A página Erros E Contradições Da Bíblia – Ventura Painho tem uma alegada contradição e problema no livro de Atos referente a um discurso de Gamaliel onde pode ter ocorrido certas contrariedades.
Vamos responder ao post original depois das citações.
O livro Atos dos Apóstolos, surpreende-nos com tantos erros e incoerências, é considerado um livro histórico pelos cristãos mas não passa de um amontoado de disparates!
O livro de Atos é considerado histórico por vários historiadores respeitáveis. A questão da autoria está amplamente ligado ao valor histórico do conteúdo. A maioria dos estudiosos acreditam que o livro de Atos é historicamente exato e válido segundo a arqueologia. F F Bruce. Merece Confiança o Novo Testamento?. São Paulo: Vida Nova, 2010. “Um escritor que relaciona a própria narrativa com o contexto mais amplo da história secular se sujeita a sérias dificuldades, se não for cuidadoso; pois oferece ao leito crítico muitas oportunidades para testar sua exatidão. São Lucas enfrenta esse risco e passa no teste de forma formidável”.
Os apóstolos são julgados perante o sumo sacerdote e os anciãos.
Vejamos o discurso de “um certo fariseu, chamado Gamaliel, doutor da lei, venerado por todo o povo, mandou que, por um pouco, levassem para fora os apóstolos, e disse-lhes: Varões israelitas. Acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens, porque, antes destes dias, levantou-se Teudas, dizendo ser alguém: a este se juntou o número de uns quatrocentos homens, o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas, também, este pereceu, e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos” (Atos 5:34-37).Gamaliel, no seu discurso, refere-se a dois movimentos revolucionários, que se tinham desmoronado: “Levantou-se Teudas, dizendo ser alguém”; “Depois deste, levantou-se Judas, o galileu”. De facto isso aconteceu, foi citado por Fávio Josefo, nas Antiguidades Judaicas, só que o levantamento de Judas, foi primeiro (ano 6), mais tarde é que houve o levantamento de Teudas (ano 44 a 46), cronologicamente, foram trocados.
O grande erro e absurdo é que o levantamento de Teudas efectuou-se, quase 15 anos depois do discurso de Gamaliel. Portanto, Gamaliel nunca poderia efectuar semelhante discurso!
Como Lucas sabia o que Gamaliel tinha falado numa sessão fechada do Sinédrio? Há pelo menos três possibilidades: (1) Paulo, ex-aluno de Gamaliel, informou Lucas; (2) Lucas consultou algum solidário membro do Sinédrio, como Nicodemos; (3) Lucas recebeu a informação por inspiração divina.
Primeiro, com referência a Teudas, o relato de Lucas e o de Josefo não falam da mesma pessoa. O Teudas do relato de Josefo revoltou-se no ano 44 a.D., ao passo que o mencionado em Atos revoltou-se antes do recenseamento que se realizou por volta de 7 a.D. (cf. At 5,37). Em outras palavras, houve dois homens diferentes que se chamavam Teudas. Sabemos disso porque este precedeu Judas da Galiléia, que surgiu durante os dias do recenseamento. Portanto, o Teudas a que Gamaliel se refere não é o mesmo mencionado por Josefo.
Segundo, a respeito de Judas da Galiléia, não há discrepância entre Gamaliel e Josefo. Uma vez esclarecida a questão de Teudas, a de Judas também se esclarece. O Teudas de que fala Gamaliel não é o de que fala Josefo. Contudo, Josefo refere-se ao mesmo Judas mencionado por Gamaliel porque considera-se que este falou por volta do ano 33 a.D., e esse período de tempo é bem anterior ao Judas do ano 44 a.D., referido por Josefo. Não há contradição a respeito de Judas, porque Gamaliel e Josefo referem-se à mesma pessoa.
Judas, o galileu, mencionado por Gamaliel no seu discurso perante o Sinédrio. (At 5,37) Por ocasião do registro relacionado com Quirino, governador da Síria, em 6 d.C., Judas chefiou um levante judeu. Josefo menciona-o diversas vezes e declara que ele “incitava seus patrícios a se revoltarem, censurando-os por serem covardes ao consentirem em pagar tributo aos romanos e em tolerar amos mortais, depois de terem a Deus como seu senhor. Este homem era um sofista que fundou sua própria seita, não tendo nada em comum com as outras”. (The Jewish War [A Guerra Judaica], II, 118 [viii, 1]) Num ponto, Josefo chama Judas de gaulanita, lugar que alguns relacionariam com uma região ao L do mar da Galiléia. Mas, em outros lugares, o mesmo historiador diz que Judas era galileu, assim como fez Gamaliel. (Jewish Antiquities [Antiguidades Judaicas], XVIII, 3 [i, 1]; XVIII, 23 [i, 6]) Esses rebeldes enfatizavam a liberdade, mas não conseguiram obtê-la. Judas “pereceu, e todos os que lhe obedeciam foram espalhados”. (At 5:37) Alguns dos seus descendentes também estiveram envolvidos em levantes. — The Jewish War, II, 433-440 (xvii, 8); VII, 253 (viii, 1). Essa é evidentemente a revolta mencionada por Lucas em Atos 5,37. De acordo com o relato de Josefo, ocorreu no “trigésimo sétimo ano depois que César derrotou Antônio em Áccio”. (Jewish Antiquities, XVIII, 26 [ii, 1]) Isso indicaria que Quirino era governador da Síria em 6 d.C..