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Marxismo e ciência

Marx_Lenin_Engels_by_systemdestroyerA gente fica meio envergonhado quando vê nossa turma de teólogos acreditar tanto na análise econômica marxista, na sociologia marxista, na ciência marxista da história. Enchem a boca com esse troço ultrapassado.

A gente fica meio envergonhado, porque pouca gente que leva a sério as ciências sociais, põe hoje fé em marxismo. Sua práxis econômica e política vai sendo um fracasso cada vez mais evidente. Onde consegue alguma eficiência econômica é à custa do capitalismo de Estado e pagando o preço da ditadura política mais rígida. A China acaba de expurgar o sr. Marx e Lênin. A Polônia passa fome. A Iugoslávia luta com uma crise econômica bem séria e até com essa heresia, que é a inflação socialista. Mesmo onde se arrisca um socialismozinho temperado, como na França, consegue-se, em poucos anos, transformar um dos seis países mais ricos do mundo em uma nação que, envergonhada, mostra ao mundo seus cidadãos em fila, para tomar o “sopão” do Mitterand. Quer dizer, a economia e a política marxista (ou soi-disant) não resistiram ao confronto com a práxis.
Em termos teóricos, Leszek Kolakowski, considerado, até 1956, um dos principais filósofos do Partido Comunista Polonês, não quer sequer ser considerado um crítico do marxismo, porque “o marxismo não tem a menor importância científica, e não se discute aquilo que não tem importância” – disse ele numa entrevista exclusiva a “O Globo”. Lúcio Colletti, membro do PCI até 1964, respeitado teórico marxista, depois seu crítico temido – pois fala com um conhecimento de causa impressionante -, tem uma série de estudos sobre o “incientífico” do marxismo. Há inclusive, em português, uma coletânea de Colleti sobre o assunto, “Ultrapassando o Marxismo” (Rio, Forense Universitária, 1983), à disposição dos interessados.
“Marx pensou a sua análise como obra científica ( … ), embora utilizasse a dialética. Isto prova, na minha opinião, que ele não tinha ideias claras sobre a natureza do conhecimento científico” (p. 89). Vale a pena ler o livro – que não fala apenas do marxismo clássico, mas do marxismo atual.

A gente poderia multiplicar as críticas à “ciência” marxista, por parte de quem entende de ciência e de marxismo. Mas gostaria de terminar isso com uma frase de Mário Henrique Simonsen, considerado hoje, internacionalmente, como um dos maiores representantes da ciência econômica atual. Eis que ele publicou um estudo de 164 densas páginas, na Revista Brasileira de Economia da FGV, VoI. 38, n~ 2, abr/jun 1984, número especial sobre “Marx e a Revolução de Von Neumann”. Pois bem, Simonsen começa assim:

“Não há livro de economia que tenha aturdido os sismógrafos da História, como O Capital de Karl Marx. Isso não se deve à sua contribuição à teoria econômica, mas à sua dimensão evangélica” (p. 3). Um pouco adiante: “Marx teve muito mais ideias do que capacidade analítica para as desenvolver. Como a maioria dos economistas de seu tempo, onde Cournot e Walras eram a exceção, Marx era um grande erudito em história, filosofia e economia, mas apenas um principiante em matemática. Assim, muitas das ideias contidas em O Capital, sobretudo nos Livros D e DL foram bloqueadas pela insuficiência dos meios de expressão. Aliás, ainda que Marx conhecesse toda a matemática de seu tempo, o impasse não seria resolvido, pois a linguagem formal de que O Capital necessitava, só veio a desenvolver-se no século XX (P. 4.) Mostra então que a ambição teórica de Marx levou-o “a enfrentar um programa ciclópico”, “Lutando em tantas frentes de trabalho com modesto equipamento bélico, Marx só podia construir uma teoria econômica repleta de erros. Com um mínimo de cálculo diferencial, Bohm-Bawerk e seus discípulos não tiveram dificuldade em refutar, ponto por
ponto, as teses de Marx.” Só que, como nota Simonsen, “uma religião não se derruba com alfinetadas lógicas”. E a obra de Marx, muito mais que ciência é uma obra “evangélica”. Ou “profética”, como alguns prefeririam dizer.

Por tudo isso, o que falta ao marxismo, e sobretudo aos teólogos que resolveram utilizá-lo sem prévia preparação científica, é “exigência epistemológica”, como pede a “Instrução” – que vê claro nesse “imbroglio”, mas, com isso, se expõe às chicotadas dos “profetas”.

CONCLUSÃO
Não queremos negar as ín tuições geniais de Marx e seu poder de denúncia. Algumas de suas afirmações básicas são inegavelmente pensamentos “geradores” e têm um explosivo potencial heurfstico, isto é, atiçam a imaginação criadora, incitam à descoberta. O que pretendo desmitificar é seu valor científico, seu potencial da explicação da sociedade. É um engano, uma “mitologia” a mais, essa incontinente declaração de confiança na “ciência” marxista. E um perigoso erro apoiar uma teologia nesse mito. Sobretudo quando se reconhece seu poder de explosão e a desgraceira que pode advir daí para os pobres da América Latina.

“O zelo e a compaixão, que devem ocupar um lugar no coração de todos os pastores, correm por vezes o risco de se desorientar ou de serem desviados para iniciativas não menos prejudiciais ao homem e à sua dignidade do que a própria miséria que se combate. “(Instrução … , VI. 2.)

Fonte: “Teologia da libertação – juízo crítico e busca de caminhos”, de Paschoal Rangel

1 comentário em “Marxismo e ciência”

  1. Nossa que oportunismo, que texto proselitista. Che iniciou uma revolução em um ambiente onde o proletáriado era escravo, morto e explorado de forma brutal pelo imperialismo burgues. Foi declarada uma guerra revolucionária e óbviamente uma guerra tem mortes e quem morre perde a guerra. Lógicamente lendo hoje estas frases o cenário é diferente e analisar frases ditas em um ambiente de guerra com os dias de hoje é ridiculo e tendencioso. Será que os americanos quando invedem os países pobres sobre o preceito de um falso terrorismo e declaram guerra nao dizem frases com este efeito, dentre os militares? A policia pascista do Brasil tem uma caveira como simbolo, quando sobe os morros será que diz frases de carinho?? Guerra é guerra, morte e sangue irão existir em uma. O Propósito da grerra é que faz de Che um idolo, lutar uma guerra pelos pobres e proletários não por imperialistas como europeus e americanos. Portanto quando for ensinar seu filho estudo sobre as razões e os motivos, os ideais da revolução, morreram muito mais proletários nesta revolução do que burgueses.

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