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O livro de Gênesis e a ciência

InTheBeginningLIGHT“OS CRIACIONISTAS CIENTÍFICOS” afirmam que, de acordo com o livro bíblico de Gênesis, o universo foi criado por Deus há menos de dez mil anos. Afirmam também que a Terra e suas formas de vida foram criadas em seis dias literais de 24 horas.
Por outro lado, os conceitos evolucionistas são de que Gênesis é um mito. Ensinam que o universo e a Terra, com todas as suas coisas vivas, são produto dum processo evolucionista casual que se alonga por bilhões de anos.

A confusão sobre esta questão, a qual o Papa João Paulo II dirigiu em 1996 sua carta altamente divulgada sobre a evolução, se resume à questão de como de ler o relato da criação bíblica. Em sua carta, João Paulo simplesmente reiterou o que o Magistério argumentou incansavelmente desde o Providentissimus Deus (1893), de Leão XIII : O autor do Gênesis não tinha a intenção de fornecer uma explicação científica de como Deus criou o mundo. Infelizmente ainda existem fundamentalistas bíblicos, católicos e protestantes, que não aceitam este ponto.

Quando Cristo disse que a semente de mostarda era a menor das sementes – e é do tamanho de um grão de pó – Ele não estava estabelecendo um princípio de botânica. Na verdade, os botânicos nos dizem que há sementes menores. Nosso Senhor estava simplesmente conversando com os homens de seu tempo em sua própria língua, e com referência à sua própria experiência. Do mesmo modo, a palavra hebraica para “dia” usada em Gênesis (“yom”) pode significar um dia de 24 horas, ou um período mais longo. Daí a advertência de Pio XII, em Divino Espírito afflante (1943), que o verdadeiro sentido de uma passagem bíblica nem sempre é óbvio. Os autores sagrados escreveram nas expressões idiomáticas do sua época e lugar.

Um leitor moderno do Gênesis deve ter em mente os princípios da Bíblia exegese estabelecida por Santo Agostinho em sua grande obra De Genesi ad litteram (Sobre a interpretação literal do Gênesis). Agostinho ensinou que sempre que a razão estabelece com certeza um fato sobre o mundo físico, as declarações aparentemente contrárias na Bíblia devem ser interpretada em conformidade. Ele se opôs à ideia de um “relato cristão” dos fenômenos naturais em oposição ao que pode ser conhecido pela ciência. Ele viu tais relatos como “deploráveis e prejudiciais, devendo ser evitados a qualquer custo “, porque, ao ouvir-lhes o não-crente “mal conseguia segurar o riso ao ver, como diz o ditado, o tamanho do erro.”

Os católicos têm a liberdade de acreditar que a criação levou alguns dias ou um período muito mais longo, de acordo com a forma como eles veem a evidência, e sujeito a qualquer juízo futuro da Igreja (Encíclica Humanis Generis de Pio XII 36-37). Não se precisa ser hostil a cosmologia moderna. O Catecismo da Igreja Católica afirma, “quaisquer estudos científicos … têm enriquecido magnificamente os nossos conhecimentos sobre a idade e as dimensões do cosmos, o desenvolvimento de formas de vida, e o aparecimento do homem. Estes estudos nos convidam a admiração ainda maior para a grandeza de o Criador ” (CCE 283). Ainda assim, a ciência tem seus limites (CCE 284, 2293-4).

No entanto, há muitos que não se conformam com nenhuma destas duas teorias. Partes da teoria científico-criacionista parecem contradizer o senso comum e também são contrárias à evidência que podemos ver por nós mesmos em toda a natureza. Todavia, muitos acham difícil de aceitar a ideia de que a vida, com toda a sua maravilhosa complexidade, seja mero produto de forças evolucionárias cegas. São estes dois conceitos, então, as únicas alternativas?
Não. Existe um terceiro conceito. É o que o próprio livro bíblico de Gênesis realmente diz. Consideremos esta terceira alternativa.

A Explicação de Gênesis
As palavras iniciais de Gênesis nos dizem: “No princípio Deus criou os céus e a terra.” (Gênesis 1,1) Será que tais palavras de Gênesis afirmam que isto aconteceu há cerca de dez mil anos? Não, não se fornece nenhum período de tempo. O “princípio” poderia, por conseguinte, ter acontecido há bilhões de anos.
No entanto, bem no “princípio”, a Bíblia coloca um ser inteligente, o Criador, no controle da obra criativa. Embora muitos cientistas não apreciem esta ideia, ela se harmoniza com as conclusões de alguns astrônomos, de que o universo teve deveras um princípio, que ele é muito bem ordenado, e que é governado por leis definidas. Um arranjo ordeiro, baseado na lei, somente pode proceder de uma mente inteligente. Ao passo que a ciência tem explicado muitas destas leis a nós, apenas Gênesis nos introduz ao Legislador.
O relato de Gênesis prossegue delineando a seguir os famosos seis “dias” da criação. Tais dias, porém, não eram o tempo durante o qual a matéria da Terra e do universo foi criada. Isso já havia acontecido “no princípio”. Os seis dias da criação foram, ao invés, os períodos de tempo durante os quais a Terra primordial, inóspita, foi lentamente adaptada para habitação.
Foi cada um daqueles seis dias um dia literal de 24 horas? Não é isso que Gênesis diz. A palavra “dia” em hebraico (a língua em que Gênesis foi escrito) pode significar longos períodos de tempo, até mesmo milhares de anos. (Compare com o Salmo 90,4; Gênesis 2,4.) Por exemplo, “o sétimo dia”, em que agora vivemos, tem milhares de anos de duração. (Gênesis 2,2-3; Hebreus 4,3-5) Assim sendo, a evidência mostra que o inteiro período de seis dias deve ser encarado como durando dezenas de milhares de anos.

“Segundo as Suas espécies”
A ordem das seis épocas criativas mostra, em sequência, a água, a terra, a luz, a atmosfera, as plantas, os peixes, as aves, os animais, e, por fim, os humanos. (Gênesis 1,3-27) Esta ordem de desenvolvimento concorda, em geral, com a ordem descoberta pelos cientistas.
Mas, uma notável declaração aparece repetidas vezes no relato, em Gênesis, capítulo 1. Por exemplo, a respeito do quinto dia criativo, Gênesis 1,21 nos diz: “E Deus passou a criar os grandes monstros marinhos e todos os seres viventes que se movem, que as águas produziram em enxames segundo as suas espécies.” A respeito do sexto dia, o versículo 24 reza: “Produza a terra seres viventes segundo as suas espécies, animal doméstico e animal movente, e animal selvático da terra segundo a sua espécie.”
Por isso, foram as espécies de animais que foram criadas, e não cada espécie individual. Mas as várias “espécies” foram criadas de forma separada e não descendem umas das outras. No âmbito de cada “espécie” poderia haver grande variedade, como vemos na “espécie” de gatos, ou na “espécie” dos cães, ou na “espécie” humana. Contudo, os fatores genéticos implantados pelo Criador conservariam sempre tais “espécies” separadas umas das outras. É por isso que um gato e um cão não podem acasalar-se e iniciar outra forma de vida.
Isto não contradiz nenhum fato observado. Ao passo que os animais produzem grande variedade no âmbito de sua “espécie”, ninguém conseguiu documentar que uma “espécie” de animal tenha reproduzido, ou evoluído em outra “espécie”.
Mas que dizer das semelhanças estruturais existentes entre certas espécies de animais? Tais semelhanças são compreensíveis quando consideramos que todas as espécies são o produto dum único Criador e que elas foram projetadas à base das mesmas matérias da Terra, para viverem num meio ambiente similar.
Adicionalmente, Gênesis provê uma resposta para um problema que os cientistas não conseguem resolver: De onde proveio a vida? Os cientistas tentam responder a esta pergunta com várias teorias, mas, na verdade, não conseguem. E a dura realidade que tem sido repetidas vezes demonstrada nos laboratórios científicos é de que a vida só pode proceder de outra vida preexistente, e da mesma “espécie” de vida.
Gênesis também nos diz que a vida é mais antiga do que o universo, e que toda outra vida, no céu e na Terra, procedeu da original Fonte da vida, o todo-poderoso Criador, que é Deus. A ciência não consegue apresentar uma explicação melhor, uma que se harmonize com todos os fatos científicos que podemos observar. − Salmo 36,9; 83,18; Isaías 42,8; Ap. 4,11.

O Princípio do Homem
A obra criativa final na Terra, segundo Gênesis, foi o próprio homem: “E Deus passou a formar o homem do pó do solo e a soprar nas suas narinas o fôlego da vida, e o homem veio a ser uma alma vivente.” (Gênesis 2,7) Os cientistas também consideram o homem um retardatário, em comparação com outras formas de vida. No entanto, este texto deveras contradiz a crença da maioria dos criacionistas literalistas.
A declaração em Gênesis 2,7 também contradiz teorias naturalistas em outro sentido. Mostra claramente que o homem foi criado de forma direta por Deus, e que ele não descendeu dos animais.
É crível a declaração de Gênesis? Bem, a ciência não produziu nenhuma prova de que o homem tenha descendido de animais. Não existe prova de que os fósseis simiescos escavados na África e em outras partes do mundo fossem, em qualquer sentido, de ancestrais do homem. Deveras, se tais criaturas simiescas estivessem vivas hoje, é provável que seriam colocadas nos zoológicos, junto com outras criaturas simiescas. Quaisquer fósseis relacionados bem de perto com os humanos, quer na estrutura óssea, quer no tamanho, eram provavelmente apenas um mero ramo da família humana.
Também, a relação do homem com o “pó do solo”, como Gênesis se expressa, é indisputável. Todas as substâncias químicas que compõem o corpo humano são encontradas no “pó do solo”. Com efeito, o homem depende deste “pó“ para continuar a existir. Ele sustenta e regenera seu corpo com o alimento composto de nutrientes que se encontram no “pó do solo”, processado através de plantas e de animais que ele ingere.

Selvagem − Ou Filho de Deus?
Outra descrição da criação do homem se encontra em Gênesis 1,26. Ali, Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança, e tenham eles em sujeição os peixes do mar, e as criaturas voadoras dos céus, e os animais domésticos, e toda a terra, e todo animal movente que se move sobre a terra.” (Gênesis 1,26) Visto que a Bíblia nos diz que Deus é Espírito, a frase “à nossa imagem” tem de ser entendida como significando possuir ele as qualidades de Deus.
Esta declaração explica, num sentido que a evolução naturalista jamais poderia explicar, por que o homem difere tanto dos animais. Apenas o homem consegue controlar os animais e a vegetação em sua volta. Apenas o homem possui um senso moral, e uma consciência. Apenas o homem possui ampla liberdade de escolha e uma inteligência tão desenvolvida. Apenas o homem possui a capacidade de conceber a existência de Deus, e possui a dádiva da linguagem com a qual pode falar com Ele. Afirma a Journal of Semitic Studies (Revista de Estudos Semíticos): “A linguagem humana é um segredo; é um dom divino.”
Os evolucionistas naturalistas representam os primeiros humanos como brutais e selvagens. Sem dúvida, muita selvageria foi cometida por alguns dos primeiros membros da raça humana. Mas o homem moderno também tem cometido selvagerias, como testificam os cem milhões de mortes ocorridas nas guerras deste século. Até o dia de hoje, ele se comporta selvagemente! Todavia, a Bíblia mostra que o potencial moral e intelectual do homem primitivo não era inferior ao do homem moderno. (Compare com Gênesis 4,20-22; 5:22; 6,9.) Isto não contradiz os fatos observados. Tome-se, por exemplo, as pinturas dos chamados homens pré-históricos, encontradas nos muros da gruta de Lascaux, na França. A sensitividade e os dotes artísticos revelados em tais pinturas suscitam muita admiração, até mesmo hoje em dia.

Real Significado de Gênesis
Assim, os capítulos iniciais de Gênesis fornecem um lampejo do começo das coisas. No entanto, Gênesis não é um compêndio científico pormenorizado, nem se tencionava que fosse. As informações que contém demonstram uma finalidade mais profunda.
Por exemplo, Gênesis mostra que a felicidade do homem dependia de ele continuar cooperando com os propósitos de seu Criador. Mas quando o homem se recusou a reconhecer esta obrigação e se rebelou contra os arranjos de Deus, ele perdeu a felicidade original e decaiu rapidamente no pecado e na morte, e na selvageria que ainda presenciamos. − Gênesis 3,1-18; Deuteronômio 32,4-5.
Os primeiros capítulos de Gênesis mostram, contudo, que imediatamente depois da rebelião do homem, Deus deu o primeiro passo em seu propósito de longo alcance para restaurar a humanidade à sua felicidade original. Um “descendente” viria para contrabalançar os maus efeitos do pecado do homem. (Gênesis 3,15) Quem seria este Descendente é um dos temas destacados de grande parte do restante da Bíblia. E, depois de registrar que o Descendente deveras veio, por fim, na pessoa do Messias, Jesus, a Bíblia passa a descrever como os arranjos que Deus fez, focalizando-se em Jesus, por fim inverteriam o trágico proceder que os humanos têm tomado.
Sim, Gênesis é muito mais do que apenas a história da criação. Lança a base para toda a história da humanidade − a passada, a presente e a futura. Grande parte da história, e a própria vida, é incompreensível se omitirmos aqueles importantes primeiros passos. Deveras, pomos em risco o nosso futuro caso ignoremos o que Gênesis realmente diz. − 1 João 2,15-17.

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