Eugenio Pacelli como Secretário de Estado (também havia sido núncio na Alemanha) e os respresentantes do regime de Hitler, “chama a atenção por toda a força e clareza com a qual ele criticou o governo alemão por canais diplomáticos privados, por causa das violações da Concordata de 1933. Pacelli tinha entendido muito bem o quão difícil foi lidar com Hitler e quanto tinha de lutar para defender os interesses materiais e espirituais da Igreja. Não queria uma colisão frontal, o que poderia levar à Santa Sé a uma ruptura das relações diplomáticas com a Alemanha. Temia sua reação. As fontes mostram sua tenacidade, na convicção de que manter relações quase a qualquer custo foi o mal menor.”

Um parecer diferente de Pio XI
É verdade que havia uma discrepância entre o papa Pio XI e seu secretário de Estado e futuro sucessor em torno de 1937 e 1938, depois da encíclica Mit Brennender Sorge, em que o papa Achille Ratti condenou o nazismo (a encíclica foi em grande parte elaborada pelo Cardeal Pacelli): “Ratti perguntava se era escandaloso que a Santa Sé mantivesse relações com regimes como Hitler ou Mussolini, e Pacelli argumentava o que aconteceria em caso de ruptura, mas basicamente eles compartilharam uma atitude de prudência e realismo“.

A prova é o que aconteceu na reunião de 6 de março de 1939, quatro dias após sua eleição como papa, entre Pio XII e o cardinal Adolf Bertram (1859-1945), arcebispo de Breslau, Karl Schulte (1871-1941) , o arcebispo de Colônia, Michael von Faulhaber (1869-1952), o arcebispo de Munique, e Innitzer Theodor (1875-1955), arcebispo de Viena. Trataram precisamente de dirigir-se a Adolf Hitler na protocolaria da saudação do novo papa ao governo de Berlim. E a maneira de fazer isso não era diferente, dado os problemas que a Igreja estava sob o Terceiro Reich.

Uma prova documental irrefutável
A conversa é preservada em sua totalidade nas atas e estenografias dos documentos desclassificados da Santa Sé em relação à Segunda Guerra Mundial e mostra, em um encontro não destinado a ser conhecido publicamente, a mentalidade dos bispos alemães e austríacos e, especialmente do papa, contra o nazismo.

O encontro começa com a leitura de Pio XII em sua carta a Hitler. Ninguém critica o conteúdo, e só se discute a conveniência de se dirigir em latim ou alemão (opção finalmente escolhida), e o tratamento correto: Ilustre, ilustríssimo, singular, plural, tu … escolheram o mais frio: Ilustre, tu e plural majestático. O cardeal Bertram brincou com Pio XII: “Sua Santidade não se dirige a ele como Dilecte Fili [querido filho]. Parece-me bom. Ele não iria gostar”. O papa poderia ter escolhido essa expressão, porque Hitler foi batizado como católico, mas sob nenhuma circunstância podia baixar a guarda contra ele.

Portanto, a carta, com meras expressões de bons desejos, foi enviada sem nenhum detalhe diplomático que indicasse debilidade. De fato, Pio XII disse então: “corremos o risco de mais uma tentativa [de melhorar as relações] mas se eles querem luta, não nos assustaremo, e o mundo vai ver que temos tentado por todos os meios viver em paz com a Alemanha”.

Romper é fácil, mas a que custo?
Em seguida, o papa refere-se aos cardeais a discussão acima, que ele teve com o seu antecessor. Dado o desprezo ao regime, Pio XI pergunta: “Como podemos continuar a ter núncio ali? Vai de encontro à nossa honra”. “Eu respondi”, continua Pio XII em seu relato, “Santidade, do que isso servirá? Se retirássemos todo o núncio, como poderíamos manter contato com os bispos alemães?” Lembre-se que a maleta diplomática permitia enganar o controle do regime sobre as comunicações entre a Santa Sé e a Igreja alemã.

Pio XII também reconhece que alguns cardeais perguntaram como receber o embaixador alemão. Mas o papa deixou claro que os gestos enraivecidos não levaria a nada: “quebrar relacionamentos é fácil, mas Deus sabe que concessões teríamos que fazer para restabelecê-los! Podem ter certeza de que o regime não os retomaria sem exigir concessões de nossa parte”. E não vamos esquecer também que em março de 1939, o regime de Hitler não apresentava fissura alguma, estava em processo de expansão e, apesar do espectro de uma guerra ser iminente ninguém poderia supor que Hitler fosse perder.

O pior, a indiferença
A reunião dos cardeais de língua alemã com o papa se encerrou com uma esperança: “O interesse nos assuntos da Igreja é muito mais vivo do que antes e as igrejas estão transbordando”, disse Schulte. “O mesmo é verdade na Áustria”, acrescentou Innitzer. “São os efeitos de perseguição”, disse Pio XII.

E o cardeal Bertram fechou com a chave de ouro: “Costumo dizer aos sacerdotes que os tempos em que vivemos não são os piores. Os piores são aqueles da indiferença”.

Fonte: http://www.religionenlibertad.com
Tradução: Emerson de Oliveira

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