Devemos usar o ridículo como ferramenta de persuasão? O ateu John Loftus diz que sim.
Christopher Hitchens costumava pedir aos cristãos a que “mencionassem uma ação moral realizada por um crente que não pudesse ter sido feita por um descrente”. Um dos problemas em atender o desafio de Hitchens (ver uma discussão mais detalhada aqui ) é que é improvável que uma pessoa que tenha uma cosmovisão naturalista tenha exatamente o mesmo entendimento do certo e do errado como a de um cristão. Claro que um ateu pode agir dentro de sua estrutura moral e fazer o que ele considera ser bom, mas se as suas ideias sobre o que é moral estão incorretas, então vai seguir suas ações. E há muitas perguntas sobre quem somos como seres humanos, o propósito da vida, o diagnóstico do que está errado e a receita para corrigi-lo, etc, etc, que respondemos de forma diferente para chegarmos às mesmas conclusões exatas sobre o que é certo e o que é errado.
Por esta razão, o pedido de Hitchens é logicamente irrespondível. É simplesmente o caso de que se realmente existe algo moral que um crente possa fazer que um descrente não pode, é porque o crente vê como moral, porque ele é um crente , enquanto o não-crente não consegue vê-lo como moral, porque ele é um descrente (adorar a Deus seria um exemplo disto). E se o ateu não consegue ver uma ação como moral, não vai aceitá-la como um exemplo de uma ação moral que não pode (ou não) executar. Portanto, nenhuma resposta irá satisfazê-lo, mesmo que seja verdadeira.
Então, não espero que os ateus vejam este post como um desafio à sua moralidade também. Eles rejeitam a ideia de que somos feitos à imagem de Deus, e por isso rejeitam a moralidade que brota dessa ideia. Isso é de se esperar. Provar aos ateus que sua moral está com defeito não é o meu objetivo ao escrever este post (embora ficaria feliz em agitar sua intuição moral). Em vez disso, o que espero que isso vá fazer é lançar alguma luz sobre como as nossas diferentes visões de mundo afetam nossa compreensão do que é moral. Vivemos em uma sociedade que tem sido embebida na cosmovisão cristã durante séculos, e que já chegou a pensar que o que acreditamos ser moral é apenas “óbvio”. As pessoas ainda não pensam sobre como a compreensão da moralidade tem sido moldada pelo cristianismo, nem consideraram as consequências de despojá-las (embora um olhar em culturas passadas revelem que nem tudo é óbvio).
Os ateus não precisam acreditar em Deus para fazer o bem, isto é, eles podem seguir os preceitos morais, informados por sua intuição moral, que é capaz de apreender as verdades morais reais. Mas o que acontece quando os seus preceitos morais (e consciências maleáveis ) estão erroneamente moldadas pela sua ideia de que Deus não existe?
Considere como John Loftus, do blog Debunking Christianity, chega à conclusão de que se deve usar o ridículo como um método de persuasão:
O uso do ridículo pode ser justificado de forma pragmática. Ele funciona bem sob certas circunstâncias, dependendo do tema e da eficácia potencial de usá-lo. É melhor usado quando os argumentos estão lá para apoiá-lo, e quando mais pessoas concordam contra as ideias que estão sendo ridicularizadas…. Isto é, como sabemos que o cristianismo é uma ilusão, e já que as pessoas iludidas não podem refletir sobre sua fé, porque nunca foram ensinadas a pensar criticamente sobre ela, o uso de técnicas de persuasão como o ridículo é racionalmente justificável. Então, a sátira, escárnio e zombaria são armas que devem estar em nosso arsenal nesta importante guerra cultural de ideias.
Ele explica como funciona o ridículo:
Essas pessoas não podem ser convencidos pela sátira e a sátira não é escrita para mudar as suas ideias. Ela é escrita para marginalizá-las por rir delas. Ela convence as pessoas que ainda não têm uma opinião consolidada sobre o assunto, em parte por meio de pressão social. Ninguém quer ser motivo de chacota. Ninguém quer ser o alvo de uma piada. Se as pessoas estão rindo de uma visão particular essa ação pressiona os indecisos a se distanciarem dela. Ela desenha uma linha na areia, por assim dizer. Também pode silenciar pessoas que pensam de outra forma, pois não vão querer fazer parte de uma classe em nome de algo que a maioria dos outros vão rir ….
Quando alguma coisa não pode ser levado a sério merece o nosso riso…. É uma maneira de “sair do armário”, por assim dizer, para que os outros saibam que eles vão ser ridicularizados se eles defendem certas ideias com uma cara séria. Há poder na pressão social. Há poder em números.
O ridículo é uma ferramenta eficaz, então porque não usá-lo? Por que não usar o poder de mover as pessoas para o seu lado, se ele “funciona”? Há apenas uma razão, e é um motivo na cosmovisão cristã: a dignidade humana.
Para Loftus e outros que não acreditam no valor intrínseco sagrado de cada indivíduo, o objetivo maior supera o dano às pessoas, o simples preceito humano individual moral de manter a dignidade do outro desmorona diante de uma causa nobre. A moral do cristianismo, por outro lado, não permite essa isenção, como Jordan Ballor explica em seu excelente post “A moralidade mundana de Les Misérables”. No cristianismo, por causa de quem é Deus e quem somos como seres humanos sob Deus, ninguém está dispensado da moralidade cotidiana de tratar bem as pessoas, independentemente de seu objetivo, seu poder, ou se fazer ou não fazer o contrário iria “funcionar”:
Achamos que as obrigações de ordem moral recaem igualmente sobre todos os seres humanos, somos todos, independentemente de nossa riqueza, poder ou fama, agentes morais responsáveis por nossos atos diante de Deus e para com os outros ….
É tentador pensar que, por vezes, as regras básicas de moralidade não se aplicam a nós, que de alguma forma estamos acima ou além da lei. Mas a realidade é que não há moralidade especial para aqueles que exercem maiores responsabilidades, seja em contextos familiares, econômicos, eclesiásticos ou políticos. É verdade que há, muitas vezes, nesses casos, uma maior complexidade moral, mas não há dispensa para aqueles em posição de autoridade [ou influência] de obrigações morais mundanas.
Uma dessas obrigações morais mundanas é a obrigação de respeitar a dignidade dos seres humanos porque são feitos à imagem de Deus. Deus valoriza as pessoas, e não os movimentos, por isso, nossas ações têm que refletir isso. Somos chamados a refletir Deus – Sua graça imerecida e amor através dos meios da nossa persuasão – bem como os fins (como eu escrevi sobre isto aqui ).
Por que Loftus chega a uma conclusão tão diferente sobre como tratar seus inimigos ideológicos? Porque sua questão maior é “o que funciona para alcançar o objetivo desejado?” em vez de “o que estaria de acordo com a dignidade da pessoa humana?” Em um artigo intitulado “Por que eu criei meus filhos sem Deus“, outro ateu nos dá uma pista:
Quando criamos nossos filhos sem Deus, dizemos-lhes a verdade – não somos mais especiais do que as outras criaturas. Somos apenas uma pequena parte, muito pequena, de uma grande, grande máquina ….
E a abordagem de Loftus é o resultado desta “verdade”.
Fonte: http://str.typepad.com/weblog/2013/01/why-not-use-ridicule.html#sthash.hrbgQfRX.dpuf
Tradução: Emerson de Oliveira