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A liberdade como carcereira de nossas prisões internas

1472277_1394517220789757_1680137984_nEu nunca vou esquecer uma questão que tentei responde em uma das minhas provas de filosofia que dizia o seguinte:

”Você prefere ser livre, mas passar fome, ou ter o que comer e viver preso?”

Eu não soube responder na época, pois eu ainda não sabia de qual liberdade a pergunta estava se referindo, nossa juventude ”libertina” também não parece saber ao certo o que é liberdade, ser livre é simplesmente fazer tudo o que te da na telha?

Lembro-me daquela velha metáfora do pássaro e a gaiola, dentro da gaiola o passarinho está confortável, tem comidinha e carinho da dona, terá sempre alguém para ouvir seu canto, ainda sim ele quer voar, quer sair da gaiola, mesmo ciente de que lá fora os gaviões, carcarás e gatos irão devorá-lo.

Mas ele sente que precisa voar, e assim é a humanidade hoje, acredito que muitos tem ciência de que seus atos levarão a todos para a vala, ainda sim continuam pois precisam que seus desejos sejam saciados.

Hoje vivemos o recorde de mortes, suicídio, depressão, conflitos familiares, caos em relacionamentos e tudo por quê? Por que o nosso ego e instintos animalescos se tornaram mais importante que o devir e a empatia. O mundo tem perdido o amor, a ternura, a coragem, a força. Como pode ser? Meus avôs viveram em tempos de guerra, tempos onde famílias inteiras perderam seus filhos, amigos perderam amigos, esposas perderam maridos, maridos perderam filhos, casa e a própria vida, no entanto aquela geração sobreviveu, sacudiu a poeira e progrediu, nossos antepassados travaram guerras, sofreram em campos de batalha, enfrentaram a fome e a humilhação, mas retornaram para suas famílias com esperança e glória. Hoje nossos jovens simplesmente desmoronam e armam um escândalo perante qualquer opinião contrária ou até mesmo piadas!

Cristo foi sábio quando disse ”Amai-vos uns aos outros” Porque ele sabia que as diferenças sempre irão existir, porém o segredo para viver em um mundo pacífico é aprender a coexistir com as mesmas, mas as pessoas hoje fazem tudo ao contrário de tudo o que tange existir em simultâneo ou em conjunto, elas precisam, elas necessitamos serem amadas, aceitas e veneradas pela sociedade sem ao menos se darem o trabalho de serem recíprocas em suas exigências.

Será essa a consequência da sede por prazer e ”liberdade”?

Uma vez, um garoto muito atordoado com a minha falta de assunto e sequidão no Facebook me fez o seguinte comentário:

”Você é a pessoa mais sem graça do mundo, sem assunto, seca! É o tipo de garota que mesmo sendo bonita vai morrer virgem!”

E ele tem toda a razão, não existe pessoa que não morreria de tédio ao ter que me atuar por pelo menos 5 minutos. Não sei muito bem quando ou como, mas a minha aura e meu estado de espírito se tornaram pessimistas, a minha presença possuí uma tonalidade fúnebre e cadavérica, acho que qualquer membro da família Adams é mais simpático e espirituoso do que eu. Qualquer pessoa sensata me mandaria cortar os pulsos, e se eu tivesse um pingo de juízo, obedeceria e pouparia a sociedade de ter que aturar minha presença banhada em desalento.

Mas eu não creio em suicídio, pelo menos não mais, nossa geração vive de um coitadismos e derrotismos notórios, eu não quero ter que conviver com a vergonha de ter desistido de minha vida, provavelmente os pais de família ou qualquer outra pessoa que morrera de câncer ou alguma doença triste, e que ansiavam por viver pelo menos um segundo a mais, me espancariam lá do outro lado. Existem pessoas em condições muito piores que as minhas e que ainda sim, superam suas injúrias, eu também quero ser como elas, mesmo que eu nunca mais volte a ser a pessoa que eu costumava ser.

As pessoas que me conhecem á tempos simplesmente não conseguem acreditar na ”coisa” que eu me tornei em tão pouco tempo, sei que antes, já eram poucos os convites que recebia para sair, agora são quase zero, daqui a pouco não restará nenhum, nem mesmo para festas de crianças dos vizinhos eu não sou mais convidada.

Mas eu não me importo, não espero ser venerada, e todos que desejam veneração e uma aceitação doentia  a ponto de não suportar qualquer crítica, está fadado a viver em conflitos.

Ainda fico surpresa com a minha mudança, mas isso aconteceu porque eu amadureci, eu comecei a enxergar o mundo da maneira como ele realmente é e não como eu imaginava que o mesmo fosse. As pessoas hoje são criadas em um mundo de fantasias e em uma realidade abstrata, crescem criando expectativas, crescem sem identidade, sem direção, são confusas e egocêntricas e esperam a todo instante serem aceitas por algo que nem elas mesmas sabem definir bem o que é.

Eu sou uma pessoa de reações exageradas e totalmente fora do senso de proporções, essas são consequências da doutrinação de hoje, que faz dos jovens mais emocionais e pouco racionais sendo que o ideal é o equilíbrio.

Eu sempre deixei claro que existem pessoas com determinados gostos e determinada forma de agir que eu parabenizo e admito, e outras, simplesmente repugno e detesto, e nesse politicamente correto, você jamais pode ter seus próprios critérios de escolha, mas não é segredo que eu detesto a maioria das pessoas e que detesto esse mundo e as coisas do jeito que elas são, mas eu jamais negaria um pedaço de pão a alguém que tem o perfil que eu não gosto se essa pessoa estivesse com fome. O que tem de tão terrível dizer que não gosta de algo? Ás vezes querem demonizar uma pessoa que é restrita a seus princípios e endeusam quem simplesmente faz aquele discurso de ”aceitação do todo”, mas devo lembrar que discurso politicamente correto não molda caráter, muito pelo contrário, cansei de ver essas pessoas liberais e aceita tudo, falando mal de terceiros pelas costas e colocando o próprio ego em primeiro lugar sempre, no fim são todos hipócritas.

Mas ainda sim todos acreditam que possuem o que é preciso para consertar o mundo.

Eu também cresci com a ambição de consertar o mundo, consertar algo que hoje duvido que tenha concerto. Quando a vida se levantou para me dar seus primeiros golpes, eu simplesmente não suportei e me decepcionei muito ao ver o quão fraca eu sou, eu fico noites inteiras me remoendo tentando entender o por que das coisas serem do jeito que são, por que as coisas tem que ser assim? Eu nunca encontro respostas para as perguntas que faço, nunca encontro soluções para as injustiças que repudio.

A única conclusão sensata que até hoje conquistei é que não sabemos ao certo porque a maldade enfim floresceu, mas ela floresceu, muitas são as teorias de onde todo o mal começou, mas a única coisa da qual temos certeza é que a natureza do homem também possui seus traços de truculência e malignidade e como uma doença as iniquidades se alastraram por esta terra tornando um lugar onde jaz a ganância, diabruras, malícia e injustiças.

Eu amei esse mundo com um amor puro e inocente de uma criança que tenta com suas pequenas mãos pintar as paredes de uma casa velha afim de torná-la mais colorida e agradável, mas meus dedos não são pincéis, tão pouco há tinta o suficiente para pintar todos os cômodos, e como uma criança hoje eu lamento a forma como sou impotente.

Eu adoraria estar apenas projetando o meu exemplo à parte em cima do resto do mundo, os jovens de hoje querem consertar o mundo, mas são abatidos pela primeira opinião politicamente incorreta que ouvem. Logo percebemos que o eterno discurso de aceitação é um  fracasso, ninguém aceita o próximo, ninguém se aceita e ninguém sabe o que é aceitar.

Suicídio e depressão hoje são casos de saúde pública, e o mais curioso que os recordes dos mesmos são nos países mais desenvolvidos e com uma cultura modernista cheia da tal ”liberdade” a partir dai eu passei a entender um pouco mais a questão da minha prova de filosofia, viver livre e com fome talvez seja um preço a pagar, o preço por fazer tudo o que você quer sem nem ao menos saber o que quer, como é possível uma pessoa ter tudo e ao mesmo tempo não ter nada? Muitas das pessoas que acabam por estourar seus miolos ou encher seu estômago com dezenas de pílulas para dormir, são pessoas que possuem uma boa estabilidade financeira e poder aquisitivo, ou seja, não é falta de nada material, apenas falta do mais importante: O espiritual, nosso lado emocional e espiritual nunca estiveram mais frágeis e complexados, isso tudo é fruto de uma cultura que simplesmente apoia qualquer maluquice que alguém queira fazer protestando quanto a concepções subjetivas de ”opressão” por exemplo: Não consigo tomar como ajuda ou incentivo á felicidade, uma pessoa que protesta contra o ”preconceito a gordinhos” e diz para uma pessoa que está muito acima do peso: ”Isso continue comento, se entupa de comida, esses padrões de beleza opressores apenas tiram de você a sua felicidade que é comer, aceite o que você é, você não é feio, a sociedade quem é”.

Eu nem preciso comentar que pessoas com obesidade mórbida possuem uma péssima qualidade de vida, e incentivar uma pessoa assim que cada vez mais encurta seu tempo de vida nesse planetinha, me parece mais conselho de amigos da onça.

Mas quem disse que esse pessoal está preocupado com ”tempo de vida?” Parece assustador, mas a porcentagem das pessoas que afirmam não querer viver até os 40 anos é monstruosa! E isso é bem refletido na nossa sociedade, quantas pessoas se auto destroem com drogas, bebidas, vida bohemia e promiscuidade simplesmente afim de prazeres momentâneos tentando fugir da realidade e do possível tédio que essa realidade torta nos proporciona? Quantos jovens bebem, usam drogas e fazem sexo simplesmente afim  de ter algum status e serem de alguma forma aclamados?

Hoje em dia fazer coisas até então considerada grotescas para a integridade humana é um desafio prazeroso, o horrível, o tétrico, o perturbador, o nocivo e  destrutivo é algo que deve ser superado para demonstrar uma suposta coragem e liberdade. É assim que se vive livre e sem ter o que comer, por que quando você simplesmente ignora tudo aquilo que te faria desenvolver-se como pessoa sã e de valores ´´ íntegros”, você faz o que te dá na telha e isso trás consequências graves como a auto destruição precoce.

Eu acredito que a verdadeira liberdade é algo tão difícil e árduo a ser conquistada, que creio que ela não traria consequências tão vis quanto deixar alguém a mercê da fome pela eternidade, se fosse assim, por que ela seria tão desejada?

Quanto ao viver preso, mas tendo o que comer, bem, acho que eu escolhi esse caminho, meu maior sonho na verdade nem era consertar o mundo, como todo bom ser humano, era algo mais egoísta, era ter uma família, a minha família, mas parece que os céus conspiram par que isso seja impossível, não por falta de vontade ou dos requisitos mínimos que podemos exigir de uma pessoa que queira ter uma família, mas sim por uma questão de destino e instabilidade interna repentina. Eu acredito em celibato, conversando com  muitos monges/monjas, padres/freiras, percebo que existem sim pessoas que apesar de seus desejos próprios possuem um destino de se dedicarem a uma vida altruísta e sem promiscuidades casuais. Cerca de 2,5% da população mundo morrerá sem nunca ter se relacionado de forma profunda com alguém. Pessoas nascem com vocações, não sendo por um caminho, será por outro que os ideias altruístas, como o de formar uma família e edificar a base da sociedade, serão cumpridos.

Meus pais faltam pouco enlouquecer quando digo que tenho vontade de fazer trabalhos missionários na Nigéria, faixa de Gaza ou nos nossos vizinhos socialistas como a Venezuela. Qualquer pessoa sensata diria que eu tenho tendências suicidas, na verdade eu apenas espelho a fraqueza que tomou a humanidade e a tornou deficiente quanto á questão da superação de seus próprios males, mas ao contrário de uma boa parcela, eu não quero me transformar em algo baldado que ficará por ai enchendo a saúde pública e gerando mais imprudências e propagação das mazelas que assombram a paz social. Pelo contrário quero utilizar a minha vocação e a minha incapacidade de criar laços com  alguém como forma de desapego e incentivo para tentar consertar um pouco o estrado que o caos civil tem trago para as vidas de pessoas inocentes, enquanto busco a cura para o meu espírito, e acredito que nenhuma cura é mais eficaz do que dar lugar a benevolência. Mas é claro eu não sou dona do amanhã, talvez minha vida mude de rumo novamente, mas é importante que um ser humano que busca ser íntegro e digno esteja sempre convicto de seus princípios.

Uma vez me questionaram: ”Por que você nunca revida a todas as humilhações e insultos que as pessoas destilam contra você no colégio?’’

Eu apenas sorri e respondi: ”Por que dessa forma eu estarei me tornando alguém parecido com aqueles que me desacatam, e quando você precisa agir da mesma forma que a pessoa que te fez mal, você demonstra não ter um caráter muito diferente.”

E como diz nosso querido professor Olavo de Carvalho: É preciso coragem a um homem (ou mulher) para continuar sendo bom, quando tudo a sua volta o induz a ser mau.

Aconteça o que acontecer, não importa quantos socos a vida te dará, o mais importante é você jamais se deixar corromper ao atraente mal e aos sentimentos pérfidos que destroem o mundo. Acredito que esse seja o verdadeiro significado de força, honra e resistência.
Por: Liliam Rauha

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