Fonte: A Torre sob escrutínio
Todos os grifos, negritos e itálicos em citações de fontes que não sejam deste mesmo Site foram acrescentados pelo autor deste artigo.
Quando uma pessoa aceita um estudo baseado nas publicações da Torre de Vigia, ela passa a receber progressivamente os ensinos característicos desta organização, e, naturalmente, passa a adotá-los como bússola orientadora que determinará seu comportamento e ações dali para frente. Neste ponto, um dos ensinos que talvez seja muito difícil de ser entendido e até mesmo aceito é a proibição que as Testemunhas de Jeová impõe no que tange a comemoração de aniversários natalícios. De fato, as Testemunhas de Jeová já de longa data têm ensinado que é errado, até mesmo idolatria, a comemoração de aniversários natalícios.
Dizemos difícil de ser aceito e entendido pelo fato de que, quando se ouve a explicação do porque de tal proibição, ela nos parece um tanto quanto inconsistente e superficial. Talvez por isto mesmo alguns optaram por ignorar tal ensino, embora estando oficialmente ligados as Testemunhas de Jeová. Afinal, o que poderia haver de errado ou nocivo em uma festividade de caráter essencialmente pessoal, em nada religioso? Na realidade este raciocínio óbvio faz com que surjam algumas perguntas pertinentes: qual o fundamento deste ensino? Existe alguma lógica nesta doutrina ou é ela uma doutrina sem base bíblica?
Seguem-se alguns raciocínios que visam esclarecer o assunto.
Em que se baseiam as Testemunhas de Jeová para proibir a comemoração de aniversários natalícios?
1º ARGUMENTO:
Baseiam sua premissa em duas passagens bíblicas. Argumentam que nestes dois relatos de aniversários natalícios na Bíblia (teoricamente únicos), ocorreram coisas que desagradaram a Deus. Portanto, a partir deste argumento decidiram adotar uma posição contrária a comemoração de aniversários natalícios.
São os relatos:
– Genesis 40:20: um faraó mata seu padeiro durante um aniversário natalício.
– Mateus 14:6: rei Herodes mata João Batista (ou Batizador, como queira) durante uma festa de aniversário.
Serão estes argumentos realmente válidos? Será mesmo que a Bíblia não relata outros aniversários natalícios? Aparentemente, ao menos uma família o fazia. Leia o seguinte relato:
“4 E seus filhos foram e realizaram um banquete na casa de cada um [deles] no seu próprio dia; e mandaram convidar suas três irmãs para comerem e beberem com eles. 5 E dava-se que, tendo os dias de banquete completado o ciclo, Jó mandava santificá-los; e ele se levantava de manhã cedo e oferecia sacrifícios queimados segundo o número de todos eles; pois, dizia Jó, “meus filhos talvez tenham pecado e amaldiçoado a Deus no seu coração“. Assim Jó fazia sempre.” – Jó 1:4,5
Ao que o texto indica, a festa mencionada era mesmo de aniversário natalício (isto ainda será discutido). E Jó não somente participava, mas como é deixado claro, isso era um costume deles. Afinal, “assim fazia Jó sempre”! Mas, como sabemos que a expressão “cada um [deles] no seu próprio dia” referia-se a um aniversário natalício? A resposta vem logo após:
“Foi depois disso que Jó abriu a boca e começou a invocar o mal sobre o seu dia. 2 Jó respondeu então e disse: 3 “Pereça o dia em que vim a nascer, Também a noite em que alguém disse: ‘Foi concebido um varão vigoroso!'” – Jó 3:1-3
Interessante que o livro Estudo Perspicaz das Escrituras (editado e publicado pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados) cita que o termo hebraico utilizado em Jó 1:4 (yohm) não é aplicável a festividade de aniversário natalício, ao dia específico do nascimento. No entanto, a mesma palavra hebraica aparece no supracitado Jó 3:1,3, referindo-se indubitavelmente ao dia específico do nascimento – e não a outro período ou época, conforme afirmado no Estudo Perspicaz. Assim, a utilização do termo hebraico yohm em Jó 3:1,3 deixa claro que o mesmo se aplica ao dia do nascimento – embora não a uma comemoração em si, na forma como apresentado em Jó 1:4.
Resta alguma dúvida de que a expressão “seu próprio dia” ou “seu dia” refere-se ao dia do nascimento? Portanto, se Jó e seus filhos comemoravam regularmente “seu próprio dia“, se comemoravam o dia do seu nascimento, o que estavam eles comemorando senão o aniversário natalício?
Assim, são derrubados dois mitos: primeiro, os aniversários natalícios mencionados na Bíblia não foram somente aqueles dois “famigerados”. Antes, até mesmo servos de Deus, servos fiéis, celebravam festas em comemoração ao dia do seu nascimento. De fato, é de conhecimento de todos que muitos servos de Deus no passado realizavam grandes festividades por ocasião do nascimento de seus filhos. Notem o que o Estudo Perspicaz das Escrituras afirma sobre este aspecto:
*** it-1 140 Aniversário Natalício ***
De acordo com as Escrituras, o dia em que o bebê nascia era usualmente um dia de regozijo e de ações de graças da parte dos pais, e isto de direito, pois “eis que os filhos são uma herança da parte de Jeová; o fruto do ventre é uma recompensa”. (Sal 127:3; Je 20:15; Lu 1:57, 58)
A partir da descrição acima, pergunte-se: qual é a diferença entre celebrar o nascimento no dia em que acontece (ou proximamente) e celebrar o mesmo anualmente? Do ponto de vista lógico não existe diferença – ambas as ocasiões celebram o mesmo fato, a saber, o momento em que um indivíduo veio ao mundo. Ainda mais, saberia responder por que a Torre de Vigia proíbe a celebração anual do aniversário natalício, e não proíbe a celebração também anual dos aniversários de casamento?
Segundo mito derrubado: mesmo os dois relatos negativos não condenam a comemoração de aniversários natalícios, nem mesmo outra parte da Bíblia o faz. Isto nos faz chegar a conclusão de que qualquer proibição imposta no sentido de não se comemorar aniversários natalícios – proibição esta que não se encontra na Bíblia – seria ir além das coisas escritas, explicitamente falando. E o que a Bíblia diz sobre isto?
“6 Agora, irmãos, estas coisas passei a aplicar a mim mesmo e a Apolo, para o vosso bem, para que, em nosso caso, aprendais a [regra]: “Não vades além das coisas que estão escritas”, a fim de que não fiqueis…” – 1 Corintios 4:6
Que está fazendo uma pessoa ou entidade religiosa quando impõe uma proibição sequer mencionada ou sugerida na Bíblia? Não faz ela exatamente o que diz o versículo bíblico acima? Este raciocínio tem feito com que pessoas de reflexão, pessoas inteligentes que se recusam a aceitar dogmas insanos, deixem de observar uma proibição humana e sem qualquer fundamento bíblico ou cristão.
2º ARGUMENTO
Alguns insistem em dizer que os aniversários natalícios são ocasiões em que se dá indevida honra a seres humanos, honra esta que deveria ser dada a Deus. A primeira vista, este parece ser um excelente argumento para aquele que não está bem familiarizado com as Escrituras. Mas, será realmente que não se pode dar honra a seres humanos? É verdade que por honrarmos seres humanos estaríamos desonrando a Deus? O que se deve dar a Deus? Note este interessante versículo:
“4 “Não deves fazer para ti imagem esculpida, nem semelhança de algo que há nos céus em cima, ou do que há na terra embaixo, ou do que há nas águas abaixo da terra. 5 Não te deves curvar diante delas, nem ser induzido a servi-las, porque eu, Jeová, teu Deus, sou um Deus que exige devoção exclusiva…”” – Exodo 20:4,5
É você capaz de encontrar aqui ou em qualquer outro lugar na Bíblia a proibição de que se dê honra a outros seres humanos? Naturalmente, sim, adoração não é tolerada por Deus. Mas e a honra a outros humanos, é ela tolerada biblicamente?
A Bíblia se responde e nos responde. Observe a opinião divina a respeito de se dar honra a seres humanos:
“7 Rendei a todos o que lhes é devido, a quem [exigir] imposto, o imposto; a quem [exigir] tributo, o tributo; a quem [exigir] temor, tal temor; a quem [exigir] honra, tal honra.” – Romanos 13:7
Este versículo deveria induzir aqueles que defendem a tese de que os aniversários natalícios dão indevida honra a um ser humano, a remoldar seu modo de pensar e admitir que a honra dada a seres humanos não constitui violação de mandados divinos – desde que não se converta em atos de veneração. Portanto, é você capaz de afirmar que não se deve comemorar aniversários natalícios por se dar honra indevida a seres humanos? O próprio Deus nunca condenou que se honre a humanos; antes condenou que se prestassem atos de adoração em detrimento a Ele.
Ademais, se pararmos para observar certos acontecimentos a nossa volta, iremos notar que em diversas situações seres humanos recebem honra em muito mais alto grau e mais freqüentemente do que um aniversariante recebe, mesmo dentro da organização das Testemunhas de Jeová. Afinal, o aniversariante recebe certa medida de atenção anualmente, apenas por um curtíssimo período de tempo – o que sequer acontece quando felicitamos alguém com um “feliz aniversário”. Mas, se o leitor raciocinar a luz da razão, irá se dar conta de que um superintendente de circuito recebe honra semanal muito maior do que a “honra” ou atenção dada a um aniversariante.
Na realidade, este constitui um capítulo a parte no complexo campo de se dar honra ou atenção em excesso a homens, quando o assunto é o comportamento das Testemunhas de Jeová. Se alguém é, ou mesmo se já foi Testemunha de Jeová, certamente apercebe-se de que os líderes espirituais – anciãos de destaque, superintendentes de circuito e distrito, representantes de Betel, etc… – recebem uma atenção que eu classificaria como, no mínimo, descomunal. Imagino que todos os que têm ou já tiveram contato com os procedimentos da Torre de Vigia já se deram conta do enorme alarde e movimento criado em torno da visita de um superintendente de circuito ou distrito a congregação local. É fato inegável que tais privilegiados homens recebem o tipo de tratamento que, exceto em raras ocasiões, nenhum outro membro das Testemunhas irá receber. Existe portanto, neste caso, um excesso de atenção e dedicado trabalho – bem como gastos materiais – voltados para uma pessoa em particular. Naturalmente que pelo empenho pessoal por uma causa tida como nobre – ainda mais considerando-se que não existe ganho material substancial – estes homens merecem nossos elogios e esforços no sentido de serem bem acolhidos. Mas o que inegavelmente se vê nas congregações nos dias que antecedem suas visitas, bem como durante as mesmas, é uma verdadeira corrida frenética, uma verdadeira loucura para agradar e exaltar tais pessoas – algo que todos aqueles que observam os fatos de maneira isenta não podem deixar de notar. E, vale notar que os superintendentes de circuito e distrito não recebem tal extraordinária atenção anualmente; antes, isto acontece com eles em base semanal, em cada congregação que eles visitam – algo muito mais freqüente do que acontece com certa pessoa, por ocasião do aniversário natalício (uma celebração anual).
Alongando ainda mais este assunto, há de se notar que nas publicações da Torre de Vigia se dão incessantemente e constantemente créditos pessoais a líderes organizacionais tais como C. T. Russell e J. F. Rutherford. Na realidade, poder-se-ia dizer sem margem de dúvida que estes personagens chegam mesmo a serem considerados semideuses. Pode por acaso uma Testemunha de Jeová fiel negar que nas publicações da Torre de Vigia se fazem constantes alusões a estas pessoas, como sendo em grande parte responsáveis pelo conhecimento espiritual sustentado hoje por tal organização?
Ainda um último argumento: quem recebe mais honra? Um aniversariante ou o casal de noivos durante sua festa de casamento? Vestidos com roupas especiais, sendo o centro de toda a atenção, que faz eles diferentes de um aniversariante? Por que se diz que o aniversariante recebe indevida atenção, e não se diz o mesmo de um par de noivos durante sua festa?
Tendo em vista os fatos e argumentos que são aqui apresentados, havemos de relembrar algo que deve ser considerado cada vez que se menciona a proibição da celebração de aniversários natalícios:
“6 Agora, irmãos, estas coisas passei a aplicar a mim mesmo e a Apolo, para o vosso bem, para que, em nosso caso, aprendais a [regra]: “Não vades além das coisas que estão escritas”, a fim de que não fiqueis…” – 1 Corintios 4:6