O Pentateuco, comumente chamada de Torá entre os judeus, refere-se aos cinco primeiros livros do Antigo Testamento – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Estes livros são em parte históricos e em parte legais. Eles traçam a história do povo eleito desde a criação até o evento do Êxodo até a morte de Moisés. Eles também preservam suas leis civis e religiosas. Tradicionalmente, a autoria desses livros é atribuída a Moisés, o Legislador.
Uma das razões para este crédito é por causa do reconhecimento no Evangelho do ensino de Moisés. Por exemplo, a respeito da lei do casamento de Deuteronômio 25,5, os saduceus citam especificamente a lei de Moisés, que Jesus não refuta ou nega; como uma questão de fato, em Marcos, Jesus responde: “Não lestes no livro de Moisés…”. Em outras passagens também Jesus faz referência aos ensinamentos de “Moisés e os Profetas”, por exemplo, Lucas 24,44: “Tudo escrito sobre mim na Lei de Moisés e os Profetas e nos Salmos tinha que ser cumprida”, e João 5,46 -“Se acreditais em Moses teriam, então, que acreditar em mim, pois era sobre mim que ele escreveu”. Certamente Jesus, a “Palavra que se fez carne”, não endossaria ou toleraria uma crença sobre a autoria de Moisés se fosse totalmente errônea.
Os apóstolos também dão testemunho da autoria de Moisés. São Pedro, nos Atos dos Apóstolos, cita Deuteronômio 18,15, com a introdução “disse Moisés” (Atos 3,22). S. Tiago e s. Paulo atestam que os escritos de Moisés eram lidos nas sinagogas todos os sábados (cf. Atos 15,21 e II Coríntios 3,15). Atos também descreve como s. Paulo procurou convencer as pessoas sobre Cristo, “apelando para a lei de Moisés e os profetas” (Atos 28,23).
Tanto a tradição judaica e cristã aceitam a autoria de Moisés. No entanto, começando no final de 1600 com o padre oratoriano, Richard Simon, os estudiosos têm se engajado em exames crítico dos textos, versões e comentários do Antigo Testamento. O que se desenvolveu foi a “teoria da Hipótese Documental” que postulava que quatro fontes ou documentos foram escritos em momentos diferentes por diferentes autores e depois combinados para formar o Pentateuco. Estes quatro documentos são os seguintes: o javista (século 9 aC), que usa “Yahweh” por Deus e é muito antropomórfico no estilo; o eloísta (século 8 aC), que usa “Elohim” por Deus e é mais didático em grande estilo; o deuteronomista (século 7 aC), que se reflete no livro de Deuteronômio e talvez em algumas breves passagens de Êxodo; e o documento sacerdotal (século 5 aC), que é muito litúrgico e fornece genealogias e precisas instruções rituais. Por favor, note que isto é uma “hipótese”, e os estudiosos continuam a debater e investigar este assunto.
Então, o que sabemos sobre Moisés? Em 27 de junho de 1906, a Pontifícia Comissão Bíblica respondeu a uma série de questões sobre a autoria de Moisés, em reação aos estudos em curso, muitos dos quais negavam a autoria de Moisés a título definitivo. Lembre-se primeiro de que a tradição católica nunca adotou a postura rígida que Moisés escreveu todas as letras do Pentateuco como é encontrado atualmente ou que o trabalho tem sido transmitido de forma inalterada. Por exemplo, o Cardeal S. Roberto Belarmino (m. 1621) afirmou que, sob inspiração divina, Esdras, o sacerdote que viveu c. 450 aC, recolheu, retrabalhou, e corrigiu as partes espalhadas do Pentateuco após o Exílio babilônico e fez aditamentos necessários para completar a sua história.
A Comissão declarou que os argumentos dos estudiosos não levam à conclusão definitiva de que Moisés não foi o autor, mesmo que se totalmente ignorado as referências dentro do próprio Pentateuco, o testemunho dos outros livros da Bíblia, o consenso do povo judeu, e da tradição da Igreja. Além disso, a Comissão afirmou que a autoria mosaica não implica que ele escreveu tudo com suas próprias mãos ou que ditou palavra por palavra; sim, pode-se afirmar que Moisés, como o principal autor e inspirado pelo Espírito Santo, concebeu a obra, confiada composição desses livros, talvez em parte, para os outros que escreveram de acordo com sua mente e, em seguida, aprovou o trabalho final. Moisés, novamente sob inspiração divina, pode ter emprestado e adaptado tradições orais ou documentos existentes e integrando-os no Pentateuco. Finalmente, a Comissão admitiu que o Pentateuco pode ter sofrido algumas alterações ao longo dos séculos, como a inserção de explicações por outro autor inspirado como Esdras ou a reformulação de frases ou palavras arcaicas. Ao todo, a Comissão pretendia equilibrar a pesquisa tradicional com a nova pesquisa. Em resumo, a Comissão não queria “jogar fora o bebê com a água do banho.”
Em 1943, o Papa Pio XII emitiu a encíclica Divino Afflante Spiritu que incentivou os estudiosos a investigar os textos sagrados que utilizam tais recursos como as recentes descobertas da arqueologia, história antiga, lingüística e outros métodos técnicos. Em 16 de janeiro de 1948, o Cardeal Suhard, secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, respondeu a uma pergunta sobre a origem do Pentateuco: “Não há ninguém atualmente que duvida da existência de tais fontes ou se recusa a admitir um desenvolvimento progressiva das leis mosaicas devido às condições sociais e religiosas de um período mais tarde…. Por isso, convidamos os estudiosos católicos para estudar estes problemas, sem preconceito, à luz da crítica e das conclusões outras ciências relacionadas com o assunto”. No entanto, ele não elimina totalmente a autoria de Moisés.
Para melhor compreender a “autoria de Moisés:” o pe. Lagrange (1855-1938), um excelente estudioso das Escrituras, sugeriu em 1897 que na cultura do Oriente Médio, a autoria foi creditada à pessoa que forneceu o espírito inicial e penetrante para o trabalho, em vez de necessariamente a versão “final”. Por causa de seu papel no evento do Êxodo, Moisés está, sem dúvida, no coração da história e da teologia do Pentateuco. Claramente, esses livros, inspirados pelo Espírito Santo, devem refletir e ser fiéis a Moisés. A esta luz, a pessoa não deve ter nenhum escrúpulo em atribuir o Pentateuco a sua autoria.
Fonte: http://catholicstraightanswers.com/did-moses-write-the-pentatech/
Tradução: Emerson de Oliveira
