Seria, para alguns, uma surpresa descobrir que há tantos jesuítas gays. Então, quando a Instrução Sobre os Critérios para o Discernimento de Vocações em relação a Pessoas com Tendências Homossexuais em relação a sua Admissão a Seminários e Ordens Sagradas foi publicada em novembro de 2005, também não foi surpreendente para muitos que a interpretação dada ao documento pela maioria dos jesuítas não foi a mesma que a da maioria (embora aparentemente representasse a interpretação majoritária). Por exemplo, a Conferência dos Bispos da Suíça explicou que “uma tendência homossexual vivida em abstinência sexual não exclui o indivíduo de um ministério pastoral”. Os bispos belgas declararam: “As instruções do Vaticano apontam que, se a orientação homossexual de um candidato se mostrar um obstáculo para o celibato livremente escolhido, esse candidato não deve ser admitido no seminário”. E o bispo William Skylstad explicou que o documento estava direcionado a homens que ingressavam em seminários que está “tão preocupado com a questão homossexual que não pode representar de modo sincero os ensinamentos da Igreja acerca da sexualidade”. Contato que possa representá-los, então não há problema que o sacerdote seja gay.
Nem todo mundo interpretou o documento dessa maneira. O bispo John D’Arcy afirmou enfaticamente: “Eu diria que sim, absolutamente, ele restringe a qualquer um cuja orientação sexual está de acordo com o próprio sexo [gênero] e é permanente. Não acredito que haja algo além disso. (…) Não acredito que possamos brincar com isso. E, é claro, temos o Papa Bento XVI, em entrevista concedida a Peter Seewald, citado em um excelente artigo escrito hoje por Ross Douthat:
PS: Não é segredo que há homossexuais mesmo entre sacerdotes e monges. Recentemente havia um grande escândalo a respeito de paixões homossexuais de sacerdotes em Roma
B: Homossexualidade é incompatível com a vocação sacerdotal. De outra forma, o próprio celibato perderia seu significado de renúncia. Seria extremamente perigosos se o celibato se tornasse uma espécie de pretexto para trazer ao sacerdócio pessoas que não queriam se casar, de qualquer maneira…
PS: Mas não há dúvida de que a homossexualidade existe em mosteiros e no clero, se não colocada em prática, pelo menos em uma maneira não praticada.
B: Bem, essa é apenas uma das falhas da Igreja. E as pessoas que são afetadas devem pelo menos tentar não expressar ativamente essa inclinação, de modo a permanecer fiel à missão de seu trabalho.
Então, a pergunta na cabeça de todo mundo é “o papa Francisco disse alguma novidade ontem?” Eu diria “não” e “sim”. Na maior parte [de sua declaração], ele apenas reafirmou o constante ensinamento da Igreja sobre homossexualidade. Porém, de um modo importante, ele acrescentou algo novo. Se ele de fato se pronunciasse aprovando sacerdotes gays que vivessem em saudável e maduro celibato, ele certamente não estaria dizendo o mesmo que Bento XVI. Ele estava, ao invés disso, recorrendo à interpretação da Instrução de 2005 oferecida pela Conferência dos Maiores Superiores dos Homens, ou seja, que a instrução se dirigia a “homens que estão bem integrados e psicologicamente maduros, fiéis aos ensinamentos da Igreja, e que possuam claro entendimento, bem como capacidade espiritual e emocional, para se comprometer com a casta vida em celibato.” Se esse é, de fato, o caso, então para um papa é algo novo.
Fonte: http://vox-nova.com/2013/07/30/pope-francis-and-gay-priests/
Tradução: Guilherme de Souza