A existência de Deus
“O mundo intelectual contemporâneo no Ocidente”, declara o célebre filósofo Alvin Plantinga, “é um campo de batalha ou uma arena na qual se trava a luta pela alma dos homens”. [1] No âmago desta batalha, está a questão sobre a existência de Deus. O Teísmo tem renascido de forma inimaginável, não só na esfera pública, mas também no campo acadêmico. Um renomado filósofo ateu reconhece: Em meados do século XX, as universidades […] haviam se tornado essencialmente secularizadas. A posição […] padrão em cada campo […] supunha ou envolvia argumentos favoráveis a uma visão de mundo naturalista; os departamentos de teologia ou religião almejavam entender o significado e as origens dos escritos religiosos, não para desenvolver argumentos contra o naturalismo. Os filósofos analíticos […] tratavam o teísmo como uma cosmovisão antirrealista e não cognitivista, requerendo a realidade não de uma divindade, mas meramente de expressões emotivas ou de certas “formas de vida” […]Os naturalistas assistiram passivamente enquanto as versões realistas do teísmo, influenciadas principalmente pelos escritos de Plantinga, começaram a propagar-se por toda a comunidade filosófica, até que hoje talvez um quarto ou um terço dos professores de filosofia são teístas, sendo a maioria cristãos ortodoxos. Na academia, Deus não está “morto”; voltou à vida no final da década de 1960 e está agora são e salvo em seu último bastião acadêmico: os departamentos de filosofia. [2]
Têm sido discutidos ao longos dos séculos vários argumentos em favor da existência de Deus. Um dos mais bem mais sucedidos é o que foi formulado pelo filósofo e cientista Gottfried Wilhelm von Leibniz (Leipzig, 1 julho de 1646 — Hanôver, 14 de novembro de 1716). Vamos à uma breve análise do seu famoso argumento :
O Argumento Cosmológico de Leibniz ou Argumento da contingência.
(Introdução)
A pergunta: Por que as coisas existem? Por que existe algo ao invés de nada? Sempre intrigou os pensadores ao decorrer da história da humanidade. Quem nunca se perguntou em um céu estrelado: de onde vem todas essas estrelas? Por que eu existo? Por que o universo existe? Essa é uma questão inquietante e que poucos ousam responder. Um pensador do século XVIII chamado G.W.Leibnz [3] tentou responder essa pergunta de uma maneira satisfatória. Ele chamou a sua resposta de Argumento da contingência: Deus – um ser transcendente, pessoal – é a explicação do porquê de um universo contingente existe. O argumento cosmológico é um conjunto de provas que procuram demonstrar a existência de uma Razão Suficiente ou Causa Primeira para o surgimento do Cosmos.
Suponha que você está andando com um amigo em uma floresta e encontre uma bola no chão. Automaticamente, você se questiona como essa bola foi parar na floresta. Seu amigo simplesmente poderia dizer em resposta: esqueça isso! Ela apenas existe. Inexplicavelmente. Você iria pensar que o seu amigo estava brincando. Ora, ninguém levaria a sério a ideia de que a bola apenas existe, sem nenhuma razão para a sua existência. Além disso, como ela pôde chegar na Floresta, sem que ninguém a tenha movido para lá? Quem fez a bola? Agora, imagine que a bola seja o universo. Ele pode, assim como a bola, existir sem nenhuma explicação para a sua existência? Qual é, então, a explicação para a existência do universo? Quando me refiro ao universo, quero dizer toda a realidade física do espaço-tempo. A explicação do universo, só pode ser uma realidade transcendente, afinal, ela não pode fazer parte do próprio universo, pois seria um absurdo lógico dizer que o universo causou ele mesmo, pois ele teria de existir antes dele mesmo. A causa existia antes do próprio universo; antes do espaço e do tempo. Essa entidade é metafisicamente necessária em sua existência [4]. Um ser que seja atemporal, esteja além do espaço, é conceituado como o que todos nós chamamos de Deus, ou causa primária. Podemos resumir o argumento da seguinte forma:
- Tudo o que existe tem uma explicação para existir.
- Se o universo tem uma explicação para existir essa explicação é Deus.
- O universo existe.
- O universo tem uma explicação para existir.
- Portanto, a explicação para a existência do universo é Deus.
Esse pequeno artigo foi apenas uma introdução a família do argumento cosmológico. Em outra oportunidade, mostrarei as três objeções mais comuns ao argumento cosmológico de Leibniz juntamente com suas respectivas respostas.
Materiais consultados:
Em guarda. William Lane Craig. São Paulo: Vida Nova, 2011.
Ensaios apologéticos. Editado por Francis J.Beckwith, William Lane Craig e J.P.Moreland. São Paulo : Hagnos, 2006.
Filosofia e Cosmovisão Cristã. J.P.Moreland, William Lane Craig. São Paulo: Vida Nova, 2005.
Sobre o autor : Arthur Olinto é Paraibano, enxadrista e graduando em Engenharia Elétrica. Estudante independente de filosofia e teologia em suas horas vagas.
[1] Alvin Plantinga, “The Twin Pillars of Christian Scholarship”, Grand Rapids: Calvin College and Seminary, 1990.
[2] Quentin Smith, “The Metaphilosophy of Naturalism”, Philo 4/2 (2001): 3-4.
[3] Juntamente com Newton, foi inventor do cálculo diferencial. É considerado por muitos uma das mentes mais brilhantes da Europa do século XVIII.
[4] É impossível que Deus tenha uma causa, pois ele é a Causa Primária. Ele só depende dEle para existir. Para Leibniz existem duas classes de coisas. (a) as que existem necessariamente ( Deus ). (b) as que são geradas por alguma causa externa.