Livro Domínio de Tom Holland
Como o Cristianismo Moldou a Moralidade Ocidental: Reflexões de Tom Holland
O historiador Tom Holland, em diversas ocasiões, já mencionou como o Cristianismo impactou profundamente a moralidade ocidental e a forma como vemos o mundo hoje. Embora ele não seja religioso, Holland reconhece o papel revolucionário que a fé cristã desempenhou ao longo de mais de 2000 anos. Neste artigo, vamos explorar as ideias apresentadas por ele, com foco na sua análise sobre como o Cristianismo moldou os conceitos de poder, responsabilidade, igualdade, e a noção de progresso na civilização ocidental.
O Início da Transformação Moral
No início de sua carreira, Holland admite que via as histórias bíblicas como enfadonhas, especialmente em comparação com as narrativas grandiosas das antigas civilizações grega e romana. Entretanto, à medida que ele estudou mais profundamente as figuras dessas civilizações, ele começou a perceber o quão estranhas e distantes suas mentalidades eram da nossa moral contemporânea. Esse distanciamento o levou a questionar como as mudanças na moral ocidental ocorreram, e ele concluiu que grande parte dessa transformação deve-se ao Cristianismo.
O Impacto Revolucionário do Cristianismo
O Cristianismo desafiou diretamente as estruturas tradicionais de poder, destacando-se por sua mensagem de cuidado com os mais fracos e marginalizados. No centro dessa revolução moral está a crucificação de Jesus Cristo. O que antes era visto como uma morte humilhante, foi reinterpretado por Paulo como a revelação de uma nova aliança. O fato de Deus se identificar com os “perdedores” e com os que estavam na base da sociedade revolucionou as noções de poder e hierarquia.
Essa ideia subversiva foi vista como um ataque às crenças judaicas e greco-romanas, que prezavam por estruturas rígidas de poder. A doutrina cristã de que todos os seres humanos foram criados à imagem de Deus trouxe um novo senso de igualdade. A caridade, por exemplo, foi transformada em uma prática essencial, com os ricos sendo incentivados a ajudar os pobres de maneira altruísta, em vez de seguir os sistemas de patronagem da época.
A Influência na Ideia de Progresso e Reforma
O Cristianismo também foi pioneiro na ideia de autorreforma e progresso. Através do conceito de batismo, os fiéis poderiam renascer espiritualmente, permitindo que seus pecados fossem apagados e que emergissem como novas pessoas. A separação entre Igreja e Estado, que aconteceu gradualmente durante a Idade Média, também desempenhou um papel crucial, ao humilhar reis e estabelecer a Igreja como uma entidade soberana.
Tom Holland enfatiza que essa natureza revolucionária do Cristianismo gerou inúmeros movimentos, incluindo cruzadas, o desenvolvimento do direito internacional e o empoderamento dos fracos. Contudo, como qualquer revolução, essas mudanças muitas vezes deram origem a novas elites, o que frequentemente levou a novas reformas e transformações.
O Legado do Cristianismo na Linguagem e Humanismo
Holland argumenta que até mesmo o conceito de “humanismo” está enraizado no Cristianismo. A dignidade humana universal, que é a base do humanismo, tem suas origens no Livro de Gênesis, onde se afirma que todos os humanos foram criados à imagem de Deus. Esse valor foi abstrato do Cristianismo para se tornar um conceito mais amplo, adotado por diferentes crenças e ideologias ao longo dos séculos.
Ele também discute como o impacto do Cristianismo moldou até mesmo a linguagem e a cultura em outras partes do mundo, como na Índia, onde palavras carregadas de conotações cristãs são usadas sem que os falantes muitas vezes percebam. Ele destaca que a colonização britânica trouxe com ela padrões cristãos que influenciaram a noção de “Hinduísmo”, tal como foi construído e compreendido na época.
Ciência e Moralidade
Holland menciona que muitos intelectuais modernos tentam justificar suas crenças morais sem recorrer à fé cristã, mas ele argumenta que grande parte da moralidade ocidental ainda depende dessa herança cristã. Ele discute o papel da ciência nesse processo, mostrando que, embora a ciência tenha afastado a superstição e ajudado a humanidade a entender melhor o mundo, ela muitas vezes não oferece uma estrutura moral sólida.
Ele cita Friedrich Nietzsche, que declarou a “morte de Deus”, prevendo que o desaparecimento da fé cristã levaria ao surgimento de uma nova ordem onde as pessoas não mais seriam limitadas pela moralidade cristã. Essa visão inspirou figuras como Mussolini e os nazistas, que rejeitaram princípios centrais do Cristianismo, como a igualdade e dignidade humana.
O Futuro da Moralidade Ocidental
Holland conclui que, embora os valores cristãos continuem a moldar a moral ocidental, o futuro desses ideais está em risco se as bases culturais e teológicas que os sustentam forem enfraquecidas. Ele sugere que, sem essa fundação, há um risco de a sociedade ocidental se desviar de princípios que valorizam a dignidade humana e a responsabilidade dos fortes pelos fracos.
Apesar disso, ele reconhece que as ideias de diferentes culturas, como a democracia de Atenas ou os ensinamentos morais do Confucionismo, também moldaram a civilização ocidental. No entanto, o legado cristão, segundo ele, permanece central, especialmente em conceitos como o abolicionismo e o desenvolvimento do direito internacional.
Conclusão
Tom Holland nos convida a refletir sobre a profunda influência que o Cristianismo teve e continua a ter em nossa sociedade. Mesmo para aqueles que não compartilham da fé cristã, os valores, conceitos e moralidade que definem a civilização ocidental são, em grande parte, moldados por essa tradição religiosa. Seu livro “Dominion: The Making of the Western Mind” explora ainda mais essas ideias, oferecendo uma visão fascinante sobre como o Cristianismo moldou a mente e a moral do Ocidente.
Bônus
Como a Cruz Mudou a História: A Revolução Cultural do Cristianismo
O cristianismo teve um impacto profundo e revolucionário na civilização ocidental, e um dos símbolos mais emblemáticos dessa transformação é a cruz. Embora hoje seja vista como um símbolo de fé e esperança, originalmente, a cruz representava o poder brutal do Império Romano. Neste artigo, vamos explorar como o cristianismo subverteu o significado da cruz, transformando-a em um símbolo de triunfo dos oprimidos, e como essa mudança continua a influenciar nossa cultura até os dias de hoje.
O Significado Original da Cruz
Nos tempos do Império Romano, a cruz era usada como um instrumento de tortura e execução. Era a punição mais cruel, reservada para escravos e inimigos do império que ousavam desafiar o poder de Roma. A crucificação era uma demonstração de força, mostrando aos oprimidos o destino terrível que aguardava aqueles que resistissem.
A Subversão Cristã: O Triunfo dos Oprimidos
Com o advento do cristianismo, o significado da cruz foi completamente transformado. O que antes simbolizava opressão e dor, tornou-se um símbolo de redenção e esperança. Cristo, crucificado e depois ressuscitado, simbolizava a vitória dos fracos sobre os fortes, dos oprimidos sobre os opressores. Esse conceito era radicalmente novo para os romanos, que viam a força e o poder como virtudes supremas.
Nietzsche e a Crítica ao Cristianismo
Friedrich Nietzsche, filósofo do século XIX, foi um dos críticos mais ferozes do cristianismo. Ele via essa transformação da cruz como uma subversão dos valores clássicos. Para Nietzsche, o cristianismo era uma “religião de escravos”, que exalta os fracos e despreza os fortes. Ele acreditava que essa moralidade cristã era prejudicial, uma vez que promovia a compaixão pelos oprimidos em detrimento do poder e da glória da civilização clássica.
O Impacto de Nietzsche no Fascismo
As ideias de Nietzsche influenciaram movimentos como o fascismo. Ao contrário de revoluções como a Francesa ou a Russa, que mantinham alguns princípios cristãos de igualdade e justiça social, o fascismo rejeitou completamente esses valores. Para os fascistas, a fraqueza era algo a ser esmagado, não exaltado. Essa rejeição dos princípios cristãos fundamentais mostra o quão profundamente enraizados estão esses valores em nossa sociedade.
A Relevância Contemporânea: A Cruz Como Símbolo de Esperança
Mesmo em uma era que muitos consideram pós-cristã, os valores cristãos ainda moldam nossa visão de mundo. Por exemplo, o horror diante do nazismo e sua visão desumana dos fracos é um reflexo direto dos valores cristãos. Após a Segunda Guerra Mundial, as atrocidades cometidas pelos nazistas, que abraçaram uma visão nietzschiana de desprezo pelos oprimidos, chocaram o mundo e reafirmaram a importância dos valores de compaixão e justiça social propagados pelo cristianismo.
O Cristianismo e a Desacralização do Mundo
Além de transformar o significado da cruz, o cristianismo também contribuiu para a desacralização do mundo. Os primeiros missionários cristãos, ao converter povos pagãos, destruíram símbolos sagrados e desmistificaram elementos da natureza, afirmando que Deus estava acima de todos esses objetos terrenos. Essa visão foi herdada pelo Iluminismo e, posteriormente, pelos movimentos ateístas, que continuaram a promover a ideia de que a razão e o conhecimento triunfam sobre a superstição.
Conclusão
O impacto do cristianismo na história e na cultura ocidental é inegável. A transformação da cruz de um símbolo de opressão em um símbolo de redenção reflete a revolução profunda que o cristianismo trouxe ao mundo. Mesmo aqueles que se consideram ateus, muitas vezes, carregam consigo valores profundamente enraizados na tradição cristã. A cruz, portanto, continua a ser um dos símbolos mais poderosos da civilização ocidental, representando não apenas fé, mas a capacidade de subverter o poder e exaltar os oprimidos.
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