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O padre que desafiou o comando nazista

HIDE_SEEK_Stephen_Walker_2011Quatro anos atrás, me deparei com uma história que me fascinou e intrigou em igual medida. Era a história do Monsenhor Hugh O’Flaherty, um padre irlandês com base no Vaticano, que desafiou o comando nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Usando de uma combinação de astúcia, audácia e bravura, ele escondeu milhares de judeus e soldados aliados em casas seguras em torno de Roma.

O rival de O’Flaherty foi o tenente-coronel Herbert Kappler da SS, que observava cada movimento do irlandês. Kappler tentou sequestrar o incômodo padre e até mesmo planejou assassiná-lo.

O’Flaherty conseguia ficar um passo à frente de seu rival com uma mistura de sorte e planejamento. O monsenhor ajudou a criar a “linha de fuga de Roma”, que usava identidades falsas, disfarces e um labirinto de canais de comunicação secretos. Durante a ocupação alemã de Roma, os dois homens jogaram um jogo mortal de ‘esconde-esconde’ e estima-se que O’Flaherty ajudou a salvar a vida de cerca de 6.500 pessoas.

Minha pesquisa para o livro começou em 2008. Foi uma viagem que abrangeu muitos países, incluindo Estados Unidos, Itália, Irlanda e Reino Unido e Alemanha.

Em 2009, viajei para Roma e perfiz os passos de O’Flaherty em toda a cidade, desde as casas seguras que ele usou e lugares onde ele conheceu apoiadores de sua linha de fuga. Na Irlanda, visitei as casas de amigos e parentes de O’Flaherty e, lentamente, comecei a construir uma imagem de um homem que era um salva-vidas de milhares de pessoas. Em Londres, no centro do Arquivo Nacional em Kew, fui capaz de ler documentos oficiais que detalhavam como a operação de fuga foi executada. Na Alemanha, a pesquisa revelou o início da vida de Kappler e depois de visitar os arquivos militares em Maryland, perto de Washington, descobri como os alemães controlavam Roma.

Até 2009, eu sabia que tinha detalhes suficientes para escrever sobre a batalha entre O’Flaherty e Kappler na Segunda Guerra. Conforme minha investigação continuava, detalhes mais intrigantes vieram à luz. Eu aprendi mais sobre um ataque de bomba em Roma quando a resistência matou 33 soldados alemães e Adolf Hitler ficou furioso. Ele exigiu uma vingança que, em suas palavras “faria tremer o mundo”, e Herbert Kappler foi encarregado de elaborar os planos.

Oflaherty
Monsenhor Hugh O’Flaherty, CBE (28 de fevereiro de 1898 – 30 de outubro de 1963)

Nas grutas Ardeatinas, um labirinto de túneis fora da cidade, Kappler trouxe centenas de homens, mulheres e crianças em caminhões de gado e começou uma série de execuções. Logo, 335 pessoas seriam mortas em um dos piores massacres cometidos em solo italiano durante a Segunda Guerra Mundial. No julgamento por crimes de guerra, Kappler foi condenado à prisão perpétua sem liberdade condicional. No entanto, esta não é o fim da narrativa, apenas o início de um novo capítulo.

Durante seu cativeiro, Kappler escreveu para seu ex-rival e pediu-lhe para vir e visitar. Surpreendentemente, o irlandês concordou em ir ver um homem que tinha traçado planos para sequestrá-lo e em um estágio e desejava matá-lo. Sem hesitar, O’Flaherty aceitou o convite de Kappler e na prisão os dois homens conversavam durante o café. Lentamente, a amizade cresceu e Kappler, que tinha sido criado como protestante, logo pediu a O’Flaherty para convertê-lo ao catolicismo, o que o monsenhor devidamente fez.

A conversão de Kappler e seu relacionamento pós-guerra com O’Flaherty acrescenta uma outra dimensão intrigante nessa história. Depois que ficou doente, o monsenhor O’Flaherty, retirou-se para a Irlanda e em outubro de 1963, morreu e foi sepultado em sua amado condado de Kerry. Ele foi premiado com a Ordem do Império Britânico pelo governo britânico e recebeu a Medalha da Liberdade dos Estados Unidos, o que é raro para um não-americano.

Como descobri durante minha pesquisa, esta fascinante história não termina com a morte do monsenhor. As autoridades italianas afirmaram a Kappler que seus crimes de guerra significavam que ele nunca iria experimentar mais a liberdade. Em 1977, ele estava sendo tratado de câncer em um hospital militar em Roma e sua esposa planejou sua fuga. Ela conseguiu tirá-lo de seu quarto, escondeu-o em seu carro e, em seguida, fugiu do complexo hospitalar através dos portões guardados. Ela, então, levou-o para longe de Roma – a mesma cidade que ele tinha havia aterrorizado como chefe da Gestapo cerca de três décadas antes. Poucas horas depois Herbert Kappler estava de volta na Alemanha Ocidental.

Ele era agora um homem procurado e os italianos jogavam sua própria versão especial de “esconde-esconde”. Foi o toque final para uma história notável.

Stephen Walker é o autor de Hide & Seek: A história do padre irlandês no Vaticano que desafiou os comandos nazistas [Lyons Press, $ 24,95].

Fonte: http://www.huffingtonpost.com/stephen-walker/wwii-biography_b_1500939.html
Tradução: Emerson de Oliveira

2 comentários em “O padre que desafiou o comando nazista”

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