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Notas sobre células tronco

imagesNAS mãos de um artesão habilidoso, uma massa de argila mole pode ser moldada em praticamente qualquer peça. As células-tronco embrionárias são o equivalente vivo dessa argila. Elas podem, em tese, produzir praticamente qualquer uma das mais de 200 espécies de células que formam o corpo humano. Como fazem isso? Veja o que acontece com uma célula-ovo (óvulo) recém-fertilizada.
Logo após a fertilização, o óvulo começa a se dividir. Nos humanos, cerca de cinco dias de divisão celular resultam numa bolinha de células chamada blastocisto. É basicamente uma esfera oca composta de uma camada externa de células, parecida com uma concha, e de um pequenino aglomerado de umas 30 células chamado massa celular interna, que se fixa na parede interna da esfera. A camada de células externa se torna a placenta, e a massa celular interna, o embrião humano.
No estágio blastocístico, porém, as células da massa celular interna ainda não começaram a se especializar na formação de tipos específicos de células, tais como células nervosas, renais ou musculares. Por isso são chamadas células-tronco. E, visto que dão origem a praticamente todos os diferentes tipos de células do corpo, são chamadas pluripotentes. Para entendermos o porquê da empolgação e polêmica em torno das células-tronco, vejamos o que os cientistas já fizeram até agora e quais são suas metas, começando com as células-tronco embrionárias.

Células-tronco embrionárias
O relatório Células-tronco e o futuro da medicina regenerativa (em inglês), declarou: “Nos últimos três anos, tornou-se possível remover essas células-tronco [embrionárias humanas] do blastocisto e mantê-las num estado indiferenciado em linhas de cultura de células no laboratório.” Expresso de maneira simples, células-tronco embrionárias podem ser cultivadas de modo a produzirem um número ilimitado de cópias idênticas a si mesmas. Células-tronco embrionárias, extraídas de camundongos, cultivadas pela primeira vez em 1981, já produziram bilhões de células duplicadas em laboratório.
Visto que todas essas células permanecem indiferenciadas, os cientistas esperam que, com os corretos estímulos bioquímicos, as células-tronco possam ser programadas para se transformarem em praticamente qualquer tipo de células que venham a ser necessárias para a terapia de substituição de tecido. Simplificando, as células-tronco são vistas como possíveis fontes de ilimitadas ‘peças de reposição’.
Em dois estudos com animais, os pesquisadores induziram células-tronco embrionárias a se tornarem células produtoras de insulina, que foram então transplantadas para camundongos diabéticos. Num dos estudos, os sintomas do diabetes foram revertidos, mas no outro as células novas não produziram insulina suficiente. Em estudos similares, os cientistas têm obtido êxito parcial na restauração de funções neurais em danos na medula espinhal e na correção de sintomas do mal de Parkinson. “Esses estudos oferecem esperança”, diz a Academia Nacional de Ciências, “mas não evidência definitiva de que tratamentos similares possam ser eficazes em humanos”. Mas por que a pesquisa sobre células-tronco embrionárias humanas é tão polêmica?

Por que tanta preocupação?
O principal foco de preocupação é que o processo de extrair células-tronco embrionárias essencialmente destrói o embrião. Isso, explica a Academia Nacional de Ciências, “priva o embrião humano de qualquer potencial adicional de se transformar num ser humano pleno. Para quem acredita que a vida de um ser humano começa no momento da concepção, as pesquisas sobre as células-tronco embrionárias violam dogmas que proíbem a destruição da vida humana e o uso da vida humana como meio para outros objetivos, não importa quão nobres sejam esses objetivos”.
Onde os laboratórios obtêm os embriões para a extração das células-tronco? Em geral em clínicas de fertilização artificial, onde mulheres forneceram óvulos para fertilização in vitro. Embriões que sobram usualmente são congelados ou, então, descartados. Certa clínica na Índia descarta mais de 1.000 embriões humanos por ano.
Enquanto as pesquisas sobre células-tronco embrionárias continuam, alguns pesquisadores concentram seus esforços numa forma de célula-tronco bem menos controversial: a célula-tronco adulta.

Células-tronco adultas
“A célula-tronco adulta”, diz o Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos, “é uma célula indiferenciada (não-especializada) que se encontra em tecidos diferenciados (especializados)”, tais como os da medula óssea, do sangue e dos vasos sanguíneos, da pele, da medula espinhal, do fígado, do trato gastrointestinal e do pâncreas. Pesquisas iniciais sugeriram que as células-tronco adultas tinham um alcance muito mais limitado do que suas equivalentes embrionárias. No entanto, descobertas posteriores em estudos de animais sugerem que certos tipos de células-tronco adultas podem se diferenciar, transformando-se em tecidos diferentes dos quais se originaram.
Células-tronco adultas extraídas do sangue e da medula óssea, chamadas células-tronco hematopoéticas (HSCs, em inglês), têm a habilidade de “se auto-renovar continuamente na medula e se reorientar para produzir o pleno complemento de tipos de células presentes no sangue”, diz a Academia Nacional de Ciências. Esse tipo de células-tronco já tem sido usado para tratar a leucemia e vários outros problemas do sangue. Agora, alguns cientistas afirmam também que as HSCs aparentemente produzem células não-sanguíneas tais como células hepáticas e células que se parecem com neurônios e com outros tipos de células presentes no cérebro.
Usando outro tipo de células-tronco extraídas da medula óssea de camundongos, pesquisadores nos Estados Unidos parecem ter feito outro avanço significativo. Seu estudo, publicado na revista Nature, mostrou que essas células parecem ter “toda a versatilidade das células-tronco embrionárias”, segundo o jornal The New York Times. “Em princípio”, acrescenta o artigo, essas células-tronco adultas poderiam “fazer tudo o que se espera das células-tronco embrionárias”. Não obstante, os pesquisadores que trabalham com células-tronco adultas ainda encontram grandes obstáculos. Essas células são raras e difíceis de identificar. Por outro lado, quaisquer benefícios médicos que venham a trazer não significarão a destruição de embriões humanos.

Riscos à saúde e medicina regenerativa
Seja qual for a forma de célula-tronco que se use, as terapias ainda enfrentarão sérios obstáculos — mesmo que os cientistas venham a dominar os processos que produzam tecidos para transplante. Um dos principais obstáculos é a rejeição de tecido estranho pelo sistema imunológico do receptor. A solução atual é a administração de drogas potentes que suprimem o sistema imunológico, mas elas têm graves efeitos colaterais. A engenharia genética talvez contorne esse problema, caso as células-tronco possam ser alteradas de modo que os tecidos derivados delas não pareçam estranhos para seu novo hospedeiro.
Outra possibilidade pode ser o uso de células-tronco tiradas dos tecidos do próprio paciente. Em testes clínicos iniciais, as células-tronco hematopoéticas já foram usadas assim no tratamento do lúpus. Pode ser que o diabetes também responda bem a terapias similares, desde que o tecido novo não seja suscetível ao mesmo ataque auto-imunológico que possa ter desencadeado a doença. Pessoas com certas doenças cardíacas talvez também se beneficiem de terapias à base de células-tronco. Uma proposta é que os pacientes de risco doem previamente suas próprias células-tronco, de modo que possam ser cultivadas e usadas mais tarde na substituição de tecido cardíaco doente.
Na luta contra o problema da rejeição imunológica, alguns cientistas até mesmo sugeriram clonar pacientes, permitindo, porém, que os clones se desenvolvessem apenas até o estágio blastocístico, em que as células-tronco embrionárias podem ser colhidas.Os tecidos cultivados a partir dessas células-tronco seriam geneticamente idênticos aos do doador-receptor, de modo que não disparariam uma resposta imunológica. Mas, além de ser moralmente repulsiva para muitas pessoas, tal clonagem poderia ser inútil caso a intenção fosse curar uma doença de causa genética. Resumindo o problema imunológico, a Academia Nacional de Ciências declarou: “Descobrir como evitar a rejeição de células transplantadas é fundamental para sua utilidade na medicina regenerativa e constitui um dos maiores desafios para a pesquisa nesse campo.”
O transplante de células-tronco embrionárias acarreta também o risco de formação de tumor, em especial de um chamado teratoma, que significa “tumor monstro”. Esse tumor pode abranger uma variedade de tecidos, tais como pele, cabelo, músculos, cartilagem e ossos. Durante o desenvolvimento normal, a divisão e a especialização celular seguem um estrito programa genético. Mas esses processos podem dar errado quando as células-tronco são separadas do blastocisto, cultivadas in vitro e, mais tarde, injetadas numa criatura viva. Aprender a dominar de modo artificial os enormemente complexos processos de divisão e especialização celular é outro grande desafio para os pesquisadores.

Não há curas iminentes
O relatório Células-tronco e o futuro da medicina regenerativa diz: “Devido a um mal-entendido a respeito do nível de conhecimento já alcançado, pode haver uma impressão injustificável de que é certa e iminente uma ampla aplicação clínica de novas terapias. Na verdade, a pesquisa das células-tronco ainda está engatinhando, e há grandes lacunas no conhecimento que constituem obstáculos à implementação de novas terapias à base de células-tronco adultas ou das derivadas de embrião.” Obviamente, há mais perguntas do que respostas. Alguns cientistas até mesmo “se previnem contra uma possível forte reação negativa, caso os tratamentos não se concretizem”, diz um artigo no New York Times.
Mesmo sem levar em conta a ciência das células-tronco, a medicina tem feito grandes avanços em muitas áreas em décadas recentes. No entanto, como vimos, alguns desses avanços levantam questões morais e éticas complexas. Assim, onde encontrar orientação confiável sobre esses assuntos? Além disso, à medida que as pesquisas ficam mais sofisticadas e mais caras, as terapias e medicamentos resultantes muitas vezes refletem esses custos. Alguns pesquisadores já calcularam que as terapias à base de células-tronco poderão custar centenas de milhares de dólares por paciente. Não obstante, já agora, milhões de pessoas não conseguem pagar os crescentes custos médicos e os planos de saúde. Portanto, quem realmente se beneficiará se, e quando, a revolução das células-tronco chegar às clínicas? Só o tempo dirá.
Mas de uma coisa podemos estar certos: nenhuma terapia concebida pelo homem eliminará as doenças e a morte. (Salmo 146,3-4) Apenas o Criador tem o poder para fazer isso.

Mais uma fonte de células-tronco
Além das células-tronco adultas e embrionárias, as células germinativas embrionárias também têm sido isoladas. Estas últimas são obtidas das células na crista gonadal de um embrião ou de um feto, que dão origem a óvulos ou a espermatozoides. (A crista gonadal se torna os ovários ou os testículos.) Embora as células germinativas embrionárias sejam de muitas maneiras diferentes das células-tronco embrionárias, ambas são pluripotentes, ou seja, capazes de produzir praticamente todos os tipos de células. Esse potencial faz das células pluripotentes atraentes candidatas para o desenvolvimento de tratamentos médicos sem precedentes. Contudo, a empolgação em torno dessas terapias é empanada pela polêmica a respeito da fonte dessas células. Elas provêm de fetos abortados ou de embriões. Assim, obtê-las implica na destruição fetal e embrionária.

Como fazer um clone
Em anos recentes, os cientistas clonaram uma variedade de animais. Em 2001, um laboratório nos Estados Unidos até mesmo tentou, embora sem sucesso, clonar um ser humano. Um dos métodos usados pelos cientistas para fazer clones é chamado transferência nuclear.
Primeiro, eles extraem de uma fêmea um óvulo não-fertilizado (1) e enucleiam essa célula, ou seja, removem seu núcleo (2), que contém o DNA. Do corpo do animal a ser clonado eles obtêm uma célula apropriada, como uma célula da pele (3), cujo núcleo contém a planta genética do possuinte. Eles inserem essa célula (ou apenas seu núcleo) no óvulo enucleado e passam através dele uma corrente elétrica (4). Isso funde a célula e o citoplasma do óvulo (5). Com seu novo núcleo, o óvulo passa a dividir-se e cresce como se estivesse fertilizado (6), e assim começa a se desenvolver um clone da criatura da qual se retirou a célula adulta.
O embrião pode então ser implantado no útero de uma ‘mãe de aluguel’ (7), onde, nos raros casos em que tudo dá certo, crescerá até o parto. Como alternativa, o embrião pode ser mantido apenas até que a massa celular interna possa ser usada para obter células-tronco embrionárias que possam ser mantidas em cultura. Os cientistas acreditam que esse processo básico deva funcionar com humanos. Na verdade, a supramencionada tentativa de clonar um humano foi feita visando adquirir células-tronco embrionárias. A clonagem para esse fim é chamada clonagem terapêutica.

A ovelha Dolly foi o primeiro animal clonado a partir de uma célula adulta. Os cientistas implantaram o núcleo de uma célula da glândula mamária de uma ovelha adulta num óvulo enucleado.

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