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O Argumento Evolutivo Contra o Naturalismo: Alvin Plantinga Explica Sua Crítica Filosófica

Entrevista com Alvin Plantinga.

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Entrevistador: Alvin, você adotou uma abordagem fascinante sobre o conceito de naturalismo, que afirma que a substância da realidade é apenas física. E você usa um argumento evolucionário para isso. Como ele funciona?

Alvin Plantinga: Bem, primeiro, eu diria que o naturalismo é a ideia de que não existe nenhuma pessoa como Deus ou nada parecido com Deus. Então, o naturalismo é mais forte do que o ateísmo. Você pode ser ateu sem chegar aos patamares mais altos, ou descer às profundezas mais baixas, de ser um naturalista.

Se você não acreditasse que existe uma pessoa como Deus, mas acreditasse em algo como a ideia do Bem de Platão, por exemplo, então você seria um ateu, mas não um naturalista. E meu argumento é realmente contra o naturalismo.

Agora, quando falo de evolução, refiro-me ao que todo mundo entende por isso: a ideia de que nós, seres humanos, viemos a existir por um processo de descendência com modificação, onde a força motriz por trás do processo, por assim dizer, seria a seleção natural atuando sobre alguma fonte de variação genética – sendo a mutação genética aleatória o suspeito usual, por assim dizer.

Alvin Plantinga: O que eu acredito é que não se pode acreditar sensatamente nessas duas coisas ao mesmo tempo. Quero dizer, muitas vezes parece que as pessoas veem a evolução como um pilar no templo do naturalismo. Mas eu acho que eles entram em conflito um com o outro.

Entrevistador: Esse é um pensamento fascinante. Vamos entender isso melhor, porque a maioria das pessoas diria exatamente o oposto – que a evolução é uma das provas cardinais do naturalismo e que o mundo é apenas físico. Isso é o que as pessoas normalmente pensam.

Alvin Plantinga: Sim, é isso que algumas pessoas pensam. E eu acho que essas pessoas estão erradas. Como eu disse, você não pode acreditar sensatamente tanto no naturalismo quanto na evolução.

Esse argumento tem a ver com a confiabilidade de nossas faculdades cognitivas, como memória, percepção, intuição a priori ou intuição matemática e lógica. Talvez existam outras, como indução, que nos permite saber algo sobre o futuro com base no passado, e assim por diante.

Se você aceita o naturalismo e a evolução, então não pode considerar suas faculdades cognitivas como confiáveis, ou seja, como realmente fornecendo a verdade sobre o mundo.

Alvin Plantinga: O argumento segue assim: Se você é um naturalista, provavelmente também será um materialista em relação aos seres humanos. Você acreditará que os seres humanos são objetos materiais – eles não são almas imateriais que possuem um corpo ou trabalham em um corpo. Eles são apenas objetos materiais.

Se esse for o caso, então você será um materialista. Agora, suponha que pensemos não sobre nós mesmos, mas sobre criaturas em algum planeta alienígena, muito parecidas conosco, talvez um planeta orbitando Arcturus.

Alvin Plantinga: Suponhamos que, para essas criaturas, o naturalismo seja verdadeiro e que a evolução também seja verdadeira. Além disso, essas criaturas seriam objetos materiais.

Então, o que causa o comportamento delas? Em um sentido imediato, será sua neurologia. Seus cérebros enviam sinais para os músculos, causando contrações e resultando em comportamento.

A seleção natural garantiria que o comportamento dessas criaturas fosse adaptativo, ou seja, aumentasse sua aptidão para sobrevivência e reprodução. Se isso for verdade, então o mesmo se aplicaria à sua neurologia.

Agora, a neurologia também causa crenças. Mas a questão é: se o comportamento e a neurologia são adaptativos, o que dizer sobre a verdade dessas crenças?

Alvin Plantinga: Bem, podemos ver que isso não importa. Desde que a neurologia produza o comportamento correto, o que as criaturas acreditam não faz diferença.

Se a neurologia causar crenças falsas, mas ainda assim resultar no comportamento correto, isso não fará qualquer diferença para a evolução.

Então, se pegarmos qualquer crença específica e perguntarmos qual é a probabilidade de ser verdadeira, dado o naturalismo e a evolução, essa probabilidade tem que estar perto de 50/50.

Ou seja, a crença é tão provável de ser verdadeira quanto de ser falsa. E se isso for verdade, então a probabilidade de que as faculdades cognitivas sejam confiáveis – ou seja, que produzam uma proporção substancialmente maior de crenças verdadeiras do que falsas – será muito baixa.

Entrevistador: Mas alguém não pensaria que as crenças estariam mais próximas da verdade, já que os comportamentos são adaptativos?

Alvin Plantinga: Essa é a questão. Por que isso seria verdade? Se o comportamento é adaptativo e a neurologia que o causa também é adaptativa, o que importa se as crenças são verdadeiras ou falsas?

A seleção natural se preocupa com comportamento adaptativo, não com crenças verdadeiras ou falsas. Você pode acreditar no que quiser, desde que se comporte da maneira correta para sobreviver e se reproduzir.

Alvin Plantinga: Agora, se você acredita no naturalismo e na evolução e percebe que a probabilidade de suas faculdades cognitivas serem confiáveis, dado o naturalismo e a evolução, é baixa, então você tem um “derrotador” para a crença de que suas faculdades cognitivas são confiáveis.

Todos assumimos que nossas faculdades cognitivas são confiáveis, e eu diria que corretamente. Mas se você vê que essa suposição entra em conflito com o naturalismo e a evolução, então tem uma razão para rejeitá-la.

E se você tem um derrotador para a confiabilidade de suas faculdades cognitivas, então tem um derrotador para qualquer crença produzida por essas faculdades – o que inclui sua crença no naturalismo e na evolução.

Entrevistador: Então, o que você está dizendo é que essa posição se torna autodestrutiva?

Alvin Plantinga: Exatamente. É como atirar no próprio pé.

Entrevistador: Isso significa que chegamos a um ceticismo total? Como alguém poderia saber alguma coisa?

Alvin Plantinga: Eu acho que um naturalista deveria realmente concluir isso – que ele não sabe de nada. Ele pode estar certo ou errado, mas precisa adotar uma posição de ceticismo completo.

Entrevistador: Mas o seu argumento implica que as crenças seriam apenas um epifenômeno, ou seja, parecem ser reais, mas na verdade são apenas um subproduto e não têm relação causal com o comportamento?

Alvin Plantinga: Algo assim. Existem conexões entre crenças e comportamento, mas o que causa o comportamento é a neurologia, e não a crença em si.

Entrevistador: Mas se avançarmos um pouco… Se isso for verdade no instante T1, onde o comportamento é adaptativo e há uma crença associada, essa crença terá outros efeitos ao longo do tempo. Isso não significaria que a verdade das crenças acabaria sendo testada?

Alvin Plantinga: Não é que as crenças não sejam reais – elas existem. A questão é se são verdadeiras ou não.

Entrevistador: Certo. Mas você não acha que, ao longo do tempo, crenças falsas levariam a consequências negativas para a sobrevivência?

Alvin Plantinga: Essa suposição é exatamente o que está sendo questionado. O que temos é um sistema onde a neurologia adaptativa produz comportamento adaptativo e, incidentalmente, também causa crenças.

O Centro de Filosofia da Religião apresenta o argumento evolutivo contra o naturalismo, uma visão amplamente defendida que afirma não existir Deus e que os seres humanos, como tudo mais, são coisas materiais. O naturalismo geralmente anda de mãos dadas com a teoria evolutiva, que oferece explicações sobre como os seres humanos adquiriram as características e habilidades que possuem hoje. Alvin Plantinga acredita que é um erro aceitar tanto o naturalismo quanto a evolução juntos. Talvez ambos possam ser verdadeiros, mas combinar a crença na teoria evolutiva com a crença no naturalismo coloca as pessoas em uma situação complicada. Quando essas crenças são combinadas, Plantinga argumenta que elas levam à conclusão de que não sabemos quase nada sobre nós mesmos ou sobre o mundo.

Aqui está o porquê: de acordo com a teoria evolutiva, variações genéticas aleatórias e a seleção natural são responsáveis pelas características atuais de nossa espécie, incluindo o que acontece em nossos cérebros, o que, por sua vez, causa nosso comportamento cotidiano. E se os seres humanos são apenas coisas materiais, o que acontece em nossos cérebros e no ambiente físico também nos leva a ter as crenças que temos. Esses processos evolutivos aumentam a aptidão de certas criaturas, levando à reprodução e sobrevivência de algumas em detrimento de outras. No entanto, a verdade de nossas crenças desempenha um papel muito menor nesse processo do que poderíamos pensar.

Primeiro, observe que, mesmo que as crenças gerem comportamento, elas não precisam ser verdadeiras para levar à sobrevivência e reprodução. Acreditar verdadeiramente que cutucar um urso vai fazer com que você seja atacado ou acreditar falsamente que cutucar um urso vai fazer com que você seja abduzido por alienígenas leva ao mesmo tipo de ação e ajuda você a viver para ver outro dia. Em segundo lugar, Plantinga argumenta que, nessa visão combinada, nossas crenças nem mesmo estão parcialmente envolvidas na geração de nosso comportamento. Portanto, não parece haver muita razão para pensar que elas são mais propensas a serem verdadeiras do que falsas.

E como o naturalismo não permite espaço para um Deus que projetou nossas faculdades cognitivas, não seria muito provável que as maneiras pelas quais formamos crenças sejam confiáveis. Se chegarmos a acreditar que todas as maneiras pelas quais formamos crenças — usando memória, razão, percepção ou qualquer uma de nossas outras faculdades cognitivas — não são confiáveis, então temos uma razão que mina todas as crenças que formamos por meio dessas faculdades. Isso inclui absolutamente todas as nossas crenças.

Consequentemente, apesar das aparências, a teoria evolutiva e o naturalismo não são bons companheiros. A pessoa que acredita em ambas as teorias tem uma razão para duvidar de todas as suas crenças, incluindo sua crença na teoria evolutiva e no naturalismo. Em vez disso, Plantinga sugere que a teoria evolutiva tem um aliado muito melhor no teísmo. Essa observação é uma das razões mais fortes que Plantinga usa para argumentar que a ciência está em profundo conflito com o naturalismo, mas em profunda harmonia com a religião.

Para saber mais sobre essas ideias, visite plantingavideos.com.

Poderá ver o vídeo no youtube Aqui

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