Mais uma vez o Matheus Benites vem com alegações simplistas. Vamos refutar seu vídeo ponto a ponto.
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1. Origem Pagã do Natal e Influência da Saturnália
Alegação: O Natal tem origens na Saturnália romana, e a data de 25 de dezembro foi escolhida para cristianizar festividades pagãs.
Refutação:
- Origem do Natal: Não há consenso acadêmico de que o Natal tenha sido diretamente derivado da Saturnália. O motivo para a escolha do dia 25 de dezembro está mais ligado ao cálculo teológico. Segundo a tradição cristã, a data coincide com a festa da Anunciação (25 de março), que resultaria no nascimento de Jesus nove meses depois. A ligação com festivais pagãos é uma hipótese, mas não há provas definitivas.
- Adaptação cultural: A Igreja adotou elementos culturais para facilitar a evangelização, mas isso não invalida os princípios teológicos. O uso de datas simbólicas é uma prática comum em várias religiões, sem implicar sincretismo.
Ao estudar a antiga referência à Saturnália, uma fonte primária que temos é escrita pelo romano Macróbio, que viveu no século V. Sua obra Saturnália fornece muitos dos detalhes das histórias de origem da celebração, bem como seus costumes. O estudioso de textos antigos TC Schmidt destacou esta passagem do Livro 1, capítulo 10 da Saturnália, dando as datas da celebração:
Lembre-se, Macrobius estava escrevendo no século V d.C. e temos sermões de Natal de João Crisóstomo pregados em 25 de dezembro de um século antes. No entanto, as datas não correspondem. Se o Natal foi criado para suplantar a Saturnália, os cristãos teriam escolhido 17 de dezembro. Adicione a isso as referências que observei ontem sobre a data de 25 de dezembro que remonta a 200 d.C. e você tem um problema de datação muito real com a Saturnália sendo a data de origem do Natal.
Imagine uma igreja moderna buscando substituir as celebrações do Halloween por ter um festival da colheita em 8 de novembro. Não funcionaria! As pessoas poderiam celebrar um e depois comparecer ao outro. O conceito de substituição seria bastante ineficaz.
2. Contradições entre Mateus e Lucas
Alegação: Os Evangelhos de Mateus e Lucas apresentam genealogias e narrativas contraditórias.
Refutação:
- Genealogias: As diferenças nas genealogias de Mateus e Lucas refletem objetivos teológicos distintos. Mateus enfatiza a linhagem real de Jesus por meio de Davi e Salomão, enquanto Lucas destaca sua conexão com toda a humanidade por meio de Davi e Natã. Essas genealogias cumprem diferentes funções narrativas, sem implicar erro.
- Narrativas: As diferenças nos relatos (como a fuga para o Egito e o censo de Quirino) são explicadas pelas perspectivas e propósitos dos autores. Lucas foca em uma narrativa histórica e pastoral, enquanto Mateus se concentra em conectar Jesus às profecias messiânicas. A ausência de detalhes em um evangelho não contradiz a presença deles em outro.
- Genealogias Diferentes: As genealogias de Mateus e Lucas servem a propósitos teológicos distintos. Mateus traça a linhagem de Jesus através de José, enfatizando sua descendência real de Davi, enquanto Lucas apresenta uma genealogia mais universal, ligando Jesus a Adão. As diferenças refletem perspectivas teológicas, não necessariamente erros históricos.
- Fuga para o Egito vs. Censo: Mateus e Lucas focam em aspectos diferentes da história. Mateus destaca a fuga para o Egito como cumprimento de profecias, enquanto Lucas enfatiza o censo para situar Jesus em Belém, cidade de Davi. Essas narrativas não são mutuamente exclusivas; podem ser complementares.
- Ausência de Registros Históricos: A falta de registros externos sobre o censo ou o massacre dos inocentes não invalida os relatos bíblicos. Muitos eventos locais do período não foram documentados por historiadores romanos ou judeus.
Conclusão: As supostas contradições são explicáveis dentro do contexto literário e teológico dos Evangelhos. Elas não invalidam a historicidade do nascimento de Jesus.
3. Massacre dos Inocentes
Alegação: Não há evidências históricas para o massacre de crianças em Belém ordenado por Herodes.
Refutação:
- História e Escala: O massacre de crianças em Belém, uma pequena vila, pode ter envolvido um número reduzido de vítimas, o que explicaria sua ausência nos relatos de historiadores como Flávio Josefo. Herodes é conhecido por atos de extrema crueldade, incluindo o assassinato de seus próprios filhos, o que torna plausível o evento no contexto de sua paranoia.
- Propósito Teológico: O episódio do massacre é consistente com a narrativa de Mateus, que frequentemente cita profecias para reforçar a missão messiânica de Jesus.
- Ausência de Registros: A falta de menção ao massacre em fontes como Flávio Josefo não é surpreendente. Herodes era conhecido por sua crueldade, e o assassinato de um pequeno número de crianças em uma vila rural pode não ter sido considerado digno de registro por historiadores da época.
- Questão Teológica: O massacre dos inocentes é apresentado como um ato de maldade humana, não como uma ação divina. A teologia cristã não atribui a Deus a responsabilidade pelo mal, mas enfatiza a liberdade humana e a soberania divina em trazer o bem mesmo em meio ao sofrimento.
- Cumprimento de Profecias: Mateus vê o massacre como cumprimento de uma profecia de Jeremias (Jr 31:15), enfatizando o sofrimento como parte do plano redentor de Deus. Isso não justifica o mal, mas o situa dentro de um contexto maior de salvação.
Herodes, o Grande, tornou-se extremamente paranoico durante os últimos quatro anos de sua vida (8-4 a.C.). Em uma ocasião, em 7 a.C., ele mandou executar 300 líderes militares (Antiguidades 16:393-394; LCL 8:365). Em outra, ele mandou executar vários fariseus no mesmo ano depois que foi revelado que eles previram à esposa de Feroras [Feroras era o irmão mais novo de Herodes e tetrarca da Pereia] “que por decreto de Deus o trono de Herodes seria tirado dele, tanto dele quanto de seus descendentes, e o poder real cairia para ela e Feroras e para quaisquer filhos que eles pudessem ter” (Antiguidades 17:42-45; LCL 8:393). Com profecias como essas circulando dentro de seu reino, é de se admirar que Herodes quisesse eliminar Jesus quando os sábios revelaram que o novo “rei dos judeus” havia nascido (Mt 2:1-2)?! (Para uma discussão completa desses eventos históricos, veja França 1979 e Maier 1998).
Macrobius (ca. 400 d.C.), um dos últimos escritores pagãos em Roma, escreveu em seu livro Saturnalia: “Quando se ouviu que, como parte do massacre de meninos de até dois anos, Herodes, rei dos judeus, havia ordenado que seu próprio filho fosse morto, ele [o Imperador Augusto] comentou: ‘É melhor ser o porco de Herodes [Gr. hys] do que seu filho’ [Gr. huios]” (2.4.11; citado em Brown 1993:226). Macrobius pode ter confundido alguns de seus fatos históricos, mas ele poderia ter nos dado uma chave cronológica também. Se ele estivesse se referindo à morte de Antípatro em 4 a.C., o massacre dos Inocentes teria sido um dos últimos, se não o último, assassinatos brutais de Herodes antes de sua morte. O que também é interessante é o jogo de palavras na citação atribuída a Augusto – “porco” e “filho” são palavras com sons semelhantes em grego. Herodes não mataria um porco porque ele seguia a dieta kosher, pelo menos entre os judeus; mas ele não teve escrúpulos em matar seus próprios filhos!
Conclusão: A historicidade do massacre pode ser debatida, mas sua inclusão em Mateus serve a um propósito teológico, não ético. A questão do mal é um tema complexo na teologia, mas não invalida a mensagem do Natal.
4. Nascimento Virginal e Tradução de Isaías
Alegação: O nascimento virginal é baseado em uma tradução errada do hebraico em Isaías.
Refutação:
- Língua Original: A palavra hebraica usada em Isaías 7:14, “almah,” pode ser traduzida como “jovem mulher” ou “virgem.” No entanto, os tradutores da Septuaginta, séculos antes de Cristo, optaram por “parthenos,” que significa “virgem” em grego, refletindo a interpretação messiânica do texto.
- Teologia Cristã: O nascimento virginal é central para a teologia cristã, representando a encarnação divina. Essa doutrina não depende exclusivamente de Isaías, mas também dos relatos de Mateus e Lucas.
Eu diria que também temos evidências sólidas (mas talvez não tão fortes a ponto de chamá-las de prova) de que Isaías 7:14 era considerado messiânico antes de 200 a.C. Isso vem da Septuaginta — a tradução grega da Bíblia hebraica feita em Alexandria por volta de 220 a.C. Nessa tradução, o hebraico ha almah é traduzido como a palavra grega inequívoca para virgem. Em outras palavras, os tradutores judeus viram que esse foi um evento milagroso e concluíram, portanto, que o nascimento da criança foi de uma virgem. Que isso torna a passagem messiânica não é um grande salto. Acredito que a razão pela qual os judeus traduziram o hebraico para jovem mulher como virgem em grego foi pela razão bastante óbvia de que Isaías 7:14 chama o nascimento de um sinal (ou seja, milagre) de Deus. A mesma razão pela qual os primeiros judeus viram essa passagem como implicando um nascimento virginal e messiânico é a razão pela qual eu a vejo como implicando um nascimento virginal e messiânico também.
Os estudiosos têm três opções (ou talvez mais, mas essas são as três mais prováveis) para Isaías 7:14. Ou é uma profecia do nascimento de Ezequias, é uma profecia do nascimento do Messias/Jesus de Nazaré, ou é uma dupla profecia — em outras palavras, é uma profecia do nascimento de Ezequias como uma prefiguração e de Jesus como a coisa prefigurada. Acredito que a segunda ou a terceira são mais prováveis do que a primeira porque, até onde sei, ninguém considera o nascimento de Ezequias como sendo de uma virgem, ou de qualquer forma real milagrosa. Este é um assunto discutível, e crentes honestos e sinceros terão opiniões diferentes sobre Isaías 7:14. No entanto, meu pensamento é que esta é uma dupla profecia sobre Ezequias como um tipo e Jesus de Nazaré como um antítipo. Para mim, dada a natureza milagrosa do nascimento e dada a conexão bastante óbvia com Isaías 9:6, acredito que é praticamente uma certeza absoluta que esta seja uma profecia messiânica. É encorajador notar que os judeus do primeiro século também viam desta forma.
A partir daí, você passa para a credibilidade do nascimento virginal real. Maria era realmente virgem? Ela poderia ter mentido? Bem, pode-se argumentar que temos apenas a palavra de Maria sobre isso, mas isso não é exatamente verdade porque também temos a palavra de José de que o anjo lhe disse que Maria estava grávida (presumivelmente virgem). Aqui está o que eu digo: Olhe para a vida de Jesus. Ele viveu uma vida sem pecado. Ele cumpriu dezenas de profecias messiânicas além de Isaías 7:14, ele andou sobre as águas, ele acalmou uma grande tempestade, ele curou milhares de coxos, cegos e surdos, ele ressuscitou mais de uma pessoa dos mortos, e ele mesmo foi ressuscitado dos mortos. Não faz absolutamente NENHUM sentido que este mesmo Filho de Deus tenha nascido de uma mãe enganosa que encobriu seu adultério. Estou usando lógica e bom senso aqui, mas acredito que o bom senso definitivamente se aplica neste caso.
5. Viagem de Nazaré a Belém
Alegação: A viagem de Nazaré a Belém seria extremamente difícil e carece de evidências históricas.
Refutação:
- Realidade da Viagem: Longas jornadas eram comuns na época, especialmente para cumprir obrigações legais ou religiosas. O censo descrito em Lucas pode não ter sido amplamente registrado, mas isso não o invalida.
- História Local: A viagem reflete a prática de registrar a linhagem familiar em cidades ancestrais, como era costume judaico.
No entanto, a sociedade em que Maria e José viviam não era nem um pouco estável, muito menos pacífica. Tudo isso serve como pano de fundo para a jornada de 90 milhas de Nazaré a Belém — iniciada pela exigência de José de participar de um censo romano. Maria e José estavam familiarizados com as dificuldades, o que significa que a jornada, por mais difícil e extenuante que fosse, não teria intimidado muito a Sagrada Família.
Mas como foi? Nós realmente temos alguma ideia? Provavelmente não. Foi difícil, extenuante e altamente perigoso. Os evangelhos falham em transmitir o quão desafiador foi. James Strange , um professor de Novo Testamento e arqueologia bíblica, disse o seguinte: Os escritores dos evangelhos de Mateus e Lucas “são tão lacônicos sobre o evento [da Natividade] porque eles assumem que o leitor saberia como foi. [N]ão temos ideia de quão difícil foi.”
Quanto tempo levaria para viajar de Nazaré a Belém? As pessoas talvez pudessem viajar cerca de vinte milhas por dia. No entanto, dado o estágio avançado da gravidez de Maria, esse número teria sido muito menor, talvez cerca de dez milhas por dia. Isso significa que a jornada provavelmente ocorreu ao longo de um período de dez dias.
Lucas 2:5-6 nunca afirma que 1) que a Santíssima Virgem Maria estava grávida de 8-9 meses na viagem, ou 2) que ela deu à luz o menino Jesus assim que chegaram em Belém (como todos os filmes assumem). Tudo o que sabemos desses dois versículos é que 1) ela estava grávida enquanto fazia a viagem, e 2) ela deu à luz o menino Jesus em Belém.
Não sabemos nada sobre o quanto ela estava grávida, ou quanto tempo eles ficaram em Belém antes de ela dar à luz o bebê Jesus. São todas meras suposições e especulações infundadas. Estamos tão acostumados a pensar sobre isso de uma certa maneira que ignoramos o fato de que certas coisas não são definitivamente declaradas.
6. Suposta Submissão de Maria
Alegação: A resposta de Maria reflete submissão opressiva e levanta questões éticas.
Refutação:
- Contexto Cultural: A resposta de Maria (“Eis aqui a serva do Senhor”) reflete devoção e fé, valores centrais na cultura judaica do período. Não há evidências de que sua aceitação fosse forçada ou opressiva.
- Teologia: Maria é exaltada como modelo de fé e coragem, especialmente considerando os riscos que assumiu. Sua resposta é celebrada na tradição cristã como exemplo de confiança em Deus.
7. Inconsistências Históricas
Alegação: Eventos como o censo de Quirino e a estrela de Belém não possuem comprovação histórica.
Refutação:
- Censo: Embora o censo mencionado por Lucas tenha gerado debates, registros históricos limitados do período tornam difícil confirmar ou negar sua existência. Lucas demonstra conhecimento de práticas romanas, sugerindo plausibilidade.
- Estrela de Belém: O fenômeno pode ter sido um evento astronômico (como uma conjunção planetária ou cometa) ou um sinal simbólico. A ausência de registro não implica inexistência, pois relatos antigos frequentemente omitiram eventos locais ou simbólicos.
Conclusão
O vídeo apresenta várias críticas que, embora bem articuladas, carecem de fundamentos sólidos ou ignoram nuances históricas e teológicas. A fé cristã não depende da precisão histórica de cada detalhe narrativo, mas da mensagem central de redenção e esperança em Jesus Cristo.
Poderá ver o vídeo no youtube Aqui